O que há em comum entre o racismo e a xenofobia são suas motivações psicológicas. Com uma colagem de textos, eu vou dar primeiro algumas definições.
A xenofobia é um dos fenômenos mais presentes na história e também um dos mais característicos de nossa sociedade. Em uma definição mais geral, pode-se dizer que é uma aversão pelo que é diferente, pelo outro, que geralmente nos assusta com sua alteridade. Mas é também um termo usado para denominar um transtorno psiquiátrico que gera um medo excessivo, sem controle algum, ao que é desconhecido – objetos ou pessoas. Este conceito também se estende, de forma um tanto polêmica, a qualquer discriminação de ordem racial, grupal – em referência a grupos minoritários – ou cultural.
O repúdio a culturas diferentes geralmente traz em sua essência o ódio, a animosidade, o preconceito, embora este possa provir também de outras raízes, como opiniões preconcebidas sobre determinados grupos ou coletividades, por pura falta de informação sobre eles; conflitos ideológicos que envolvem crenças em atrito, causados por um choque conceitual; motivações políticas e outros tantos fatores.
Em seu sentido mais restrito, a xenofobia tem como principal sintoma um medo descomedido e desequilibrado do desconhecido. Exclui-se assim o temor em seu aspecto natural. Deste ponto de vista, ela é considerada uma doença, causada por uma ansiedade de teor significativo, desencadeada após um período de exposição a um contexto ou a um objeto desconhecido e, por isso mesmo, assustador.[Info Escola]
A criança pequena em certos momentos mostra estranhamento diante de um rosto desconhecido. Com o processo de socialização, aprenderá a separar o "nós" (o que lhe é familiar) do outro (o que lhe é desconhecido). Vai ampliando o campo "familiar", mas sempre permanecerá nela algo desconhecido do qual não consegue se separar e representar. Na criança, portanto, permanecem restos não identificados e não simbolizados que lhe causarão estranheza e podem ser figurados como estrangeiro. Contudo, para a xenofobia infantil transformar-se em racismo é necessário o suporte do discurso racista.
O preconceito é um fenômeno psicológico e um produto da cultura. Está relacionado a mecanismos de defesa que sustentamos para afastar ameaças imaginárias. Quanto maior a nossa identificação com as características das pessoas que discriminamos, maior a força do preconceito. A criança internaliza atitudes preconceituosas dos pais com os quais se identifica. A escola, o grupo social e a mídia também são fontes de preconceito. Quanto menos praticarmos o exercício do pensamento e da reflexão, maior a necessidade de nos defendermos de pessoas e coisas que nos causam estranheza.
Outra relação fundamental para entendermos o preconceito é a sua associação com a paranóia. Como se institui a paranóia? Uma das teorias é fornecida pela psicanálise de Jacques Lacan. Na criança, o "eu" que marca a sua identidade é formado por volta dos 18 meses pela identificação e internalização do "eu" da pessoa que cuida - geralmente a mãe - deste pequeno ser, frágil e totalmente dependente. Este "eu", a princípio, é corporal. A criança que até essa idade apresenta percepções fragmentadas do próprio corpo vai constituir sua imagem corporal de forma integrada identificando-se pela incorporação da figura materna.
Porém, o "eu" estrangeiro nunca vai totalmente se integrar. Daí, sempre vão conviver dois "eus" no sujeito humano que estarão sempre em conflito. Se houver cisão interna e um deles for rejeitado e projetado para fora, poderá tornar-se discriminado e perseguidor. Ou seja, o sujeito coloca no outro seus próprios aspectos negativos para transformá-lo em vítima do preconceito e/ou perseguidor. A xenofobia e a paranóia, então, provêm das mesmas origens. Portanto, para falar sobre preconceito temos de pensar em nós mesmos como fontes alimentadoras.[Terra Magazine]
Em outros tópicos deste blog eu comentei a minha consternação em ver neopagãos fazendo discursos em defesa da "estirpe" e da "raça", como em "O perigo da ideologia política", "Gens e ethnos" e "Fantasmas do passado". Em termos gerais, fica claro que esses discursos são demonstrações de histeria, neurose e paranóia. Se levarmos em consideração que foi encontrado DNA de Neandertal em nosso DNA, se levarmos em consideração os fatos históricos e antropológicos, todos nós somos mestiços e descendentes de imigrantes, o que derruba todo esse mito moderno da "estirpe".
Texto resgatado com Wayback Machine.
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