quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Os cultos às Forças Sexuais

O Sabá das Bruxas, de Thomas Right
Tradução e adaptação: Ligia Cabus/Mahajah!ck

Wrights ampliou o ensaio sobre os cultos fálicos. Além dos temas usuais, como antigos e modernos objetos fálicos, rituais de fertilidade etc., Wright dedica uma longa seção do texto aos chamados Witch Cult — Cultos Mágicos ou Cultos de Bruxaria incluindo interessantes relatos sobre o Sabbat das Bruxas.
Muitas formas de cultos fálicos ou priápicos foram praticados na Idade Média conservando, ainda que através de mudanças sociais e em outras circunstâncias, as antigas orgias priápicas no contexto de intensa superstição que caracterizava a bruxaria da época. Através dos tempos, os "Iniciados" acreditaram que poderiam possuir e exercer poderes sobrenaturais pela invocação apropriada de divindades que o Cristianismo transformou em demônios; ser um devoto de Príapo era o mesmo que ser devoto de Satanás.
As bruxas dos Sabás foram as últimas praticantes da Priapéia e da Liberália na Europa Ocidental e, de fato, reproduziam em suas reuniões as licenciosas orgias tão comuns na Roma Antiga. O Sabá das Bruxas não parece ter sido originado da mitologia teutônica [bárbara, nórdica, anglo-saxã]. Antes, parecem provenientes do sul europeu, herança mediterrânea absorvida pelos países fortemente influenciados pela cultura romana. No século XV a cultura da feitiçaria tinha uma forte presença na Itália e na França.

O Caso Robinet de Vaulx
Em meados daquele século [XV], em França, um indivíduo chamado Robinet de Vaulx, que levara uma vida de eremita em Burgundy, foi preso, levado a julgamento em Langres e queimado. Antes de morrer, entretanto, este homem, natural de Artois, informou [certamente sob tortura, método comum nos processos de bruxaria da época] ser de seu conhecimento a existência de um grande número de bruxas na província e ele não somente confessou ter comparecido às assembléias noturnas das feiticeiras mas, também, forneceu nomes de vários habitantes de Arras que encontrara naqueles eventos.
Corria o ano de 1459, o quartel general dos jacobinos, monges pregadores, era sediado em Langres. Entre os jacobinos havia um Pierre de Broussart, inquisidor da Santa Sé na cidade de Arras que presidiu os depoimentos de Robinet. Com os nomes fornecidos o inquisidor começou sua perseguição.
Foram acusados de bruxaria, entre outros: uma prostituta chamada Demiselle, e um homem, Jehan Levite, mais conhecido por seu apelido, Abade Sem Juízo. A confissão de um induzia ao processo que resultava na confissão dos outros e novos nomes surgiam. O resultado foi um surto de prisões e processos, muitos encerrados com sentença de morte na fogueira.
Foi apurado que o lugar dos encontros era, geralmente, uma fonte na floresta de Mofflaines, uma légua de distância de Arras. Os participantes podiam ir a pé mas o procedimento mais comum era um recurso mágico: usando um ungüento fornecido pelo próprio Diabo que, passado no corpo ou nas mãos, permitia, montar num bastão ou cajado, de madeira, e nele voar até o lugar da assembléia [é a vassoura dos bruxos].

O Sabá — Democrático...
O encontro reunia uma multiplicidade de gente, de ambos os sexos, classes sociais diferentes, burgueses e nobres e também eclesiásticos, bispos, cardeais! No Sabá havia mesas com toda sorte de iguarias; carnes, vinhos. O Diabo presidia o festim em sua usual forma de bode, com cauda simiesca e fisionomia humana. Os convivas faziam homenagens; ofereciam suas almas ou partes do corpo e como sinal de adoração, beijavam o traseiro de Satanás.
O local era iluminado por tochas. O Abade Sem Juízo, mencionado acima, era o mestre de cerimônias desses encontros e era sua obrigação verificar devidamente o comportamento dos novatos. Depois, ele pisava e cuspia na cruz, menosprezava Jesus e a Santíssima Trindade e praticava outros atos profanos. Então, tomavam seus lugares à mesa e depois de comer e beber, levantavam-se e começavam seus promíscuos intercursos sexuais nos quais o demônio tomava parte assumindo, alternadamente, a forma de ambos os sexos de acordo com sua parceria. Seguiam-se todo tipo de atos pecaminosos.
O Demônio "catequizava" seus seguidores: não deviam ir à igreja e muito menos ouvir a missa; não deviam se deixar tocar pela água-benta nem render qualquer homenagem ou demonstração de respeito pelos valores cristãos e pelos cristãos em si mesmos. Quando o "sermão" terminava a assembléia era dissolvida e todos retornavam para suas casas.
Manuais Contra & Sobre a Bruxaria
A violência daquele tipo de perseguição produziu grande comoção popular em torno da bruxaria. No fim do século XV as pessoas tinham medo das bruxas e/ou medo de serem associadas às bruxas, especialmente na Itália, França e Alemanha. O combate à feitiçaria, entregue às zelosas mãos dos Inquisidores, foi gradualmente se tornando um trabalho especializado e livros extensos foram escritos sobre o assunto: as práticas da bruxaria e as instruções para combatê-las.
Um dos primeiros destes livros foi o Formicarium, escrito por um frade suíço, John Nider, inquisidor em seu país. O livro não fala do Sabá da Bruxas, aparentemente, pouco comum ou inexistente na Suíça. No começo de 1489, Ulric Molitor publicou o tratado De Pythonicis Mulieribus e, no mesmo ano, apareceu o mais célebre destes livros, o Malleus Maleficarum ou O Martelo das Feiticeiras, trabalho de três inquisidores alemães coordenados por Jacob Sprenger.
O Malleus Malleficarum é bastante completo e interessante coletânea de dados sobre a bruxaria. Os autores discutem várias questões, como o misterioso transporte das feiticeiras de um lugar para outro. Discute-se se o tal vôo das bruxas é real ou apenas uma lenda. O Malleus também contém referências diretas ao Sabá permitindo concluir que, de fato, as reuniões eram grandes orgias priápicas que não eram típicas das crenças genuinamente germânicas. A febre de publicações sobre bruxaria alcançou os séculos XVI e XVII [16 e 17] e até o rei James I [Inglaterra] aventurou-se a escrever sobre o tema.
Jean Bodin * [1530-1596]

Escreveu: On Witchcraft [La Démonomanie des Sorciers] — livro de 1580. Bodin [que era jurista] recomendou tortura, até mesmo em casos de inválidos e crianças, para tentar confirmar a culpa de feitiçaria. Ele afirmou que nem mesmo uma bruxa poderia ser condenada erroneamente se os procedimentos corretos fossem seguidos, e a suspeita era tida como motivo suficiente para atormentar o acusado uma vez que rumores relativos à bruxaria quase sempre eram verdades. [Wikipédia]
Cerca de 75 anos depois da publicação do Malleus, o francês Bodin ou Bodinus, em latim, publicou volumoso trabalho, um tratado que veio a ser importante texto de referência sobre bruxaria. Ali o Sabá é descrito em detalhes; possivelmente a mais minuciosa descrição da cerimônia. Segundo Bodin, as assembléias eram realizadas em lugares solitários, em vales escondidos entre as montanhas, nas florestas.
Preparando-se para ir ao Sabá, a bruxa ou bruxo deitava-se em sua cama completamente despido (a) e untava o corpo com o famoso "ungüento das feiticeiras" [cuja receita Eliphas Levi, ocultista francês do século 19, fornece em seu Dogma e Ritual da Alta Magia]. A substância produzia o "encantamento" e a pessoa era transportada pelo ar chegando ao lugar do encontro em curto espaço de tempo. Também Bodin se preocupa com a questão do transporte ser um fato real ou apenas metafórico e conclui que, de fato, transportavam-se, fisicamente, de forma mágica.
O Sabá, como de costume, é descrito como uma grande assembléia de bruxos e demônios de ambos os sexos. Era meritório para os participantes veteranos trazer consigo novos convertidos. Em sua chegada, os novatos eram apresentados ao demônio que presidia o encontro e a quem era devida adoração através do sórdido ato de beijar sua parte íntima traseira. Os adeptos prestavam contas de suas atividades desde o último encontro e recebiam suas reprovações ou congratulações de acordo com seus méritos.
O Diabo, geralmente representado como um bode, distribuía, então, amuletos, poções, ungüentos e outros artigos que deveriam ser empregados nos feitos do mal. Os adoradores também faziam oferendas: ovelhas, pequenos pássaros, mechas de cabelo e outros objetos. Todos deviam proferir imprecações contra os cristãos e os símbolos do cristianismo, blasfemas contra os santos e as coisas santas. Finalmente, o Diabo iniciava a orgia sexual tendo relações com alguma nova bruxa - ou bruxo em quem deixava sua marca em alguma parte do corpo, em geral, na área genital.

Os elementos característicos do Sabá: a bruxa que atravessa os ares, as poções, a música primitiva, o elemento feminino, a nudez lasciva. Os "acertos de contas" era o que se pode chamar de "negócio do encontro" e, depois dos negócios era a hora do banquete. Ocasionalmente, vistosas iguarias poderiam degustadas mas, em geral, segundo Bodin, ao contrário de outros autores, o repasto era frugal. O "prato principal", ao que parece, era, de fato, a luxúria e as mesas serviam, eventualmente, mais para a dança e a fornicação.
Sobre as danças, a carole da Idade Média era o modelo, uma dança comum entre camponeses, executada em circulo, com homens e mulheres aproximando-se e afastando-se alternadamente, o que permitia o reconhecimento mútuo dos participantes. Outras danças foram introduzidas, mais ousadas, mais obscenas. As músicas também eram vulgares beirando ao ridículo, o grotesco, executadas por instrumentos toscos e macabros, como flautas feitas de ossos, liras feitas de crânio de cavalo. O grupo entrava em estado de excitação tornando-se mais licencioso até que, finalmente, os participantes abandonavam-se ao desfrute de relações sexuais indiscriminadas nas quais o demônio tomava parte. A assembléia terminava a tempo das bruxas retornarem às suas casas antes do amanhecer.

Pierre de Lancre — Bruxaria em Labourd
Outro francês, Pierre de Lancre, conselheiro do rei, juiz do parlamento de Bordeaux, ingressou, em 1609, em uma comissão encarregada de apurar acusações de bruxaria em Labourd, distrito das províncias bascas, região célebre por suas bruxas e aparentemente, pelo baixo nível de moralidade de seus habitantes. Labourd é um lugar isolado e seus moradores conservaram suas antigas superstições com grande tenacidade.
De Lancre investigou a natureza dos demônios e a razão pela qual os residentes de Labourd eram tão ligados à feitiçaria. As mulheres locais, eram de temperamento naturalmente lascivo, coisa que se podia ver na maneira de vestir e arranjar os cabelos, singularmente indecentes, expostas sem a menor modéstia. O principal produto agrícola era a maçã, curiosa associação com o aspecto pecaminoso de Eva. De Lancre ficou quatro meses estudando a situação de Labourd e, depois de tudo que tinha visto e ouvido, resolveu dedicar-se ao estudo da bruxaria e, no devido tempo produziu seu grande trabalho sobre o tema: Tableau de l'Incosntance des Mauvais anges et Démons.
De Lancre escreve honestamente e acredita no que diz. Seu livro tem valor pelo grande número de informações que contém incluindo confissões de bruxas transcritas nas próprias palavras das depoentes. Um segundo livro foi dedicado totalmente aos detalhes do Sabá.
A pesquisa de revelou algumas contradições e mudanças. Nos tempos antigos, as noites de segunda-feira eram as noites de Assembléia. Na época do estudo, estas noites eram as de quarta e sexta-feira. Algumas bruxas disseram que seguiam para o lugar do encontro ao meio dia. A maioria, entretanto, afirmou que meia-noite era o horário certo. O lugar do Sabá era, de preferência, uma encruzilhada, mas não obrigatoriamente. Era suficiente um lugar isolado, um sítio mais selvagem, no meio de uma charneca, especialmente longe de habitações humanas ou de lugares assombrados. Ali, na região de Labourd, esse lugar era chamado Aquelarre, significando Lane de Bouc ou Mata do Bode, uma referência à forma caprina assumida por Satanás nestes Sabás.
Na mesma região, outros lugares, ainda, teriam sido cenários de Sabás: "Mais de cinqüenta testemunhas nos asseguraram que tinham estado em uma 'Mata do Bode' para o Sabá na montanha de La Rhune, algumas vezes, em uma abertura da montanha [uma caverna?], outras vezes, na capela do Espírito Santo, que fica no cume; algumas vezes o Sabá foi realizado na igreja de Dordach, nos limites de Labourd. Em outras ocasiões, ainda, a Assembléia se reunia em casas, residências particulares.
Porém, o mais usual é que o Diabo escolha para os Sabás as entranhas da mata, as casa velhas, abandonadas, ruínas de antigos castelos, especialmente se ficam no alto das montanhas. Um velho cemitério pode servir, se é isolado, e o mesmo se aplica às capelas, ermidas, o topo de um rochedo debruçado sobre o mar, como aquele onde fica a capela de Saint Jean de Luz, Puy de Dome em Perigord e locais semelhantes.

As Formas Diabólicas de Satanás
Nestes encontros, algumas poucas vezes, Satanás esteve ausente; nestes casos, um pequeno demônio tomava seu lugar. De Lancre enumera as várias formas que o Diabo assume nestas ocasiões, tão variadas quanto seus movimentos são "inconstantes, cheios de incertezas, ilusão, decepção e impostura". Algumas das bruxas que ele examinou, entre as quais uma garota de 13 anos chamada Marie d'Aguerre, disse que naquelas assembléias havia uma grande garrafa ou cântaro no meio do Sabá; dali o Ddiabo saía assumindo a forma de bode que, subitamente, tornava-se enorme e assustador. No fim do Sabá ele retornava à garrafa.
Outros o descrevem como um grande tronco, como o de uma árvore, sem braços ou pés, sentado em uma cadeira com as feições de traços humanos grosseiros. É recorrente a referência à face de bode, com dois chifres na testa e dois chifres na nuca. Nos relatos mais freqüentes, são três os chifres do Capeta sendo que o do meio [da testa] serve para fornecer luz e fogo ao Sabá. Ocasionalmente, o Demo usa um chapéu ou tipo de capa sobre os chifres.
"Na frente, ostenta seu membro e atrás, possui uma cauda que lhe sai de uma segunda face traseira, rosto este que é oferecido ao beijo cerimonial que seus adoradores lhe dão em sinal de submissão. Este Diabo é aqui representado como imagem de Priapus. Marie d'Aspilecute, 19 anos, residente em Handaye, declarou que na primeira vez em que foi apresentada ao Demônio, beijou-o naquela face, traseira, três vezes.
Outros disseram que o Diabo é como um homem de grande porte, "envolvido em vapores que o encobrem, de modo que não o vejam claramente"... Sua face é vermelha como o ferro aquecido na fornalha. Corneille Brolic, uma adolescente de 12 anos, disse que quando o viu pela primeira vez ele tinha forma humana porém, com quatro chifres em sua cabeça e sem braços. Estava sentado em um púlpito cercado de algumas mulheres, suas favoritas... Jannete d'Abadie, de Siboro, 16 anos, disse que Satanás tinha duas caras, uma na frente outra na parte de trás da cabeça, [tal como a representação do deus Janus]. O Diabo também foi descrito com um grande cachorro negro. Em tempos mais remotos, Satanás apareceu, freqüentemente, em forma de serpente - outro ponto de contato com os cultos priápicos. Na Idade Média, no entanto, a forma de bode foi a mais comum.

Cerimônias
Na abertura do Sabá, são recorrentes os relatos da cerimônia de "apresentação" [como mencionado acima]. Bruxos e bruxas apresentavam, formalmente, ao Mestre, aqueles que nunca tinham estado com ele antes. Muitas vezes, eram levadas crianças como oferendas, para serem enfeitiçadas, destinadas ao serem futuras servas do Diabo. Os novos convertidos, noviços e noviças, deveriam renunciar a Cristo, à Virgem Maria e aos santos e eram rebatizados em cerimônias burlescas. O beijo nas nádegas do Demo é outro elemento sempre citado nos relatos de Sabás como ato confirmatório da fidelidade a Satanás... Esses atos de renúncia ao cristianismo e submissão ao Demônio eram sempre renovados. Janette d'Abadie [citada acima] disse que beijou o Diabo repetidas vezes durante a cerimônia; não somente nas nádegas mas também no rosto, no umbigo e no pênis. Depois do re-batismo, ele colocou sua marca no corpo de sua vítima, em parte escondida, que geralmente não se expõe. Nas mulheres, esta marca era feita nas partes sexuais. De Lancre classifica os procedimentos dos Sabás como variados e curiosos: Lembra uma feira de mercadores,uma grande mistura de gente chegando de todas as partes, um encontro de contatos transitórios e novos nas mais medonhas formas de novidades que ofendem os olhos. Tudo parece real mas muita coisa é ilusória. Como uma atmosfera meio divertida, ao som de pequenos sinos e instrumentos musicais de todos os tipos. A música, entretanto, fala somente ao ouvido, ao sentido do entretenimento. Tal música transforma-se num barulho desarmônico cheio de deformidade que acompanha todo o horror da desolação, da ruína, da destruição, das pessoas brutalizando-se, virando bestas, perdendo a razão, enquanto as bestas parecem tornar-se humanas com mais juízo que as gentes, estas, cada qual entregue aos seus mais baixos instintos naturais. As mulheres, segundo de Lancre, são agentes ativos nesta mixórdia [confusão], mais comprometidas que os homens, cheias de ímpeto com seus cabelos em desalinho e seus corpos nus; muitas besuntadas com ungüentos mágicos, outras, não. Chegam aos Sabás com seus propósitos maléficos, montadas em suas vassouras ou bastões, cavalgando um bode ou outro animal, muitas vezes levando uma ou duas crianças, guiadas pelo Diabo em pessoa... No Sabá produzem e recebem poções para diferentes propósitos. Um ingrediente de poções muito comum é a cinza do sapo queimado vivo.
O Bode
O Diabo, Mestre da Assembléia, em sua forma animalesca, é especialmente repulsivo. O Bode é uma referência a Príapus [e as variações como tronco/árvores, sem braços, remete a divindades antigas também veneradas em cultos orgiásticos dos campos, com o deus grego Pan, em uma clara antropomorfização de um ente vegetal, a árvore, soberana na Natureza].
A forma humano-caprina, entretanto, mais comum nos tempos medievais, é feia e repelente, [de Lancre insiste neste ponto]. Suas maneiras são imperiosas, sua voz, rouca. Sentado no púlpito, que brilha como ouro, ele tem ao seu lado a "Rainha do Sabá", seminua, uma de suas bruxas mais pervertidas a quem ele dá a grande honra de dividir a presidência da festa. Por entre "fogos falsos" passam demônios encorajando os bruxos e bruxas a fazerem o mesmo, pois não sentirão nenhuma dor e assim aprenderão a não temer o fogo do inferno. ...
Aqui e ali vêem-se caldeirões cheios de sapos, víboras, corações de crianças que morreram sem batismo, carne de assassinados e outros ingredientes macabros que entram nas fórmulas dos ungüentos e poções. Ingredientes que podem ser adquiridos ali mesmo, no Sabá, como em uma feira. Outros caldeirões cozinham a comida da festa, que deve ser insossa [sem nenhum sal], crua e embolorada, como o Diabo gosta.
As mulheres dançam em círculos, formam casais, vão para o centro da roda conduzidas pelos demônios, que ensinam movimentos e gestos cheios de lascívia e indecência capazes de horrorizar a mais despudorada das prostitutas. Cantando versos licenciosos, lúbricos, a grupo é uma visão de monstruosa luxúria. Aquelas que são escolhidas para copular e fazer outras impudícias com os demônios são encobertas por uma nuvem, para esconder a execração e a imundície destas cenas e prevenir a compaixão que alguém sentir ouvido os gritos e vendo a degradação dessas pobres desgraçadas.
Misturando impiedade e outras abominações eles realizam seus ritos "religiosos", uma selvagem e indecorosa paródia da missa católica. O altar é erguido e o sacerdote oferece a "hóstia", feita de substâncias impuras e todos os ritos são repugnantes.
Pequenas Diferenças
De Lancre assegura que existem pequenas diferenças de procedimentos do Sabá de um país para outro, diferente na característica da localidade, na figura do master que preside a Assembléia, na disposição geral dos participantes. Todavia, os aspectos fundamentais se mantêm como uma tradição que transcende fronteiras de países europeus. O Sabá é considerado como a cerimônia mais importante dos praticantes da bruxaria ocidental.
A primeira testemunha do pesquisador é um documento de 18 de dezembro de 1567, uma cópia da confissão de Estébane de Cambrue, da paróquia de Amou, uma mulher de 25 anos. Ela informou que o "Grande Sabá", na verdade, acontecia somente quatro vezes por ano, paródia às quatro festas anuais da Igreja. As pequenas Assembléias, realizadas nas vizinhanças das cidades e paróquias eram freqüentadas por residentes locais, próximos aos diferentes locais onde eram realizados estes encontros nos quais as pessoas "somente dançavam e se divertiam". O Diabo não costumava freqüentar estes encontros menores.
Existia, de fato, a Grande e a Pequena Priapéia. esta depoente foi uma das que se referiu ao local dos grandes encontros como Lane de Bouc ou Mata do Bode, onde dançava-se ao redor de uma pedra [freqüentemente associados aos monumentos druídicos] sobre a qual sentava-se um grande homem negro que era chamado de Monsieur. Como de praxe, havia a cerimônia do beijo na traseira e as imprecações contra Deus, a Virgem Maria e "o resto".
A "profissão de fé" renovava os laços dos bruxos com Satanás, a quem consideravam "seu pai e protetor". Essa testemunha relatou o comércio e a produção de poções durante o Sabá. Havia um "notário" [contador] responsável pela cobrança das mercadorias. Uma curiosidade mágica: se chovesse à caminho do Sabá, os bruxos (as) não se molhavam protegidos pelo encantamento das palavras: Haut la coude, Quillet! Quando tinham de fazer uma longa jornada, diziam as palavras: Pis suber hoeilhe, en ta la lane de bouc bien m'arrecouille...
Mais Testemunhas: Sexo & Sabá
Roger Rivasseau confessou ter estado em um Sabá duas vezes, embora não tivesse adorado o Diabo nem feito qualquer das coisas que lhe foram solicitadas. "O Sabá começou lá pela meia-noite em uma encruzilhada. Geralmente é feito nas quarta e nas sextas-feiras e o Diabo prefere as noites de tempestade, quando o vento forte serve para propulsionar seu transporte pelos ares. Dois notáveis demônios presidiram aquele Sabá; um grande negro chamado Master Leonard e outro pequeno diabo, que substituia o mestre eventualmente e que se chamava Master Jean Mullin. Eles adoraram o Grande Satã e cerca de sessenta pessoas dançavam sem roupas".
Muitas bruxas ouvidas disseram que o Sabá era um delícia! Para Jeanne Dibasson, 29 anos, o Sabá era um verdadeiro paraíso onde havia mais prazer do era possível descrever. Ela esperava ansiosa pelos encontros. Marie de la Ralde, uma bela mulher de 28 anos, havia abandonado suas relações com o Diabo há seis anos e forneceu muitas informações sobre suas experiências nos Sabás. Freqüentava as Assembléias desde os dez anos de idade.
A primeira vez que viu o Diabo ele estava em sua forma de tronco de árvore, sem pés mas, aparentemente sentado no púlpito. Tinha uma face humana, muito obscura. Outras vezes, seu rosto parecia vermelho. Presenciou em várias ocasiões o Mestre aproximar um ferro em brasa de crianças oferecidas a ele mas não sabia dizer se eram realmente marcadas. Marie de la Ralde declarou que tinha um prazer especial em freqüentar o Sabá. ...
Jeanette d'Abadie relembrou os atos libidinosos da Assembléia onde era comum o incesto e as relações "contrárias à ordem da natureza"; ela mesma participou de tais orgias quando copulou com não somente com Satanás mas com muitos outros. Ela tentava fugir das relações com o Demônio porque causavam extrema dor; seu membro era frio e seu sêmen jamais não produz gravidez. Ninguém fica grávida em um Sabá. Longe do Sabá, a conduta da jovem era irrepreensível mas nos encontros dos bruxos ela confessava desfrutar de prazeres maravilhosos naqueles intercursos sexuais que ela descrevia em linguagem obscena...
A Sarabande
Em muitos outros depoimentos há referência ao grande prazer experimentado nesses Sabás que exerciam enorme excitação entre homens e mulheres. Mulheres entregavam-se a outros homens na fente dos maridos, que não raro encorajavam as relações. Na Sabá não havia posse nem ciúme nem tabus: pais defloravam filhas, mãe relacionavam-se com filhos, irmãos com irmãs.
As danças do Sabá, como mencionado, eram indecentes, como a Sarabande, na qual as mulheres participavam usando apenas camisas indecorosas quando não estavam completamente nuas. Os movimentos da dança eram especialmente violentos. O Diabo participava tomando uma mulher como par. escreve de Lancre: "Se o que dito é verdade jamais uma mulher ou adolescente retornou do Sabá casta ou virgem como poderia ter chegado [porque no Sabá ela] ... dançaria com os demônios e maus espíritos e com eles trocaria beijos obscenos, copularia com eles".

O Membro de Satanás
Um das mais impuras e sensuais curiosidades dos Inquisidores manifestada em seus interrogatório refere-se às peculiaridades sexuais e "capacidades" do Demônio. De Lancre, como outros pesquisadores, diante dos documentos pesquisados, identifica essas orgias, os Sabás, com os antigos cultos Priápicos sendo que Príapus, foi, claramente, substituído pela figura-conceito do/de Diabo [uma aculturação de evidente influência cristã].
Jeanette d'Abadie, contou que tinha visto o intercurso sexual promíscuo de homens e mulheres no Sabá. O Diabo organizava os casais em combinações pervertidas: pai e filha, mãe e filho, irmão e irmã, padrasto e enteada, penitente e confessor, sem distinção de idade, classe social etc.. Ela mesma manteve relações com uma irmã por afinidade e muitos outras pessoas. Revelou, ainda, que tinha sido deflorada pelo Demônio aos treze anos - quando doze é a idade mais comum. Nunca tinha ficado grávida, fosse do Diabo ou de qualquer um dos bruxos dos Sabás.
Em sua primeira vez com Satanás, sentiu o membro muito frio; mas os bruxos eram homens comuns. O Diabo escolhia as mais belas mulheres e adolescentes para seu desfrute particular e uma delas era a preferida, a rainha das Assembléias. As relações sexuais com o Demo eram dolorosas porque seu pênis era coberto de escamas, como uma pele de peixe. Além disso era longo e retorcido.
Marie d'Aspilcuette, entre os 19 e os 20 anos, que também confessou relações sexuais freqüentes com Satanás, descreveu o membro medindo cerca de meio metro e moderadamente largo. Marguerite, de Sare, 17 anos, descreveu o pênis do Diabo como semelhante ao de um jumento, tão longo e grosso como um braço. Apesar de muitas das vítimas serem muito jovens e virgens, o Diabo prefere as mulheres casadas às descomprometidas porque há mais pecado nas relações adulterinas, mais execrável que a simples fornicação.

Conclusão
Os Sabás, são, evidentemente, uma manifestação de sobrevivência clandestina de um culto pagão em uma Europa já dominada ideologicamente e politicamente pelos valores do Cristianismo Católico Romano, em especial, da moral judaico-cristã. Entretanto, entre a população mais rústica, entre os "servos", cuja moral ou vida privada passava como desimportante para as classes mais altas da sociedade medieval, tradições antigas persistiram durante incontáveis gerações.
O povo continuou praticando seus rituais priápicos, suas orgias, suas Saturnálias; continuou usando seus alucinógenos excitantes, mergulhando em estados mentais caóticos onde realidade e fantasia, homens, mulheres e demônios, verdade e ficção, se confundiam. Nas charnecas, nas clareiras das florestas, longe das leis dos juízes e da Igreja, costumes antigos continuaram vivos e, não raro, junto com os camponeses mais simples, certos da proteção das trevas, figuras importantes da comunidade entregavam-se aos mais dissolutos prazeres, às tentações, que lamentavam depois, talvez num confessionário, buscando a pureza na mortificação e o perdão a peso de ouro para mais uma vez, na próxima lua cheia, ceder ao chamado da lascívia e dançar e pecar — no Sabá.

fonte:http://mahabaratha.vilabol.uol.com.br/translation/cultosfalicos01.htm [link morto]

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