quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O Fascismo no Brasil

Autor: Uraniano Mota.

Parece incrível. Mas o Brasil é hoje o país no mundo onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, segundo pesquisa da Anti-Defamation League (ADL). Michel Gherman, membro do Observatório da Extrema Direita (formado por acadêmicos de mais de dez universidades brasileiras e de outros países) afirma que a eleição de Bolsonaro criou no Brasil uma Disneylândia do neonazismo, pois os que o defendem “passaram a se sentir mais à vontade”. É verdade. Há muito, termos notado: a extrema direita, que depois do fim à brasileira da ditadura, se envergonhava ou permanecia em silêncio, agora está com os demônios soltos, peitando a democracia, matando democratas, porque se acha protegida pelo indivíduo na presidência e comandos policiais.

Para esse estado a que chegamos, bem vale a pena a leitura do livro “Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente”, dos professores Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schuster Sousa Leão. Editado pela Cepe, a segunda maior e melhor editora pública do Brasil, nele podemos conhecer a história do fascismo na Itália, Alemanha e Japão, que não ficou no passado, pois os fascismos (assim mesmo no plural) trabalham até hoje sobre as grandes massas com a irracionalidade, a mentira, o implausível e o medo, segundo os autores. Durante a pesquisa no livro chegamos ao Brasil deste 2022:

“O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, corrobora a autorização do uso indiscriminado de violência, construindo e utilizando dispositivos sociais como uma ferramenta e política. Quando utiliza as mídias sociais para afirmar que ‘repórter tem que apanhar mesmo’, sendo replicado por seus apoiadores, segundos depois, com as afirmações ‘jornalista folgado tem mais é que apanhar’ e ‘jornalista vagabundo merece TOMAR PORRADA SIM’, ele instrumentaliza a política por meio de um mandonismo pessoal, autoritário e carismático que estetiza a sociabilidade com a normalização do uso da força”.

De fato, além das páginas do livro podemos ver. Logo na campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018, ele declarou: Vamos fuzilar a petralhada”. E depois vieram os assassinatos, o cumprimento infame das ameaças. Recolho sem qualquer esforço de pesquisa alguns dos muitos homicídios:

Em um domingo, no dia 18 de outubro de 2018 em Salvador, o mestre de capoeira Moa do Katendê foi morto com 12 facadas pelas costas por defender o voto no PT e se declarar contrário a Bolsonaro. 

Em 2019, Antônio Carlos Rodrigues Furtado, de 61 anos, em Balneário Camboriú, Santa Catarina foi morto por ser de esquerda, com socos e pontapés por Fábio Leandro Schwindlein, bolsonarista.

Em julho de 2022, Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, foi morto a tiros na própria festa de aniversário pelo policial penal federal Jorge Guaranho. Bolsonarista, o assassino invadiu a festa privada de Marcelo – que tinha como tema o PT e imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, gritando “aqui é Bolsonaro”. E assassinou o petista com três tiros.

A poucos dias desta eleição, de acordo com a Polícia Civil do Mato Grosso, um homem identificado como Benedito dos Santos, 42 anos, eleitor de Lula, foi morto a golpes de faca e machado por Rafael de Oliveira, 24, apoiador de Bolsonaro. O ódio foi tamanho, que o assassino desejou cortar a cabeça do “inimigo” com um machado.

Antes dessa onda de crimes políticos cometidos por bolsonaristas sob inspiração do ídolo lá deles, o fascismo brasileiro apresentava uma ordem para a agressão contra a democracia. Como bem lembra o livro “Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente” em outra página:

“Em 2020, foi apontado que 35% dos oficiais e 41% dos praças das polícias de todo o Brasil interagem em redes sociais apoiando o presidente Jair Bolsonaro. Seus posicionamentos a favor do presidente, que há pelo menos dois anos discursa abertamente contra vários governadores, tendo o Nordeste com foco, tornam a questão ainda mais politizada e instrumentalizada”.

Assim tem sido no Brasil. A história geral do fascismo no mundo não se repete, como já observou Marx em outro contexto, que se tornou universal: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. Mas se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Para os brasileiros, depois da trágica ditadura iniciada em 1964, vivemos a segunda fase apontada na frase de Marx, de duas maneiras: na primeira, hoje, ela é tanto trágica pela destruição de vidas pela covid, para as quais o presidente dizia não ser coveiro, quanto pela destruição da Amazônia de todas as maneiras.

Neste 2022, fala-se que o garimpo “perdeu a vergonha”. Sob a barbárie Bolsonaro, abertamente favorável aos interesses dessa atividade ilegal nos domínios, ou ex-domínios da floresta, os defensores do garimpo estão circulando nos corredores do poder nas capitais da Amazônia e em Brasília, e pretendem voar ainda mais alto: ocupar cargos eletivos nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, além dos palácios dos governadores.

É trágico, ainda, o esvaziamento da educação, a perseguição aos artistas, às artes e imprensa, além das mortes matadas por opinião política. Mas é uma farsa, ao mesmo tempo, o ridículo do “imbrochável”, os gritos e falas do presidente. Que até imita a fala. Chegamos ao ponto em que no Brasil os animais falam. Isso é trágico e farsa em união, de um cômico mais baixo e grosseiro.

Numa das suas últimas falas ou farsas, ele tentou uma de historiador, acreditem:

“Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal”.

O que é isso? A que primeiro 22 ele se refere? Não deve ser à Semana de Arte Moderna, porque ele nem sabe o que é isso. Mas como o bem sempre venceu o mal?! Com assassinatos, torturas e execuções frias na ditadura, ou com as guerras e holocaustos, o bem sempre venceu o mal? Ou com a bomba sobre Hiroshima e Nagasaqui? Ou com os recentes assassinatos de Bruno e Dom na Amazônia? Ou será que o bem vence o mal quando a floresta é devastada? Ah, bom, entendemos a nova língua, uma absoluta inversão de valores: o bem é o mal, e o mal deve ser a esperança e luta da resistência.
Por enquanto, sabemos que a farsa bárbara pode virar em superação, um terceiro momento desta vez. Nós, unidos, temos o bonde, o navio, a nave da futura democracia, cujo nome é Lula vencedor no primeiro turno. Se não for Lula, afundaremos nas trevas do fascismo à brasileira.

Fonte: https://jornalggn.com.br/cronica/o-fascismo-no-brasil-destes-dias-por-urariano-mota/

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