Diante da confirmação da vitória presidencial nas urnas, um importante líder pentecostal vaticinou: “Não podemos negar, quem o elegeu foram os evangélicos”.
Engana-se, porém, quem pensa que a frase diga respeito à eleição de 2018, que deu vitória a Jair Bolsonaro (PL). O registro é de 1989, ano da eleição de Fernando Collor. E não veio da boca de Silas Malafaia ou de Edir Macedo, e sim do pastor José Wellington, líder da Assembleia de Deus.
Sob a promessa que fez à comunidade evangélica (“juntos, e com muita fé em Deus, iremos reconstruir o Brasil”), Collor foi o primeiro eleito via eleições diretas após 21 anos de ditadura.
De acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada em 2020, os evangélicos já correspondem a 31% da população, o que se traduz em 65 milhões de eleitores e, se mantida a projeção, até 2030 o grupo religioso se tornará maioria no Brasil, desbacando o catolicismo.
Para discutir as raízes do voto religioso no Brasil, Araújo lança o livro A religião Distrai os Pobres?, que analisa a mentalidade e os comportamentos de três eleitorados. O católico, o protestante tradicional e o evangélico pentecostal, enquanto mostra como o último grupo contribuiu para a difusão do conservadorismo no país.
Para compreender o impacto do voto desta parcela crescente de eleitores, defende, é preciso conhecer o seu perfil: são pessoas que vivem com em média até dois salários-mínimos, habitam áreas periféricas. E, diferentemente dos frequentadores de igrejas católicas, protestantes e batistas, tendem a passar mais tempo no ambiente religioso.
“A igreja pentecostal chegou aonde o Estado não alcança. São áreas de extrema vulnerabilidade em que esse projeto religioso atua no amparo à comunidade. É construída uma relação de confiança com o fiel, que possibilita a mobilização através da ‘pregação”, explica.
Neste ponto, Araújo atenta-se para o teor do discurso de ‘vitória’ difundido na vertente pentecostal. A doutrina estimula o comportamento individual baseado em uma ‘graça de Deus’, revelada apenas àqueles que atingirem certo nível de santidade em detrimento dos demais, ou seja, o moralismo pavimenta o caminho da vitória, traduzida no sucesso econômico em uma sociedade capitalista.
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