quarta-feira, 13 de julho de 2022

Uma questão de direitos humanos

Há cerca de 2k anos atrás existiam inúmeras religiões. Dentre estas, uma era conhecida como Nazarenos ou como Povo do Caminho. Originalmente era composta por judeus helenizados e "gentios", como as outras etnias eram chamadas em Judá, alcançou popularidade entre servos e escravos por sua mensagem de que todos seriam julgados por Deus e somente quem aceitasse a Cristo seriam salvos.
A sociedade da época, romanizada, o ambiente doméstico fez com que patrícios (classe média) ficassem atraídos por essa religião e, por extensão, arrebanhou a aristocracia romana. Quando o Império Romano estava em crise, a saída que Constantino encontrou foi decretar o Cristianismo como a única religião oficial, o que lhe daria força e união, mas foi Teodósio que ordenou a destruição de todo que não fosse "cristão".
Na base da força e da espada, todas as religiões originais da Antiguidade Clássica foram sistematicamente sendo apagadas. Quando o Império Romano entrou em colapso pelas invasões bárbaras, os reinos que surgiram das ruínas estavam devidamente cristianizados, as religiões nativas foram igualmente perseguidas e proibidas. As crenças originais sobreviveram no folclore popular, sincrético por natureza.
Quando os países europeus começaram a colonização de outros povos, as crenças destes povos sofreram esse aculturamento. Somente quando foi feita a Declaração Universal dos Direitos Humanos que o mundo começou a despertar para esse problema. Então é meio esquisito, quase uma contradição, ver pagão moderno, geralmente europeu ou descendente, falando no direito dos povos aborígenes em preservar sua cultura e religião. Nós apenas começamos a resgatar nossa herança cultural e religiosa no fim da Idade Média, com a Renascença e que teve impulso intelectual com o Romantismo Ideológico da Era Moderna.
Infelizmente isso também produziu o nacionalismo, o patriotismo, o fascismo e o nazismo. Muitos pagãos modernos adotaram o erro crasso do racismo, da xenofobia e da homofobia, tendendo para a política de direita.
Na minha opinião, pagão moderno tem que ser de esquerda ou anarquista. Afinal, nossa conexão é com a terra e a terra pertence a quem trabalha nela, portanto, do trabalhador. Ou, se preferir, Paganismo tem conexão com o povo de uma região, portanto, é popular e público, portanto, social, portanto, socialista ou anarquista.
Faz parte do programa da ONU campanhas em defesa do direitos humanos, o que inclui os direitos das populações nativas em preservar sua cultura e religião. Isso é necessário simplesmente porque ainda existem missinários cristãos que ameaçam essas culturas e religiões. Em outras regiões, a ameaça é da conversão forçada cometida por muçulmanos fundamentalistas.
Steven Posch, cujos textos eu consulta com frequência, cita o caso do povo Kalash. O Caturo cita os Yezidis. Eu desconfio que ambos o fazem porque pertencem à etnia caucasiana. Nós não podemos ter preferência, mas eu vou aproveitar para abordar o povo Kalash.

A Tribo de Kalash (...) afirmam ser descendentes do exército de Alexandre. No entanto, sua origem permaneceu um mistério e pesquisas ainda estão em vários níveis para identificar sua ancestralidade histórica e biológica. Muitas pessoas Kalash acreditam que seus ancestrais vieram para a área de um lugar distante conhecido como Tsiyam, que os sacerdotes e bardos Kalash invocam em suas canções durante os festivais. No entanto, ninguém sabe realmente onde o lugar realmente era ou está atualmente . 

O povo Kalash é animista, adorador da natureza e se recusa a se converter ao Islã. É essa ênfase na não conversão que pode ser percebida como a causa raiz de sua marginalização na região.

Em algum momento de abril de 2017, um tribunal provincial em Peshawar reconheceu oficialmente a comunidade Kalash como um grupo étnico e religioso separado. O reconhecimento foi o culminar de uma longa luta no país predominantemente islâmico, onde as minorias religiosas e outras muitas vezes são escrutinadas pelas autoridades e até atacadas por militantes .

Em termos de práticas religiosas, as principais divindades cultuadas pelo povo Kalash são: Sajigor, Mahandeo, Balumain, Dezalik, Ingaw e Jestak. Dois tipos de eventos religiosos caracterizam a sociedade Kalash. O primeiro tipo pode ser considerado religioso, bem como cerimonial com canto e dança, enquanto o segundo tipo pode ser entendido como sendo puramente religioso sem qualquer folia. Seus principais festivais incluem: Joshi, Chaumos, Uchaw e Pul/Poh .

Os Kalash são uma das poucas culturas indígenas vivas que ainda sobrevivem no mundo. Mas eles estão lutando para salvar sua rica e antiga herança presa entre o Talibã de um lado ao longo da fronteira com o Afeganistão, e outras forças fundamentalistas socioeconômicas e religiosas do outro lado prosperando no Paquistão.

Já em 1992, um estudo realizado pelo Institute for Current World Affairs, especificou os riscos envolvidos na existência de uma identidade animista Kalash separada nos vales por eles habitados. Ele afirma como as pessoas locais não-kalash, tanto muçulmanos quanto missionários cristãos, frequentemente colocam pressão financeira e fornecem incentivos a essas pessoas para a conversão religiosa.

Fonte: https://peaceforasia.org/tribe-of-kalash-the-last-kafir/

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