segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

História da Abrawicca e do Claudiney Prieto

Um e-mail escrito pela própria Claudia Hauy sobre a origem da Abrawicca e do Sacerdote Claudiney Prieto.

Eu tinha o Empório Mágico na época em que o Claudiney veio em minha procura falando sobre a ideia de se montar a tal associação, com este nome. Isto foi em 1998. Conheci o Claudiney, algum tempo antes, pois ele foi meu aluno quando dei aulas de Magia Wicca para um grupo de funcionários de um "disk". Soube durante o curso que meu nome havia sido indicado por ele para a dona do disk para dar aulas de Wicca. Ele me conhecia por reportagens. Ele, passado um bom tempo, foi à minha loja algumas vezes para falar sobre a elaboração de uma associação.
O Claudiney estava em busca de pessoas com credibilidade que o ajudassem a viabilizá-la através de uma maior experiência. Ele contatou vários dos mais antigos. Bom, eu já havia estado envolvida, anos antes, na fundação de uma outra entidade. Só, que, eu estava cautelosa em relação a novas tentativas de formar entidades.
Participei, assim mesmo, das primeiras reuniões (e foram muitas) para a fundação da Abrawicca, pois, na época, eu ainda via benefícios em que tivéssemos uma associação; eu pensava em fazer isso, com outras bruxas que eu já conhecia que eu sabia que tinham mais experiência que eu... Enfim, tinha muitas de nós a fim de fazer uma coisa bacana, exatamente pelo ideal de união, para nos fortalecer, nos defender de eventuais discriminações, tendo um corpo jurídico que nos representasse caso necessário, enfim... Um ideal gregário que, ao longo do tempo, fui abandonando.
A ideia inicial do Claudiney era de que os bruxos associados tivessem, inclusive, carteirinha, e que esta valeria para ter descontos em farmácias, isso, eu acho que ficou muito gravado na minha memória por que me pareceu estranhíssimo, e foi umas das primeiras ressalvas que fiz. E coisas assim me deixavam cada vez mais com o pé atrás. Observei, também, que, nas reuniões, salvo uma e outra Bruxa mais antiga, somente havia os já alunos do Claudiney. E todos diziam: "Blessed Be"...Eu achava curioso. Ouvido em bloco então... Parece uma daquelas práticas de psicologia de massas,... Além do que, se queremos dar bênçãos recíprocas, poderia se criar algo em português, pelo menos, traduzir para “Abençoado Seja”.
Bom, a ideia de ser não hierarquizada partiu de mim, e sugeri que não houvesse presidência, e sim um conselho autogestionário, com rotação de cargos, e tudo o mais que aprendi em formas de organização libertárias... Falar em anarquismo ou feminismo de forma mais efetiva também era meu discurso, nada de carteiras, nem de contribuições mensais obrigatórias, nem de sede própria, nem de bloquear quem algum dos presidentes não gostasse, ou quem fosse de uma tradição diferente, ou quem ameaça por ser o "joker". Acho que eu "muni" bastante o nosso conhecido, pois reconheço muito do discurso posterior, porém, mal compreendido e aplicado. Até um termo que eu usava de brincadeira, depois que eu me afastei, passou a ser um neologismo para definir a Comunidade.
Bem, chegamos ao acordo de fazer, então, uma "presidência" tripla, na tentativa que ninguém sobressaísse mais do que o outro, nem a associação fosse vinculada à uma pessoa, como se tivesse dono. A Denise, outra Bruxa séria que ele havia contatado, nessa altura do campeonato já tinha saído fora, talvez escabreada, com o andar da carruagem. Então, fomos eleitos, eu, ele e a Margarida (Lady Hawk). Só que, eu e ela acabamos renunciando em seguida, também.
Estávamos vendo intenções nada consistentes e começamos a achar que não havia esperança de aquilo se tornar parecido com a associação que nós tínhamos em mente. O culto à personalidade estava sendo muito alimentado, principalmente, por alguns indícios bem fortes: numa determinada reunião. Acho que foi justamente a da eleição, todos os membros iniciais se apresentaram como alunos dele. Ele, por sua vez, não mencionou, em momento algum, ter sido meu aluno... Aliás, ele conta que foi iniciado por um bruxo inglês, eu desconheço, não posso afirmar nada. Talvez para ele, não seja mérito ter sido meu aluno mais do que para mim o seja ter sido sua instrutora. Até por isso, nunca fiz questão de revelar nada a respeito, mas...São os fatos.
Ele iria lançar seu primeiro livro sobre Wicca na mesma data de inauguração da Abrawicca...Demos um parecer desfavorável a isso, e ele respondeu que não precisava da Associação para se promover. Ele demonstrou que só iria batalhar pelo que ele achasse importante, e não pelo que os possíveis outros membros com opiniões diferentes da dele pensassem ser importante, mas, ter opiniões diferentes já estava sendo devidamente evitado, pois todos pareciam formatados. Na verdade, ninguém mais antigo acreditava na associação, não tinha como.
Eu, na época, achava importante que a Wicca fosse uma religião "legalizada", como todas as outras (leigamente falando, mas quem já leu o Buckland sabe a que me refiro, pois ele dá bastante ênfase a isso) e, até eu entrar na associação ele dizia que também achava... Depois, no segundo encontro de Bruxaria que fizemos aqui em São Paulo, no Hotel Danúbio, ele expressou uma opinião completamente diferente. Ele queria a Associação dele registrada, e não a religião como um todo. Como passei a me contentar com o nosso direito constitucional de crença, resolvi por uma pedra no assunto e me retirar da associação, que acabara de provar que, para mim, não teria serventia.
Ele, nessa época, não era organizador do evento, ele ainda estava chegando no cenário...Muito antes, fizemos dois encontros de Bruxaria aqui em São Paulo no Hotel Danúbio e a "historiografia" da Wicca no Brasil, da Abrawicca pra cá, vem contar depois como se só existissem os encontros que eles realizaram. É o primeiro, segundo, terceiro encontro de Bruxaria, não... Essa conta já deveria começar no número 3. Inclusive, só fizemos dois antes e não mais, pois a própria Alemdalenda sabotou nosso encontro, mandando pessoas não irem, pois aquilo não era encontro pagão... Baseados em critérios que eu refuto. A participação de Bruxos ou Magos não-Wiccas...Nós, os que hoje somos os "mais velhinhos", nem de longe fomos os pioneiros, e ele incorpora o título de pioneiro em um de seus livros. Já tinham pessoas bem antes de mim aqui praticando Bruxaria, com o nome de Wicca já, e tudo, tinha a Márcia escrevendo livros; se ele veio ainda depois de mim, como pode ser pioneiro? Alguns encontros organizados por eles, posteriormente, foram no mesmo hotel em que fizemos os nossos, antes deles.
Depois, eles editaram uma revista... A capa do número um era uma bruxa diante de um caldeirão, exatamente igual a uma foto que tiraram de mim pra capa da Revista Já, anos antes.
A loja que funcionava dentro da Abrawicca chamava-se "Empório Pagão", nome parecido com o da minha loja, e que havia sido cogitado, inclusive para o nome de uma loja que eu e um outro Bruxo, o Wagner Périco, pensamos em montar com outros bruxos em cooperativa, anos antes. O logo utilizado com as três luas e pentagrama, nada original, esse era o logo que eu usava na minha loja, não registrado, pois não é lícito que esse símbolo pudesse ser apropriado por ninguém; ele é da Wicca, não de uma empresa. Colorido de verde e amarelo, quando se estimula e justifica a comemoração dos sabás pelos dois hemisférios? E membros de lá me dizem "eu gostaria de estar no Hemisfério Norte, q pena q não estou ainda..."
Pessoas que deixavam seus produtos em consignação na loja, depois, os viam sendo produzidos pela própria Abrawicca. O local onde é a sede da Abrawicca hoje, é perto da Hera Mágica...coincidências...muitas delas...demais. E eu, em silêncio tantos anos, pois acredito que, se uns erram, outros erram, também...Que não devemos atacar publicamente um "irmão" nosso na Arte, eu aprendi isso, afinal...e, a pessoa em questão nunca me ofendeu diretamente, então, por que afinal, eu atacar alguém que tantos já estavam a atacar, muitos com suas razões, mas outros, pelo vício de perseguir e ditar regras, coisa que eu também não acho bom.
É que eu também fui muito perseguida, mal interpretada, herdei inimizades de pessoas que me iniciaram, como se eu tivesse cometido os erros delas... Fui acusada de uma série de atitudes que não tive. Fiquei deprimida em função desses e outros mal-entendidos. Eu sempre me coloco no lugar do outro, e não costumo dar combustível para ninguém poder julgar ninguém, eu sofri muito com isso pra reproduzir a desconfiança em relação aos mais novos na Bruxaria...
Aliás, meu entendimento da Bruxaria passa pelo mito do Bode Expiatório, somos ou fomos todos perseguidos, então, eu não acho legal mesmo a perseguição de uns bruxos a outros, de um ser humano a outro, a queimação de filme pública, que se assemelha à queima antiga... Os pré, ou pós-julgamentos... Acredito que temos luz e sombra, que ninguém é bonzinho nem mauzinho o tempo todo... Não vejo nada de mais em ganhar dinheiro com seu trabalho, sejam consultas ou livros; transar com pessoas que fazem isso sem coerção, ou qualquer outro benefício que estar em evidência pode trazer...apenas acho bom que se esteja em evidência por algum valor verdadeiro...e que se colha os louros e os espinhos que vem com isso. Cada um que aproveite seus 15 minutos da melhor forma possível, mas sabendo que são só 15 minutos, sem perder a humildade.
A centralização da tal entidade não me agrada, a mistura de Roda do Ano com Hemisfério Norte e Sul ao mesmo tempo, também não. Sabás em parques públicos, também não. Ter explorado a mão de obra gratuita de membros da Abrawicca, também me desagrada muito.
Após muitas pessoas que se sentiram lesadas terem vindo me procurar pedindo auxílio, resolvi que silenciar poderia estar prejudicando ainda mais. Algumas pessoas me cobraram um posicionamento há muito tempo, mas, sinceramente, é um vespeiro... E eu sempre achei que os Deuses cuidam das coisas no seu devido tempo... Mas que isso não se enquadra no Viva e Deixe Viver, não mesmo.
Isso tudo já prejudicou bastante gente, e espero que as pessoas entrem pra associação, se quiserem, mas informadas. Sei perfeitamente que todos nós temos nossos tetos de vidro, por isso, não atirei a primeira pedra, mas, já que tantos atiraram ao longo desses anos que me mantive em silêncio, e tantos ainda vão atirar, só estou sendo mais uma a escrever. Eu só estou me posicionando, e esse direito, eu tenho. Não sou porta voz de ninguém, não levanto mais bandeiras de nada, não fico na frente pra tomar a primeira pedra mais. Ou seja, estou me curando do meu complexo de bode expiatório, em glória à Pan. E-mails "bombásticos" virão, certamente, mas não de mim, e eu nem prometi nada, não. Eu não ganho nada com brigas. Isso não me interessa.
Adoraria não ter mais nada com o que me preocupar para poder me dar ao luxo de picuinhas, mas, infelizmente, não é o meu caso. Preciso trabalhar, por isso não respondo rápido a e-mails, a não ser dos que se refiram a trabalho. Quando dá respondo um monte de cada vez... Eu não tenho nada contra quem é membro ou ex-membro da Abrawicca, parece que, em geral, os membros é que têm contra quem não é. E criar uma facção é mais uma das consequências negativas de se criar um grupo. Quando se cria um grupo, imediatamente este, até para se definir, para ter uma identidade, se contrapõe ao outro... Essa é a gênese das gangs e dos guetos. E tem-se feito isso com as diferentes Tradições da Bruxaria.
Posso assegurar que estou sendo o mais respeitosa possível, diante dos fatos. Bem mais do que muitos já foram comigo. E bem mais do que eu precisava ser. Como a Márcia colocou, essa é uma ferida, e de nada adianta mexer numa ferida, a não ser para obter nossa cura. E mesmo assim, nada que dói é legal.
Gente, não tem que parar e tomar fôlego antes de mexer nisso? E dá pra chamar de algo mais sutil do que bosta? Acho lamentável o rumo que as coisas tomaram aqui, sim. E não gosto nada de lembrar dessas coisas. Eu quero falar de coisas mais agradáveis e construtivas.

Nota: eu entrei em contato com a Claudia Hauy para que ela (se quisesse, óbvio) se manifestasse a respeito desse texto, se ela confirma ou nega a autoria. Eu não consegui um retorno e, curiosamente, no site dela, os textos ali de autoria dela revelam que ela (como muitos outros que passaram por essa história) resolveu "jogar panos quentes" no passado e viver no atual cenário do "politicamente correto".
Considerando o caminho que a Wilka S/A está tomando, vale a pena enfatizar aos pagãos, bruxos e wiccanos brasileiros: quem não lembra o passado, está condenado a repetí-lo.

Republicado. Texto orginalmente publicado em 04/04//2008, resgatado com o Wayback Machine.

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