Debaixo das ruínas da catedral, no subsolo, bem fundo, nos resquícios de um antigo templo, soldados e seu comandante riem enquanto uma mulher luta por sua liberdade.
(Pausa)
Quando assistimos filmes de guerra, dependendo de quem produz, inevitavelmente um é apresentado como herói e outro como vilão.
O vencedor conta a história. Em uma guerra, não existe herói. A guerra é a pior invenção humana.
(Toca)
Repentinamente sons de tiros, fragmentos de pedras esvoaçando e soldados caem alvejados.
O comandante, olhando indistintamente para algum ponto no salão escuro, percebe uma presença.
-Sanderson? Meu garoto, é você?
-Herzerleer. Faz tempo que não te vejo.
-Saiu da prisão quando?
-Pouco depois do fim da Terceira Guerra.
-E cá estamos aqui. Eu encontrei minha profissão no exército alemão, cujo governo voltou a adotar velhas ideias da extrema direita do século XX.
-Muita coisa mudou depois do século XXII. Outras, nem tanto.
-Algo que não muda é que a humanidade está perdida e o mundo caminha para seu fim. Nós temos que voltar aos bons tempos. Medidas extremas exigem atos extremos. A chave para a entrada para esse resgate está no sacrifício dessa jovem. Gostou dela? Muito jovem? Sabia que ela é uma mulher transgênero? Hoje é impossível saber. Corpos construídos, alterados, melhorados. Ciborgue, androide, hoje é impossível dizer o que é um ser humano.
-Herzerleer, matar essa jovem não vai nos voltar para os bons tempos. Seja qual for o espírito que está te enganando, isso não é uma entidade nem um Deus.
-Você lembra quando nos conhecemos?
Sanderson era um garoto quando foi entregue para a Ordem de São Bernardo de Alsácia. Herzerleer apareceu no momento da refeição e demonstrava familiaridade com o Frei Orlando. Sanderson espiou quando o então tenente seguiu ao lado do frei até uma parte afastada do monastério. Foi a descoberta do vinho escondido e isso o levou a descobrir que o frei mantinha contato com um grupo de bruxas. Foi quando Sanderson se encontrou com o Deus da Floresta e a Deusa da Estrela.
-Fique com a garota. Você vai ganhar seu momento de herói, mas isso é uma ilusão. A mudança do Aeon é inevitável.
Herzerleer sumiu com os soldados restantes. Sanderson foi imediatamente livrar a garota das amarras e da mordaça.
-Você está bem?
-Obrigada. Mas o capitão tem razão. Existe uma entidade querendo a qualquer custo ser o Deus Único. Foi dado início à Guerra do Graal.
(Pausa)
Nós lemos com entusiasmo as lendas do rei Arthur e a Demanda do Graal. Na mística que surgiu e cresceu dentro do Cristianismo, o Graal era descrito como o vasilhame que colheu o sangue de Cristo. Mas a lenda é outra, o que se busca é o Sangue Real. Que os círculos internos da religião de mistério original que deu origem ao Cristianismo codificaram na palavra Graal.
Algumas pistas deixadas aos iniciados mostram que a Demanda do Graal antecedeu aquele que foi apontado como sendo o Cristo. Omitido, negado, escondido, o ministério de Cristo remonta a ordens sagradas que antecedem ao Sinédrio. Cristo, o verdadeiro, o original, deve trazer consigo a linhagem real e sacerdotal, não de Israel, mas de Mênfis. A linhagem real é a longa linhagem de antigas sacerdotisas, descendentes diretas da Deusa Antiga, da Serpente Divina.
Os rabinos sabiam disso. Fizeram a reforma religiosa e Yahweh concordou. Seu maior sonho era ser o Deus Único. Ser maior e mais importante que seus irmãos e irmãs, os Elohim. Sobrepujar até os outros Deuses Antigos adorados pelos outros povos. Até sua Consorte, Asherah, foi apagada e seu culto proibido. Mas a humanidade não esquece, o sangue é mais forte e o mundo redescobriu os Deuses Antigos.
O Cristianismo foi outro plano tentado pela elite secular e clerical. A relação entre as religiões abraâmicas e a extrema direita assumiu muitas formas e nomes. Diferentes bandeiras, símbolos e fantoches. Mas esse é o plano que tem sido posto em ação por milhares de anos.
Felizmente a ilusão se desfaz. A fraude, a mentira, é desmascarada. O Deus usurpador e seus asseclas encontrarão a justiça. A humanidade irá se libertar e poderemos ter algum futuro.
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