“De um lado tem um rabino mítico que deu
origem a um culto fundado por escravos, servos, fracos e covardes, que é
responsável por dois mil anos de medo e vergonha, rejeitando tudo aquilo que é
realmente sagrado.
Do outro lado tem a Deusa,
completamente nua [babando], oferecendo seus seios [e seu sexo] para que todos
vivam satisfeitos, ao lado do Deus Consorte, com quem celebra tudo aquilo que
realmente é sagrado: o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer e o sexo”.
– do meu texto “Ninguém precisa ser curado”.
Pesquisando o Oráculo Virtual [Google],
eu encontrei algumas pistas.
“De acordo com uma escola de pensamento, as coisas mudaram há cerca
de 12.000 anos. Com
o advento da agricultura e da apropriação original, as pessoas começaram a se
estabelecer . Eles
adquiriram recursos para se defender e o poder passou para os machos
fisicamente mais fortes. Pais, filhos, tios e avôs começaram a viver perto
uns dos outros, a propriedade foi passada para a linha masculina e a autonomia
feminina foi corroída. Como resultado, o argumento continua, o patriarcado
emergiu”.
Fonte: https://www.newscientist.com/article/mg23831740-400-the-origins-of-sexism-how-men-came-to-rule-12000-years-ago/#ixzz74g1quJye
Isso
é calculado como tendo ocorrido no pleistoceno, mais conhecido como Era do
Gelo. Estima-se que nossa espécie tenha surgido no plioceno, no paleolítico, por
volta de 2,5 milhões de anos atrás e as primeiras populações surgiram no
neolítico, por volta de 12 mil anos atrás, momento no qual o estudo define que
houve a mudança na organização social do ser humano, de matriarcado para
patriarcado.
A
imagem do divino mais frequente no paleolítico é conhecida pelas “Vênus”,
figuras femininas, completamente nuas e corpulentas [ou grávidas]. Essa imagem
permanece presente no neolítico, as figuras femininas ainda aparecem nuas, ora
segurando os seios, ora em postura de braços abertos [postura ritual de
saudação], geralmente acompanhadas por animais ou portando ramas de plantas.
Com
o início das civilizações, por volta de 5 mil anos atrás, na Antiguidade
Clássica, a imagem do divino muda radicalmente para a figura masculina,
representada como dominante, soberana e poderosa. Os panteões são estruturados
como um reflexo da sociedade e da política vigentes. Mesmo nesse mundo
politeísta e tolerante, os resquícios de antigas crenças geralmente mostram o
Deus principal da civilização vencendo [matando] um dragão ou uma serpente.
Com
o desenvolvimento, expansão e colapsos das civilizações, o fim da Antiguidade Clássica
marcou também a mudança da imagem do divino para uma figura que representa dor,
sofrimento, sacrifício e morte. A arte religiosa reflete uma mudança de
concepção na qual o mundo, a natureza, o corpo e o prazer, são ruins, malignos
e pecaminosos. O mundo contemporâneo ainda carrega essa carga iconográfica que
patrocina o medo, a vergonha e a culpa.
Foram
necessárias muitas guerras e revoluções até que o mundo ocidental se permitisse
contestar e questionar as doutrinas religiosas. Com a Renascença e o
Iluminismo, a Ciência voltou a crescer, filósofos produziram pensamentos
desafiadores e a psicanálise conduziu a humanidade ao autoconhecimento.
Na Era Contemporânea aconteceu o
Movimento da Contracultura, onde a humanidade iniciou uma mudança de concepção
de mundo, ainda em curso. A humanidade está percebendo que é parte da natureza
e que precisa preservar o ambiente para manter sua existência. A humanidade
está percebendo que seus hábitos de consumo beiram a obsessão e a neurose, com
efeitos prejudiciais ao ambiente e à comunidade. A humanidade está buscando por
suas origens e raízes, bem como por formas de espiritualidade alternativa. A humanidade
está praticamente moldando o mundo e a vida para a existência on-line.
Para o momento presente, a imagem do
divino seriam as redes sociais e os aplicativos de mensagens. Ao lado de
smartphones, laptops e desktops, tem a imagem do ciborgue, do androide. Ainda se
está estudando formas de utilizar impressoras 3D e carros/motos voadores estão
em aparecendo em protótipos.
O avanço tecnológico, entretanto, não
tem surtido efeito na organização social e política. O mundo ainda vive [política
e socialmente] no século XX. Por isso que ainda existe conservadorismo político
e fundamentalismo religioso. Por exemplo, só com muita luta e mobilização é que
se começa a perceber que existem pessoas intersexuais e transgênero.
Avant la lettre, o Paganismo Moderno é [provavelmente]
o maior movimento espiritualista que é inclusivo. Nós somos os mais LGBT
Friendly. Evidente, tem grupos e pessoas em nosso meio que cultivam o racismo,
a xenofobia, a homofobia e a transfobia, mas são poucos. Eu só peço que se
atenham ao sentido do ritual e seu fundamento mitológico. Eu facilmente me
dedicaria em ajudar minha alta-sacerdotisa e não recusaria a realizar o hieros gamos
com ela, mesmo se fosse transgênero. Eu definitivamente continuaria a amar a
Deusa, seja em qual forma que Ela decida se manifestar.
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