terça-feira, 18 de abril de 2023

Uma rara confissão

O reverendo Caio Fábio disse que evangélicos “fizeram por merecer” a má fama que lhes é atribuída pela sociedade secular. Considerado um dos principais pastores do meio nos anos 80 e 90, o manauara virou persona non grata no segmento e se tornou um farol entre a minoria progressista.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o membro da Catedral Presbiteriana do Rio atacou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e falou de sua relação com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Antes, [pentecostais] se mantiveram nessa linha de discrição. Nos anos 1980, os pentecostais receberam influência profunda de televangelistas americanos, como o Jimmy Swaggart. As mulheres agora se pintam, cortam o cabelo. Pareceu uma evolução. Malafaia, por exemplo, já era filhote do Jimmy”, lembrou ele.

“Tenho que admitir que o olhar da sociedade para evangélicos não é exageradamente negativo. Eles fizeram por merecer no curso dos últimos 40 anos. Desenvolveram-se suficientemente, do ponto de vista numérico e no que diz respeito a ambições políticas e a ênfase que deram no dinheiro, de tal modo que Deus não ouve orações se o indivíduo não fizer sacrifícios financeiros. Existem exceções, mas são infelizmente apenas isso”, completou.

Caio Fábio diz que evangélicos já estavam preparados para alguém como Bolsonaro, mas não tinham coragem de declarar isso explicitamente. “Muitos líderes têm vocação para aiatolá, coronelismo, sempre estiveram nessa situação de despotismo comunitário. Um cara como Bolsonaro, um déspota perverso e insano, caiu como uma luva. Não precisa ter lógica. Basta alguém chegar tremendo e dizer ‘o Senhor me deu uma ordem’ que todo mundo corre atrás”, opinou, acrescentando que acha que evangélicos votaram em massa no político do PL porque ele prometia dar todos os favores à igreja.

Sobre sua amizade de idas e vindas com Lula, o reverendo destaca que eles se conheceram no início da década de 1990 e que começaram a se estranhar quando o religioso foi envolvido na política, em 1998. Caio afirma que votou no petista em 2002, mesmo com o relacionamento abalado, e que o atual chefe do governo brasileiro cresceu em seu conceito quando não fugiu da prisão.

“Na eleição, amigos da democracia, sabendo da minha amizade com Marina Silva [eleita deputada e hoje ministra], me pediram [para fazer uma ponte entre ela e Lula]. Liguei, e ela disse: ‘Ele sabe como me achar, tem o meu número’. Eles se encontraram, foi muito bom. Ela agradeceu e disse que queria fazer um pedido em troca. ‘Gostaria muito de ver vocês dois juntos de novo.’ Uma semana depois, recebi chamada de vídeo do Waguinho, marido da Dani [prefeito de Belford Roxo e ministra do Turismo]. Lula estava com ele. A gente conversou como se nunca tivesse acontecido nada. O que está esquecido, está esquecido”, ressaltou.

O evangélico disse que conversará com Lula sobre o que “o Estado precisa fazer para dissolver esse caroço golpista que Bolsonaro fez crescer enormemente” e argumentou, sobre criar elos com pastores que foram para o lado de Bolsonaro: “Dá para criar ponte com novos líderes. Com os de antigamente, não, é um pessoal que subiu na torre e jogou todas as penas no ar, não dá para juntar mais. São pessoas que deixaram seu ódio a Lula muito explícito. Como qualquer organismo, a igreja evangélica está se renovando, e tem uma quantidade grande de líderes novos, melhores”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/reverendo-caio-fabio-evangelicos-fizeram-por-merecer-ma-fama/

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