Não funcionou. Tentou se suicidar. A cura, que aplicaram a ele há uma década, também consistia em fazer sexo com mulheres e não ver pornografia. Angel deixou isso e agora é o que se chama de um ex-gay e trabalha contra as terapias reparativas que curam a homossexualidade.
“Procurei um psiquiatra particular da comunidade evangélica de Barcelona porque não me aceitava. Nas consultas tentava reafirmar minha masculinidade, mas quando isso não surtiu efeito ele começou a me medicar e baixar minha libido. Era uma castração química”, conta Angel, membro da Associação Cristã de Gays e Lésbicas da Catalunha.
“Evidentemente, não se pode curar a homossexualidade. Estas terapias supõem uma prática equivocada e estão proibidas. Causam transtornos depressivos, condutas autodestrutivas, ansiedade e podem resultar em suicídio”, afirma a psicóloga Silvia Morell.
No ano passado, a Associação Americana de Psicologia condenou estas terapias, que cobram até 80 euros por sessão, considerando-as ineficazes. Não existe nenhuma evidência científica que demonstre que seja possível mudar a orientação sexual. O Ministério da Saúde espanhol não tem registros oficiais sobre as clínicas que praticam o método. Além disso, muitas são aplicadas em centros religiosos privados.
Como a Tibidabo, atualmente investigada pelo Conselho de Saúde catalão, existem outras clínicas que oferecem o caminho para a heterossexualidade na Espanha, segundo Miguel González, presidente do Coletivo de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais de Madri: “sabemos de muitos casos de pessoas que se submetem a esses tratamentos e depois se arrependem, mas não denunciam. É um erro tratar algo que não é uma doença psiquiátrica, deveria ser um delito. Foi demonstrado que nada disso funciona”.
Marc Orozko é um caso de terapia sem religião. Um tratamento semelhante ao do cachorro de Pavlov, que trata de associar estímulos positivos ao heterossexualismo e negativos ao homossexualismo. Durante um ano ele se tratou na clínica Dexeus, em Barcelona. Tinha 20 anos e seu terapeuta recomendava que ele se masturbasse pensando em mulheres. Também o obrigava a colocar um elástico no pulso e puxá-lo toda vez que pensasse num homem, para associar a figura masculina com a dor.
Isso é conhecido como terapia aversiva de conduta. “Tinha de me castigar ou me premiar”, lembra-se Marc, que recebeu tratamento durante um ano no final dos anos 90. Ele afirma que a raiz disso teve efeitos secundários como obsessões, inseguranças e conflitos para se relacionar.
José L. se submeteu há três anos a um tratamento laico numa clínica de Madri. Ia à terapia uma vez por semana e a retiros com outros ex-gays. “Foi terrível. Fizeram uma lavagem cerebral em mim. Eu acreditava que estava doente e me sentia culpado”, conta José, que pede para manter o anonimato.
As três pessoas citadas que estiveram em terapia demoraram anos para ver que não podiam deixar de ser gays. Angel Llorent conclui: “Com o tempo tudo ia se agravando. Muita gente termina se suicidando. Diziam que eu estava doente e que era uma disfunção psicológica que podia ser curada. Agora vejo que isso não está certo e que eu não faço nada de errado”.
Fonte: AthosGLS.
Repostado. Texto originalmente publicado em 28/10/2010, resgatado com o Wayback Machine.
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