quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um efeito da falta de educação sexual

Que no Ocidente Cristão assuntos que envolva o corpo, o prazer, o sexo e o relacionamento entre pessoas seja motivo de alarde, escândalo, puritanismo e moralismo hipócrita, não é novidade a este pagão ou a este blog.
Por exemplo, eu ainda espero por uma resposta [via email] do Luis Pondé aos meus comentários a seu texto "Terrorismo Sexual":
O autor escreve: "Sexo é assunto da vida privada e familiar", mas esquece que em muitas famílias falar sobre ou a respeito de sexo ainda é tabu.
Curiosamente o autor desconfia da intenção e da formação das pedagogas: "Nenhuma escola ou pedagoga maníaca por sexo deveria entrar nas cabeças das crianças com suas fantasias travestidas de teorias", mas se vamos desconfiar da formação e da intenção de uma pessoa com formação acadêmica, o autor deveria desconfiar de si mesmo.
O autor pergunta candidamente, como se não houvesse dado uma "resposta" anteriormente: "Quem são os teóricos de confiança? Quem descobriu o sexo correto?" A resposta pode não ser a adequada ou a preferida do autor, mas certamente não podemos continuar a fingir que o ser humano não possui sua sexualidade desde que nasce, apenas mudando as formas de manifesta-la, segundo Reich e as 5 fases da sexualidade humana.
Em seguida o autor comete o mesmo equívoco, difamação, calúnia e injúria que osd argumentos dos fundamentalistas cristãos recorrem quando o assunto é educação sexual, sexualidade, crianças e adolescentes: "No futuro, talvez revoguem a lei contra a pedofilia em nome dos avanços conra os preconceitos e a pedofilia venha a ser correta", mas esquece de estabelecer o vínculo causal entre um argumento e outro. Violência sexual sempre será crime, o que pode variar é a questão da idade ou do consentimento entre as pesoas que se relacionam. O fato é que a nova geração tem maior acesso à informação do que a nossa, em especial sobre sexo e sexualidade, mas sem a devida orientação/educação/formação. Os casos de pedofilia é apenas uma ponta convenientemente explorada pela sociedade hipócrita para voltar a vigorar o puritanismo.
O autor é incensado, sem razão, pelos católicos ao repudiar a educação sexual, descrevendo-a como ridícula, mas sem essa educação haverá apenas um aumento de casos de pedofilia, de violência sexual contra crianças e adolescentes, de gravidez não planejada. Não contente, ainda sugere que a professora tenha um exame de sanidade mental ou de atestado de que tenha uma vida sexual feliz para abilitá-la a dar aulas de sexo. O autor por acaso fez um auto-exame?
O autor reproduz o estado de ignorância social quanto ao sexo: "Sexo saudável é sexo pelo sexo, sem preconceitos? Conversa fiada, sexo sempre é dificil porque seu contexto passa por fantasias, mentiras, insegurança e infidelidades", sem se dar conta que tal situação ocorre exatamente porque nós vivemos um século dominado pelo puritanismo, pela repressão e opressão sexual.
O autor entra no mesmo argumento que resvala a "teoria de conspiração" tão acalentada entre os fundamentalistas: "Educação sexual é uma armadilha a serviço de todo tipo de lobby", um engano que tem causado manifestações de homofobia. Então recorre ao velho apelo à maioria: "Se o bando da educação sexual fosse de homoafetivos [...]? você [...] heteroafetivo(s), aceitari(am) somente porque o bando em questão acusaria você(s) de maioria esmagadora preconceituosa?" O autor se esquece que nem sempre a maioria está certa, só por ser maioria, ou o autor se esquece que o Nazismo conquistou o poder graças à essa maioria? Estamos em um Estado de Direito, onde mesmo as minorias tem seus direitos resguardados. Mesmo que equivocada ou tendenciosa, uma formação educacional tem que refletir a realidade sexual humana e o Estado de Direito. Os incomodados que continuem em seu puritanismo recalcado.
A discussão sobre a sexualidade, em especial da criança e do adolescente ainda é um tabu, uma proibição, resultante do obscurantismo que a Igreja impõe no Ocidente Cristão. Não foi nenhuma surpresa ao me deparar com as reações a esta notícia:
Virou moda entre muitas meninas britânicas o uso de pulseiras de plástico coloridas, apelidadas de "shag bands" ("pulseiras do sexo", em tradução-livre).
Cada cor representa um ato afetivo ou sexual que, em teoria, a meninas precisariam fazer caso um menino consiga arrebentar a pulseira. Esses atos vão desde um inocente abraço até sexo oral e relações sexuais completas.[BBC]
Poderia confundir-se com mais uma daquelas modas que pega, uma vez que é usado por milhares em várias escolas primárias e preparatórias no Reino Unido e custa apenas uns cêntimos em qualquer banca ao virar da esquina.
Andam uns atrás dos outros nos recreios das escolas, na tentativa de rebentar uma das pulseiras. Quem a usava terá de “oferecer” o acto físico a que corresponde a cor.[Destak] [link morto]
Não é necessário ter nivel superior para saber que se for proibido vai ser pior. O que se precisa é perceber que a responsabilidade é da própria sociedade, que usa a sexualidade para fins comerciais, que mantém uma indústria pornográfica, enquanto pelo outro lado continua a tratar a criança e adolescente como um ser alienado, ingênuo, inocente.

4 comentários:

  1. Educação sexual, informal, de uma maneira ou de outra todas as pessoas tem, se calhar essa educação não é a desejável e as informações e modelos que passam não são os correctos. Por este motivo todo aquele que luta contra uma educação sexual formal e institucional , à partida o que parece pretender é que se mantenha o status quo que como sabemos é mau.
    Claro que a mim também se me coloca o problema de saber da competencia das pessoas, homens ou mulheres, que a vão ministrar mas esse é um outro problema que é preciso acautelar.
    De qualquer modo, hoje, muitos jovens e homens são educados pela pornografia sexista e depois vão «educar» as suas companheiras o que é um panorama verdadeiramente desolador pelo que penso que dificilmente a situação pode piorar.

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  2. baby, vc ja conhecia a somaterapia e as ideias do Roberto Freire?

    Wilhelm Reich?

    acho q isso é pra nós... tem tudo a ver...

    beeeeeeeeeeeeeeeeeeijunda!

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  3. Beto,gostrai de convidá-lo para visistar meu blog,lá postei diversos trabalhos sérios sobre a violência da pronografia e prostituição que nós mulheres somos submetidas e sempre silenciadas quando reclamamos.Inclusive postei o blog de uma ex-prostituta.Não há nada de bele nem libertário nestas práticas,e muito menos nada de moralismo por parte de quem é contra;está tudo explicado.Espero que goste e que acrescente bastante.

    bjs

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  4. Vamos por partes, que eu simplesmente adoro quando recebo atenção, coisa de leonino.
    Sim, as pessoas tem, per fas per nefas, uma educação sexual informal, eu mesmo sabia mais de sexo aos 7, 12 anos que meus colegas de classe.
    Eu conheço Wilhelm Reich mas sei pouco sobre meu xará.
    Quanto ao tema da pronografia e prostituição, por ser temas complexos, em muitos tópicos deste blog há algumas concepções a guisa de comparação, dentro da visão antropológica, histórica, psicológica e até religiosa.
    Talvez eu tenha que compilar para dar um corpo ao que eu, como pagão e apaixonado pela mulher, penso sobre prostituição e pornografia.

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