terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Imagem do divino

De um lado tem um rabino mítico que deu origem a um culto fundado por escravos, servos, fracos e covardes, que é responsável por dois mil anos de medo e vergonha, rejeitando tudo aquilo que é realmente sagrado.

Do outro lado tem a Deusa, completamente nua [babando], oferecendo seus seios [e seu sexo] para que todos vivam satisfeitos, ao lado do Deus Consorte, com quem celebra tudo aquilo que realmente é sagrado: o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer e o sexo”. – do meu texto “Ninguém precisa ser curado”.

Pesquisando o Oráculo Virtual [Google], eu encontrei algumas pistas.

“De acordo com uma escola de pensamento, as coisas mudaram há cerca de 12.000 anos. Com o advento da agricultura e da apropriação original, as pessoas começaram a se estabelecer . Eles adquiriram recursos para se defender e o poder passou para os machos fisicamente mais fortes. Pais, filhos, tios e avôs começaram a viver perto uns dos outros, a propriedade foi passada para a linha masculina e a autonomia feminina foi corroída. Como resultado, o argumento continua, o patriarcado emergiu”.

Fonte: https://www.newscientist.com/article/mg23831740-400-the-origins-of-sexism-how-men-came-to-rule-12000-years-ago/#ixzz74g1quJye

Isso é calculado como tendo ocorrido no pleistoceno, mais conhecido como Era do Gelo. Estima-se que nossa espécie tenha surgido no plioceno, no paleolítico, por volta de 2,5 milhões de anos atrás e as primeiras populações surgiram no neolítico, por volta de 12 mil anos atrás, momento no qual o estudo define que houve a mudança na organização social do ser humano, de matriarcado para patriarcado.

A imagem do divino mais frequente no paleolítico é conhecida pelas “Vênus”, figuras femininas, completamente nuas e corpulentas [ou grávidas]. Essa imagem permanece presente no neolítico, as figuras femininas ainda aparecem nuas, ora segurando os seios, ora em postura de braços abertos [postura ritual de saudação], geralmente acompanhadas por animais ou portando ramas de plantas.

Com o início das civilizações, por volta de 5 mil anos atrás, na Antiguidade Clássica, a imagem do divino muda radicalmente para a figura masculina, representada como dominante, soberana e poderosa. Os panteões são estruturados como um reflexo da sociedade e da política vigentes. Mesmo nesse mundo politeísta e tolerante, os resquícios de antigas crenças geralmente mostram o Deus principal da civilização vencendo [matando] um dragão ou uma serpente.

Com o desenvolvimento, expansão e colapsos das civilizações, o fim da Antiguidade Clássica marcou também a mudança da imagem do divino para uma figura que representa dor, sofrimento, sacrifício e morte. A arte religiosa reflete uma mudança de concepção na qual o mundo, a natureza, o corpo e o prazer, são ruins, malignos e pecaminosos. O mundo contemporâneo ainda carrega essa carga iconográfica que patrocina o medo, a vergonha e a culpa.

Foram necessárias muitas guerras e revoluções até que o mundo ocidental se permitisse contestar e questionar as doutrinas religiosas. Com a Renascença e o Iluminismo, a Ciência voltou a crescer, filósofos produziram pensamentos desafiadores e a psicanálise conduziu a humanidade ao autoconhecimento.

Na Era Contemporânea aconteceu o Movimento da Contracultura, onde a humanidade iniciou uma mudança de concepção de mundo, ainda em curso. A humanidade está percebendo que é parte da natureza e que precisa preservar o ambiente para manter sua existência. A humanidade está percebendo que seus hábitos de consumo beiram a obsessão e a neurose, com efeitos prejudiciais ao ambiente e à comunidade. A humanidade está buscando por suas origens e raízes, bem como por formas de espiritualidade alternativa. A humanidade está praticamente moldando o mundo e a vida para a existência on-line.

Para o momento presente, a imagem do divino seriam as redes sociais e os aplicativos de mensagens. Ao lado de smartphones, laptops e desktops, tem a imagem do ciborgue, do androide. Ainda se está estudando formas de utilizar impressoras 3D e carros/motos voadores estão em aparecendo em protótipos.

O avanço tecnológico, entretanto, não tem surtido efeito na organização social e política. O mundo ainda vive [política e socialmente] no século XX. Por isso que ainda existe conservadorismo político e fundamentalismo religioso. Por exemplo, só com muita luta e mobilização é que se começa a perceber que existem pessoas intersexuais e transgênero.

Avant la lettre, o Paganismo Moderno é [provavelmente] o maior movimento espiritualista que é inclusivo. Nós somos os mais LGBT Friendly. Evidente, tem grupos e pessoas em nosso meio que cultivam o racismo, a xenofobia, a homofobia e a transfobia, mas são poucos. Eu só peço que se atenham ao sentido do ritual e seu fundamento mitológico. Eu facilmente me dedicaria em ajudar minha alta-sacerdotisa e não recusaria a realizar o hieros gamos com ela, mesmo se fosse transgênero. Eu definitivamente continuaria a amar a Deusa, seja em qual forma que Ela decida se manifestar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário