FH: Eu devo dizer que você não é como eu esperava de sua foto no [livro] "The Rebirth of Witchcraft". Você parecia mais velha e mais decrépita e você está mais vida e jovem do que eu pensava.
DV: Bom, eu estava mais decrépita. Eu tive um bom dia no momento, mas eu fiquei de cama por causa da artrite. O problema é que quando isto te pega, não há muita coisa a fazer. Os médicos querem te por em todos os tipos de drogas que tem um efeito pior em você do que na artrite, e eu sou muito desconfiada em tomar essas coisas. A única coisa que eu achei que fez algum bem foi um linimento herbal. Ele fez um bom efeito, mas o problema é que ele deixa o lugar fedido.
FH: Às vezes o melhor remédio tem gosto ruim, como óleo de rícino.
DV: Eles costumavam a me encher com essa coisa quando eu era criança. Eu não acredito que isto tenha feito qualquer efeito bom, e em estou certa de que era muito ruim para a gripe. Artrite é muito limitante. Quando você contrai, não há droga alguma que você possa fazer. Você apenas tem que tentar e manter aquecido. E de vez em quando entra nas juntas das suas mãos e torna doloroso escrever. Você não sabe aonde você não a contraiu quando isto te pega. Realmente, ela é provavelmente uma combinação de velhice e crueldade.
FH: Talvez seja karma ou a tripla lei de retorno e eles estão dizendo: “Nós iremos dar a ela de um jeito ou outro.”
DV: Eu não acredito na tripla lei do retorno, sabe. Eu sempre fui muito cética sobre esta lei, mas eu estou mais cética do que eu costumava ser. Quanto mais velha eu fico, mais cética me torno. Eu não acredito em todas as coisas que eu costumava acreditar.
FH: De onde você acha que a idéia da tripla lei do retorno veio?
DV: Eu acho que o velho Gerald tirou de um de seus rituais e as pessoas tomaram esta lei terrivelmente literariamente. Pessoalmente, eu sempre foi cética sobre esta lei porque não parecia fazer sentido para mim. Eu não vejo por que deve ter uma lei especial de karma para bruxas e uma diferente para todos os outros. Eu não engulo essa. Mas tem muitas coisas repugnantes que eu não engulo.
FH: O que você engole?
DV: Bom, eu estou interessada em reencarnação porque eu acho que explica muita coisa. Eu tenho uma certa afinidade com o Egito, sabe e eu sinto que estive naquele tempo. Eu me lembro de ler um livro sobre o antigo Egito com suposições sobre o reinado de Akhenaton, e eu me vi ficando muito zangada com esse livro, quase querendo atirar do outro lado da sala e gritar: “Não era assim!” E então eu pensei comigo mesma: “Por que você está ficando tão zangada? Isso aconteceu séculos atrás". Mas eu acho que ao ler ativou o sentimento que eu estive ali. De outra forma eu não teria um sentimento tão forte quanto a esse fato. Desde então, eu tenho tentado recapturar mais alguns pedaços, mas evidentemente, não há qualquer prova.
Eu também tive uma sensação muito forte que a sra Tatcher...Você notou como ela se parece a primeira Rainha Elizabeth? E existe uma notável semelhança na forma que elas covernaram o país, também. O espírito do reino de Elizabeth esteve muito presente. Não foi um bom reinado para as pessoas comuns. Melhor nós não vagarmos dentro do domínio da política.
FH: Existe política em tudo. Mesmo no Ofício.
DV: Eu gostaria que não tivesse. Isso é uma coisa que me faz pensar se a estrutura do velho coven não tivesse seu dia. Ele serviu ao propósito para ser organizado nos dias quando nós éramos forçados a ser um grupo clandestino. Eu posso imaginar que a estrutura do coven era o que verdadeiramente mantinha a Velha Religião viva. Mas eu acho que tudo muda. Hoje, nós estamos nos tornando mais indivudualistas. Por alguma coisa, muitos dos verdadeiros covens tradicionais eram negócios familiares, e pessoas viviam na mesma vila e não se mudavam muito, possivelmente por séculos. Eles conheçeram bem a alegria sabendo em quem podiam confiar ou não. Eles saberiam se o tio Harold era um velho pervertido etc e tal e que o sobrinho Herbert venderia sua avó por quatro centavos. Eles sabiam em quem podiam confiar ou não porque eles conheciam essas pessoas. Da mesma forma, você não conseguiria enganá-los que você era o Senhor Alto Adepto e Grande Barroso porque ele poderiam dizer: “Deixa disso, nós conhecemos você quando você era era um cisco no olho do seu pai". Estas eram as circunstâncias nas quais os velhos covens foram fundados. Eles eram fortes porque eram fundados no sangue de bruxa e em pessoas que conheciam em quem podiam confiar ou não. Eles eram quase um produto do próprio solo.
FH: Se os covens tivessem mantido seus propósitos, qual seria o próximo modo de aprendizagem e prática?
DV: Eu acho que teriam que se transformar. Ao invés de política, que é largamente uma questão de quem será a maior bruxa, eu acho que eles seriam organizados em uma base mais individualista. As pessoas iriam praticar do seu jeito ou com duas ou três pessoas com os mesmos interesses. Ao invés de grandes covens como costumavam a ter, teriam muitos mais grupos pequenos e eles fariam suas próprias coisas. Eu não acho que é uma coisa ruim, tendo em si algum tipo de modelo geral. Eu não acredito que exista uma ortodoxia que todos tem que se conformar.
FH: Nós não estamos muito preocupados quanto à sobrevivência do Ofício. Isso está garantido.
DV: Bom, Gerald estava preocupado porque ele pode ver que a maioria das pessoas no Ofício eram velhas. Ele e Dafo eram os mais novos no coven de New Forest, assim ele me contou, e ele teve muito medo que quando eles se fossem, quem iria continuar? As pessoas tinham medo de iniciar suas crianças naqueles dias, e eles esperariam até que eles crescessem. Se você se importa, eu não acho que seja algo ruim. Eu não acho que crianças devam ser forçadas a participar de algo só porque seus pais o fazem. Mas ele estava verdadeiramente preocupado que se eles não introduzissem pessoas mais jovens, a coisa toda iria desaparecer. E ele não queria ver desaparecer. Se não tivesse sido para ele é uma boa questão. Esse era o propósito por detrás de sua busca por publicidade.
FH: Você esperava por essa publicidade, quando você começou a trabalhar com Gerald gardner em 1950, que a Bruxaria poderia se tornar um movimento em larga escala?
DV: Não. Nem por um momento eu achei que se tornaria um movimento em larga escala. De vez em quando eu me sento e eu custo a crer. Impressionante. Eu não acho que o crédito seja meu, de Gerald Gardner ou outra pessoa. Eu acho que é simplesmente o fato de que era uma idéia cujo tempo chegou.
FH: O que você acha que Gerald pensou que aconteceria como resultado de suas obras? Que teriam poucos covens?
DV: Eu não tenho certeza que ele tenha esperado poucos covens. Ele apenas queria que as pessoas soubessem que a Bruxaria ainda estava viva. Foi quando as pessoas começaram a escrever para ele e eu sei que ele ganhou sacos cheios de cartas. Evidente, a piada era que quanto mais os jornais dominicais o denunciavam, mais cartas ele recebia. E, pobre velho, ele verdadeiramente não sabia o que fazer. Ele começou tentando encontrar com algumas pessoas que pareciam um pouco sensíveis e seguiu partindo daí. Mas nem por um momento, eu não acho, ele sequer previu que literalmente se esticaria dos EUA até a Austrália e agora na União Soviética.
Um bruxo amigo veio conversar comigo outro dia e me disse que viu uma notícia no “The Times" sobre o reaparecimento de covens de bruxas na Rússia e outros países da região conhecida como Cortina de Ferro. A fagulha ainda se manteve viva por lá, o carvão está queimando em chamas novamente. Também, é claro, desmente a todos os espertos que disseram que o velho George inventou tudo, porque ele não o fez, você sabe. Ele colocou de uma forma na qual as pessoas poderiam usar. Mas eu não acredito que ele inventou a idéia básica.
Eu tive muitas cartas recentemente com meu velho amigo, Aidan kelly. O que ele disse antes, ou o que eu acho que ele estava dizendo, era que Gerald gardner e eu entramos em uma conspiração para iludir o público. Bom, eu não estava sabendo disso e consequentemente fiquei irritada. Eu acho que ele aceitou que eu não entrei em uma conspiração para iludir as pessoas. Com relação ao velho Gerald, bem, ...eu não afirmei por um único momento que ele era a encarnação da sinceridade, mas eu não creio que ele inventou a coisa toda. Eu acho que havia um velho coven de New Forest, e eu acho que ele manteve contato. A grande questão, é claro, é quanto das idéias da Bruxaria nós temos hoje foram trazidas pelo velho Gerald e quanto era realmente tradicional do velho coven de New Forest. Essa é uma que pergunta eu não sei sequer se nós iremos verdadeiramente encontrar a resposta porque, infelizmente, existe muita coisa perdida, e existe muita controvérsia. Muito será mantido como uma questão de opinião sobre o que as pessoas devem decidir por si mesmas. Se eu fosse mais jovem e tivesse muito dinheiro, eu faria minha base em New Forest e tentaria e faria um pouco de pesquisa de origem – tentaria achar alguns restos do que realmente aconteceu por ali. Se alguma prova sequer apareceria, eu não sei.
Naqueles dias, as pessoas tinham que apagar seus rastros mais do que hoje. Acredite, a bruxa que disse a Gerald que Bruxaria não paga por janelas quebradas não estava brincando. Naqueles dias, era extremamente perigoso ter qualquer coisa, não apenas com Bruxaria, mas com o oculto em geral. Não havia tanto respeito como hoje. Longe disso, na verdade. As pessoas não tinham os mesmos tipos de direitos que tem hoje. Existem leis que proíbem que você seja despejado se sua locatária não gosta do que você está estudando, ou ser demitido de seu trabalho porque seu empregador é um evangélico ou algo assim. Eles não podem mais chutar as pessoas como eles costumavam a fazer. Nos tempos antigos, as pessoas eram muito mais vulneráveis do que são agora. Eles alegremente tinham que ficar quietos, e eles tinham que apagar seus rastros, e eles tinham que ser terrivelmente respeitáveis. Dion Fortune, por exemplo, certamente tentou ter um lado cristão místico em sua organização para contrabalançar o lado pagão desta. Infelizmente, não funcionou. Mas eram apenas pessoa que eram saudáveis o suficiente para torcer o nariz a seus vizinhos ou eram capazes de se manterem quietos a respeito de coisas que poderiam provocar essas coisas completamente. Você não entraria em uma biblioteca pública naqueles dias e achar os livros como você encontra hoje. Eles não seriam permitidos.
FH: Então quando os livros de Gerald foram publicados, as pessoas com quem ele trabalhava não estavam satisfeitas?
DV: Bem, não. A velha Doroty era uma mulher culta. Ela teve motivos quando aconselhou a Gerald contra divulgar por escrito. Eu receio que discreção não era o forte de Gerald, e ele quis publicar e revelar quase tudo. Ela o convenceu a colocar na forma de uma novela histórica. Bom, isso é ficção. Mas eu acho que a ficção expressa mais informação oculta do que livros que são ostensivamente escritos como não-ficção. Os melhores livros de Dion Fortune, em minha opinião, são seus livros de ficção. Eu devo admitir que eu nunca fui bem sucedida em ler "The Cosmic Doctrine." Como o famoso livro de H. P. Lovecraft, não permite ser lido. Mas seus livros de ficção eu encontrei muita informação e interesse.
FH: Se o grupo com quem ele estava trabalhando estava fazendo rituais diferentes dos que ele juntou mais tarde, ele tinha um livro com esses rituais?
DV: Se há alguma verdade ou não eu não sei, mas seu associado, Mr. Cecil Williamson, quem de fato começou o Witchcraft Museum, disse que Gerald tinha um livro velho que não era muito grande. Era um manuscrito, e ele costumava a guardar com muito cuidado. Infelizmente, um dia quando ele estava acompoanhando visitantes em seu museu na ilha de Man, esse livro foi roubado e nunca foi encontrado seu paradeiro. Agora que tipo de livro era eu não sei. Não era, eu acho, um livro que eu tenha visto. Quais eram os conteúdos do livro roubado, porque foi roubado e se vai aparecer de novo nós não sabemos.
FH: Em sua opinião, quais são as diferenças de como o Ofício é praticado na Bretanha e na América [USA], e por que você acha que estas diferenças existem?
DV: Eu acho que nós somos menos formalizados. Evidente, eu não fui à América então eu não posso falar por experiência pessoal, mas tudo na América parece ser mais organizado, e de algum jeito, isso me preocupa porque eu acho que está acabando com a diversão. Está ficando muito pesado. Eu não sei se os americanos são mais inclinados do que os britânicos em organizar as coisas. Evidente, nós somos cronicamente desorganizados, e nós temos a grande tradição da excentricidade britânica de todos os tipos. Eu acho que nós somos mais informais. Nós não realizamos grandes encontros como vocês fazem aqui. Talvez seja porque simplesmente nós não temos muito dinheiro. Custa um terrível montante de dinheiro para organizar um desses. Deve ser muito divertido.
FH: Esta é uma experiência única porque você encontra com pessoas que fazem ciosas diferentes e seus rituais – você pode ver o que fazem. Bem comunitário. A experiência é interessante porque existe tal variedade no que as pessoas fazem em termos de Bruxaria nos EUA.
DV: Eles tentaram organizar aqui algo assim no Halloween. Shan Jayran tem organizado um festival, geralmente em algum lugar em Battersea, e eu ouvi que foi muito bem sucedido, embora eu nunca lhes dei apoio. Mas não é uma ocasião pública como vocês tem aqui. Basicamente, os EUA é um país muito maior. Você tem um pouco mais de quartos por aqui. Mas nós empreendemos alguns encontros públicos e poucas pessoas vão a eles. Mas lá você não pode fazer tão livremente. Você não pode alugar um terreno sem que a igreja local chamando uma turba ameaçadora e todas essas coisas
FH: Nos EUA também nunca é sem problema. De vez em quando é preciso uma explicação cautelosa ao acampamento sobre o que você irá fazer.
DV: Uma das coisas que temos por aqui são essas estórias do que eles chamam de [ritual] satânico de abuso infantil, os quais, evidentemente, eles igualam a Bruxaria. Tudo isso começou nos EUA, e muito dessas estórias explodiu nos EUA e mostrou ser absurdo. Então agora está sendo importado para cá – todo um novo mercado. Tem sido assiduosamente espalhado por certas organizações evangélicas extremistas.
A coisa horrível é – e isso é uma lenda verdadeiramente terrível – que em Rochdale, a assistência social local, após terem ido a um seminário no qual eles foram doutrinados com todas essas coias e dados uma lista de indícios de como detectar satanismo e [ritual] satânico de abuso infantil, o qual aparentemente eles engoliram totalmente, baixaram nas casas das pessoas na madrugada e tiraram suas crianças para fora. O horrível é que eles também administraram, por meios legais, para acertar coisas para que não apenas aquelas pessoas fossem privadas da custódia de suas crianças. Mas ele eram proibidos a dizer qualquer coisa sobre o caso. Isso parece incrível em uma sociedade democrática na Bretanha em 1990, mas é um fato. E foi apenas recentemente que a imprensa nacional descobriu o que estava acontecendo e começou a falar nos casos que isso veio à público. Algumas das crianças foram devolvidas. Outras estão, como eles chamam, "sob cuidados". Os pais primeiro tiveram ajuda legal negada, mas eles estão conseguindo ajuda legal para terem suas crianças devolvidas. Haverá um caso na Corte Suprema sobre o acontecido e um inquérito governamental, mas estas coisas apenas surgiram porque a imprensa nacional descobriu o que estava acontecendo e disse: “Que diabos está acontecendo na Bretanha em 1990?” Eu não estou dizendo, evidente, que as crianças não estão sendo abusadas. Nós não sabemos sequer se foram abusadas ou não. Infelizmente, existe muito abuso infantil acontecendo. Mas isso é bem diferente do que dizer que é feito como um ritual a Satan ou como parte de um ritual de Bruxaria, e é isso que essas pessoas estão tentando fazer parecer.
Felizmente, também, o sub-xerife de Nottingham, aonde essas alegações satânicas começaram, disse que ele irá enviar um memorando especial para o Secretário contando a ele que não há evidências qualquer de satanismo estar envolvido nesses casos de forma alguma, e deplorando esta lenda a qual ele diz: "Está varrendo o país como a gripe asiática".
Também, o sub-xerife de Manchester repudiou totalmente essas estórias de Bruxaria e satanismo conectados com abuso infantil, dizendo que seus oficiais investigaram. Eles não encontraram corpos, bebês assados em microondas. Que foi uma dessas alegações, acredite ou não. Eles não encontraram ossos. Eles não encontraram locais secretos de reunião, nada. Nem uma dessas estórias que foram contadas por aqui demonstrou qualquer prova que seja.
Existe uma coisa que me intriga quanto a essas pessoas que alegam ter testemunhado homicídio ritualístico e todo esse tipo de coisa. Eles contam as coisas. Eles contam na televisão. Eles contam em livros. Eles contam em jornais. Mas eu notei que há um lugar que você nunca verá eles irem para contar. Por que diacho eles não vão contar à polícia? Muito frequentemente nós temos pessoas fazendo tais alegações aqui na Bretanha e a polícia os entrevistou e eles usualmente vem em seguida e fazem uma declaração dizendo que eles não encontraram evidência alguma do ocorrido. Mas as pessoas dizem: "Nós não podemos ir à polícia porque estamos com muito medo". Bom, no caso, por que eles estão falando agora? Por que não estão com medo agora? Se eles tivessem ido à polícia, a polícia lhes daria proteção, como costumam fazer em casos de crimes graves, e você não pode ter muito mais seriedade do que homicídio ritualístico. Então porque, se eles estão verdadeiramente preocupados quanto a esse caso e arrependeram-se e querem ficar fora disso, por que eles não foram à polícia com sua estória? Isso, em minha opinião, é o que você costuma chamar de pergunta [que vale] R$64,00, e nós nunca tivemos uma resposta sensata. E eu gostaria de pedir essa resposta a todos eles.
Essas alegações de homicídio ritualístico primeiro foram para os jornais, mas eu tenho notado que tem diminuído, agora que estas investigações foram concluídas e o sub-xerifes têm dito que não encontraram qualquer prova do caso. De fato, algumas das pessoas que deram evidências a esses assistentes sociais sobre abuso [ritualístico] satânico agora dizem que eles simplesmente receberam lavagem cerebral pelo contínuo questionamento por estes assistentes sociais. Uma garota disse: "Eles simplesmente não aceitavam um não como resposta, eles não me deixavam em paz". Bom, isso é como a inquisição medieval sobre a Bruxaria. O inquisidor não aceitava um não como resposta.
Como eu disse, haverá um inquérito governamental e uma Corte Suprema para devolver essas crianças para seus pais. Sob o sistema judicial britânico, se há um caso pendente, você não pode falar muita coisa nos jornais sobre o caso enquanto isso é, como dizem, subjudice. Não é permitido. Além do que, eles podem dizer o que quiserem, mas eles devem aparecer com muita coisa a favor e contra até que este caso seja ouvido porque esse alarde, eles sentem, está infringindo o privilégio do juiz e do tribunal. Então nós iremos esperar com muito interesse para ver o que acontece quando a Corte Suprema vier e o inquérito governamental vier. Está agendado, eu creio, para durar por cerca de seis meses. E irá custar ao pobre pagador de impostos alguns milhões.
FH: Lá se vai o imposto.
DV: Sim, lá se vai o imposto de Rochdale. Existe um certo elemento entre as igrejas cristãs do que eu acho que eles chamam persuasão evangélica, a qual é muito, muito fanática quanto ao assunto, não apenas sobre Bruxaria e satanismo, mas de tudo que possa estar conectado com a Nova Era, até vegetarianismo. Qualquer coisa que estiver conectada com a Nova Era está debaixo da influência de Satan.
FH: Nenhum pensamento independente.
DV: Sim, é realmente tudo o que isso é, nenhum pensamento independente. Eu ouvi uma amável estória algum tempo atrás sobre um desses caras. Eles estavam tendo um encontro público em um shopping, e eles estavam distribuindo panfletos e pingentes. Um deles veio até uma mulher que era uma bruxa e disse a ela: "A primeira coisa que nós queremos que você saiba é que Deus te ama", ao que a bruxa, sendo muito cortês, rapidamente respondeu: "Sim, eu sei que Ela me ama". E o cavalheiro ficou muito contrariado e acusou-a de estar blasfemando.
FH: O que você vê como a interconexão entre o movimento do Ofício/Paganismo e outros movimentos como a Nova Era e Espiritualidade Feminina? Parece que, com o movimento Verde [ambientalista] daqui e os 20 anos do Dia da Terra e preocupação com o ambiente, que o Ofício está vindo junto com essas coisas em alguns lugares.
DV: Oh, sim, eu acho que sim. Eu acho que existe uma conexão vital ali. Por que o Ofício veio no início dde 1950 não foi realmente por um esforço de um indivíduo, mas apenas porque era uma idéia cujo tempo chegou, e essas outras coisas são idéias cujo tempo chegou. Elas serão parte da Era do Aquário. Este é o movimento histórico que está acontecendo, e que eu achei interessante em ver. Eu sou muito velha agora para fazer mais do que ver. Mas eu vejo com muito interesse, eu posso te dizer.
Nós estamos começando a ver como muito da perseguição das bruxas nos registros históricos era realmente muito mais relacionado com a perseguição às mulherees e pô-las em seus lugares, como eles julgavam. Pressupostamente as mulheres eram consideradas como sendo bruxas ou suspeitas de serem bruxas, e muitas das mulheres curandeiras eram degradadas a serem consideradas como bruxas simplesmente por serem mulheres. Apenas homens podiam praticar medicina. Hoje em dia, nós estamos começando a ver como a conecção entre feminismo e Bruxaria não é algo novo. Isto é algo que tem estado aqui todo o tempo. De fato, isto é algo que é vital em sua fundação.
FH: Foi interessante ressurgir tudo de uma vez.
DV: Esse é o ponto, sabe. O ressurgir tudo de uma vez. Por que deveria ser? Simplesmente porque existe, eu acho, um tipo de movimento histórico --- o que um dos velhos ministros chamou uma vez de "ventos da mudança soprando", o que é uma expressão muito apropriada para a Era de Aquário. Aquário é um signo do ar e é o vento da mudança que sopra. Não há de jeito algum de parar. Esse é o vento da mudança que derrubou o Muro de Berlim.
FH: Algumas pessoas dizem que a Nova Era é coisa velha reembalada.
DV: Sim, é. Ela é exatamente isso. Eu não sei se as pessoas da Nova Era irão aceitar, mas eu acho que a Nova Era é realmente a velha Bruxaria. E, evidentemente, eis o por que os fundamentalistas cristãos são tão contra ela porque eles acham que é a mesma coisa. Eu acho que nós devemos tentar e trabalhar com os movimentos da Nova Era e Espiritualidade Feminina e movimentos semelhantes porque todas essas coisas realmente estão convergindo em uma meta. Elas estão ajudando na evolução da humaniade dentro da Era de Aquário, e se nós não estamos interessados em fazê-lo, então nós não estamos fazendo algo útil. Eu acho que as pessoas deveriam não pensar em Bruxaria como apenas algo que está aqui para fazer pequenos rituais egoístas para te dar algo para tornar a sua vida mais fácil. Ela está aqui talvez para tornar a vida das pessoas mais fácil, e por todos os sentidos existem tempos para usar desta forma, mas nós deveríamos ter uma visão mais abrangente dela. Nós deveríamos estar preparados para trabalhar com os movimentos da Nova Era e Espiritualidade Feminina e o movimento Verde e considerá-los importantes.
FH: Mas coisa alguma pode ser um pouco ortodoxa depois de certo tempo – mesmo uma religião da Deusa.
DV: Eu acho que estaria um tanto desequilibrada se você tivesse uma religião que apenas adorasse a Deusa, porque está ignorando metade da humanidade. Isto está repetindo o mesmo engano de uma forma diferente. Eu não quero ver isso acontecer. Eu prefiro ver as pessoas terem uma visão mais balançada para preceberem que precisamos do Deus e da Deusa. Que, realmente, você não pode ter um sem o outro. Eu não acho assim de qualquer jeito. Pessoalmente, eu sempre fui muito afetuosa pelo velho Chifrudo [em inglês ‘Horny’ significa tanto ‘Chifrudo’ quanto ‘Excitante’, não há uma palavra adequada em Português-NT] e quero vê-lo ainda tendo uma parte proeminente nos rituais.
FH: Eu acho que tem tido, desde a década de 50, uma tentativa de manter um equilíbrio. Mas houve um predomínio da Deusa em 1950 porque havia uma subjugação das mulheres, ou sempre houve uma tentativa de manter o equilíbrio?
DV: Eu acho que sempre houve uma tentativa de manter o equilíbrio. Quando eu vim para o Ofício em 1950, nós tinhamos tanto o Deus quanto a Deusa. Nunca houve uma questão a respeito. O velho querido Aidan Kelly continuava a dizer: "Você deve ter introduzido a adoração à Deusa”, mesmo que eu tenha dito a ele uma dúzia de vezes que eu não o fiz. Mas quando eu vim para o Ofício em 1950, nós tínhamos ambas as divindades, e nunca houve qualquer questão sobre isso ou qualquer idéia de que tenha sido introduzido recentemente.
FH: Eu acho que uma das razões --- e eu não posso falar por Aidan ou como ele pensa --- é que você escreveu o que é a maior parte da liturgia ou poesia para a Carga da Deusa.
DV: Oh sim. Eu escrevi, Gerald tinha uma versão da Carga que tinha muito dos textos de Aleister Crowley. E se te importa, Aleister Crowley, em minha opinião, era um poeta maravilhoso e ele sempre foi menosprezado na literatura inglesa simplesmente por causa da notoriedade que ele fez para si e revelou. Ele amava ser chamado de o homem mais pervertido no mundo e todo tipo de absurdo. O problema é que --- como seu último biógrafo, John Symonds, disse --- ele não podia tê-la em dois sentidos. Se ele quisesse ter essa reputação lúgrube, na qual ele trabalhou duro por muitos anos, então ele não podia, ao mesmo tempo, ter uma boa reputação na literatura inglesa, a despeito do fato que um par de seus poemas estão no The Oxford Book of English Mystical Verse. Eu acho uma pena que ele não teve o reconhecimento que merecia, realmente, e talvez os anos seguintes vão remedia-lo.
Mas Gerald tinha uma versão da Carga, a qual eu acho que foi citada no livro de Stewart Farrar. E eu disse a Gerald: "Olha, enquanto você tiver essas coisas de Aleister Crowley em suas liturgias, você não irá conseguir ser aceito como sendo algo conectado com magia branca, porque sua reputação é assim" --- e infelizmente, muito dela era bem merecida --- "As pessoas não irão apenas aceitar e levar a sério enquanto elas pensarem que você é um ramo da OTO de Crowley". O que ele respondeu, efetivamente, foi: "Se você acha que pode fazer melhor, faça", e foi justamente o que eu tentei fazer. Eu fiz o melhor que eu pude com o que eu tinha à disposição, e ninguém ficou mais surpreso do que eu mesma ao ver a influência que a Carga tem tido.
FH: É como se Gerald não esperasse o que poderia acontecer ao movimento após ter escrito alguns livros. E agora temos pessoas por todo o mundo.
DV: A Nova Era, a Era de Aquário, está vindo e virá embora muitas pessoas tentem evitar. Óbvio, ela pode vir com menos facilidade e menos tranquilidade por causa do preconceito das pessoas contra ela, mas virá eventualmente. Você não pode parar a onda.
FH: Você acha que a Bruxaria e o Paganismo podem e irão crescer para tornarem-se uma religião majoritária em nossa cultura ocidental?
DV: Eu não sei. Eu me sinto intimidada diante da idéia de uma religião majoritária. Eu acho que seria mais feliz se nós fossemos mais o que o velho Gerald costumava a chamar de "culto das divindades do crepúsculo". Ou seja, na margem da civilização, fora das religiões majoritárias. Esta é a idéia que o Coronel Seymour desenvolveu em seu artigo sobre a Velha Religião.
FH: No "The Forgotten Mage"?
DV: Esse mesmo. Ele teve a idéia das religiões de mistérios como não estando no sistema, mas na trilha, "a estrada que vaga além do morro gramado", como a velha balada diz. Eu acho que é aonde a magia da Velha Religião vem --- que não é uma religião majoritária, não é uma religião ortodoxa. E quando você vê os resultados das religiões ortodoxas, eu fico grata que não seja. Se você olhar para todas as guerras que estão acontecendo no mundo hoje, é difícil de apontar para uma que não tenha a religião ortodoxa e fundamentalismo em suas raízes em algum lugar. Que as Alturas nos preserve do fervor religioso quando ele despedaça as pessoas.
Mas algumas pessoas precisam da religião organizada. Nós tendemos a tomar do "A Chave" [de Salomão] e esse tipo de coisa. Bom, eu faço, de algum jeito. Ainda assim eu sou uma que diz que a religião organizada é uma maldição severa para a raça humana, e você tem apenas que pegar um jornal hoje para ver a evidência disso. Ao mesmo tempo, muitas pessoas precisam de uma religião organizada, e nós não devemos perder a noção desse fato. Isso, obvio, foi onde o pobre velho Akhenaton errou, sabe. Ele tirou as crenças simples das pessoas comuns e um monte de Deuses e Deusas, e o que ele deu em troca eles não puderam entender. Eles não puderam entender seu Deus único distante. Eles queriam seus velhos Deuses que viviam em seus lares. E consequentemente, sua grande reforma religiosa no antigo Egito não sobreviveu além de sua própria morte [do faraó Akhenaton].
FH: Interesante como as crenças das pessoas realmente afetam como vêem a vida, e a morte também. Existe uma piada sobre a Sumerlândia. Uma pessoa morreu e estava falando com um amigo no além próximo de um claustro alto e murado. Ele disse: "O que há aí dentro?" e seu amigo respondeu: "Ah, esses são todos os gardnerianos em sua Sumerlândia. Eles acham que estão sozinhos no além, como se eles fossem especiais".
DV: Eu acho, sabe, que existe um pouco de verdade por detrás desse tipo de idéia porque você escuta frequentemente sobre religiões diferentes tendo seus diferentes Paraísos. Os muçulmanos têm uma boa vida no além, eu acho. Eles têm muitas houris [virgens belíssimas e voluptuosas-NT] esperando por eles. Eu acho esse pensamento muito bom e boa sorte para eles. Vence tocar harpa, eu digo. Os budistas dizem: "Sim, nós temos todas essas coisas belas, mas nós percebemos que é uma ilusão". E os aborígenes americanos têm seu alegre campo de caça. Isso não seria surpreendente para mim se --- primeiramente --- as pessoas encontrassem por si mesmas em algo ao qual eles teriam que construir em suas mentes como sua idéia de Paraíso. Eu ouso a dizer que há algumas pessoas sentadas no Paraíso cristão alegremente tocando suas harpas e pensando que é real --- eles fizeram real. E apenas depois de algum tempo, eu imagino, que talvez eles comecem a olhar em volta e pensar: "Eu imagino se tudo isso é real". E talvez eles então percebem que não é real. Também, eu estou bem certa que algumas pessoas dentro dos círculos cristãos muito severos e devotos têm provavelmente um Inferno bem ameaçador também. Você conhece o maravilhoso livro de James Branch Cabell onde o herói vai ao Inferno e ele encontra um pequeno Diabo descontente muito preocupado que diz que tem trabalhado duro porque todas essas pessoas reclamavam que o fogo não estava quente o suficiente? Ele diz: "Eu corro em volta e faço o melhor para deixar o fogo mais quente". Eu acho que as pessoas muito possivelmente fazem para si mesmas, primeiramente, o tipo de além o qual construirão em suas mentes. Eu vou imaginar um além pagão algum dia.
FH: Dolores Ashcroft-Nowicki escreveu em um de seus livros sobre desenvolver um lugar além do tempo onde você poderia ir quando morrer que poderia ser familiar, e então depois, você poderia sair dali para qualquer lugar. Desse jeito, se você for morto repentinamente, você perceberá que você está morto porque você poderia ir para esse lugar automáticamente, ao invés de vagar em volta sem perceber que você morreu.
DV: Eu acho que, muito possivelmente, existem muitas pessoas assim, sabe, como diz vagar em volta sem preceber o que aconteceu com elas. Isso pode ser atribuído para muitas das manifestações de assombrações e poltergeist. Eu acho que tem muita verdade no que os espiritualistas ensinam. Eles certamente tem feito mais progresso em aprender sobre o além e tentado fazer as pessoas a pensar no além com um pouco mais de inteligência do que todas as igrejas ortodoxas. Obvio, as igrejas ortodoxas tornam o além um mistério. Você não pode saber coisa alguma a respeito e não pode perguntar, o que é um absurdo. Eles não querem que as pessoas saibam coisa alguma sobre o além porque você não pode as pessoas sendo seus próprios sacerdotes e suas próprias sacerdotisas. De outra forma, a ocupação de um amigo está acabada.
FH: Você tem que manter a categoria clerical ali para coletar o dinheiro. Há muita controvérsia quanto a dinheiro no Ofício nos EUA, sobre pessoas sendo pagas por coisas como dar aulas. Aceitar dinheiro é um grande tabu em algumas áreas porque as pessoas acham que você não deveria envolver dinheiro na sua religião.
DV: Está tudo bem se você pode evitar fazê-lo. Mas as pessoas têm que pagar suas coisas, não têm? E se alguém está dando aulas, por exemplo, e não estão empregadas em outro trabalho, ele está empregando seu tempo. Está tudo bem dizer que nós não devemos aceitar dinheiro por algo assim, mas como essas pessoas vão viver? Eles têm que pagar suas hipotecas ou aluguéis. Eles têm que pagar seus impostos e têm que comprar comida e roupas. Como eles vão viver se eles não tiverem algum meio de sustento? Se você não irá permitir que pessoas ordinárias com preocupações financeiras ordinárias que participem, então você irá transformar o Ofício em um parque exclusivo dos ricos que podem sustentar esse tipo de coisa. Eu acho que as pessoas têm que ser um pouco práticas quanto a dinheiro. Eles têm que trabalhar as praticalidades das coisas.
FH: Algumas pessoas acham que você não pode seguir carreira em Bruxaria, não deveria fazer em tempo integral como sacerdócio e docência, que não devrria ser seu trabalho.
DV: Obvio, as pessoas em todas as outras religiões fazem do sacerdócio seu trabalho, não fazem? Eles são pagas por isso.
FH: Eu acho que é esta a objeção deles. Eles não querem que seja igual.
DV: Não eram as bruxas alta sacerdotisas que viviam em palácios. Eram os bispos cristãos. Eles chamam assim hoje – o Palácio do Bispo. As pessoas na igreja, seja a anglicana ou outra, têm seu salário ou de outra forma não podem devotar seus serviços em tempo integral. Eu acho que as pessoas têm que desenvolver um compromisso razoável, prático no sacerdócio. Dion Fortune costumava dizer, e eu estou muito contente em citá-la: "Não é tão bom estar tão mentalmente celestial que você não seja terrenamente útil". Eu concordo que não deveria ser feito por dinheiro apenas, fazer dinheiro ser o objetivo, mas ao mesmo tempo você tem que ter essa praticalidade que faz as coisas funcionarem. De outra forma, será apenas um passatempo para os ricos, como o ocultismo era antes do atual reaparecimento.
FH: Certamente para pessoas como Crowley. Ele tinha dinheiro e tempo de lazer para se indugir.
DV: Ele era o filho de um profícuo cervejeiro e deixou um legado considerável. Ele foi enviado por seu pai para o Trinity College, Cambridge, e é claro, ele fez tudo certo até a herança acabar. Então ele teve que subsistir, como Gerald Hamilton, um de seus amigos, delicadamente colocou, debaixo de contribuições involuntárias de seus amigos, uma estória sórdida. A última versão de sua biografia é "King of the Shadow Realm" de John Symonds.
FH: Muitas pessoas que tem estado no Ofício por muito tempo sentem que o crescimento tremendo tem sido ruim para o Ofício e o Ofício tem se tornado mais uma moda do que uma religião, e a magia se foi. Você concorda com isso?
DV: Não, eu não concordo, eu não acho que o Ofício se tornou uma moda a menos que você permita. Eu não acho que a magia se foi inteiramente, embora ossa ter diminuído por considerações como trazer ganhos mmonetários e assim por diante. Eu acho que se você começar a fazer negócios com ele, então a magia evapora rapidamente. Apenas depende que tipo de negócio que eles fazem com ele. Se a meta é fazer dinheiro com o Ofício, então a magia se foi. A magia não pode disaparecer por completo, porque o que o Ofício é basicamente enraizado em sua natureza, e a natureza está aqui --- os elementos da vida, árvores, vento, fogo, estão todos à nossa volta. Este é a magia básica do Ofício, e a magia é parte da vida em si mesma. Não é que a magia tenha ido. Apenas nós perdemos o contato com ela. Quanto ao crescimento, bom eu não sei. Você não pode dizer às pessoas: "Nós não queremos você aqui". Isso é como a velha retórica: "Nós somos os ungidos de Deus, todos os outros são condenados. Nós não temos lugar para você, nós não podemos lotar o Paraíso". Que direito nós temos de negar às pessoas o direito de adorar os Deuses Antigos e o direito de confraternizar com a natureza? Haverá alguns que inevitavelmente serão o tipo errado de pessoa. Eles vêm por motivos egoístas, mas eles irão se entregar em pouco tempo. Eles, no fim, são os maiores perdedores porque tiveram sua chance e perderam.
FH: Existem aqueles que pensam que algumas pessoas tem iniciado as massas no Ofício, e que é um erro. Eles deveriam ser mais seletivos.
DV: Eu certamente concordo com isso. Eu acho que muito problema tem surgido da iniciação de pessoas erradas sem parar para pensar um pouco. Você não estará fazendo favor algum a eles ao os iniciar em algo que não são capazes de captar o significado real, e você certamente não está fazendo favor algum a você ao trazer pessoas que são inadequadas. Eu certamente acho que se tem iniciado as pessoas pelos motivos errados, como para ter certeza de que o coven tem treze pessoas. E realmente, você pode fazer um trabalho muito melhor com duas ou três pessoas que verdadeiramente sabem o que estão fazendo.
FH: Na comuinidade americana da Bruxaira/Paganismo, nós falamos sobre construir uma fundação e estruturas de apoio onde a Bruxaria e o Paganismo podem se desenvolver para atender as necessidades de seus membros. Como alguém que tem sido a precussora em ajudar a criar a forma da Bruxaria contemporânea, você tem alguma percepção de como isso pode acontecer?
DV: Construir uma fundação e estruturas de apoio? Eu não sei o que é isso.
FH: A idéia é como montar uma comunidade. Como os cristãos tem uma pensão para idosos.
DV: Oh, que maravilhoso! Uma pensão para idosos para bruxas. Eu posso imaginar.
FH: E creche e grupos de apoio.
DV: Isso realmente...quer dizer, quando eu comecei como bruxa, você não podia ir em um mercado e comprar uma vara como você faz hoje. Eu não sei o que poderia acontecer. Eles não podiam correr e comprar assim. Eles teriam sido fechados pela polícia. Não lhes seria permitido. Seria bastante espantoso se qualquer um de nós que veio no início de 1950 ainda está aqui para ver isso. Nós não acreditaríamos. Você não podia comprar um baralho de tarô naqueles dias. literalmente. Eu tentei por anos antes que eu pudesse ter um baralho de tarô, e agora, você pode comprar qualquer quantidade de baralhos de tarô.
FH: Como em outras religiões, ter o apoio da sociedade e da comunidade para que nós possamos cuidar dos nossos e não depender de outras pessoas. Escolas para crianças e grupos de afinidade.
DV: Eu acho isso muito...uma pensão para idosos! Eu não consigo deixar de pensar nisso. Eu acho essa idéia super.
FH: Nós teremos alas homenageando o nome de muitas pessoas. O Doreen Valiente Memorial Temple.
DV: Eu estou um tanto horrorizada com algumas coisas que está saindo: "Oh, você fundou o Ofício naqueles dias", e assim por diante. Eu tenho terríveis visões de procissões ao santuário da Santa Doreen no ano de 2070. O problema é que eu não acho forma alguma de levantar fundos para esse projeto enquanto eu não morrer. Uma grande pena. Mas eu te digo, eu acho que farei um favor ao meu dentista porque ele é um bom amigo. Eu irei avisá-lo do que está acontecendo e dizer a ele para pegar um velho molar ou algo, e depois que eu for, eles podem erigir algum Templo do Dente que eles tem em Kandy em Ceilão. Supõe-se que seja o dente de Buda e eles fazem uma procissão pelas ruas nas costas de um elefante uma vez ao ano. Todo mundo entra em um estado de êxtase religioso e todo mundo tem uma boa diversão. Então eu acho que vou avisar o meu dentista. Eu não irei me importar de vê-lo enriquecer com isso, e se ele não tiver um bom dente meu, ele pode substituir o dente de outra pessoa. Na verdade, algum estraga prazeres examinou o dente sagrado em Kandy alguns anos atrás e disse que era o dente de um animal, provavelmente um cachorro. Mas não parece ter impedido os procedimentos.
FH: Eles fizeram isso para Elvis Presley. Eles tem um pedaço de torrada com uma mordida dele, ou uma colher que ele usou uma vez.
DV: Eles não fizeram realmente!
FH: Eles realmente fazem coisas assim.
DV: Você gostaria de comprar algumas colheres velhas como investimento?
FH: Você tem que ser muito cuidadosa a quem você as deixará. Eles farão um grande leilão e eles ganharão uma fortuna. Mas de novo, você não terá benefício algum disso.
DV: Isso que é chato, não é? Eu acho que é um pensamento terrível. Como a rima sobre o velho Crowley: "Aqui se encontraram em uma tarde em um arvoredo, um homem horrível e uma bela donzela. Aonde você está indo, tão humilde e santo? Eu estou indo ao templo adorar a Crowley. Então Crowley é Deus? Como você sabe? Bom o Capitão Fuller que nos contou. E como você sabe que Fuller está certo? Eu receio que você seja um homem pervertido, boa noite. Enquanto esse tipo de coisa está fadado ao sucesso, eu não deixo faltar amargura". Esse era o pequeno poema de Crowley a respeito disso. A piada é, sabe, que eles venderam as relíquias de Crowley. Eu vi algumas delas sendo oferecidas pelos preços mais medonhos. Não há muito o que se fazer quanto a indústria das relíquias. O problema é que eu não vejo meio de me beneficiar disso enquanto eu estiver viva.
Nós estamos falando de fundações e estruturas de apoio na comunidade. Como irá acontecer, eu não sei. Provavelmente acontecerá por si mesmo. No momento, nós estamos em uma situação difícil em não sermos capazes de educar nossas crianças. Pelo contrário me irrita que todas as outras religiões no mundo podem educar suas crianças em suas idéias exceto nós. Agora, devido a todo esse medo do abuso infantil. Será bem difícil para as pessoas trazerem suas crianças para os ideais do Ofício, e eu não vejo por que nós devemos sofrer tal discriminação. Então virá um dia, eu acho, quando nós poderemos ter algo como uma escola dominical. Eu não sei se teremos. Mas por que nós não devemos contar as nossas crenças às nossas crianças? Os cristãos fundamentalistas irão comemorar, óbvio. Nós temos falado alegremente como a velha estrutura do coven tem servido a seus propósitos e essa coisa toda, mas então, sabe, nós podemos estar enganados. Nós temos que pensar nisso porque quando você vê o fanatismo de algumas dessas pessoas, é bem assustador. Mas as outras religiões podem trazer suas crianças para os ideais, e como você disse, nós podemos ter grupos de apoio para as pessoas. Existem diversos tipos de pessoas que precisam de grupos de apoio. Muitos desses grupos de apoio são adminstrados por comunidades religiosas cristãs, e algumas delas fazem um bom trabalho. Mas nós certamente devemos considerar a possibilidade em fazer esse tipo de coisa por nós mesmos.
FH: Algumas dessas coisas custam dinheiro. Arrecadar esse dinheiro de pessoas que não tem muito é dificil.
DV: Eu sinto que muitas das pessoias no Ofício não são prósperas, e muitas das coisas são mais ou menos feitas na sola do sapato. Talvez isso não seja algo ruim. Eu acho que vai chegar o dia quando poderemos fazer tais coisas --- grupos de apoio desse tipo para idosos, jovens e doentes. Sim, os desenvolvimentos e a forma como está se movendo são realmente assombrosos. Essas estruturas virão. Eu acho que virão por si mesmas.
FH: O que você está escrevendo agora? Está escrevendo outro livro?
DV: Bom, sim. Eu estou tentando desenvolver idéias para escrever um livro especialmente dirigido para o praticante solitário de Bruxaria, seja por escolha ou por circunstâncias, onde a pessoa tem que trabalhar sozinha ou talvez com apenas um parceiro ou uma dupla. Eu acho que é uma das formas principais na qual o Ofício está se desenvolvendo, está indo muito mais em uma base individual. Eu vou tentar fazer um livro de feitiços, rituais, e esse tipo de coisa que os ajudará. Eu também colaborei em um livro com um velho amigo meu, Evan John Jones.
FH: Seria o "Witchcraft, A Tradition Renewed"?
DV: Correto. Ele escreveu o que eu achei ser um livro muito interessante e então eu o ajudei a publicar ao editá-lo um pouco. Ele escreveu muito do livro sob inspiração e ele realmente não sabia como ficaria até ter escrito. Está baseado nas idéias que ele e eu desenvolvemos quando nós trabalhamos com Robert Cochrane. Algumas dessas idéias ele modificou um pouco para torná-las mais adequadas para os dias atuais, para ser visando mais o futuro do que o passado. Mas esse é um tipo diferente de ritual de onde eu acho que muitas pessoas fazem, embora ele tenha muitos amigos nos EUA que estão praticando esse rituais agora, e ele mantém contato com eles. Aparentemente eles os acharam bem sucedidos. De qualquer forma, eu espero que as pessoas estejam interessadas nele e não pensem que eu esteja querendo derrubar as outras formas de Bruxaria porque eu o ajudei nisso, mas eu acho que nós precisamos de perspectivas diferentes, tradições diferentes.
FH: O Ofício parece envenenado nesta situação em integrar muitas destas coisas juntas, como o movimento Verde que está preocupado com a terra, e o movimento feminista que está preocupado com o papel da mulher, e o movimento da Nova Era que está preocupado com a espiritualidade individual. Parece que enquanto o Ofíocio intrega tudo isso para que possa ter um papel de liderança porque é uma síntese desses diferentes movimentos.
DV: Eu acho que será parte da Era de Aquário que está vindo. Assim eu vejo. Óbvio, não é fácil para nós em ver como irá se desenvolver. De vez em quando você acha que nós todos vamos pro Inferno em um carreto e não há coisa alguma que você possa fazer a respeito disso quando você vê algumas coisas na televisão. E então você ouve sobre outros desenvolvimentos os quais repentinamente te faz se sentir mais esperançoso, como se as coisas irão funcionar a despeito de todas as forças das trevas, que as coisas irão caminhar para uma era melhor. Eu acho que o mundo está se redefinindo. Existem algumas forças aqui --- chame de Gaia ou força de evolução. Chame de planos internos. Chame do que quiser, mas eu acho que há uma força trabalhando que tem algo a ver com a evolução humana, e está nos ajudando para o próximo passo, se nós escolhermos ou não em tentar acompanhá-la. Nós podemos escolher em tentar ir contra ela se quisermos, mas eu não acho que isso nos leve a lugar algum. Quer dizer, quem teria acreditado que o muro de Berlim seria praticamente assoprado pelos ventos da mudança. Mas aconteceu. E não aconteceu com a força das armas. Não aconteceu por planos políticos. Aconteceu por um tipo de movimento do espírito humano, se você quiser chamar assim. Essas coisas estão acontecendo. O mundo muda. Tal como diz a famosa maldição chinesa: "Possa você viver em tempos interessantes". Nós estamos.
FH: Qual é a sua visão do futuro do Ofício?
DV: Pode, eu espero, tomar esse tipo de partido. Assim eu espero e gostaria de ver acontecer. Eu não sei se eu irei viver tanto assim, mas eu gostaria de ver alguns desses encontros públicos como vocês têm nos EUA. Eu os acho maravilhosos, e eu gostaria de ver outras pessoas os prestigiando, não apenas as pessoas do Ofício, mas pessoas da Nova Era, feministas, e pessoas preocupadas com o movimento Verde. Eu gostaria de nos ver trabalhando juntos. Eu acho que este é o futuro do Ofício. Mas nós não podemos mais ser exclusivos. Houve um tempo quando nós tínhamos que ser porque era literalmente uma questão de vida e morte. Nós éramos como o movimento de resistência durante a guerra. Se falássemos fora de nosso turno, nós encarávamos todas a chance não apenas de nos destruir mas também nossos associados. Você alegremente aprendia a ser discreto do jeito mais difícil nesses dias. Eu acho que essa era passou. Existem forças em ação entre os fundamentalistas de várias religiões que gostariam de ver esses dias voltarem. Eu não acho que serão bem sucedidos, eu acho que a evolução humana foi muito longe para isso. Eles podem ter algum sucesso temporário. Eles podem vencer algumas batalhas, mas eles irão perder a guerra. Eu espero que nós possamos cumprir esse papel como líderes. Eu não estou falando o líder, porque nós não precisamos de um líder e todo o resto seguidores. Nós tivemos o suficiente disso. Mas eu acho que nós iremos ter uma parte na liderança ao trazer para dentro a Nova era, e eu quero ver. Eu não sei se irei viver tanto. Eu espero que sim.
Eu adoro aquela estória sobre Susan Anthony que Zsuzsanna Budapest conta em seu livro. Algum jornalista perguntou a Susan Anthony, porque ela não acreditava na religião ortodoxa, eu suponho: "Para onde você acha que vai quando morrer?" Ela disse: "Eu não vou a lugar algum, eu vou ficar por aqui e ajudar o movimento das mulheres". Então mesmo se eu não viver o suficiente para ver essas coisas, eu ficarei por aqui para fazer confusão por mim mesma.
Nota: negrito por conta da casa.
Pois é querido, mas o que fazer se os "wiccanianianianos" não querem preservar os valores tradicionais desta religião? Você acredita que teve um idiota que disse que isto era "falácia" minha?
ResponderExcluirAgora virou moda: "pseudo", "falácia"... aff... que povo burro! Dá vontade de começar a apoiar a Igreja mesmo, porque pelo visto, a manada precisa mesmo é tomar na cabeça para que depois a gente fale com gosto "EU TE DISSE!"
Uia Beto, este texto é maraaaa, não só da perspectiva do equilíbrio entre polaridades, que tem sido simplesmente descartado.
ResponderExcluirIsto sem esquecer que, finalmente, alguém comentou sobre a ligação Crowley e Wicca (sem ser a gente né?), coisa negada até a morte pelos mais xiitas (pseudo) gardnerianos. ;o)
};) Dizem que Gardner visitou Crowley em três ocasiões para que este contasse o que lembrava de suas aventuras no Ofício, do qual Crowley saiu por ser misógino.
ResponderExcluirEu tive a pachorra de traduzir o texto de Roger Dearnaley [uma crítica textual] sobre a influência de Crowley e sabe-se que Doreen reescreveu o BoS exatamente para tirar o excesso de Crowleismo.