Representantes da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa comemoraram hoje (31) a confirmação de um encontro oficial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cerca de 40 pessoas debateram, no Rio, propostas para a redação de um programa nacional sobre o tema, que deverá ser apresentado ao presidente no dia 20 de novembro. Evangélicos não participaram da reunião.
"Queremos congregar todos os setores. Pela primeira vez, um presidente vai receber a comissão para discutir o tema. Vamos elaborar um projeto nacional", disse Ivanir dos Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap). Presidente da Federação Israelita do Rio, Sérgio Niskier disse não acreditar em ação de governo que "não nasça do clamor"."Não é um movimento vindo de um ato de bondade do governo, é um 'acordar'. A sociedade há muito tempo tem de dar um grito contra a intolerância", declarou. Em discurso, Niskier lembrou casos recentes de ataques sofridos por religiões de origem africana no Estado do Rio. "Já foi assim conosco. Depois dos judeus, vieram os ciganos, os comunistas, os homossexuais etc. O racismo não se contempla com seu primeiro alvo", disse. Segundo ele, sinagogas também são alvos de vandalismo no Rio.
No encontro, o subsecretário de Políticas Afirmativas da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Alexandro Reis, disse que o governo federal poderá financiar a criação de uma Delegacia de Combate à Intolerância Religiosa no Rio. Um dos convidados, o delegado Henrique Pessoa, coordenador de Inteligência da Polícia Civil do Rio, disse, porém, que a obra não é uma prioridade. "Ficamos um pouco decepcionados porque não têm havido denúncias", declarou. O delegado estimulou os presentes a divulgar que denúncias podem ser feitas por meio do site da Polícia Civil. "Podemos brigar por uma delegacia especializada, mas hoje a demanda é muda. É fato que muitas pessoas têm medo, mas é preciso descobrir um canal mais efetivo, porque senão vai ser difícil lutar (pela delegacia).
"Presidente da Associação de Educação Católica do Rio, Sérgio Maia apresentou um plano de mobilização das religiões pela educação e defendeu que a sociedade "tenha a convicção das contribuições africanas". Foram discutidos, entre outros pontos, o mapeamento de centros religiosos no País e a aplicação da lei que determina o ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira nas escolas. A antropóloga Ana Paula Miranda foi convidada pelo grupo para elaborar um "dossiê da intolerância religiosa" no Estado.
Fonte: Bem Paraná
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
O réu é um animal
Em 1386, um julgamento na cidade francesa de Falaise condenou o réu à pena máxima, enforcamento em praça pública, por cometer infanticídio – assassinato de criança. No dia da execução, o povo se aglomerou para ver o espetáculo. Pela importância da solenidade, o carrasco recebeu um par de luvas brancas. No centro do show estava a ré: uma porca. Sim, isso mesmo. A porca havia sido julgada e condenada à forca. Na Europa feudal, o julgamento de animais era comum, já que se acreditava que, se eles eram responsáveis por crimes, deveriam responder por eles. O júri era igual ao aplicado aos humanos – e até a advogados os animais tinham direito. A interpretação da criminalidade animal provavelmente vinha das crenças judaico-cristãs. Em uma passagem bíblica, a morte por apedrejamento é citada: “E se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.” (Êxodo, capítulo 21, versículo 28).
Segundo a professora de literatura inglesa da Universidade da California e autora do recém-lançado "For the Love of Animals: The Rise of the Animal Protection Movement" ("Pelo amor dos animais: o surgimento do movimento de proteção animal", em tradução literal), Kathryn Shevelow, em entrevista ao G1 por e-mail, a tradição de julgamentos era especialmente comum na França. "Os crimes eram geralmente homicídio ou crimes sexuais, como de humanos que fazem sexo com animais. Nessa época, os homens consideravam os animais moralmente responsáveis por seus atos."
No livro “The criminal prosecution and capital punishment of animals”, inédito em português, o americano Edward Payson Evans examina detalhes de 191 casos do tipo. Segundo ele, os julgamentos ocorreram principalmente entre os séculos XV e XVII, sendo que o primeiro registro encontrado pelo autor data de 824, quando toupeiras foram excomungadas no Vale de Aosta, noroeste da Itália. O último caso, segundo o livro, foi em 1906, quando um cachorro foi julgado em Délémont, na Suíça.
Em alguns casos, os animais obtinham clemência. O júri podia ser tanto eclesiástico como secular, e o crime mais comum era homicídio - mas também foram registrados roubos. Além dos porcos, entre os bichos citados há abelhas, touros, cavalos, ratos, lobos, gatos e cobras.
Entre os animais acusados, os porcos estavam entre os que mais frequentavam o banco dos réus. Segundo escreveu Piers Beirne, professor de criminologia da Universidade de Southern Maine (EUA), em um artigo sobre o assunto, o motivo de os porcos serem comunmente acusados é que eles viviam livremente com os homens, e seu peso e tamanho faziam com que causassem problemas.
Fonte : G1
Nota: Este é apenas um dos sintomas dos massacres que ocorreram na Europa devido à histeria causada pela Igreja que vitimou milhares de inocentes.
Segundo a professora de literatura inglesa da Universidade da California e autora do recém-lançado "For the Love of Animals: The Rise of the Animal Protection Movement" ("Pelo amor dos animais: o surgimento do movimento de proteção animal", em tradução literal), Kathryn Shevelow, em entrevista ao G1 por e-mail, a tradição de julgamentos era especialmente comum na França. "Os crimes eram geralmente homicídio ou crimes sexuais, como de humanos que fazem sexo com animais. Nessa época, os homens consideravam os animais moralmente responsáveis por seus atos."
No livro “The criminal prosecution and capital punishment of animals”, inédito em português, o americano Edward Payson Evans examina detalhes de 191 casos do tipo. Segundo ele, os julgamentos ocorreram principalmente entre os séculos XV e XVII, sendo que o primeiro registro encontrado pelo autor data de 824, quando toupeiras foram excomungadas no Vale de Aosta, noroeste da Itália. O último caso, segundo o livro, foi em 1906, quando um cachorro foi julgado em Délémont, na Suíça.
Em alguns casos, os animais obtinham clemência. O júri podia ser tanto eclesiástico como secular, e o crime mais comum era homicídio - mas também foram registrados roubos. Além dos porcos, entre os bichos citados há abelhas, touros, cavalos, ratos, lobos, gatos e cobras.
Entre os animais acusados, os porcos estavam entre os que mais frequentavam o banco dos réus. Segundo escreveu Piers Beirne, professor de criminologia da Universidade de Southern Maine (EUA), em um artigo sobre o assunto, o motivo de os porcos serem comunmente acusados é que eles viviam livremente com os homens, e seu peso e tamanho faziam com que causassem problemas.
Fonte : G1
Nota: Este é apenas um dos sintomas dos massacres que ocorreram na Europa devido à histeria causada pela Igreja que vitimou milhares de inocentes.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
O paganismo anglo-saxão
No relativo aos Deuses adorados pelos anglo-saxões, os topônimos constituem a fonte principal: sobrevivem até hoje meia centena de topônimos gerados até meados do séc. VII e que estabelecem conexões pagãs indubitáveis. Referem-se, seja a nomes divinos, seja a locais de culto, e estão situados principalmente no sudoeste e no sul da atual Inglaterra, bem como nos “Midlands” centrais.
Três Deuses aparecem mais associados aos topônimos: Woden, Thunor e Tiw; associações menos seguras foram feitas também com a Deusa Frigg ou Friga. A distribuição dos nomes de lugares – e, portanto, supostamente, de centros de devoção não é homogênea: há regiões onde aparecem agrupados, indicando uma área onde o culto era mais forte.
Além dos topônimos, os Deuses também emprestaram seus nomes aos dias da semana. Topônimos e genealogias não podem ensinar-nos sobre as características específicas dos Deuses entre os anglo-saxões.
Entretanto, pode-se recolher algumas informações, mediante correlações com dados provenientes fora da ilha.
Na Inglaterra anglo-saxã, como em outras regiões germânicas, os santuários ficavam usualmente em paragens remotas, florestas ou colinas, há indícios também do culto a certas rochas, bosques, árvores isoladas e poços. Os raros lugares de culto dotados de alguma construção, não parecem ter incluído grandes edificações: destinavam-se, provavelmente, a alojar ex-votos, imagens de divindades e objetos sagrados; a visitas individuais, não a cerimônias coletivas.
Quando dos festivais, usavam-se salas reais ou de nobres onde coubesse muita gente; procissões podiam, nessas ocasiões, contornar em algum momento o santuário, permitindo que se vissem os objetos sagrados em seu interior, sem entrar.
Embora os santuários em questão pudessem ser protegidos por cercas, não existia a idéia de recintos sagrados taxativamente separados dos espaços ordinários, seculares: pelo contrário, deviam estar abertos ao mundo de todos os dias e às pessoas em geral. Em certos casos o lugar se limitava a uma clareira cercada de árvores, um topo de colina, etc.
Outrossim, o fato de tais lugares sagrados não se associarem a uma divindade específica poderia significar a presença de vários ídolos em cada santuário. Quanto a fontes escritas, o Papa Gregório em uma carta ao abade Melitão dizia para que se destruíssem os ídolos, mas não os edifícios: se estes fossem adequadamente construídos, deveriam ser reconsagrados como igrejas.
Mais de 30 mil enterros foram escavados arqueológicamente, em 1200 cemitérios, cobrindo a fase anglo-saxônia da Inglaterra até o séc. VIII. O que chama a atenção é a tremenda diversidade que tomam os ritos funerários: cremação e inumação aparecem lado a lado o tempo todo, até num mesmo cemitério. Há uns poucos enterros importantes cobertos por colinas artificiais ou em barcos. Em alguns enterros moedas, oferendas alimentares, armas e animais acompanhavam o morto.
A presença eventual de pessoas sacrificadas e ocasionalmente decapitadas, em enterros de grandes chefes ou reis, enterradas como se estivessem prostradas, sugere a prática de sacrifícios humanos, embora isso não possa ser diretamente comprovado.
No tocante aos festivais sazonais e ao calendário notam-se grandes diferenças com o que acontecia entre os celtas. Por exemplo a total falta de importância atribuída pela religião anglo-saxã ao solstício de verão, o calendário das festas situadas no tempo a intervalos regulares quanto ao número de meses transcorridos entre as festividades.
O maior dos festivais marcava o início do ano e ocorria no solstício de inverno – Modranicht. Em fevereiro, bolos eram oferecidos aos Deuses. Setembro era Halegmonath, o “mês sagrado”. Novembro era Blodmonath, o “mês do sangue”, em que muitas cabeças de gado eram mortas antes do inverno e algumas sacrificadas aos Deuses. Havia, por fim, um grande festival de primavera, em abril, em honra da Deusa Eostre.
Outro ponto mais ou menos claro das crenças religiosas dos anglo-saxões pagãos é o que diz respeito ao papel do rei: o fato de ser considerado responsável pelas colheitas aponta para as funções hereditárias mágico-religiosas nas famílias reais descendentes de Deuses pagãos.
O caso específico da vinculação da religião com a função real nos conduz a um assunto final: o caráter da religião dos anglo-saxões pagãos. A religião pagã não centrava sua atenção nos detalhes acerca da eternidade ou em outros assuntos metafísicos e sim na propiciação da vida neste ou no outro mundo.
Este caráter fortemente pragmático da religião se refletia igualmente numa enorme quantidade de encantamentos mágicos para múltiplas finalidade, baseados também num conhecimento das propriedades dos liquens e das ervas, constituindo um saber popular de forte sabor folclórico.
Fonte: Cardoso, Ciro Flamarion. O Paganismo Anglo-Saxão: Uma Síntese Crítica.
Revista Brathair, nº4 (1), 2004: pg 27-33. (http://www.brathair.com) [link morto]
Paracelso: mago e cientista
Ele saiu de casa aos 14 anos em busca da pedra filosofal. Médico e alquimista, venceu a peste, antecipou em 500 anos a cura da sífilis e revolucionou a Medicina.
Ousadia e irreverência certamente não faltavam ao garoto Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim. Zombar dos professores durante as aulas pode ser classificado, ainda hoje, como um sinal de intolerável rebeldia de um adolescente de 14 anos, na oitava série do primeiro grau. Imagine-se fazer o mesmo, em 1508, com os catedráticos de Medicina da Universidade de Viena. Quem esse fedelho pensava que era? Paracelso, ele responderia, adotando esse nome três anos depois, ao bacharelar-se em Medicina. Para além de, maior que Celso. Melhor que Aulus Cornelius Celsus, o grande médico romano do século I, autor de De Medicine, a bíblia de todos os médicos da época. Pretensioso? O jovem Theophrastus não estava nem um pouco preocupado com a opinião de seus escandalizados mestres.
Nos trinta anos seguintes, Paracelso percorreria a Europa e o Oriente Médio. Estudando ciências ocultas e magia negra, curando feridos nas frentes de batalha e vencendo a peste. Aprendendo com ladrões, curandeiros e ciganos para ensinar nas principais universidades. Queimando os manuais de Medicina e escrevendo tratados sobre duendes e cirurgia. Buscando a pedra filosofal, capaz de transformar chumbo em ouro e tornar o homem imortal, e criando a homeopatia e a quimioterapia. Assim, tornava-se um dos grandes cientistas de todos os tempos, enquanto era acusado de charlatão e pretensioso pelos médicos da época. Pretensiosos, respondia, são eles. Afinal, que sabiam sobre química ou mineralogia?
Sem contar o que aprendera de prático em disciplinas não científicas, como a alquimia, ou a cabala, que começara a estudar ainda na infância na cidadezinha de Einsiedeln, próxima de Zurique, onde nasceu em novembro de 1493. Quando não estava acompanhando as consultas do pai, médico do povoado, o irrequieto Theophrastus fugia para ler na igreja atrás de sua casa. As calmas tardes de leitura do pequeno Theophrastus na igreja terminariam com a morte de sua mãe e a mudança do pai para Villach, no sul da Áustria. Nessa cidade, o futuro Paracelso aprenderia teorias e práticas daquilo que, mais tarde, se tornaria a Química.
Aprendia com o próprio pai, doutor von Hohenheim, professor na Bergschule, uma escola criada pelos Fugger, uma rica família de banqueiros de Augsburg, para formar técnicos para suas minas de ouro, ferro e cobre. Em 1507, o garoto Theophrastus deixa Villach para unir-se aos grupos de jovens andarilhos. A Europa vivia as mudanças e lutas políticas do fim da Idade Média e o começo da Renascença, com a consolidação do absolutismo. Surgiam os primeiros processos de unidade nacional, que levariam aos Estados modernos.
À procura de saber, ele vai estudar com Iean Tritemio, abade do mosteiro de São Jorge, em Würzburg, autor dos primeiros livros que lera na infância, mas rompe com o mestre por divergência em algumas experiências de magia negra. Passa de uma universidade a outra Viena, Wittenberg, Leipzig, Heidelberg e Colônia , mas seu espírito rebelde decepciona-se com todas. Como as faculdades conseguem produzir tantos idiotas? Zomba, com sarcasmo típico. As universidades não ensinam tudo. Um médico deve procurar as parteiras, ciganas, feiticeiros, andarilhos e ladrões para aprender com eles. Nos anos seguintes, trabalha nas guerras dos Países-Baixos como cirurgião militar, ocupação desprezada por outros médicos. Vai para a Rússia e chega até a Tartária onde é feito prisioneiro. De passagem pela Alemanha, é preso em Nördlingen, por ressentimento de colegas médicos, a quem chamava de admiradores de urina. Escapa para a Suécia e, em 1521, trabalha de novo como cirurgião militar na Itália. Depois, viaja pelo Egito, Arábia, Terra Santa e Constantinopla.
Em todos os lugares procura aperfeiçoar seus conhecimentos sobre o que chamava de forças latentes da natureza. Condenava a prática vigente à época, de cobrir os ferimentos com musgo ou esterco. As feridas devem ser drenadas. Prevenida a infecção, a natureza se encarregará de curá-las. Repudiava também as pílulas milagrosas, receitadas para qualquer doença, assim como infusões, bálsamos, ungüentos e fumigações usadas indiscriminadamente. Foi o primeiro a usar venenos em pequenas doses para curar, e criou a quimioterapia, preparando medicamentos com enxofre, ferro, cobre e mercúrio.
Em 1530, irritou o conselho médico de Nuremberg por escrever a melhor descrição da sífilis até então. Afirmou que a doença podia ser tratada por via interna com compostos de mercúrio diagnóstico que seria comprovado quase quatro séculos depois, em 1909, pelo alemão Paul Ehrlich. Este criou o Salvarsan, à base de mercúrio, o primeiro remédio eficaz contra a sífilis. Paracelso foi também o primeiro a ligar o bócio aos minerais da água potável, especialmente o chumbo. Freqüentando ta-ver-nas, em meio a prostitutas, ladrões, soldados e trabalhadores, escreveu o livro As enfermidades dos mineiros, considerado o primeiro tratado de Medicina do trabalho. Aí identificou pela primeira vez como causa da silicose a aspiração do pó de silício (esse livro levou o então jovem Karl Marx a escrever uma biografia do autor, em 1841, para registrar o tricentenário de sua morte). Mas os trabalhos práticos não eram o único interesse de Paracelso. Ele também formulou idéias gerais onde afirmava que todos os corpos eram compostos de três princípios: energia, solidez e fluidez. Na linguagem dos alquimistas, esse trio correspondia, respectivamente ao fogo, ou enxofre alquímico; à terra, ou sal; e ao líquido, ou mercúrio. Adepto do esoterismo, estava convencido de que o conhecimento dividia-se em cinco estádios: uma doutrina secreta, ou filosofia hermética; o misticismo; o conhecimento científico; a prática alquímica e da medicina; e a ars magna, ou arte maior, uma síntese dos quatro anteriores. Como conseqüência desse método, acreditava na existência de um princípio vital benéfico que talvez se possa comparar ao sistema imunológico. A ação de tal princípio, dizia Paracelso, devia ser preservada durante a doença, mantendo-se o doente no que chamava de expectativa higiênica. Por isso, opunha-se radicalmente aos vomitórios e sangrias usuais na época, que debilitavam o doente.
Como obtinha curas espetaculares, suas histórias espalhavam-se de cidade em cidade. E quando correu a notícia de que aceitara lecionar Medicina na universidade de Basiléia, em 1527, para aí foram estudantes de todas as partes da Europa. Orgulhosas, no início, as autoridades municipais ficaram apreensivas quando ele convidou para suas conferências não apenas os estudantes, mas todo o povo. Essa apreensão iria virar escândalo quando Paracelso, cercado por uma multidão, queima em praça pública livros dos pais da Medicina: o grego Galeno (129- 199) o árabe Avicena (980- 1037) e o romano Celso. O resultado foram violentos choques com farmacêuticos, médicos e juízes da cidade. Paracelso já não era bem visto porque sempre se recusara a usar adornos e distintivos próprios dos médicos medievais, que por sua vez o chamavam de Lutero Médico, em alusão a Martinho Lutero (1483-1546), fundador do protestantismo.
Adivinhando a intenção dos inimigos, Paracelso defendeu-se. Lutero Médico? Lutero que defenda o que ele diz, eu só me responsabilizo pelo que digo. Mas o que vocês querem para Lutero é o mesmo que querem para mim: a fogueira. Na primavera de 1528, a fogueira parecia já estar pronta, pois Paracelso é obrigado a fugir de Basiléia na escuridão da noite, só com a roupa do corpo. Ele passa os três anos seguintes entre Colmar e Nuremberg e mais três em Saint Gall. Foi seu mais longo período de vida sedentária e durante esse tempo escreveu O livro da cirurgia.
De Saint Gall é chamado para enfrentar uma epidemia de peste na cidade de Stertzing. Salva centenas de vidas dando aos doentes pãezinhos feitos com um pouco das secreções do próprio paciente, que coletava com a ponta de uma agulha. O que provoca a doença também pode curá-la, se administrado em pequenas doses, ele enuncia pela primeira vez o que seria mais tarde a base da homeopatia. O sucesso na luta contra a peste o transforma em uma lenda viva que aumenta o impacto do lançamento de O livro da cirurgia, em 1536.
O livro amplia ainda mais a fabulosa reputação que obtivera durante os meses em que lecionara em Basiléia, e os aristocratas fazem fila na sua porta. Rico, famoso e respeitado aos 45 anos de idade, retira-se para Mildenheim para redigir sua obra. Nos dois anos seguintes, escreve sem parar. Sobre a peste e as epidemias, as feridas abertas e as chagas, as úlceras dos olhos e o glaucoma. Tratados sobre normas para as análises químicas e livros como A arte de receitar, Os princípios ativos que se obtêm pela trituração dos remédios, A preparação do heléboro uma planta medicinal e obras sobre alquimia.
Trata, também, de filosofia e ocultismo. Sobre filosofia, escreve O livro dos prólogos e O livro das entidades, composto de quatro tratados pagãos e um teológico. Sobre ocultismo, Filosofia oculta e o Tratado das ninfas, silfos, duendes, salamandras e outros seres. Finalmente, um livro de profecias sobre o final dos tempos, com o título de Prognósticos, composto de 32 textos sobre gravuras alegóricas que recordam as do também médico e contemporâneo Nostradamus (1503-1566).
Muda-se então para Salzburgo, a convite do príncipe-arcebispo duque Ernst da Baviera, que o nomeia médico oficial da cidade. No início do verão de 1541, porém, interna-se em um hospital e passa a escrever sobre misticismo e comentários de passagens bíblicas. No último dia do verão, é um abatido Paracelso que aluga um aposento na Pousada do Cavalo Branco e chama o tabelião para redigir seu testamento. Quando o escrivão se retira, escreve, até nos mínimos detalhes, as instruções para seu enterro. Três dias depois está morto.
O enterro, conforme seu desejo, foi na igreja de Santo Estêvão, em Salzburgo, onde em 1591 os moradores mandaram colocar uma placa de mármore: Aqui jaz Philippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, famoso doutor em medicina que curou toda classe de feridas, a lepra, a gota, a hidropisia e outras várias enfermidades do corpo com ciência maravilhosa. Morreu em 24 de setembro do ano da graça de 1541.
Ousadia e irreverência certamente não faltavam ao garoto Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim. Zombar dos professores durante as aulas pode ser classificado, ainda hoje, como um sinal de intolerável rebeldia de um adolescente de 14 anos, na oitava série do primeiro grau. Imagine-se fazer o mesmo, em 1508, com os catedráticos de Medicina da Universidade de Viena. Quem esse fedelho pensava que era? Paracelso, ele responderia, adotando esse nome três anos depois, ao bacharelar-se em Medicina. Para além de, maior que Celso. Melhor que Aulus Cornelius Celsus, o grande médico romano do século I, autor de De Medicine, a bíblia de todos os médicos da época. Pretensioso? O jovem Theophrastus não estava nem um pouco preocupado com a opinião de seus escandalizados mestres.
Nos trinta anos seguintes, Paracelso percorreria a Europa e o Oriente Médio. Estudando ciências ocultas e magia negra, curando feridos nas frentes de batalha e vencendo a peste. Aprendendo com ladrões, curandeiros e ciganos para ensinar nas principais universidades. Queimando os manuais de Medicina e escrevendo tratados sobre duendes e cirurgia. Buscando a pedra filosofal, capaz de transformar chumbo em ouro e tornar o homem imortal, e criando a homeopatia e a quimioterapia. Assim, tornava-se um dos grandes cientistas de todos os tempos, enquanto era acusado de charlatão e pretensioso pelos médicos da época. Pretensiosos, respondia, são eles. Afinal, que sabiam sobre química ou mineralogia?
Sem contar o que aprendera de prático em disciplinas não científicas, como a alquimia, ou a cabala, que começara a estudar ainda na infância na cidadezinha de Einsiedeln, próxima de Zurique, onde nasceu em novembro de 1493. Quando não estava acompanhando as consultas do pai, médico do povoado, o irrequieto Theophrastus fugia para ler na igreja atrás de sua casa. As calmas tardes de leitura do pequeno Theophrastus na igreja terminariam com a morte de sua mãe e a mudança do pai para Villach, no sul da Áustria. Nessa cidade, o futuro Paracelso aprenderia teorias e práticas daquilo que, mais tarde, se tornaria a Química.
Aprendia com o próprio pai, doutor von Hohenheim, professor na Bergschule, uma escola criada pelos Fugger, uma rica família de banqueiros de Augsburg, para formar técnicos para suas minas de ouro, ferro e cobre. Em 1507, o garoto Theophrastus deixa Villach para unir-se aos grupos de jovens andarilhos. A Europa vivia as mudanças e lutas políticas do fim da Idade Média e o começo da Renascença, com a consolidação do absolutismo. Surgiam os primeiros processos de unidade nacional, que levariam aos Estados modernos.
À procura de saber, ele vai estudar com Iean Tritemio, abade do mosteiro de São Jorge, em Würzburg, autor dos primeiros livros que lera na infância, mas rompe com o mestre por divergência em algumas experiências de magia negra. Passa de uma universidade a outra Viena, Wittenberg, Leipzig, Heidelberg e Colônia , mas seu espírito rebelde decepciona-se com todas. Como as faculdades conseguem produzir tantos idiotas? Zomba, com sarcasmo típico. As universidades não ensinam tudo. Um médico deve procurar as parteiras, ciganas, feiticeiros, andarilhos e ladrões para aprender com eles. Nos anos seguintes, trabalha nas guerras dos Países-Baixos como cirurgião militar, ocupação desprezada por outros médicos. Vai para a Rússia e chega até a Tartária onde é feito prisioneiro. De passagem pela Alemanha, é preso em Nördlingen, por ressentimento de colegas médicos, a quem chamava de admiradores de urina. Escapa para a Suécia e, em 1521, trabalha de novo como cirurgião militar na Itália. Depois, viaja pelo Egito, Arábia, Terra Santa e Constantinopla.
Em todos os lugares procura aperfeiçoar seus conhecimentos sobre o que chamava de forças latentes da natureza. Condenava a prática vigente à época, de cobrir os ferimentos com musgo ou esterco. As feridas devem ser drenadas. Prevenida a infecção, a natureza se encarregará de curá-las. Repudiava também as pílulas milagrosas, receitadas para qualquer doença, assim como infusões, bálsamos, ungüentos e fumigações usadas indiscriminadamente. Foi o primeiro a usar venenos em pequenas doses para curar, e criou a quimioterapia, preparando medicamentos com enxofre, ferro, cobre e mercúrio.
Em 1530, irritou o conselho médico de Nuremberg por escrever a melhor descrição da sífilis até então. Afirmou que a doença podia ser tratada por via interna com compostos de mercúrio diagnóstico que seria comprovado quase quatro séculos depois, em 1909, pelo alemão Paul Ehrlich. Este criou o Salvarsan, à base de mercúrio, o primeiro remédio eficaz contra a sífilis. Paracelso foi também o primeiro a ligar o bócio aos minerais da água potável, especialmente o chumbo. Freqüentando ta-ver-nas, em meio a prostitutas, ladrões, soldados e trabalhadores, escreveu o livro As enfermidades dos mineiros, considerado o primeiro tratado de Medicina do trabalho. Aí identificou pela primeira vez como causa da silicose a aspiração do pó de silício (esse livro levou o então jovem Karl Marx a escrever uma biografia do autor, em 1841, para registrar o tricentenário de sua morte). Mas os trabalhos práticos não eram o único interesse de Paracelso. Ele também formulou idéias gerais onde afirmava que todos os corpos eram compostos de três princípios: energia, solidez e fluidez. Na linguagem dos alquimistas, esse trio correspondia, respectivamente ao fogo, ou enxofre alquímico; à terra, ou sal; e ao líquido, ou mercúrio. Adepto do esoterismo, estava convencido de que o conhecimento dividia-se em cinco estádios: uma doutrina secreta, ou filosofia hermética; o misticismo; o conhecimento científico; a prática alquímica e da medicina; e a ars magna, ou arte maior, uma síntese dos quatro anteriores. Como conseqüência desse método, acreditava na existência de um princípio vital benéfico que talvez se possa comparar ao sistema imunológico. A ação de tal princípio, dizia Paracelso, devia ser preservada durante a doença, mantendo-se o doente no que chamava de expectativa higiênica. Por isso, opunha-se radicalmente aos vomitórios e sangrias usuais na época, que debilitavam o doente.
Como obtinha curas espetaculares, suas histórias espalhavam-se de cidade em cidade. E quando correu a notícia de que aceitara lecionar Medicina na universidade de Basiléia, em 1527, para aí foram estudantes de todas as partes da Europa. Orgulhosas, no início, as autoridades municipais ficaram apreensivas quando ele convidou para suas conferências não apenas os estudantes, mas todo o povo. Essa apreensão iria virar escândalo quando Paracelso, cercado por uma multidão, queima em praça pública livros dos pais da Medicina: o grego Galeno (129- 199) o árabe Avicena (980- 1037) e o romano Celso. O resultado foram violentos choques com farmacêuticos, médicos e juízes da cidade. Paracelso já não era bem visto porque sempre se recusara a usar adornos e distintivos próprios dos médicos medievais, que por sua vez o chamavam de Lutero Médico, em alusão a Martinho Lutero (1483-1546), fundador do protestantismo.
Adivinhando a intenção dos inimigos, Paracelso defendeu-se. Lutero Médico? Lutero que defenda o que ele diz, eu só me responsabilizo pelo que digo. Mas o que vocês querem para Lutero é o mesmo que querem para mim: a fogueira. Na primavera de 1528, a fogueira parecia já estar pronta, pois Paracelso é obrigado a fugir de Basiléia na escuridão da noite, só com a roupa do corpo. Ele passa os três anos seguintes entre Colmar e Nuremberg e mais três em Saint Gall. Foi seu mais longo período de vida sedentária e durante esse tempo escreveu O livro da cirurgia.
De Saint Gall é chamado para enfrentar uma epidemia de peste na cidade de Stertzing. Salva centenas de vidas dando aos doentes pãezinhos feitos com um pouco das secreções do próprio paciente, que coletava com a ponta de uma agulha. O que provoca a doença também pode curá-la, se administrado em pequenas doses, ele enuncia pela primeira vez o que seria mais tarde a base da homeopatia. O sucesso na luta contra a peste o transforma em uma lenda viva que aumenta o impacto do lançamento de O livro da cirurgia, em 1536.
O livro amplia ainda mais a fabulosa reputação que obtivera durante os meses em que lecionara em Basiléia, e os aristocratas fazem fila na sua porta. Rico, famoso e respeitado aos 45 anos de idade, retira-se para Mildenheim para redigir sua obra. Nos dois anos seguintes, escreve sem parar. Sobre a peste e as epidemias, as feridas abertas e as chagas, as úlceras dos olhos e o glaucoma. Tratados sobre normas para as análises químicas e livros como A arte de receitar, Os princípios ativos que se obtêm pela trituração dos remédios, A preparação do heléboro uma planta medicinal e obras sobre alquimia.
Trata, também, de filosofia e ocultismo. Sobre filosofia, escreve O livro dos prólogos e O livro das entidades, composto de quatro tratados pagãos e um teológico. Sobre ocultismo, Filosofia oculta e o Tratado das ninfas, silfos, duendes, salamandras e outros seres. Finalmente, um livro de profecias sobre o final dos tempos, com o título de Prognósticos, composto de 32 textos sobre gravuras alegóricas que recordam as do também médico e contemporâneo Nostradamus (1503-1566).
Muda-se então para Salzburgo, a convite do príncipe-arcebispo duque Ernst da Baviera, que o nomeia médico oficial da cidade. No início do verão de 1541, porém, interna-se em um hospital e passa a escrever sobre misticismo e comentários de passagens bíblicas. No último dia do verão, é um abatido Paracelso que aluga um aposento na Pousada do Cavalo Branco e chama o tabelião para redigir seu testamento. Quando o escrivão se retira, escreve, até nos mínimos detalhes, as instruções para seu enterro. Três dias depois está morto.
O enterro, conforme seu desejo, foi na igreja de Santo Estêvão, em Salzburgo, onde em 1591 os moradores mandaram colocar uma placa de mármore: Aqui jaz Philippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, famoso doutor em medicina que curou toda classe de feridas, a lepra, a gota, a hidropisia e outras várias enfermidades do corpo com ciência maravilhosa. Morreu em 24 de setembro do ano da graça de 1541.
A lenda do superior desconhecido
Junto à sua obra científica, às vezes mesclada com ela, Paracelso nos deixou sua interpretação do Universo. Nela, matéria e espírito, que chamava de corpo astral, convivem e se interrelacionam. A partir dessa visão, usa as ciências ocultas para chegar à Medicina científica e propunha atuar sobre o corpo astral como veículo para atingir o físico.
Acredita que a alma está constituída por uma substância natural fluida que não nasce com o homem, mas se forja nele, como o que chamamos hoje de personalidade. A mens divina, ou espírito, que dá o sopro vital, confere a forma, anima e reina sobre tudo. Nessa linha, distingue duas vidas no homem: a racional e a instintiva, que corresponde aos estados alterados da consciência, como o sonho e o êxtase.
Com a separação entre o corpo astral e o corpo físico, chega o momento de regressar ao grande oceano comum, algo muito próximo do que o psiquiatra Carl Gustav Jung chamou, no século XX, de inconsciente coletivo. No conceito paracelsiano, a morte não é um momento, mas um processo com um período de morte aparente. Alguns espíritos podem voltar à vida quando estão nesse estádio, como fizeram Lázaro e Jesus. Em um nível acima atuam os superiores desconhecidos, espíritos que inspiram grupos de pessoas para ajudá-los a despertar. Apesar da fama de mago, foi principalmente um místico, como Miguel Servet (1511-1553) e Nostradamus, dois outros notáveis médicos do século XVI parecidos com ele no temperamento e na heterodoxia.
Irônico, solitário e apaixonado
Tudo o que digam os teólogos e sofistas contra mim não me atinge. Que me chamem de mago, fei-ticeiro ou sacrílego, que me tratem como os judeus ou os fariseus trataram a Cristo, afirma Paracelso na obra Filosofia oculta.
Esse homem tem uma paixão natural, na mesma linha que outros grandes heterodoxos do Renascimento, como Giordano Bruno ou o espanhol Miguel Servet. Certamente é um gênio solitário, que tem consciência da importância de suas contribuições e da influência que exerceu sobre o establishment. Pouco me importa que me acusem de apaixonado ou ignorante, escreveu em O livro dos prólogos, bem sei que dirão que minha física, minha cosmologia, minha teoria e minha prática são singulares, surpreendentes e até absurdas Não me assustam, posso dizer-lhes, as multidões de seguidores, sejam de Aristóteles, de Ptolomeu ou de Avicena.
Quanto à questão do mau humor, não é fora de propósito pensar que se tratava de uma estratégia defensiva para manter-se a salvo de olhares perigosos sobre as explorações místicas e próprias da tradição hermética que constituíam sua prática intelectual. Não esquecer que Giordano Bruno (1548-1600) e Miguel Servet acabaram supliciados e mortos publicamente por expor idéias bem menos perigosas. Finalmente, o cientista Paracelso nos assombra pelos conceitos modernos sobre muitos temas médicos: o mecanismo das infecções, a opção pelo princípio ativo em lugar dos polifármacos, a observação da morte como um processo hoje falamos de morte clínica, com as reversíveis e irreversíveis, por exemplo. De certa forma, intui o inconsciente coletivo, cujo conceito Carl Gustav Jung desenvolverá no século XX. Também são atuais suas observações sobre o sonho, no qual distingue fases e causas distintas para seus conteúdos e que hoje são endossadas pela Psicologia, como os sonhos superficiais, com causas endógenas ou exógenas, e sonhos do inconsciente profundo.
Fonte : Superinteressante [link e texto alterado]
Nota: Por causa dessa relação ambígua com o Ocultismo e Ciência, Paracelso não pertence à hagiografia científica, muito embora ele e muitos outros tenham contribuído para o conhecimento Ocidental.
domingo, 26 de outubro de 2008
Iberos e Lusitanos
Quem eram os Iberos?
Os Iberos eram um povo pré-histórico que vivia no Sul e no Este do território que mais tarde tomou o nome de Península Ibérica. As ondas de emigração de povos Célticos que desde o século VIII até ao século VI AC entraram em massa no noroeste e zona centro da actual Espanha, penetraram também em Portugal a Galiza, mas deixaram intactos os povos indígenas da Idade do Bronze Ibérica no Sul e Este da península.
Os geógrafos gregos deram o nome de Ibéria, provavelmente derivado do rio Ebro (Iberus), a todas as tribos instaladas na costa sueste, mas que no tempo do historiador grego Herodotus (500 AC), é aplicado a todos os povos entre os rios Ebro e Huelva, que estavam provavelmente ligados linguisticamente e cuja cultura era distinta dos povos do Norte e do Oeste. Havia no entanto áreas intermédias entre os povos Célticos e Iberos, como as tribus Celtiberas do noroeste da Meseta Central e na Catalunha e Aragão.
Das tribos Iberas mencionadas pelos autores clássicos, os Bastetanos eram territorialmente os mais importantes e ocupavam a região de Almeria e as zonas montanhosas da região de Granada. As tribos a Oeste dos Bastetanos eram usualmente agrupadas como "Tartessos", derivado de Tartéssia que era o nome que os gregos davam à região. Os Turdetanos do vale do rio Guadalquivir eram os mais poderosos deste grupo. Culturalmente as tribos do noroeste e da costa valenciana eram fortemente influenciadas pelas colónias gregas de Emporium (a moderna Ampúrias) e na região de Alicante a influência era das colónias fenícias de Malaca (Malága), Sexi (Almuñeca), e Abdera (Adra), que passaram depois para os cartagineses. Na costa este as tribos Iberas parecem ter estado agrupadas em cidades-estado independentes. No sul houve monarquias, e o tesouro de El Carambolo, perto de Sevilha, parece ter estado na origem da lenda de Tartessos.
Em santuários religiosos encontraram-se estatuetas de bronze e terra-cota, especialmente nas regiões montanhosas. Há uma grande variedade de cerâmica de distintos estilos ibéricos Foi encontrada cerâmica ibérica no sul da França, Sardenha, Sicília, e África e eram frequentes as importações gregas. A esplêndida Dama de Elche, um busto com características que mostram forte influência clássica grega.
A economia Ibérica tinha uma agricultura rica , forte exploração mineira e uma metalurgia desenvolvida. A língua Ibérica era uma língua não Indo-Europeia, e continuou a ser falada durante a ocupação romana. Ao longo da costa Este utilizou-se uma escrita Ibérica, um sistema de 28 sílabas e caracteres alfabéticos, alguns derivados dos sistemas fenício e grego, mas de origem desconhecida. Ainda sobrevivem muitas inscrições dessa escrita, mas poucas palavras são compreendidas, excepto alguns nomes de locais e cidades do III século, encontradas em moedas.
Os Iberos conservaram a sua escrita durante a conquista romana, quando se começou a utilizar o alfabeto latino. Ainda que inicialmente se pensou que a língua Vasca era descendente do Ibero, hoje considera-se que eram línguas separadas.[Península Ibérica]
E chegam os Celtas
Depois dos povos pré-históricos, um dos primeiros povos que terá chegado à Península Ibérica foram os Iberos. Era um povo moreno de estrutura médio, originários provavelmente, do Norte de África. Ficaram-se principalmente no sul, junto ao Mediterrâneo. Usavam o bronze para fabricar armas e escudos de defesa . As suas casas eram circulares, foram os Iberos, que deram o nome à península. Este povo estava dividido em várias tribos. Conheciam a escrita, cultivavam as terras e tratavam dos animais.
Os Celtas, que vieram depois, no século VI AC, procuraram terras férteis no norte do actual Portugal, faziam casas redondas e com telhados cobertos de colmo que se chamavam castros. Ficaram conhecidos com a ourivesaria que fabricavam, que era de real valia.
Os povos Celtas e Iberos juntaram-se formando o povo Celtibero. Uma das suas tribos mais famosas era a dos Lusitanos que viviam entre o rio Douro e rio Tejo na Lusitânia. O seu mais famoso chefe era Viriato, um pastor da serra da estrela que derrotou inúmeras vezes os Romanos.
Para muitos, os Lusitanos são os verdadeiros antecessores dos portugueses. Entre as numerosas tribos que habitavam a Península Ibérica quando chegaram os romanos, encontrava-se, na parte ocidental, a dos lusitani, considerada por alguns autores a maior das tribos ibéricas, com a qual durante muitos anos lutaram os romanos.
Não se sabe ao certo qual a sua origem. Alguns autores também incluem nos Lusitanos, os Galaicos, que, por sua vez, tinham por vizinhos, a oriente, os Astures e os Celtiberos.
Os galaicos aparecem documentados por vez primeira formando parte do exército do caudilho luso Viriato como mercenários de guerra mas os galaicos (castrejos) ao norte do Douro posteriormente seriam administrados por Roma como província autónoma na Gallaecia (Galécia) à margem da Lusitânia e da Hispânia Tarraconensis trás ser conquistados por Décimo Júnio Bruto o Galaico.[Península Ibérica]
Quem eram os Lusitanos?
Os lusitanos são normalmente vistos como uns dos antepassados dos portugueses do centro e sul do país e dos extremenhos. Eram um povo celtibérico que viveu na parte ocidental da Península Ibérica.
Primeiramente, uma única tribo que vivia entre os rios Douro e Tejo ou Tejo e Guadiana. Ao norte do Douro limitavam com os galaicos e astures - que constituem a maior parte dos habitantes do norte de Portugal - na província romana de Galécia, ao sul com os béticos e ao oeste com os celtiberos na área mais central da Hispânia Tarraconense. A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos.
Apesar de as fronteiras da Lusitânia não coincidirem perfeitamente com as de Portugal de hoje, os povos que aqui habitaram são uma das bases etnológicas dos portugueses do centro e sul e também dos extremenhos (da Extremadura espanhola). Desde épocas remotas esta faixa territorial foi ocupada pelo homem. Dos tempos pré-históricos restam vestígios como as grutas naturais e artificiais de Estoril, Cascais, Peniche, Palmela e Escoural. Esta última foi descoberta acidentalmente por uma detonação de uma pedreira e estudada de imediato pelo Dr. Farinha dos Santos que encontrou intactos os restos mortais dos ocupantes deste refúgio, abrigo e jazida funerária; outras jazidas com restos do paleolítico e neolítico são os conceiros do vale do Tejo e Sado, em Muge, da ribeira de Magos, dos arredores da Figueira. Mas principalmente a cultura megalítica, com os dólmens, monumentos de falsas cúpulas de Alcalar no Algarve, que teve no território português um dos seus maiores focos de expansão, constitui um testemunho, que desde épocas longínquas este território foi um "habitat" priveligiado.
Supõe-se que o Périplo de um navegador Massaliota, efectuado por volta de 520 AC que descreve a sua viagem marítima ao longo das costas da península, tenha sido aproveitado por Rufo Festo Avieno, escritor do século IV para compor a Ode Marítima. No seu poema, Avieno refere-se aos Estrímnios, que podem ser considerados o mais antigo povo identificado neste território, procedente do Norte de África. O poema ainda refere que as regiões da costa cantábrica eram habitadas pelos Dráganas, e a sul, na actual região do Algarve, os Cinetes ou Cónios.
Muitos dos povos antigos que entraram na Península Ibérica deixaram no território da Lusitânia vestígios bem marcados dos contactos comerciais e de influência cultural, nomeadamente, e perfeitamente acentuados e reveladores de uma assimilação mais profunda, são os vestígios da ocupação romana e também os das invasões dos visigodos e dos árabes. Alguns historiadores antigos referem-se ao ouro da Lusitânia, riqueza que como a prata é hoje testemunhada pela frequência dos achados em Portugal, de numerosas jóias típicas fabricadas com esses metais — colares, braceletes, pulseiras, arrecadas, etc. O cobre, em abundância, extraía-se das minas do Sul. O chumbo encontrava-se, segundo Plínio, na cidade lusitana de Medubriga Plumbaria, que da abundância local daquele minério teria recebido o nome.[Península Ibérica]
Os Iberos eram um povo pré-histórico que vivia no Sul e no Este do território que mais tarde tomou o nome de Península Ibérica. As ondas de emigração de povos Célticos que desde o século VIII até ao século VI AC entraram em massa no noroeste e zona centro da actual Espanha, penetraram também em Portugal a Galiza, mas deixaram intactos os povos indígenas da Idade do Bronze Ibérica no Sul e Este da península.
Os geógrafos gregos deram o nome de Ibéria, provavelmente derivado do rio Ebro (Iberus), a todas as tribos instaladas na costa sueste, mas que no tempo do historiador grego Herodotus (500 AC), é aplicado a todos os povos entre os rios Ebro e Huelva, que estavam provavelmente ligados linguisticamente e cuja cultura era distinta dos povos do Norte e do Oeste. Havia no entanto áreas intermédias entre os povos Célticos e Iberos, como as tribus Celtiberas do noroeste da Meseta Central e na Catalunha e Aragão.
Das tribos Iberas mencionadas pelos autores clássicos, os Bastetanos eram territorialmente os mais importantes e ocupavam a região de Almeria e as zonas montanhosas da região de Granada. As tribos a Oeste dos Bastetanos eram usualmente agrupadas como "Tartessos", derivado de Tartéssia que era o nome que os gregos davam à região. Os Turdetanos do vale do rio Guadalquivir eram os mais poderosos deste grupo. Culturalmente as tribos do noroeste e da costa valenciana eram fortemente influenciadas pelas colónias gregas de Emporium (a moderna Ampúrias) e na região de Alicante a influência era das colónias fenícias de Malaca (Malága), Sexi (Almuñeca), e Abdera (Adra), que passaram depois para os cartagineses. Na costa este as tribos Iberas parecem ter estado agrupadas em cidades-estado independentes. No sul houve monarquias, e o tesouro de El Carambolo, perto de Sevilha, parece ter estado na origem da lenda de Tartessos.
Em santuários religiosos encontraram-se estatuetas de bronze e terra-cota, especialmente nas regiões montanhosas. Há uma grande variedade de cerâmica de distintos estilos ibéricos Foi encontrada cerâmica ibérica no sul da França, Sardenha, Sicília, e África e eram frequentes as importações gregas. A esplêndida Dama de Elche, um busto com características que mostram forte influência clássica grega.
A economia Ibérica tinha uma agricultura rica , forte exploração mineira e uma metalurgia desenvolvida. A língua Ibérica era uma língua não Indo-Europeia, e continuou a ser falada durante a ocupação romana. Ao longo da costa Este utilizou-se uma escrita Ibérica, um sistema de 28 sílabas e caracteres alfabéticos, alguns derivados dos sistemas fenício e grego, mas de origem desconhecida. Ainda sobrevivem muitas inscrições dessa escrita, mas poucas palavras são compreendidas, excepto alguns nomes de locais e cidades do III século, encontradas em moedas.
Os Iberos conservaram a sua escrita durante a conquista romana, quando se começou a utilizar o alfabeto latino. Ainda que inicialmente se pensou que a língua Vasca era descendente do Ibero, hoje considera-se que eram línguas separadas.[Península Ibérica]
E chegam os Celtas
Depois dos povos pré-históricos, um dos primeiros povos que terá chegado à Península Ibérica foram os Iberos. Era um povo moreno de estrutura médio, originários provavelmente, do Norte de África. Ficaram-se principalmente no sul, junto ao Mediterrâneo. Usavam o bronze para fabricar armas e escudos de defesa . As suas casas eram circulares, foram os Iberos, que deram o nome à península. Este povo estava dividido em várias tribos. Conheciam a escrita, cultivavam as terras e tratavam dos animais.
Os Celtas, que vieram depois, no século VI AC, procuraram terras férteis no norte do actual Portugal, faziam casas redondas e com telhados cobertos de colmo que se chamavam castros. Ficaram conhecidos com a ourivesaria que fabricavam, que era de real valia.
Os povos Celtas e Iberos juntaram-se formando o povo Celtibero. Uma das suas tribos mais famosas era a dos Lusitanos que viviam entre o rio Douro e rio Tejo na Lusitânia. O seu mais famoso chefe era Viriato, um pastor da serra da estrela que derrotou inúmeras vezes os Romanos.
Para muitos, os Lusitanos são os verdadeiros antecessores dos portugueses. Entre as numerosas tribos que habitavam a Península Ibérica quando chegaram os romanos, encontrava-se, na parte ocidental, a dos lusitani, considerada por alguns autores a maior das tribos ibéricas, com a qual durante muitos anos lutaram os romanos.
Não se sabe ao certo qual a sua origem. Alguns autores também incluem nos Lusitanos, os Galaicos, que, por sua vez, tinham por vizinhos, a oriente, os Astures e os Celtiberos.
Os galaicos aparecem documentados por vez primeira formando parte do exército do caudilho luso Viriato como mercenários de guerra mas os galaicos (castrejos) ao norte do Douro posteriormente seriam administrados por Roma como província autónoma na Gallaecia (Galécia) à margem da Lusitânia e da Hispânia Tarraconensis trás ser conquistados por Décimo Júnio Bruto o Galaico.[Península Ibérica]
Quem eram os Lusitanos?
Os lusitanos são normalmente vistos como uns dos antepassados dos portugueses do centro e sul do país e dos extremenhos. Eram um povo celtibérico que viveu na parte ocidental da Península Ibérica.
Primeiramente, uma única tribo que vivia entre os rios Douro e Tejo ou Tejo e Guadiana. Ao norte do Douro limitavam com os galaicos e astures - que constituem a maior parte dos habitantes do norte de Portugal - na província romana de Galécia, ao sul com os béticos e ao oeste com os celtiberos na área mais central da Hispânia Tarraconense. A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos.
Apesar de as fronteiras da Lusitânia não coincidirem perfeitamente com as de Portugal de hoje, os povos que aqui habitaram são uma das bases etnológicas dos portugueses do centro e sul e também dos extremenhos (da Extremadura espanhola). Desde épocas remotas esta faixa territorial foi ocupada pelo homem. Dos tempos pré-históricos restam vestígios como as grutas naturais e artificiais de Estoril, Cascais, Peniche, Palmela e Escoural. Esta última foi descoberta acidentalmente por uma detonação de uma pedreira e estudada de imediato pelo Dr. Farinha dos Santos que encontrou intactos os restos mortais dos ocupantes deste refúgio, abrigo e jazida funerária; outras jazidas com restos do paleolítico e neolítico são os conceiros do vale do Tejo e Sado, em Muge, da ribeira de Magos, dos arredores da Figueira. Mas principalmente a cultura megalítica, com os dólmens, monumentos de falsas cúpulas de Alcalar no Algarve, que teve no território português um dos seus maiores focos de expansão, constitui um testemunho, que desde épocas longínquas este território foi um "habitat" priveligiado.
Supõe-se que o Périplo de um navegador Massaliota, efectuado por volta de 520 AC que descreve a sua viagem marítima ao longo das costas da península, tenha sido aproveitado por Rufo Festo Avieno, escritor do século IV para compor a Ode Marítima. No seu poema, Avieno refere-se aos Estrímnios, que podem ser considerados o mais antigo povo identificado neste território, procedente do Norte de África. O poema ainda refere que as regiões da costa cantábrica eram habitadas pelos Dráganas, e a sul, na actual região do Algarve, os Cinetes ou Cónios.
Muitos dos povos antigos que entraram na Península Ibérica deixaram no território da Lusitânia vestígios bem marcados dos contactos comerciais e de influência cultural, nomeadamente, e perfeitamente acentuados e reveladores de uma assimilação mais profunda, são os vestígios da ocupação romana e também os das invasões dos visigodos e dos árabes. Alguns historiadores antigos referem-se ao ouro da Lusitânia, riqueza que como a prata é hoje testemunhada pela frequência dos achados em Portugal, de numerosas jóias típicas fabricadas com esses metais — colares, braceletes, pulseiras, arrecadas, etc. O cobre, em abundância, extraía-se das minas do Sul. O chumbo encontrava-se, segundo Plínio, na cidade lusitana de Medubriga Plumbaria, que da abundância local daquele minério teria recebido o nome.[Península Ibérica]
sábado, 25 de outubro de 2008
Cernunnos
Quem é ele, afinal?
Cernunnos é representado como uma criatura quimérica cujo o culto que remonta a época correspondente se muito o início da Idade de Bronze, cujo o nome se supõem foi conferido muito após ter sido fixado a crença devocional nesta divindade a partir de uma imagem encontrada num baixo-relevo em Paris que reproduzia um homem sentado de pernas cruzadas que ostentava chifres na cabeça onde lia-se abaixo a inscrição "( C ) ernunnos".
Nas narrativas míticas a figura de Cernunnos como personagem é bem confusa já que existem momentos onde ele é descrito ao lado de uma figura feminina com poderes sobrenaturais sobre a Natureza que figura por vezes como sendo sua "mãe" e em outras é identificado como sua "esposa" o que dá a vaga impressão da presença de um relacionamento incestuoso.
Para simplificar a compreensão do mito ficamos restritos ao que o poeta latino Marco Anneo Lucano (39/65 DC) narra em breves passagens em "Pharsalis" , cujas as fontes históricas prováveis foram Tito Livio, Asinio Pollione e Sêneca , a saber que Cernunnos nasce sem chifres e reina no submundo de onde ajuda a comandar com sua "esposa" ( alguns a identificando sob o nome de Epona e outros como "Dana" ) a vegetação e os animais até que em certo momento é traído por ela com "Esus" e dali surge uma "galhada" de cervo em sua cabeça.
A oportunidade desta traição surge por conta do fato que Cernunnos para cumprir com seus deveres tem que sempre durante certo tempo do ano recolher-se ao reino subterrâneo, deixando sua "esposa" sozinha por um longo período.
Observando que Lucius menciona no caso não bem diretamente "Cernunnos" e sim o amante fugaz de sua esposa a saber "Esus/Albiorix" onde o cita também sob a alcunha curiosa de "Rei do Mundo" e sendo parte de uma espécie de "trindade" em que figuravam ao seu lado de "Toutates/Teutates" como uma espécie de "deus da guerra" e "Taranis/Caturix" na condição de "Rei das Batalhas", fato que é curioso de analisar na medida em que vemos o mito de Cernunnos ter conotações mais que óbvias com assunto afetos mais fertilidade de maneira geral e agricultura de forma especifica do propriamente como tendo algo haver com batalhas , guerras e assuntos assemelhados como estas outras divindades citadas remontam arquetipicamente.
A sua verdadeira origem
O que surpreende logo de cara o mito de Cernunnos ao analisar comparativamente a mitologia celta é que ela não usa como recurso de enredo a figura de seres quiméricos, isto é, volta e meia até um personagem se "transmuta" em forma animal só que nenhum é representado como tendo parte humana e outra animal ao mesmo tempo.
Igualmente , a lenda em parte recorda o mito greco-romano de Hades e Perséfone/Proserpina onde ela passa metade do ano com sua mãe na superfície (Ceres/Deméter ) e a outra parte no mundo subterrâneo ao lado de seu esposo. Havendo é claro claras reverências a todo uma simbologia também vinculada a temas de fertilidade, agricultura, mudanças de estação e etc neste mito greco-romano. Seria coincidência?
Graças a arqueologia um pouco do mistério ao redor da figura tão deslocada de Cernunnos vai aos poucos, a saber a suposição básica era que Paris tinha sido fundada por uma tribo celta (os Parise) que depois foi melhorada pelos romanos a partir de sua conquista por volta de 52 AC caí por terra para ceder lugar a constatação de que a cidade foi na verdade erigida por completo pelos romanos desde o inicio.
Isto somado com a constatação que gregos pelo menos na região de Marselha e redondezas desde o século V AC figura como bem provável que o culto ao deus cornifero tenha sido trazido embrionariamente para região através dos gregos e depois apossado pelos romanos que deram as narrativas sua conotação guerreira, surgindo depois os celtas (ou melhor os parisi) para incorporarem sincreticamente em seu corpo de crenças a figura de Cernunnos.
Outra alternativa além dos gregos que surge é que ligures ou etruscos tenham trazido sua contribuição para a formação da imagem do "deus chifrudo" na medida em que é uma imagem típica de divindade vista entre povos que viviam da criação de caprinos e pastoreio bem como também eram povos que margeavam a região.
Fonte: Canal Celta
Nota: O estudo da história e da antropolgia demonstra que o hábito de assimilação cultural entre povos não é algo feito ou inventado apenas pela Igreja. O que é interessante de notar é que reconstrucionistas culturais tentam restabelecer aquilo que consideram como sendo a religião Celta, em seu mais pristino estado, sem se dar conta que o povo Celta é uma denominação usada para diversos grupos de povos, cujas culturas igualmente assimilaram outras culturas, de forma que é impossível estabelecer qual é a 'pura' religião Celta. O mito de Cernunnos e de Herne foram rapidamente assimilados pelos povos europeus por que remetiam aos mesmos mitos ancestrais que muitos deles trouxeram de suas terras natais. Achar e resgatar nossas raízes ancestrais e trazer para a atual realidade é uma coisa, deturpar essa herança e proclamar ilusões racistas como sendo ideais para a atual realidade é outra coisa.
domingo, 19 de outubro de 2008
A versão de Circe
Homens são todos iguais.
Eles bateram em minha porta e pela ponta de uma espada exigiram a sagrada confiança da hospitalidade. Eles invadiram meu lar, avidamente devoraram minha comida e beberam meu hidromel, cobiçavam meus cântaros de prata e minhas jóias de ouro e com olhos maliciosos consideraram como eu deveria ser violada.
Quanto bestas eles eram não é senão uma pequena questão – e com um toque de bastão e removi aquilo que ocultava suas verdadeiras naturezas, tão simples como limpar uma vidraça. Eles caíram de quatro, como porcos e cães, ferozes e glutões, revolvendo, cheirando e mijando neles mesmos. Eu os bani para a floresta, para vagarem perdidos entre os carvalhos de minha ilha.
Então o viajante ruivo veio em minha porta. Ele não era atraente, nem jovem, mas em seus olhos eu vi uma fagulha da divindade, dourada como Hermes – talvez este seja mais uma raposa que um porco. Ainda assim, eu lhe dei a poção, misturando ervas perigosas em hidromel e água cristalina, enquanto seus olhos me seguiam desinteressadamente sorridentes. Ele pegou de mim com agradecimentos e bebeu com satisfação.
Assim como com os outros eu o toquei com um bastão de amieiro, mas nada aconteceu! Ele sentou sorrindo diante de minha surpresa, acho que não sem simpatia, e me contou como ele quebrou meu feitiço, alguma coisa inventada sobre uma erva mágica que lhe foi dada por Hermes. Mas eu sei como isso aconteceu. Ao contrário dos outros homens, este não escondeu sua verdadeira natureza.
Eu o deixei falar em minha cama naquela noite e nas noites seguintes. Ele era forte e gentil e necessitado de cura por sua dura jornada. Eu ouvi suas estórias, e lhe dei o que ele precisava, comida e bebida e descanso e conselho, e eu deixei que ele cresse que tirara todos de mim, pois eu não sou grosseira. Ele até teve sua tripulação de volta! Nós vivemos com alegria então. Mas com o tempo os risos em seus olhos deu lgar à tristeza, e eu o mandei de volta para casa, para sua Penélope, acho que eu temi por ele, sabendo da jornada tempestuosa diante dele.
Quando ele retornou para mim, após o que pareceu ser uma curta estação, ele estava fraco e velho, enlutado por sua amada família. Eu tentei lançar sua dor para longe, e acho que sou perfeitamente hábil nas artes mágicas eu sei que eu nunca poderei colocar nada sobre ele. Mas em sua gentileza ele me deixou acreditar que ele estava confortado. Não muito mais tarde, eu o enterrei, e cantei meus cânticos de luto em sua tumba.
Fonte: Thalia Took
Eles bateram em minha porta e pela ponta de uma espada exigiram a sagrada confiança da hospitalidade. Eles invadiram meu lar, avidamente devoraram minha comida e beberam meu hidromel, cobiçavam meus cântaros de prata e minhas jóias de ouro e com olhos maliciosos consideraram como eu deveria ser violada.
Quanto bestas eles eram não é senão uma pequena questão – e com um toque de bastão e removi aquilo que ocultava suas verdadeiras naturezas, tão simples como limpar uma vidraça. Eles caíram de quatro, como porcos e cães, ferozes e glutões, revolvendo, cheirando e mijando neles mesmos. Eu os bani para a floresta, para vagarem perdidos entre os carvalhos de minha ilha.
Então o viajante ruivo veio em minha porta. Ele não era atraente, nem jovem, mas em seus olhos eu vi uma fagulha da divindade, dourada como Hermes – talvez este seja mais uma raposa que um porco. Ainda assim, eu lhe dei a poção, misturando ervas perigosas em hidromel e água cristalina, enquanto seus olhos me seguiam desinteressadamente sorridentes. Ele pegou de mim com agradecimentos e bebeu com satisfação.
Assim como com os outros eu o toquei com um bastão de amieiro, mas nada aconteceu! Ele sentou sorrindo diante de minha surpresa, acho que não sem simpatia, e me contou como ele quebrou meu feitiço, alguma coisa inventada sobre uma erva mágica que lhe foi dada por Hermes. Mas eu sei como isso aconteceu. Ao contrário dos outros homens, este não escondeu sua verdadeira natureza.
Eu o deixei falar em minha cama naquela noite e nas noites seguintes. Ele era forte e gentil e necessitado de cura por sua dura jornada. Eu ouvi suas estórias, e lhe dei o que ele precisava, comida e bebida e descanso e conselho, e eu deixei que ele cresse que tirara todos de mim, pois eu não sou grosseira. Ele até teve sua tripulação de volta! Nós vivemos com alegria então. Mas com o tempo os risos em seus olhos deu lgar à tristeza, e eu o mandei de volta para casa, para sua Penélope, acho que eu temi por ele, sabendo da jornada tempestuosa diante dele.
Quando ele retornou para mim, após o que pareceu ser uma curta estação, ele estava fraco e velho, enlutado por sua amada família. Eu tentei lançar sua dor para longe, e acho que sou perfeitamente hábil nas artes mágicas eu sei que eu nunca poderei colocar nada sobre ele. Mas em sua gentileza ele me deixou acreditar que ele estava confortado. Não muito mais tarde, eu o enterrei, e cantei meus cânticos de luto em sua tumba.
Fonte: Thalia Took
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Fantasmas do passado
Cada um de nós tem que lidar com os fantasmas do passsado e pelo bem das gerações vindouras temos que lidar com o peso dos eventos que aconteceram no início da Era Moderna, erros que estão começando a se repetir e podem produzir um 4º Reich.
No início do século XVIII a Europa vivia uma época de mudança, a cidade tomava o lugar do campo, a indústria tomava o lugar da natureza, a burguesia tomava o lugar da nobreza, a intelectualidade tomava o lugar do clero.
A acumulação das idéias da Renascença e do Iluminismo serviram às novas elites com uma referência que não vinha mais da Igreja ou do Palácio. Os novos senhores da sociedade redescobriram as origens de seus povos e reacenderam as idéias de união destes povos.
Estas foram as condições para o reaparecimento do Ocultismo, onde o Paganismo Clássico deu origem ao Neopaganismo e o Esoterismo Oriental deu origem à Teosofia. Diversos movimentos religiosos ganharam forma bem como novas ordens iniciáticas e sociedades secretas foram fundadas, tomando como base os manuscritos de magia (grimórios) da Idade Média.
A confluência das idéias raciais da Sociedade Teosófica, das idéias nacionalistas do Pangermanismo, das idéias antisionitas do Cristianismo e das idéias esotéricas de (re)construir alguma das formas das antigas Utopias resultou tanto no aparecimento da Sociedade Thule quanto da Ariosofia, elementos que auxiliaram no surgimento do Nacional Socialismo, o maior pesadelo da história da humanidade.
A mistura entre religião e política tem demonstrado ser danosa. O mundo esteve ameaçado antes pelo Império Persa, passou pelas mãos de Macedônios e Romanos para então encarar a ameaça do Império Católico e temos nos dias de hoje a ameaça real de um Império Talibânico.
Evidentemente isso não significa que o Neopaganismo seja alienado ou apolítico, nossa posição diante da conservação ambiental mostra que temos uma proposta política que visa a humanidade, sem sectarismo.
Nós estamos tentando sim resgatar a herança cultural de nossos antepassados e honrá-los e isso significa dar valor à tudo o que eles conquistaram e construiram para nos dar conforto e qualidade de vida. Nós estamos tentando também resolver os erros cometidos no passado, sem ilusões românticas nem delírios esotéricos, todos nós pertencemos à uma só raça : a humana. Todos nós somos filhos e filhas dos Deuses Antigos que nos formaram, nos geraram com essa sagrada e divina diversidade que também deve ser preservada, dando espaço à tolerância e à convivência.
No início do século XVIII a Europa vivia uma época de mudança, a cidade tomava o lugar do campo, a indústria tomava o lugar da natureza, a burguesia tomava o lugar da nobreza, a intelectualidade tomava o lugar do clero.
A acumulação das idéias da Renascença e do Iluminismo serviram às novas elites com uma referência que não vinha mais da Igreja ou do Palácio. Os novos senhores da sociedade redescobriram as origens de seus povos e reacenderam as idéias de união destes povos.
Estas foram as condições para o reaparecimento do Ocultismo, onde o Paganismo Clássico deu origem ao Neopaganismo e o Esoterismo Oriental deu origem à Teosofia. Diversos movimentos religiosos ganharam forma bem como novas ordens iniciáticas e sociedades secretas foram fundadas, tomando como base os manuscritos de magia (grimórios) da Idade Média.
A confluência das idéias raciais da Sociedade Teosófica, das idéias nacionalistas do Pangermanismo, das idéias antisionitas do Cristianismo e das idéias esotéricas de (re)construir alguma das formas das antigas Utopias resultou tanto no aparecimento da Sociedade Thule quanto da Ariosofia, elementos que auxiliaram no surgimento do Nacional Socialismo, o maior pesadelo da história da humanidade.
A mistura entre religião e política tem demonstrado ser danosa. O mundo esteve ameaçado antes pelo Império Persa, passou pelas mãos de Macedônios e Romanos para então encarar a ameaça do Império Católico e temos nos dias de hoje a ameaça real de um Império Talibânico.
Evidentemente isso não significa que o Neopaganismo seja alienado ou apolítico, nossa posição diante da conservação ambiental mostra que temos uma proposta política que visa a humanidade, sem sectarismo.
Nós estamos tentando sim resgatar a herança cultural de nossos antepassados e honrá-los e isso significa dar valor à tudo o que eles conquistaram e construiram para nos dar conforto e qualidade de vida. Nós estamos tentando também resolver os erros cometidos no passado, sem ilusões românticas nem delírios esotéricos, todos nós pertencemos à uma só raça : a humana. Todos nós somos filhos e filhas dos Deuses Antigos que nos formaram, nos geraram com essa sagrada e divina diversidade que também deve ser preservada, dando espaço à tolerância e à convivência.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Deusa Fides - a fidelidade sagrada
No dia 01 de Outubro, também consagrado a Juno Sororio e a Ceres, os três Flâmines Maiores (sacerdotes devotados a um Deus em particular), Flamen Dialis (Flâmine de Júpiter), Flamen Martialis (Flâmine de Marte), e Flamen Quirinalis (Flâmine de Quirinus), guiavam uma procissão ao Capitólio, dentro de um carro coberto.
Com os dedos das suas mãos direitas envoltos em tecido branco, realizavam sacrifícios às Divindades Fides e Honos.
O poeta Horácio reforça o valor do pormenor da mão coberta de tecido branco ao descrever a estátua da Deusa: "Rara Fidelidade, a Sua mão atada com pano branco".
Isto corrobora a descrição de Tito Lívio do culto de Fides instituído pelo rei Numa Pompilius: "Também instituiu um sacrifício anual à Deusa Fides e mandou que os flâmines fossem para o Seu santuário numa biga coberta, e que executassem o serviço religioso com as suas mãos cobertas até aos dedos, para significar que a Fidelidade deve ser protegida e que o Seu assento é santo mesmo quando está nas mãos direitas dos homens".
Os ritos cerimoniais incluíam a purificação e a comemoração do juramento, sendo depois seguidos de festejos.
Trata-se de um ritual que parece ser da maior importância no contexto religioso da Romanidade, e, em termos do estudo de História das Religiões, tem sido um dos elementos cujo estudo contribui para a promoção da teoria trifuncional de Georges Dumézil, segundo a qual os Romanos, sendo Indo-Europeus, têm uma tríade divina na qual um dos Deuses representa a primeira função indo-europeia, a da soberania, do poder mágico e da justiça (Júpiter), outra das Deidades representa a segunda função indo-europeia, a da guerra (Marte), e a terceira Divindade representa a terceira função indo-europeia, a da fertilidade e da produção (Quirinus).
O detalhe da mão direita oculta é, repete-se, de grande relevância, porquanto evoca a importância da mão no juramento, uma vez que o ritual é realizado em honra precisamente da Fides, que é a Fidelidade, conceito de valor crucial para a generalidade dos povos Indo-Europeus. Não é certamente por acaso que dois dos mais importantes Deuses arianos da Índia, Mitra e Varuna, são respectivamente padroeiros do Contrato e do Juramento.
Na tradição nórdica, na céltica e na romana, há uma figura mitológica que representa de algum modo a Fidelidade, a Justiça, o Juramento (o Direito) e que não tem uma mão: Tyr, do panteão escandinavo, sacrifica uma das mãos para que o lobo Fenrir, inimigo dos Deuses, possa ser preso; Nuadu, rei dos Tuatha de Dannan, (que são os Deuses irlandeses mais importantes), perdeu um/a braço/mão em combate; Mucius Scaevola, sacrificou uma mão sobre um braseiro para mostrar ao inimigo que não tinha medo de sofrer e que por isso não iria trair Roma.
A respeito de Nuadu, é interessante notar uma coincidência que pode revestir-se de grande valor simbólico: sabendo-se que Nuadu ou Nuada foi por vezes considerado o mesmo que Neit, outro Deus irlandês, menos conhecido, mas mais categoricamente ligado à guerra, e sabendo-se que na Ibéria existiu o culto a um Deus da Guerra Luminoso chamado Neton, torna-se particularmente interessante que no norte da Celtibéria tenha sido encontrada uma inscrição na qual se encontra a palavra "Neitin", junto da qual se encontra o desenho de uma mão, talvez uma mão cortada; e é também valioso lembrar que os Lusitanos cortavam a mão direita aos inimigos vencidos; na Lusitânia, encontrou-se uma inscrição dedicada a Netus e outra a Netoni.
Disse Silius Italicus a respeito da Deusa Fides: "Deusa mais antiga do que Júpiter, virtuosa glória de Deuses e de homens, sem a qual não há paz na Terra, nem nos mares, irmã da Iustitia, Fides, silenciosa Divindade no coração dos homens e das mulheres." A Fides é pois um dos principais constituintes da identidade romana, bem como de outros povos indo-europeus.
O motivo de este dia Lhe ser consagrado deriva do facto histórico de ter sido num primeiro de Outubro que se dedicou um templo à Fides Publica no monte Capitólio (em 258 AC ou em 254 AC). Este santuário era usado em certas ocasiões para reuniões do Senado, e cópias de acordos internacionais eram afixadas nas suas paredes.
Fonte: Gladius
Com os dedos das suas mãos direitas envoltos em tecido branco, realizavam sacrifícios às Divindades Fides e Honos.
O poeta Horácio reforça o valor do pormenor da mão coberta de tecido branco ao descrever a estátua da Deusa: "Rara Fidelidade, a Sua mão atada com pano branco".
Isto corrobora a descrição de Tito Lívio do culto de Fides instituído pelo rei Numa Pompilius: "Também instituiu um sacrifício anual à Deusa Fides e mandou que os flâmines fossem para o Seu santuário numa biga coberta, e que executassem o serviço religioso com as suas mãos cobertas até aos dedos, para significar que a Fidelidade deve ser protegida e que o Seu assento é santo mesmo quando está nas mãos direitas dos homens".
Os ritos cerimoniais incluíam a purificação e a comemoração do juramento, sendo depois seguidos de festejos.
Trata-se de um ritual que parece ser da maior importância no contexto religioso da Romanidade, e, em termos do estudo de História das Religiões, tem sido um dos elementos cujo estudo contribui para a promoção da teoria trifuncional de Georges Dumézil, segundo a qual os Romanos, sendo Indo-Europeus, têm uma tríade divina na qual um dos Deuses representa a primeira função indo-europeia, a da soberania, do poder mágico e da justiça (Júpiter), outra das Deidades representa a segunda função indo-europeia, a da guerra (Marte), e a terceira Divindade representa a terceira função indo-europeia, a da fertilidade e da produção (Quirinus).
O detalhe da mão direita oculta é, repete-se, de grande relevância, porquanto evoca a importância da mão no juramento, uma vez que o ritual é realizado em honra precisamente da Fides, que é a Fidelidade, conceito de valor crucial para a generalidade dos povos Indo-Europeus. Não é certamente por acaso que dois dos mais importantes Deuses arianos da Índia, Mitra e Varuna, são respectivamente padroeiros do Contrato e do Juramento.
Na tradição nórdica, na céltica e na romana, há uma figura mitológica que representa de algum modo a Fidelidade, a Justiça, o Juramento (o Direito) e que não tem uma mão: Tyr, do panteão escandinavo, sacrifica uma das mãos para que o lobo Fenrir, inimigo dos Deuses, possa ser preso; Nuadu, rei dos Tuatha de Dannan, (que são os Deuses irlandeses mais importantes), perdeu um/a braço/mão em combate; Mucius Scaevola, sacrificou uma mão sobre um braseiro para mostrar ao inimigo que não tinha medo de sofrer e que por isso não iria trair Roma.
A respeito de Nuadu, é interessante notar uma coincidência que pode revestir-se de grande valor simbólico: sabendo-se que Nuadu ou Nuada foi por vezes considerado o mesmo que Neit, outro Deus irlandês, menos conhecido, mas mais categoricamente ligado à guerra, e sabendo-se que na Ibéria existiu o culto a um Deus da Guerra Luminoso chamado Neton, torna-se particularmente interessante que no norte da Celtibéria tenha sido encontrada uma inscrição na qual se encontra a palavra "Neitin", junto da qual se encontra o desenho de uma mão, talvez uma mão cortada; e é também valioso lembrar que os Lusitanos cortavam a mão direita aos inimigos vencidos; na Lusitânia, encontrou-se uma inscrição dedicada a Netus e outra a Netoni.
Disse Silius Italicus a respeito da Deusa Fides: "Deusa mais antiga do que Júpiter, virtuosa glória de Deuses e de homens, sem a qual não há paz na Terra, nem nos mares, irmã da Iustitia, Fides, silenciosa Divindade no coração dos homens e das mulheres." A Fides é pois um dos principais constituintes da identidade romana, bem como de outros povos indo-europeus.
O motivo de este dia Lhe ser consagrado deriva do facto histórico de ter sido num primeiro de Outubro que se dedicou um templo à Fides Publica no monte Capitólio (em 258 AC ou em 254 AC). Este santuário era usado em certas ocasiões para reuniões do Senado, e cópias de acordos internacionais eram afixadas nas suas paredes.
Fonte: Gladius
Um santuário da Europa antiga
Nunca é demais recordar um dos grandes momentos da Religião Nacional dos fundadores da civilização ocidental - vale por isso a pena lembrar que, mais ou menos nesta época, final do Verão, realizavam-se em Elêusis os chamados Grandes Mistérios de Elêusis, consagrados a Deméter e Sua filha Perséfone (equivalentes às romanas Ceres e Prosérpina, respectivamente).
Plutarco, historiador, biógrafo e ensaísta grego dos séculos I e II DC (46 - 127), parece ter sido um dos iniciados nesses ritos secretos e sobre os mesmos escreveu o seguinte sobre o que nestas cerimónias secretas sucedia:
"Quando um homem morre, é como aqueles que estão a ser iniciados nos mistérios... A nossa vida inteira é nada mais do que uma sucessão de errâncias e percursos dolorosos... mas assim que partimos, locais de pureza recebem-nos, com canções e dança e solenidades de palavras santas e visões sagradas".
O santuário de Elêusis foi entretanto destruído pelos cristãos, mas a sacralidade que lhe é inerente não morreu, como não poderia morrer, enquanto o respectivo Povo continuar a existir. Surgiu assim na região um culto a uma "Santa Demetra"; e, já na época contemporânea, registou-se precisamente em Elêusis um episódio bizarro que, segundo o grande historiador de religiões Mircea Eliade (em "História das Idéias e das Crenças Religiosas", Volume II), foi amplamente noticiado e discutido pela imprensa ateniense em Fevereiro de 1940: "Numa das paragens do autocarro Atenas-Corinto, subiu uma velha magra e ressequida, mas com grandes olhos bem vivos. Como não tivesse dinheiro para pagar a passagem, o fiscal fê-la descer na estação seguinte; era precisamente a estação de Elêusis. Mas o motorista não conseguiu arrancar com o autocarro; finalmente, os passageiros decidiram quotizar-se para pagar o bilhete da velha. Ela tornou a subir para o veículo que, dessa vez, partiu. Disse-lhes então a velha: "Vocês deveriam ter feito isso mais cedo, mas não passam de egoístas; e, como estou entre vocês, vou dizer-vos mais uma coisa: vocês serão castigados pela maneira como vivem, não terão mais plantas e até a água vos faltará!" Ainda não tinha concluído as suas ameaças e desapareceu. Ninguém a tinha visto descer. Olhares eram trocados, olhava-se de novo as passagens para ter a certeza de que realmente um ticket fora destacado.
Plutarco, historiador, biógrafo e ensaísta grego dos séculos I e II DC (46 - 127), parece ter sido um dos iniciados nesses ritos secretos e sobre os mesmos escreveu o seguinte sobre o que nestas cerimónias secretas sucedia:
"Quando um homem morre, é como aqueles que estão a ser iniciados nos mistérios... A nossa vida inteira é nada mais do que uma sucessão de errâncias e percursos dolorosos... mas assim que partimos, locais de pureza recebem-nos, com canções e dança e solenidades de palavras santas e visões sagradas".
O santuário de Elêusis foi entretanto destruído pelos cristãos, mas a sacralidade que lhe é inerente não morreu, como não poderia morrer, enquanto o respectivo Povo continuar a existir. Surgiu assim na região um culto a uma "Santa Demetra"; e, já na época contemporânea, registou-se precisamente em Elêusis um episódio bizarro que, segundo o grande historiador de religiões Mircea Eliade (em "História das Idéias e das Crenças Religiosas", Volume II), foi amplamente noticiado e discutido pela imprensa ateniense em Fevereiro de 1940: "Numa das paragens do autocarro Atenas-Corinto, subiu uma velha magra e ressequida, mas com grandes olhos bem vivos. Como não tivesse dinheiro para pagar a passagem, o fiscal fê-la descer na estação seguinte; era precisamente a estação de Elêusis. Mas o motorista não conseguiu arrancar com o autocarro; finalmente, os passageiros decidiram quotizar-se para pagar o bilhete da velha. Ela tornou a subir para o veículo que, dessa vez, partiu. Disse-lhes então a velha: "Vocês deveriam ter feito isso mais cedo, mas não passam de egoístas; e, como estou entre vocês, vou dizer-vos mais uma coisa: vocês serão castigados pela maneira como vivem, não terão mais plantas e até a água vos faltará!" Ainda não tinha concluído as suas ameaças e desapareceu. Ninguém a tinha visto descer. Olhares eram trocados, olhava-se de novo as passagens para ter a certeza de que realmente um ticket fora destacado.
Citemos, para concluir, a prudente observação de Charles Picard: "Creio que os helenistas, em geral, não resistirão a evocar, diante do episódio, certas lembranças do célebre Hino Homérico em que a mãe de Coré, disfarçada de velha na morada de Celeu, o rei de Elêusis, também profetizava e - numa crise de cólera, censurando aos homens a sua impiedade - anunciava que terríveis catástrofes se abateriam sobre toda a região". Entretanto, no dia 4 de Outubro tinha lugar em Roma o Ieiunium Cereris, ou Jejum em honra de Ceres, equivalente romana da helénica Deméter, prática romana possivelmente de origem oriental, visto que só surgiu na cidade latina durante o século II AC.
Nota: o blog desse patrício seria melhor se deixasse a visão política visivelmente racista, xenófoba e nacionalista de lado. A mistura entre crença e política tem surtido efeitos muito perniciosos para nossa espécie.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Entrevista com Doreen Valiente
Publicada na revista Fireheart e conduzida por Michael Thorn em 1991.
FH: Eu devo dizer que você não é como eu esperava de sua foto no [livro] "The Rebirth of Witchcraft". Você parecia mais velha e mais decrépita e você está mais vida e jovem do que eu pensava.
DV: Bom, eu estava mais decrépita. Eu tive um bom dia no momento, mas eu fiquei de cama por causa da artrite. O problema é que quando isto te pega, não há muita coisa a fazer. Os médicos querem te por em todos os tipos de drogas que tem um efeito pior em você do que na artrite, e eu sou muito desconfiada em tomar essas coisas. A única coisa que eu achei que fez algum bem foi um linimento herbal. Ele fez um bom efeito, mas o problema é que ele deixa o lugar fedido.
FH: Às vezes o melhor remédio tem gosto ruim, como óleo de rícino.
DV: Eles costumavam a me encher com essa coisa quando eu era criança. Eu não acredito que isto tenha feito qualquer efeito bom, e em estou certa de que era muito ruim para a gripe. Artrite é muito limitante. Quando você contrai, não há droga alguma que você possa fazer. Você apenas tem que tentar e manter aquecido. E de vez em quando entra nas juntas das suas mãos e torna doloroso escrever. Você não sabe aonde você não a contraiu quando isto te pega. Realmente, ela é provavelmente uma combinação de velhice e crueldade.
FH: Talvez seja karma ou a tripla lei de retorno e eles estão dizendo: “Nós iremos dar a ela de um jeito ou outro.”
DV: Eu não acredito na tripla lei do retorno, sabe. Eu sempre fui muito cética sobre esta lei, mas eu estou mais cética do que eu costumava ser. Quanto mais velha eu fico, mais cética me torno. Eu não acredito em todas as coisas que eu costumava acreditar.
FH: De onde você acha que a idéia da tripla lei do retorno veio?
DV: Eu acho que o velho Gerald tirou de um de seus rituais e as pessoas tomaram esta lei terrivelmente literariamente. Pessoalmente, eu sempre foi cética sobre esta lei porque não parecia fazer sentido para mim. Eu não vejo por que deve ter uma lei especial de karma para bruxas e uma diferente para todos os outros. Eu não engulo essa. Mas tem muitas coisas repugnantes que eu não engulo.
FH: O que você engole?
DV: Bom, eu estou interessada em reencarnação porque eu acho que explica muita coisa. Eu tenho uma certa afinidade com o Egito, sabe e eu sinto que estive naquele tempo. Eu me lembro de ler um livro sobre o antigo Egito com suposições sobre o reinado de Akhenaton, e eu me vi ficando muito zangada com esse livro, quase querendo atirar do outro lado da sala e gritar: “Não era assim!” E então eu pensei comigo mesma: “Por que você está ficando tão zangada? Isso aconteceu séculos atrás". Mas eu acho que ao ler ativou o sentimento que eu estive ali. De outra forma eu não teria um sentimento tão forte quanto a esse fato. Desde então, eu tenho tentado recapturar mais alguns pedaços, mas evidentemente, não há qualquer prova.
Eu também tive uma sensação muito forte que a sra Tatcher...Você notou como ela se parece a primeira Rainha Elizabeth? E existe uma notável semelhança na forma que elas covernaram o país, também. O espírito do reino de Elizabeth esteve muito presente. Não foi um bom reinado para as pessoas comuns. Melhor nós não vagarmos dentro do domínio da política.
FH: Existe política em tudo. Mesmo no Ofício.
DV: Eu gostaria que não tivesse. Isso é uma coisa que me faz pensar se a estrutura do velho coven não tivesse seu dia. Ele serviu ao propósito para ser organizado nos dias quando nós éramos forçados a ser um grupo clandestino. Eu posso imaginar que a estrutura do coven era o que verdadeiramente mantinha a Velha Religião viva. Mas eu acho que tudo muda. Hoje, nós estamos nos tornando mais indivudualistas. Por alguma coisa, muitos dos verdadeiros covens tradicionais eram negócios familiares, e pessoas viviam na mesma vila e não se mudavam muito, possivelmente por séculos. Eles conheçeram bem a alegria sabendo em quem podiam confiar ou não. Eles saberiam se o tio Harold era um velho pervertido etc e tal e que o sobrinho Herbert venderia sua avó por quatro centavos. Eles sabiam em quem podiam confiar ou não porque eles conheciam essas pessoas. Da mesma forma, você não conseguiria enganá-los que você era o Senhor Alto Adepto e Grande Barroso porque ele poderiam dizer: “Deixa disso, nós conhecemos você quando você era era um cisco no olho do seu pai". Estas eram as circunstâncias nas quais os velhos covens foram fundados. Eles eram fortes porque eram fundados no sangue de bruxa e em pessoas que conheciam em quem podiam confiar ou não. Eles eram quase um produto do próprio solo.
FH: Se os covens tivessem mantido seus propósitos, qual seria o próximo modo de aprendizagem e prática?
DV: Eu acho que teriam que se transformar. Ao invés de política, que é largamente uma questão de quem será a maior bruxa, eu acho que eles seriam organizados em uma base mais individualista. As pessoas iriam praticar do seu jeito ou com duas ou três pessoas com os mesmos interesses. Ao invés de grandes covens como costumavam a ter, teriam muitos mais grupos pequenos e eles fariam suas próprias coisas. Eu não acho que é uma coisa ruim, tendo em si algum tipo de modelo geral. Eu não acredito que exista uma ortodoxia que todos tem que se conformar.
FH: Nós não estamos muito preocupados quanto à sobrevivência do Ofício. Isso está garantido.
DV: Bom, Gerald estava preocupado porque ele pode ver que a maioria das pessoas no Ofício eram velhas. Ele e Dafo eram os mais novos no coven de New Forest, assim ele me contou, e ele teve muito medo que quando eles se fossem, quem iria continuar? As pessoas tinham medo de iniciar suas crianças naqueles dias, e eles esperariam até que eles crescessem. Se você se importa, eu não acho que seja algo ruim. Eu não acho que crianças devam ser forçadas a participar de algo só porque seus pais o fazem. Mas ele estava verdadeiramente preocupado que se eles não introduzissem pessoas mais jovens, a coisa toda iria desaparecer. E ele não queria ver desaparecer. Se não tivesse sido para ele é uma boa questão. Esse era o propósito por detrás de sua busca por publicidade.
FH: Você esperava por essa publicidade, quando você começou a trabalhar com Gerald gardner em 1950, que a Bruxaria poderia se tornar um movimento em larga escala?
DV: Não. Nem por um momento eu achei que se tornaria um movimento em larga escala. De vez em quando eu me sento e eu custo a crer. Impressionante. Eu não acho que o crédito seja meu, de Gerald Gardner ou outra pessoa. Eu acho que é simplesmente o fato de que era uma idéia cujo tempo chegou.
FH: O que você acha que Gerald pensou que aconteceria como resultado de suas obras? Que teriam poucos covens?
DV: Eu não tenho certeza que ele tenha esperado poucos covens. Ele apenas queria que as pessoas soubessem que a Bruxaria ainda estava viva. Foi quando as pessoas começaram a escrever para ele e eu sei que ele ganhou sacos cheios de cartas. Evidente, a piada era que quanto mais os jornais dominicais o denunciavam, mais cartas ele recebia. E, pobre velho, ele verdadeiramente não sabia o que fazer. Ele começou tentando encontrar com algumas pessoas que pareciam um pouco sensíveis e seguiu partindo daí. Mas nem por um momento, eu não acho, ele sequer previu que literalmente se esticaria dos EUA até a Austrália e agora na União Soviética.
Um bruxo amigo veio conversar comigo outro dia e me disse que viu uma notícia no “The Times" sobre o reaparecimento de covens de bruxas na Rússia e outros países da região conhecida como Cortina de Ferro. A fagulha ainda se manteve viva por lá, o carvão está queimando em chamas novamente. Também, é claro, desmente a todos os espertos que disseram que o velho George inventou tudo, porque ele não o fez, você sabe. Ele colocou de uma forma na qual as pessoas poderiam usar. Mas eu não acredito que ele inventou a idéia básica.
Eu tive muitas cartas recentemente com meu velho amigo, Aidan kelly. O que ele disse antes, ou o que eu acho que ele estava dizendo, era que Gerald gardner e eu entramos em uma conspiração para iludir o público. Bom, eu não estava sabendo disso e consequentemente fiquei irritada. Eu acho que ele aceitou que eu não entrei em uma conspiração para iludir as pessoas. Com relação ao velho Gerald, bem, ...eu não afirmei por um único momento que ele era a encarnação da sinceridade, mas eu não creio que ele inventou a coisa toda. Eu acho que havia um velho coven de New Forest, e eu acho que ele manteve contato. A grande questão, é claro, é quanto das idéias da Bruxaria nós temos hoje foram trazidas pelo velho Gerald e quanto era realmente tradicional do velho coven de New Forest. Essa é uma que pergunta eu não sei sequer se nós iremos verdadeiramente encontrar a resposta porque, infelizmente, existe muita coisa perdida, e existe muita controvérsia. Muito será mantido como uma questão de opinião sobre o que as pessoas devem decidir por si mesmas. Se eu fosse mais jovem e tivesse muito dinheiro, eu faria minha base em New Forest e tentaria e faria um pouco de pesquisa de origem – tentaria achar alguns restos do que realmente aconteceu por ali. Se alguma prova sequer apareceria, eu não sei.
Naqueles dias, as pessoas tinham que apagar seus rastros mais do que hoje. Acredite, a bruxa que disse a Gerald que Bruxaria não paga por janelas quebradas não estava brincando. Naqueles dias, era extremamente perigoso ter qualquer coisa, não apenas com Bruxaria, mas com o oculto em geral. Não havia tanto respeito como hoje. Longe disso, na verdade. As pessoas não tinham os mesmos tipos de direitos que tem hoje. Existem leis que proíbem que você seja despejado se sua locatária não gosta do que você está estudando, ou ser demitido de seu trabalho porque seu empregador é um evangélico ou algo assim. Eles não podem mais chutar as pessoas como eles costumavam a fazer. Nos tempos antigos, as pessoas eram muito mais vulneráveis do que são agora. Eles alegremente tinham que ficar quietos, e eles tinham que apagar seus rastros, e eles tinham que ser terrivelmente respeitáveis. Dion Fortune, por exemplo, certamente tentou ter um lado cristão místico em sua organização para contrabalançar o lado pagão desta. Infelizmente, não funcionou. Mas eram apenas pessoa que eram saudáveis o suficiente para torcer o nariz a seus vizinhos ou eram capazes de se manterem quietos a respeito de coisas que poderiam provocar essas coisas completamente. Você não entraria em uma biblioteca pública naqueles dias e achar os livros como você encontra hoje. Eles não seriam permitidos.
FH: Então quando os livros de Gerald foram publicados, as pessoas com quem ele trabalhava não estavam satisfeitas?
DV: Bem, não. A velha Doroty era uma mulher culta. Ela teve motivos quando aconselhou a Gerald contra divulgar por escrito. Eu receio que discreção não era o forte de Gerald, e ele quis publicar e revelar quase tudo. Ela o convenceu a colocar na forma de uma novela histórica. Bom, isso é ficção. Mas eu acho que a ficção expressa mais informação oculta do que livros que são ostensivamente escritos como não-ficção. Os melhores livros de Dion Fortune, em minha opinião, são seus livros de ficção. Eu devo admitir que eu nunca fui bem sucedida em ler "The Cosmic Doctrine." Como o famoso livro de H. P. Lovecraft, não permite ser lido. Mas seus livros de ficção eu encontrei muita informação e interesse.
FH: Se o grupo com quem ele estava trabalhando estava fazendo rituais diferentes dos que ele juntou mais tarde, ele tinha um livro com esses rituais?
DV: Se há alguma verdade ou não eu não sei, mas seu associado, Mr. Cecil Williamson, quem de fato começou o Witchcraft Museum, disse que Gerald tinha um livro velho que não era muito grande. Era um manuscrito, e ele costumava a guardar com muito cuidado. Infelizmente, um dia quando ele estava acompoanhando visitantes em seu museu na ilha de Man, esse livro foi roubado e nunca foi encontrado seu paradeiro. Agora que tipo de livro era eu não sei. Não era, eu acho, um livro que eu tenha visto. Quais eram os conteúdos do livro roubado, porque foi roubado e se vai aparecer de novo nós não sabemos.
FH: Em sua opinião, quais são as diferenças de como o Ofício é praticado na Bretanha e na América [USA], e por que você acha que estas diferenças existem?
DV: Eu acho que nós somos menos formalizados. Evidente, eu não fui à América então eu não posso falar por experiência pessoal, mas tudo na América parece ser mais organizado, e de algum jeito, isso me preocupa porque eu acho que está acabando com a diversão. Está ficando muito pesado. Eu não sei se os americanos são mais inclinados do que os britânicos em organizar as coisas. Evidente, nós somos cronicamente desorganizados, e nós temos a grande tradição da excentricidade britânica de todos os tipos. Eu acho que nós somos mais informais. Nós não realizamos grandes encontros como vocês fazem aqui. Talvez seja porque simplesmente nós não temos muito dinheiro. Custa um terrível montante de dinheiro para organizar um desses. Deve ser muito divertido.
FH: Esta é uma experiência única porque você encontra com pessoas que fazem ciosas diferentes e seus rituais – você pode ver o que fazem. Bem comunitário. A experiência é interessante porque existe tal variedade no que as pessoas fazem em termos de Bruxaria nos EUA.
DV: Eles tentaram organizar aqui algo assim no Halloween. Shan Jayran tem organizado um festival, geralmente em algum lugar em Battersea, e eu ouvi que foi muito bem sucedido, embora eu nunca lhes dei apoio. Mas não é uma ocasião pública como vocês tem aqui. Basicamente, os EUA é um país muito maior. Você tem um pouco mais de quartos por aqui. Mas nós empreendemos alguns encontros públicos e poucas pessoas vão a eles. Mas lá você não pode fazer tão livremente. Você não pode alugar um terreno sem que a igreja local chamando uma turba ameaçadora e todas essas coisas
FH: Nos EUA também nunca é sem problema. De vez em quando é preciso uma explicação cautelosa ao acampamento sobre o que você irá fazer.
DV: Uma das coisas que temos por aqui são essas estórias do que eles chamam de [ritual] satânico de abuso infantil, os quais, evidentemente, eles igualam a Bruxaria. Tudo isso começou nos EUA, e muito dessas estórias explodiu nos EUA e mostrou ser absurdo. Então agora está sendo importado para cá – todo um novo mercado. Tem sido assiduosamente espalhado por certas organizações evangélicas extremistas.
A coisa horrível é – e isso é uma lenda verdadeiramente terrível – que em Rochdale, a assistência social local, após terem ido a um seminário no qual eles foram doutrinados com todas essas coias e dados uma lista de indícios de como detectar satanismo e [ritual] satânico de abuso infantil, o qual aparentemente eles engoliram totalmente, baixaram nas casas das pessoas na madrugada e tiraram suas crianças para fora. O horrível é que eles também administraram, por meios legais, para acertar coisas para que não apenas aquelas pessoas fossem privadas da custódia de suas crianças. Mas ele eram proibidos a dizer qualquer coisa sobre o caso. Isso parece incrível em uma sociedade democrática na Bretanha em 1990, mas é um fato. E foi apenas recentemente que a imprensa nacional descobriu o que estava acontecendo e começou a falar nos casos que isso veio à público. Algumas das crianças foram devolvidas. Outras estão, como eles chamam, "sob cuidados". Os pais primeiro tiveram ajuda legal negada, mas eles estão conseguindo ajuda legal para terem suas crianças devolvidas. Haverá um caso na Corte Suprema sobre o acontecido e um inquérito governamental, mas estas coisas apenas surgiram porque a imprensa nacional descobriu o que estava acontecendo e disse: “Que diabos está acontecendo na Bretanha em 1990?” Eu não estou dizendo, evidente, que as crianças não estão sendo abusadas. Nós não sabemos sequer se foram abusadas ou não. Infelizmente, existe muito abuso infantil acontecendo. Mas isso é bem diferente do que dizer que é feito como um ritual a Satan ou como parte de um ritual de Bruxaria, e é isso que essas pessoas estão tentando fazer parecer.
Felizmente, também, o sub-xerife de Nottingham, aonde essas alegações satânicas começaram, disse que ele irá enviar um memorando especial para o Secretário contando a ele que não há evidências qualquer de satanismo estar envolvido nesses casos de forma alguma, e deplorando esta lenda a qual ele diz: "Está varrendo o país como a gripe asiática".
Também, o sub-xerife de Manchester repudiou totalmente essas estórias de Bruxaria e satanismo conectados com abuso infantil, dizendo que seus oficiais investigaram. Eles não encontraram corpos, bebês assados em microondas. Que foi uma dessas alegações, acredite ou não. Eles não encontraram ossos. Eles não encontraram locais secretos de reunião, nada. Nem uma dessas estórias que foram contadas por aqui demonstrou qualquer prova que seja.
Existe uma coisa que me intriga quanto a essas pessoas que alegam ter testemunhado homicídio ritualístico e todo esse tipo de coisa. Eles contam as coisas. Eles contam na televisão. Eles contam em livros. Eles contam em jornais. Mas eu notei que há um lugar que você nunca verá eles irem para contar. Por que diacho eles não vão contar à polícia? Muito frequentemente nós temos pessoas fazendo tais alegações aqui na Bretanha e a polícia os entrevistou e eles usualmente vem em seguida e fazem uma declaração dizendo que eles não encontraram evidência alguma do ocorrido. Mas as pessoas dizem: "Nós não podemos ir à polícia porque estamos com muito medo". Bom, no caso, por que eles estão falando agora? Por que não estão com medo agora? Se eles tivessem ido à polícia, a polícia lhes daria proteção, como costumam fazer em casos de crimes graves, e você não pode ter muito mais seriedade do que homicídio ritualístico. Então porque, se eles estão verdadeiramente preocupados quanto a esse caso e arrependeram-se e querem ficar fora disso, por que eles não foram à polícia com sua estória? Isso, em minha opinião, é o que você costuma chamar de pergunta [que vale] R$64,00, e nós nunca tivemos uma resposta sensata. E eu gostaria de pedir essa resposta a todos eles.
Essas alegações de homicídio ritualístico primeiro foram para os jornais, mas eu tenho notado que tem diminuído, agora que estas investigações foram concluídas e o sub-xerifes têm dito que não encontraram qualquer prova do caso. De fato, algumas das pessoas que deram evidências a esses assistentes sociais sobre abuso [ritualístico] satânico agora dizem que eles simplesmente receberam lavagem cerebral pelo contínuo questionamento por estes assistentes sociais. Uma garota disse: "Eles simplesmente não aceitavam um não como resposta, eles não me deixavam em paz". Bom, isso é como a inquisição medieval sobre a Bruxaria. O inquisidor não aceitava um não como resposta.
Como eu disse, haverá um inquérito governamental e uma Corte Suprema para devolver essas crianças para seus pais. Sob o sistema judicial britânico, se há um caso pendente, você não pode falar muita coisa nos jornais sobre o caso enquanto isso é, como dizem, subjudice. Não é permitido. Além do que, eles podem dizer o que quiserem, mas eles devem aparecer com muita coisa a favor e contra até que este caso seja ouvido porque esse alarde, eles sentem, está infringindo o privilégio do juiz e do tribunal. Então nós iremos esperar com muito interesse para ver o que acontece quando a Corte Suprema vier e o inquérito governamental vier. Está agendado, eu creio, para durar por cerca de seis meses. E irá custar ao pobre pagador de impostos alguns milhões.
FH: Lá se vai o imposto.
DV: Sim, lá se vai o imposto de Rochdale. Existe um certo elemento entre as igrejas cristãs do que eu acho que eles chamam persuasão evangélica, a qual é muito, muito fanática quanto ao assunto, não apenas sobre Bruxaria e satanismo, mas de tudo que possa estar conectado com a Nova Era, até vegetarianismo. Qualquer coisa que estiver conectada com a Nova Era está debaixo da influência de Satan.
FH: Nenhum pensamento independente.
DV: Sim, é realmente tudo o que isso é, nenhum pensamento independente. Eu ouvi uma amável estória algum tempo atrás sobre um desses caras. Eles estavam tendo um encontro público em um shopping, e eles estavam distribuindo panfletos e pingentes. Um deles veio até uma mulher que era uma bruxa e disse a ela: "A primeira coisa que nós queremos que você saiba é que Deus te ama", ao que a bruxa, sendo muito cortês, rapidamente respondeu: "Sim, eu sei que Ela me ama". E o cavalheiro ficou muito contrariado e acusou-a de estar blasfemando.
FH: O que você vê como a interconexão entre o movimento do Ofício/Paganismo e outros movimentos como a Nova Era e Espiritualidade Feminina? Parece que, com o movimento Verde [ambientalista] daqui e os 20 anos do Dia da Terra e preocupação com o ambiente, que o Ofício está vindo junto com essas coisas em alguns lugares.
DV: Oh, sim, eu acho que sim. Eu acho que existe uma conexão vital ali. Por que o Ofício veio no início dde 1950 não foi realmente por um esforço de um indivíduo, mas apenas porque era uma idéia cujo tempo chegou, e essas outras coisas são idéias cujo tempo chegou. Elas serão parte da Era do Aquário. Este é o movimento histórico que está acontecendo, e que eu achei interessante em ver. Eu sou muito velha agora para fazer mais do que ver. Mas eu vejo com muito interesse, eu posso te dizer.
Nós estamos começando a ver como muito da perseguição das bruxas nos registros históricos era realmente muito mais relacionado com a perseguição às mulherees e pô-las em seus lugares, como eles julgavam. Pressupostamente as mulheres eram consideradas como sendo bruxas ou suspeitas de serem bruxas, e muitas das mulheres curandeiras eram degradadas a serem consideradas como bruxas simplesmente por serem mulheres. Apenas homens podiam praticar medicina. Hoje em dia, nós estamos começando a ver como a conecção entre feminismo e Bruxaria não é algo novo. Isto é algo que tem estado aqui todo o tempo. De fato, isto é algo que é vital em sua fundação.
FH: Foi interessante ressurgir tudo de uma vez.
DV: Esse é o ponto, sabe. O ressurgir tudo de uma vez. Por que deveria ser? Simplesmente porque existe, eu acho, um tipo de movimento histórico --- o que um dos velhos ministros chamou uma vez de "ventos da mudança soprando", o que é uma expressão muito apropriada para a Era de Aquário. Aquário é um signo do ar e é o vento da mudança que sopra. Não há de jeito algum de parar. Esse é o vento da mudança que derrubou o Muro de Berlim.
FH: Algumas pessoas dizem que a Nova Era é coisa velha reembalada.
DV: Sim, é. Ela é exatamente isso. Eu não sei se as pessoas da Nova Era irão aceitar, mas eu acho que a Nova Era é realmente a velha Bruxaria. E, evidentemente, eis o por que os fundamentalistas cristãos são tão contra ela porque eles acham que é a mesma coisa. Eu acho que nós devemos tentar e trabalhar com os movimentos da Nova Era e Espiritualidade Feminina e movimentos semelhantes porque todas essas coisas realmente estão convergindo em uma meta. Elas estão ajudando na evolução da humaniade dentro da Era de Aquário, e se nós não estamos interessados em fazê-lo, então nós não estamos fazendo algo útil. Eu acho que as pessoas deveriam não pensar em Bruxaria como apenas algo que está aqui para fazer pequenos rituais egoístas para te dar algo para tornar a sua vida mais fácil. Ela está aqui talvez para tornar a vida das pessoas mais fácil, e por todos os sentidos existem tempos para usar desta forma, mas nós deveríamos ter uma visão mais abrangente dela. Nós deveríamos estar preparados para trabalhar com os movimentos da Nova Era e Espiritualidade Feminina e o movimento Verde e considerá-los importantes.
FH: Mas coisa alguma pode ser um pouco ortodoxa depois de certo tempo – mesmo uma religião da Deusa.
DV: Eu acho que estaria um tanto desequilibrada se você tivesse uma religião que apenas adorasse a Deusa, porque está ignorando metade da humanidade. Isto está repetindo o mesmo engano de uma forma diferente. Eu não quero ver isso acontecer. Eu prefiro ver as pessoas terem uma visão mais balançada para preceberem que precisamos do Deus e da Deusa. Que, realmente, você não pode ter um sem o outro. Eu não acho assim de qualquer jeito. Pessoalmente, eu sempre fui muito afetuosa pelo velho Chifrudo [em inglês ‘Horny’ significa tanto ‘Chifrudo’ quanto ‘Excitante’, não há uma palavra adequada em Português-NT] e quero vê-lo ainda tendo uma parte proeminente nos rituais.
FH: Eu acho que tem tido, desde a década de 50, uma tentativa de manter um equilíbrio. Mas houve um predomínio da Deusa em 1950 porque havia uma subjugação das mulheres, ou sempre houve uma tentativa de manter o equilíbrio?
DV: Eu acho que sempre houve uma tentativa de manter o equilíbrio. Quando eu vim para o Ofício em 1950, nós tinhamos tanto o Deus quanto a Deusa. Nunca houve uma questão a respeito. O velho querido Aidan Kelly continuava a dizer: "Você deve ter introduzido a adoração à Deusa”, mesmo que eu tenha dito a ele uma dúzia de vezes que eu não o fiz. Mas quando eu vim para o Ofício em 1950, nós tínhamos ambas as divindades, e nunca houve qualquer questão sobre isso ou qualquer idéia de que tenha sido introduzido recentemente.
FH: Eu acho que uma das razões --- e eu não posso falar por Aidan ou como ele pensa --- é que você escreveu o que é a maior parte da liturgia ou poesia para a Carga da Deusa.
DV: Oh sim. Eu escrevi, Gerald tinha uma versão da Carga que tinha muito dos textos de Aleister Crowley. E se te importa, Aleister Crowley, em minha opinião, era um poeta maravilhoso e ele sempre foi menosprezado na literatura inglesa simplesmente por causa da notoriedade que ele fez para si e revelou. Ele amava ser chamado de o homem mais pervertido no mundo e todo tipo de absurdo. O problema é que --- como seu último biógrafo, John Symonds, disse --- ele não podia tê-la em dois sentidos. Se ele quisesse ter essa reputação lúgrube, na qual ele trabalhou duro por muitos anos, então ele não podia, ao mesmo tempo, ter uma boa reputação na literatura inglesa, a despeito do fato que um par de seus poemas estão no The Oxford Book of English Mystical Verse. Eu acho uma pena que ele não teve o reconhecimento que merecia, realmente, e talvez os anos seguintes vão remedia-lo.
Mas Gerald tinha uma versão da Carga, a qual eu acho que foi citada no livro de Stewart Farrar. E eu disse a Gerald: "Olha, enquanto você tiver essas coisas de Aleister Crowley em suas liturgias, você não irá conseguir ser aceito como sendo algo conectado com magia branca, porque sua reputação é assim" --- e infelizmente, muito dela era bem merecida --- "As pessoas não irão apenas aceitar e levar a sério enquanto elas pensarem que você é um ramo da OTO de Crowley". O que ele respondeu, efetivamente, foi: "Se você acha que pode fazer melhor, faça", e foi justamente o que eu tentei fazer. Eu fiz o melhor que eu pude com o que eu tinha à disposição, e ninguém ficou mais surpreso do que eu mesma ao ver a influência que a Carga tem tido.
FH: É como se Gerald não esperasse o que poderia acontecer ao movimento após ter escrito alguns livros. E agora temos pessoas por todo o mundo.
DV: A Nova Era, a Era de Aquário, está vindo e virá embora muitas pessoas tentem evitar. Óbvio, ela pode vir com menos facilidade e menos tranquilidade por causa do preconceito das pessoas contra ela, mas virá eventualmente. Você não pode parar a onda.
FH: Você acha que a Bruxaria e o Paganismo podem e irão crescer para tornarem-se uma religião majoritária em nossa cultura ocidental?
DV: Eu não sei. Eu me sinto intimidada diante da idéia de uma religião majoritária. Eu acho que seria mais feliz se nós fossemos mais o que o velho Gerald costumava a chamar de "culto das divindades do crepúsculo". Ou seja, na margem da civilização, fora das religiões majoritárias. Esta é a idéia que o Coronel Seymour desenvolveu em seu artigo sobre a Velha Religião.
FH: No "The Forgotten Mage"?
DV: Esse mesmo. Ele teve a idéia das religiões de mistérios como não estando no sistema, mas na trilha, "a estrada que vaga além do morro gramado", como a velha balada diz. Eu acho que é aonde a magia da Velha Religião vem --- que não é uma religião majoritária, não é uma religião ortodoxa. E quando você vê os resultados das religiões ortodoxas, eu fico grata que não seja. Se você olhar para todas as guerras que estão acontecendo no mundo hoje, é difícil de apontar para uma que não tenha a religião ortodoxa e fundamentalismo em suas raízes em algum lugar. Que as Alturas nos preserve do fervor religioso quando ele despedaça as pessoas.
Mas algumas pessoas precisam da religião organizada. Nós tendemos a tomar do "A Chave" [de Salomão] e esse tipo de coisa. Bom, eu faço, de algum jeito. Ainda assim eu sou uma que diz que a religião organizada é uma maldição severa para a raça humana, e você tem apenas que pegar um jornal hoje para ver a evidência disso. Ao mesmo tempo, muitas pessoas precisam de uma religião organizada, e nós não devemos perder a noção desse fato. Isso, obvio, foi onde o pobre velho Akhenaton errou, sabe. Ele tirou as crenças simples das pessoas comuns e um monte de Deuses e Deusas, e o que ele deu em troca eles não puderam entender. Eles não puderam entender seu Deus único distante. Eles queriam seus velhos Deuses que viviam em seus lares. E consequentemente, sua grande reforma religiosa no antigo Egito não sobreviveu além de sua própria morte [do faraó Akhenaton].
FH: Interesante como as crenças das pessoas realmente afetam como vêem a vida, e a morte também. Existe uma piada sobre a Sumerlândia. Uma pessoa morreu e estava falando com um amigo no além próximo de um claustro alto e murado. Ele disse: "O que há aí dentro?" e seu amigo respondeu: "Ah, esses são todos os gardnerianos em sua Sumerlândia. Eles acham que estão sozinhos no além, como se eles fossem especiais".
DV: Eu acho, sabe, que existe um pouco de verdade por detrás desse tipo de idéia porque você escuta frequentemente sobre religiões diferentes tendo seus diferentes Paraísos. Os muçulmanos têm uma boa vida no além, eu acho. Eles têm muitas houris [virgens belíssimas e voluptuosas-NT] esperando por eles. Eu acho esse pensamento muito bom e boa sorte para eles. Vence tocar harpa, eu digo. Os budistas dizem: "Sim, nós temos todas essas coisas belas, mas nós percebemos que é uma ilusão". E os aborígenes americanos têm seu alegre campo de caça. Isso não seria surpreendente para mim se --- primeiramente --- as pessoas encontrassem por si mesmas em algo ao qual eles teriam que construir em suas mentes como sua idéia de Paraíso. Eu ouso a dizer que há algumas pessoas sentadas no Paraíso cristão alegremente tocando suas harpas e pensando que é real --- eles fizeram real. E apenas depois de algum tempo, eu imagino, que talvez eles comecem a olhar em volta e pensar: "Eu imagino se tudo isso é real". E talvez eles então percebem que não é real. Também, eu estou bem certa que algumas pessoas dentro dos círculos cristãos muito severos e devotos têm provavelmente um Inferno bem ameaçador também. Você conhece o maravilhoso livro de James Branch Cabell onde o herói vai ao Inferno e ele encontra um pequeno Diabo descontente muito preocupado que diz que tem trabalhado duro porque todas essas pessoas reclamavam que o fogo não estava quente o suficiente? Ele diz: "Eu corro em volta e faço o melhor para deixar o fogo mais quente". Eu acho que as pessoas muito possivelmente fazem para si mesmas, primeiramente, o tipo de além o qual construirão em suas mentes. Eu vou imaginar um além pagão algum dia.
FH: Dolores Ashcroft-Nowicki escreveu em um de seus livros sobre desenvolver um lugar além do tempo onde você poderia ir quando morrer que poderia ser familiar, e então depois, você poderia sair dali para qualquer lugar. Desse jeito, se você for morto repentinamente, você perceberá que você está morto porque você poderia ir para esse lugar automáticamente, ao invés de vagar em volta sem perceber que você morreu.
DV: Eu acho que, muito possivelmente, existem muitas pessoas assim, sabe, como diz vagar em volta sem preceber o que aconteceu com elas. Isso pode ser atribuído para muitas das manifestações de assombrações e poltergeist. Eu acho que tem muita verdade no que os espiritualistas ensinam. Eles certamente tem feito mais progresso em aprender sobre o além e tentado fazer as pessoas a pensar no além com um pouco mais de inteligência do que todas as igrejas ortodoxas. Obvio, as igrejas ortodoxas tornam o além um mistério. Você não pode saber coisa alguma a respeito e não pode perguntar, o que é um absurdo. Eles não querem que as pessoas saibam coisa alguma sobre o além porque você não pode as pessoas sendo seus próprios sacerdotes e suas próprias sacerdotisas. De outra forma, a ocupação de um amigo está acabada.
FH: Você tem que manter a categoria clerical ali para coletar o dinheiro. Há muita controvérsia quanto a dinheiro no Ofício nos EUA, sobre pessoas sendo pagas por coisas como dar aulas. Aceitar dinheiro é um grande tabu em algumas áreas porque as pessoas acham que você não deveria envolver dinheiro na sua religião.
DV: Está tudo bem se você pode evitar fazê-lo. Mas as pessoas têm que pagar suas coisas, não têm? E se alguém está dando aulas, por exemplo, e não estão empregadas em outro trabalho, ele está empregando seu tempo. Está tudo bem dizer que nós não devemos aceitar dinheiro por algo assim, mas como essas pessoas vão viver? Eles têm que pagar suas hipotecas ou aluguéis. Eles têm que pagar seus impostos e têm que comprar comida e roupas. Como eles vão viver se eles não tiverem algum meio de sustento? Se você não irá permitir que pessoas ordinárias com preocupações financeiras ordinárias que participem, então você irá transformar o Ofício em um parque exclusivo dos ricos que podem sustentar esse tipo de coisa. Eu acho que as pessoas têm que ser um pouco práticas quanto a dinheiro. Eles têm que trabalhar as praticalidades das coisas.
FH: Algumas pessoas acham que você não pode seguir carreira em Bruxaria, não deveria fazer em tempo integral como sacerdócio e docência, que não devrria ser seu trabalho.
DV: Obvio, as pessoas em todas as outras religiões fazem do sacerdócio seu trabalho, não fazem? Eles são pagas por isso.
FH: Eu acho que é esta a objeção deles. Eles não querem que seja igual.
DV: Não eram as bruxas alta sacerdotisas que viviam em palácios. Eram os bispos cristãos. Eles chamam assim hoje – o Palácio do Bispo. As pessoas na igreja, seja a anglicana ou outra, têm seu salário ou de outra forma não podem devotar seus serviços em tempo integral. Eu acho que as pessoas têm que desenvolver um compromisso razoável, prático no sacerdócio. Dion Fortune costumava dizer, e eu estou muito contente em citá-la: "Não é tão bom estar tão mentalmente celestial que você não seja terrenamente útil". Eu concordo que não deveria ser feito por dinheiro apenas, fazer dinheiro ser o objetivo, mas ao mesmo tempo você tem que ter essa praticalidade que faz as coisas funcionarem. De outra forma, será apenas um passatempo para os ricos, como o ocultismo era antes do atual reaparecimento.
FH: Certamente para pessoas como Crowley. Ele tinha dinheiro e tempo de lazer para se indugir.
DV: Ele era o filho de um profícuo cervejeiro e deixou um legado considerável. Ele foi enviado por seu pai para o Trinity College, Cambridge, e é claro, ele fez tudo certo até a herança acabar. Então ele teve que subsistir, como Gerald Hamilton, um de seus amigos, delicadamente colocou, debaixo de contribuições involuntárias de seus amigos, uma estória sórdida. A última versão de sua biografia é "King of the Shadow Realm" de John Symonds.
FH: Muitas pessoas que tem estado no Ofício por muito tempo sentem que o crescimento tremendo tem sido ruim para o Ofício e o Ofício tem se tornado mais uma moda do que uma religião, e a magia se foi. Você concorda com isso?
DV: Não, eu não concordo, eu não acho que o Ofício se tornou uma moda a menos que você permita. Eu não acho que a magia se foi inteiramente, embora ossa ter diminuído por considerações como trazer ganhos mmonetários e assim por diante. Eu acho que se você começar a fazer negócios com ele, então a magia evapora rapidamente. Apenas depende que tipo de negócio que eles fazem com ele. Se a meta é fazer dinheiro com o Ofício, então a magia se foi. A magia não pode disaparecer por completo, porque o que o Ofício é basicamente enraizado em sua natureza, e a natureza está aqui --- os elementos da vida, árvores, vento, fogo, estão todos à nossa volta. Este é a magia básica do Ofício, e a magia é parte da vida em si mesma. Não é que a magia tenha ido. Apenas nós perdemos o contato com ela. Quanto ao crescimento, bom eu não sei. Você não pode dizer às pessoas: "Nós não queremos você aqui". Isso é como a velha retórica: "Nós somos os ungidos de Deus, todos os outros são condenados. Nós não temos lugar para você, nós não podemos lotar o Paraíso". Que direito nós temos de negar às pessoas o direito de adorar os Deuses Antigos e o direito de confraternizar com a natureza? Haverá alguns que inevitavelmente serão o tipo errado de pessoa. Eles vêm por motivos egoístas, mas eles irão se entregar em pouco tempo. Eles, no fim, são os maiores perdedores porque tiveram sua chance e perderam.
FH: Existem aqueles que pensam que algumas pessoas tem iniciado as massas no Ofício, e que é um erro. Eles deveriam ser mais seletivos.
DV: Eu certamente concordo com isso. Eu acho que muito problema tem surgido da iniciação de pessoas erradas sem parar para pensar um pouco. Você não estará fazendo favor algum a eles ao os iniciar em algo que não são capazes de captar o significado real, e você certamente não está fazendo favor algum a você ao trazer pessoas que são inadequadas. Eu certamente acho que se tem iniciado as pessoas pelos motivos errados, como para ter certeza de que o coven tem treze pessoas. E realmente, você pode fazer um trabalho muito melhor com duas ou três pessoas que verdadeiramente sabem o que estão fazendo.
FH: Na comuinidade americana da Bruxaira/Paganismo, nós falamos sobre construir uma fundação e estruturas de apoio onde a Bruxaria e o Paganismo podem se desenvolver para atender as necessidades de seus membros. Como alguém que tem sido a precussora em ajudar a criar a forma da Bruxaria contemporânea, você tem alguma percepção de como isso pode acontecer?
DV: Construir uma fundação e estruturas de apoio? Eu não sei o que é isso.
FH: A idéia é como montar uma comunidade. Como os cristãos tem uma pensão para idosos.
DV: Oh, que maravilhoso! Uma pensão para idosos para bruxas. Eu posso imaginar.
FH: E creche e grupos de apoio.
DV: Isso realmente...quer dizer, quando eu comecei como bruxa, você não podia ir em um mercado e comprar uma vara como você faz hoje. Eu não sei o que poderia acontecer. Eles não podiam correr e comprar assim. Eles teriam sido fechados pela polícia. Não lhes seria permitido. Seria bastante espantoso se qualquer um de nós que veio no início de 1950 ainda está aqui para ver isso. Nós não acreditaríamos. Você não podia comprar um baralho de tarô naqueles dias. literalmente. Eu tentei por anos antes que eu pudesse ter um baralho de tarô, e agora, você pode comprar qualquer quantidade de baralhos de tarô.
FH: Como em outras religiões, ter o apoio da sociedade e da comunidade para que nós possamos cuidar dos nossos e não depender de outras pessoas. Escolas para crianças e grupos de afinidade.
DV: Eu acho isso muito...uma pensão para idosos! Eu não consigo deixar de pensar nisso. Eu acho essa idéia super.
FH: Nós teremos alas homenageando o nome de muitas pessoas. O Doreen Valiente Memorial Temple.
DV: Eu estou um tanto horrorizada com algumas coisas que está saindo: "Oh, você fundou o Ofício naqueles dias", e assim por diante. Eu tenho terríveis visões de procissões ao santuário da Santa Doreen no ano de 2070. O problema é que eu não acho forma alguma de levantar fundos para esse projeto enquanto eu não morrer. Uma grande pena. Mas eu te digo, eu acho que farei um favor ao meu dentista porque ele é um bom amigo. Eu irei avisá-lo do que está acontecendo e dizer a ele para pegar um velho molar ou algo, e depois que eu for, eles podem erigir algum Templo do Dente que eles tem em Kandy em Ceilão. Supõe-se que seja o dente de Buda e eles fazem uma procissão pelas ruas nas costas de um elefante uma vez ao ano. Todo mundo entra em um estado de êxtase religioso e todo mundo tem uma boa diversão. Então eu acho que vou avisar o meu dentista. Eu não irei me importar de vê-lo enriquecer com isso, e se ele não tiver um bom dente meu, ele pode substituir o dente de outra pessoa. Na verdade, algum estraga prazeres examinou o dente sagrado em Kandy alguns anos atrás e disse que era o dente de um animal, provavelmente um cachorro. Mas não parece ter impedido os procedimentos.
FH: Eles fizeram isso para Elvis Presley. Eles tem um pedaço de torrada com uma mordida dele, ou uma colher que ele usou uma vez.
DV: Eles não fizeram realmente!
FH: Eles realmente fazem coisas assim.
DV: Você gostaria de comprar algumas colheres velhas como investimento?
FH: Você tem que ser muito cuidadosa a quem você as deixará. Eles farão um grande leilão e eles ganharão uma fortuna. Mas de novo, você não terá benefício algum disso.
DV: Isso que é chato, não é? Eu acho que é um pensamento terrível. Como a rima sobre o velho Crowley: "Aqui se encontraram em uma tarde em um arvoredo, um homem horrível e uma bela donzela. Aonde você está indo, tão humilde e santo? Eu estou indo ao templo adorar a Crowley. Então Crowley é Deus? Como você sabe? Bom o Capitão Fuller que nos contou. E como você sabe que Fuller está certo? Eu receio que você seja um homem pervertido, boa noite. Enquanto esse tipo de coisa está fadado ao sucesso, eu não deixo faltar amargura". Esse era o pequeno poema de Crowley a respeito disso. A piada é, sabe, que eles venderam as relíquias de Crowley. Eu vi algumas delas sendo oferecidas pelos preços mais medonhos. Não há muito o que se fazer quanto a indústria das relíquias. O problema é que eu não vejo meio de me beneficiar disso enquanto eu estiver viva.
Nós estamos falando de fundações e estruturas de apoio na comunidade. Como irá acontecer, eu não sei. Provavelmente acontecerá por si mesmo. No momento, nós estamos em uma situação difícil em não sermos capazes de educar nossas crianças. Pelo contrário me irrita que todas as outras religiões no mundo podem educar suas crianças em suas idéias exceto nós. Agora, devido a todo esse medo do abuso infantil. Será bem difícil para as pessoas trazerem suas crianças para os ideais do Ofício, e eu não vejo por que nós devemos sofrer tal discriminação. Então virá um dia, eu acho, quando nós poderemos ter algo como uma escola dominical. Eu não sei se teremos. Mas por que nós não devemos contar as nossas crenças às nossas crianças? Os cristãos fundamentalistas irão comemorar, óbvio. Nós temos falado alegremente como a velha estrutura do coven tem servido a seus propósitos e essa coisa toda, mas então, sabe, nós podemos estar enganados. Nós temos que pensar nisso porque quando você vê o fanatismo de algumas dessas pessoas, é bem assustador. Mas as outras religiões podem trazer suas crianças para os ideais, e como você disse, nós podemos ter grupos de apoio para as pessoas. Existem diversos tipos de pessoas que precisam de grupos de apoio. Muitos desses grupos de apoio são adminstrados por comunidades religiosas cristãs, e algumas delas fazem um bom trabalho. Mas nós certamente devemos considerar a possibilidade em fazer esse tipo de coisa por nós mesmos.
FH: Algumas dessas coisas custam dinheiro. Arrecadar esse dinheiro de pessoas que não tem muito é dificil.
DV: Eu sinto que muitas das pessoias no Ofício não são prósperas, e muitas das coisas são mais ou menos feitas na sola do sapato. Talvez isso não seja algo ruim. Eu acho que vai chegar o dia quando poderemos fazer tais coisas --- grupos de apoio desse tipo para idosos, jovens e doentes. Sim, os desenvolvimentos e a forma como está se movendo são realmente assombrosos. Essas estruturas virão. Eu acho que virão por si mesmas.
FH: O que você está escrevendo agora? Está escrevendo outro livro?
DV: Bom, sim. Eu estou tentando desenvolver idéias para escrever um livro especialmente dirigido para o praticante solitário de Bruxaria, seja por escolha ou por circunstâncias, onde a pessoa tem que trabalhar sozinha ou talvez com apenas um parceiro ou uma dupla. Eu acho que é uma das formas principais na qual o Ofício está se desenvolvendo, está indo muito mais em uma base individual. Eu vou tentar fazer um livro de feitiços, rituais, e esse tipo de coisa que os ajudará. Eu também colaborei em um livro com um velho amigo meu, Evan John Jones.
FH: Seria o "Witchcraft, A Tradition Renewed"?
DV: Correto. Ele escreveu o que eu achei ser um livro muito interessante e então eu o ajudei a publicar ao editá-lo um pouco. Ele escreveu muito do livro sob inspiração e ele realmente não sabia como ficaria até ter escrito. Está baseado nas idéias que ele e eu desenvolvemos quando nós trabalhamos com Robert Cochrane. Algumas dessas idéias ele modificou um pouco para torná-las mais adequadas para os dias atuais, para ser visando mais o futuro do que o passado. Mas esse é um tipo diferente de ritual de onde eu acho que muitas pessoas fazem, embora ele tenha muitos amigos nos EUA que estão praticando esse rituais agora, e ele mantém contato com eles. Aparentemente eles os acharam bem sucedidos. De qualquer forma, eu espero que as pessoas estejam interessadas nele e não pensem que eu esteja querendo derrubar as outras formas de Bruxaria porque eu o ajudei nisso, mas eu acho que nós precisamos de perspectivas diferentes, tradições diferentes.
FH: O Ofício parece envenenado nesta situação em integrar muitas destas coisas juntas, como o movimento Verde que está preocupado com a terra, e o movimento feminista que está preocupado com o papel da mulher, e o movimento da Nova Era que está preocupado com a espiritualidade individual. Parece que enquanto o Ofíocio intrega tudo isso para que possa ter um papel de liderança porque é uma síntese desses diferentes movimentos.
DV: Eu acho que será parte da Era de Aquário que está vindo. Assim eu vejo. Óbvio, não é fácil para nós em ver como irá se desenvolver. De vez em quando você acha que nós todos vamos pro Inferno em um carreto e não há coisa alguma que você possa fazer a respeito disso quando você vê algumas coisas na televisão. E então você ouve sobre outros desenvolvimentos os quais repentinamente te faz se sentir mais esperançoso, como se as coisas irão funcionar a despeito de todas as forças das trevas, que as coisas irão caminhar para uma era melhor. Eu acho que o mundo está se redefinindo. Existem algumas forças aqui --- chame de Gaia ou força de evolução. Chame de planos internos. Chame do que quiser, mas eu acho que há uma força trabalhando que tem algo a ver com a evolução humana, e está nos ajudando para o próximo passo, se nós escolhermos ou não em tentar acompanhá-la. Nós podemos escolher em tentar ir contra ela se quisermos, mas eu não acho que isso nos leve a lugar algum. Quer dizer, quem teria acreditado que o muro de Berlim seria praticamente assoprado pelos ventos da mudança. Mas aconteceu. E não aconteceu com a força das armas. Não aconteceu por planos políticos. Aconteceu por um tipo de movimento do espírito humano, se você quiser chamar assim. Essas coisas estão acontecendo. O mundo muda. Tal como diz a famosa maldição chinesa: "Possa você viver em tempos interessantes". Nós estamos.
FH: Qual é a sua visão do futuro do Ofício?
DV: Pode, eu espero, tomar esse tipo de partido. Assim eu espero e gostaria de ver acontecer. Eu não sei se eu irei viver tanto assim, mas eu gostaria de ver alguns desses encontros públicos como vocês têm nos EUA. Eu os acho maravilhosos, e eu gostaria de ver outras pessoas os prestigiando, não apenas as pessoas do Ofício, mas pessoas da Nova Era, feministas, e pessoas preocupadas com o movimento Verde. Eu gostaria de nos ver trabalhando juntos. Eu acho que este é o futuro do Ofício. Mas nós não podemos mais ser exclusivos. Houve um tempo quando nós tínhamos que ser porque era literalmente uma questão de vida e morte. Nós éramos como o movimento de resistência durante a guerra. Se falássemos fora de nosso turno, nós encarávamos todas a chance não apenas de nos destruir mas também nossos associados. Você alegremente aprendia a ser discreto do jeito mais difícil nesses dias. Eu acho que essa era passou. Existem forças em ação entre os fundamentalistas de várias religiões que gostariam de ver esses dias voltarem. Eu não acho que serão bem sucedidos, eu acho que a evolução humana foi muito longe para isso. Eles podem ter algum sucesso temporário. Eles podem vencer algumas batalhas, mas eles irão perder a guerra. Eu espero que nós possamos cumprir esse papel como líderes. Eu não estou falando o líder, porque nós não precisamos de um líder e todo o resto seguidores. Nós tivemos o suficiente disso. Mas eu acho que nós iremos ter uma parte na liderança ao trazer para dentro a Nova era, e eu quero ver. Eu não sei se irei viver tanto. Eu espero que sim.
Eu adoro aquela estória sobre Susan Anthony que Zsuzsanna Budapest conta em seu livro. Algum jornalista perguntou a Susan Anthony, porque ela não acreditava na religião ortodoxa, eu suponho: "Para onde você acha que vai quando morrer?" Ela disse: "Eu não vou a lugar algum, eu vou ficar por aqui e ajudar o movimento das mulheres". Então mesmo se eu não viver o suficiente para ver essas coisas, eu ficarei por aqui para fazer confusão por mim mesma.
Nota: negrito por conta da casa.