segunda-feira, 11 de maio de 2015

Os ritos sagrados do sexo e da morte

Na maioria do mundo civilizado, ao menos há cinco mil anos atrás, existiam mulheres, xamãs ou sacerdotisas, que representavam os Deuses em rituais sexuais sagrados e, na Grécia Antiga, eram conhecidas como hieródulas. 

Uma hieródula devia ter capacidades semelhantes ao do xamã, ela podia viajar, em transe, para outras dimensões e se unir com seu espirito amante. Parte do papel de uma hieródula era passar a noite com um rei ou rainha recentemente coroado e, enquanto incorporava seu espírito amante, ela transferia a soberania da terra para a pessoa real em uma iniciação sexual. 

A soberania da terra somente podia ser passada por este tipo de coito interdimensional e era um contrato sagrado que a maioria das civilizações honrava. Você encontrará diversas referências ao Casamento Divino, o Casamento Alquímico ou o Hiero Gamos. 


Cena da paixão


Aqui nós começamos a descobrir o verdadeiro significado do termo “cena da paixão”, por que é sua paixão sexual que acende a operação alquímica do Casamento Divino. A cena da paixão era centrada na Deusa Demeter que perambula pela terra em luto por que sua filha, Perséfone, foi sequestrada por Hades. A semente sexual é representada pelo trigo e, na culminação dos rituais, a hieródula faria amor com o alto sacerdote ou o hierofante. 


Demeter e Perséfone


Por causa do seu foco no trigo, a dramática encenação e o tema da terra que permanece infértil até que Perséfone ressurja na primavera, alguns comentaristas acreditam que o propósito dos ritos da fertilidade era para propiciar os Deuses para ter boas colheitas e aumentar a produção de gado. Mas ritos de fertilidade existem muito antes do período agrícola então é obvio que devia haver um propósito mais profundo por detrás dessas cenas da paixão sagradas. 

Entretanto esta devia ser a forma como os mistérios sagrados eram vistos pelas massas, que não entendiam o propósito dos rituais. Eles atendiam a um mistério menor, que eram executados no equinócio de primavera, enquanto os mistérios maiores, onde a iniciação espiritual acontecia, era no equinócio de outono e apenas para poucos escolhidos. Os mistérios menores acabavam com um batismo com água enquanto os mistérios maiores eram encerrados com uma iniciação com fogo. 

Nos mistérios menores, os ensinamentos eram entregues na forma de alegorias nas quais o verdadeiro significado era oculto. Tudo isso era para preparar aqueles poucos que iriam seguir nos mistérios maiores, aonde os significados ocultos das alegorias seriam revelados e a iniciação pelo fogo aconteceria. Em outras palavras, apenas nos mistérios maiores que era mostrado ao iniciado que estas cenas eram alegorias que tinham um duplo propósito, ensinamentos tanto espirituais quanto astronômicos que eram percursoras para a iniciação espiritual. 

Uma destas cenas tem um Deus sol que morre e então renasce três dias depois, da mesma forma como o sol “more” ou alcança o nadir de seu ciclo anual no solstício de inverno e então começa sua jornada três dias depois. Mas como apenas poucos aprendiam os mistérios maiores, muitos saiam dos mistérios menores acreditando que haviam recebido a revelação que uma pessoa real morrera e renascera três dias depois. 


A iniciação pelo fogo e a pequena morte


Quando vemos o que iniciados disseram sobre os mistérios maiores, fica claro que os mistérios menores eram alegorias para ensinamentos espirituais mais profundos que conduziam para a iniciação. 

Cícero disse que os mistérios maiores que eles não apenas ensinavam um homem como viver, mas a como morrer. Não se estranha que os franceses chamam o orgasmo de pequena morte. Sexo e morte estão tão próximos que ambos são iniciações para outro portal. O que os homens não recebem pela magia sexual sagrada, eles buscam por isso na promiscuidade, estupro, violência e Guerra, devido ao anseio por este portal e os mestres da guerra sabem disso. 

Plutarco escreveu sobre sua iniciação: 

Quando um homem morre, ele é como que são iniciados nos Mistérios. Toda nossa vida é uma jornada por caminhos tortuosos sem saída. No momento que desistimos, vem terror, medo, espanto. Então uma luz vem para te encontrar, campos puros que nos recebem, cantos, danças e aparições sagradas. 

Apuleio escreveu no Asno Dourado: 

Mas acredita-o que é verdade; saiba que eu cheguei ao término da morte, e achado o palácio da Prosérpina, andei e fui gasto por todos os elementos, a meia noite vi o Sol resplandecente com muito formosa claridade, e vi os deuses altos e baixos, cheguei-me perto e adorei-os; eis aqui, dito, o que vi, o qual como queira que ouvisse, é necessário que não saiba; mas aquilo que se pode manifestar e denunciar às orelhas de todos os leigos, eu muito claramente direi.

Estes ritos de sexo sagrado perderam seus favores depois que as grutas de mistérios e bibliotecas foram destruídas pelo Imperador Romano Teodósio. A dominação violenta e belicosa das três religiões abraãmicas foi melhor servida desde então pela ignorância das massas sobre a existência do portal do sexo e da morte.

Autora: Ishtar Babilu Dingir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário