sábado, 6 de junho de 2015

Esse tal de respeito

No Canal Ateu do Patheos, Peter Mosley escreveu um artigo falando sobre como os cristãos usam o “respeito” como argumento contra o ateísmo.
Sabemos quais são os motivos dos ateus em suas críticas ao Cristianismo e às religiões em geral. Sabemos que debates quanto à crença [ou descrença] costumam ser subjetivos. Mesmo argumentos ateus são preconceituosos, intolerantes, superficiais e generalizantes.
Podemos começar com a premissa de Peter, quando ele se coloca no lugar do cristão e propõe a questão de como proteger uma crença irracional e prejudicial.
Caso típico de inferência: se parte do exemplo para se generalizar. Pressupõe-se que toda crença é irracional e prejudicial. Não percamos o assunto aqui, sabemos que existem organizações religiosas que defendem absurdos, alegando que suas afirmações são verdades absolutas, por que são divinamente reveladas. Não obstante, não podemos confundir alegações de uma organização religiosa como sendo a opinião de todas as religiões. Organizações religiosas tendem a interpretar a escrituras sagradas de seu credo mais por interesses políticos do que por interesses religiosos.
O erro começa na premissa de que toda religião, toda crença, toda espiritualidade é irracional.
Mas o argumento tem seu mérito. Chega a ser esquisito ver cristãos reclamar que o Cristianismo é a religião mais perseguida no mundo. Chega a ser esquisito ver cristão pedir para ter sua liberdade religiosa respeitada. Torna-se absurdo ver cristão exigir pela liberdade de expressão.
Eu não concordo com a postura do ateu que alega que uma vez que o “religioso” é desrespeitoso então o ateu pode ser desrespeitoso com suas crenças. Podemos ser desrespeitoso em relação a um argumento. Discordar de um argumento ou de uma afirmação religiosa não é ser desrespeitoso o ofender uma crença. Discorda-se de um argumento, opinião ou visão religiosa, não da crença em si mesma.
Sabemos, por exemplo, do texto de Celso, por fragmentos de seu discurso contido no texto de Orígenes. Celso criticou duramente o Cristianismo, assim como Juliano, chamado Apóstata, por uma organização religiosa que conquistou o poder absoluto e ali se manteve por muitos séculos, por meio da força e do medo.
Dependendo da circunstancia e do motivo, o respeito é um valor utilizado para desqualificar uma crítica, quando não o de calar, censurar, o questionamento.
Eu posso listar várias ocasiões onde a crítica ou a apologia perderiam seu argumento simplesmente se usando o argumento de que se deve respeitar. Como o ex-bruxo Millenium que se tornou cristão na IURD. Pagãs, bruxos e wiccanos criticaram e ele exigiu que respeitassem sua liberdade religiosa e sua escolha. Como a sacerdotisa diânica Z Budapest que causou uma comoção no Pantheacon ao discriminar transgêneros. Pagãos, bruxos, wiccanos e diânicos criticaram e caberia aqui ela pedir para respeitassem sua tradição e sua opinião. Como eu diversas vezes critiquei o discurso do monoteísmo dissimulado do Dianismo de personalidades pagãs, divulgando ideias e práticas pessoais, divulgando outras formas de paganismo moderno como se fosse Wicca. O caro eventual e dileto leitor sabe bem que esse pagão passou verdadeiras agruras.
Mesmo entre pagãos politeístas, minha crítica a Eric Dupree causou comoção no Patheos.
O problema, que muitos pagãos parecem esquecer, é que o monoteísmo é exclusivista. Por uma questão de lógica e discurso, o monoteísmo é, por definição, ofensivo a qualquer outra percepção do divino.
Considerando a história do monoteísmo abraãmico, eu prevejo um grande perigo à humanidade, se o monoteísmo diânico continuar a crescer, ganhar popularidade, influência e poder. Não irá demorar muito a começar os concílios, as listas de heresias, os livros proibidos, as censuras, as prisões, torturas, mortes, desta vez feitas “em nome da Deusa”.
Não obstante, pagãos exigem que eu tenha respeito em relação ao Dianismo, que eu não posso dizer que a Deusa Diânica é uma Santa Ameba. Se alguém tiver uma palavra melhor para designar uma divindade que reproduz a si mesma assexuadamente, podem me dizer. Eu discordo dessa percepção do divino e eu critico os argumentos teológicos, isso é discordar, isso não é ofender, isso não é desrespeito. Isso é ser honesto e sincero. Isso é servir aos Deuses e honrar a nossos ancestrais.
PS: O interessante é que as mesmas pessoas que "exigem" respeito criticam a Wicca Cristã, a Eddie Van Feu e não reclamaram quando uma conhecida celebridade pagã demonstrou preconceito em relação a pessoas trangênero.

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