domingo, 19 de outubro de 2008

A versão de Circe

Homens são todos iguais.
Eles bateram em minha porta e pela ponta de uma espada exigiram a sagrada confiança da hospitalidade. Eles invadiram meu lar, avidamente devoraram minha comida e beberam meu hidromel, cobiçavam meus cântaros de prata e minhas jóias de ouro e com olhos maliciosos consideraram como eu deveria ser violada.
Quanto bestas eles eram não é senão uma pequena questão – e com um toque de bastão e removi aquilo que ocultava suas verdadeiras naturezas, tão simples como limpar uma vidraça. Eles caíram de quatro, como porcos e cães, ferozes e glutões, revolvendo, cheirando e mijando neles mesmos. Eu os bani para a floresta, para vagarem perdidos entre os carvalhos de minha ilha.
Então o viajante ruivo veio em minha porta. Ele não era atraente, nem jovem, mas em seus olhos eu vi uma fagulha da divindade, dourada como Hermes – talvez este seja mais uma raposa que um porco. Ainda assim, eu lhe dei a poção, misturando ervas perigosas em hidromel e água cristalina, enquanto seus olhos me seguiam desinteressadamente sorridentes. Ele pegou de mim com agradecimentos e bebeu com satisfação.
Assim como com os outros eu o toquei com um bastão de amieiro, mas nada aconteceu! Ele sentou sorrindo diante de minha surpresa, acho que não sem simpatia, e me contou como ele quebrou meu feitiço, alguma coisa inventada sobre uma erva mágica que lhe foi dada por Hermes. Mas eu sei como isso aconteceu. Ao contrário dos outros homens, este não escondeu sua verdadeira natureza.
Eu o deixei falar em minha cama naquela noite e nas noites seguintes. Ele era forte e gentil e necessitado de cura por sua dura jornada. Eu ouvi suas estórias, e lhe dei o que ele precisava, comida e bebida e descanso e conselho, e eu deixei que ele cresse que tirara todos de mim, pois eu não sou grosseira. Ele até teve sua tripulação de volta! Nós vivemos com alegria então. Mas com o tempo os risos em seus olhos deu lgar à tristeza, e eu o mandei de volta para casa, para sua Penélope, acho que eu temi por ele, sabendo da jornada tempestuosa diante dele.
Quando ele retornou para mim, após o que pareceu ser uma curta estação, ele estava fraco e velho, enlutado por sua amada família. Eu tentei lançar sua dor para longe, e acho que sou perfeitamente hábil nas artes mágicas eu sei que eu nunca poderei colocar nada sobre ele. Mas em sua gentileza ele me deixou acreditar que ele estava confortado. Não muito mais tarde, eu o enterrei, e cantei meus cânticos de luto em sua tumba.

Fonte: Thalia Took

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