segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Religiosidade nominativa

Na rua temática da religião, na competição para aumentar a clientela, os funcionários, ao invés de apregoar seu credo, tentam denegrir o credo de seus concorrentes.
Na loja da esquina, o cristão escarnece o ateu, falando da conversão de um ex-ateu. Na loja da outra esquina, o pobre ateu se contorce para explicar que o Ateísmo não é religião para que alguém o renegue e se converta.
A apologia tão apaixonada revela uma ironia de que, no fundo, o Ateísmo é uma religião. Negar isto faz parte da doutrina. Basta ver como a Ciência ocupa, feito vestal, o mesmo papel de Deus e a Razão ocupa, feito revelação divina, o mesmo papel da bíblia. O ateu se daria melhor se percebesse um fato recorrente de nossa época: a religiosidade nominativa.
Por simpatia, por escolha, por coopção, declara-se ser ou ter tal ou qual religião, sem que se siga ou se professe as doutrinas dela, sem que se comprometa ou se pratique essa espiritualidade.
Qualquer um pode afirmar que é cristão, espírita, budista, muçulmano, ateu ou pagão.
Se a conversão (ou reconversão) de uma pessoa a uma determinada religião fosse um ítem que comprovasse que a religião nova (ou readquirida) é a melhor, todas as religiões majoritárias estariam bem complicadas, visto que é muito maior o número dos "desviados".
No nosso mundo onde tudo que importa é aumentar o patrimônio, ganhar prestígio, ter influência, encontrar respostas rápidas, ter sucesso na carreira, tudo mais é vivido de forma superficial, supérfluamente, vidas sem sentido ou conteúdo, a mediocridade impera.
A espiritualidade e a religiosidade não podem ser mais objetos, conveniências, para serem colecionadas, serem usadas e trocadas como se fossem produtos descartáveis.
A escolha de um caminho espiritual, de uma religião, não pode ser algo imposto pela família, por um grupo, pela sociedade ou pelo governo. Também não deve vir de um impulso, de um capricho, de um modismo, não pode ser um mero rótulo ou recurso para se enturmar. Deve ter um compromisso pessoal, uma responsabilidade constante e uma prática diária.

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