quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Escolhidos, separados, privilegiados

Ateus em geral tem razão, embora por uma visão generalizante, que a religião é um veneno para a humanidade. A questão que os ateus não explicaram é onde a religião envenena.
Para os Cristãos, o veneno age para matar o pecado.
Para os Budistas, o veneno age para matar o apego.
Para os Satanistas, o veneno age para matar a abstinência.
Para os Muçulmanos, o veneno age para matar a desobediência.
Para os Pagãos, o veneno age para matar a indiferença.
Para os Bruxos, o veneno age para matar a separação.
Para os Wiccanos, o veneno age para matar a ignorância.
Para os Ateus, o veneno age para matar a superstição.
Cada um, de sua forma, age como sendo um privilegiado, um iluminado, um escolhido, separado dos demais pelas qualidades que nossas certezas nos dão. Quando nos saturamos dessa iluminação, parte de nós fica 'envenenada', morre em algum sentido e paramos de ter auto-crítica, apenas vemos os defeitos que estão nos outros.
Os Cristãos brigam entre si por diferenças doutrinárias e brigam com outras religiões porque não aceitam a diversidade. Brigas aconteceram também entre as vertentes do Budismo, bem como a assimilação e sincretismo com as outras religiões originárias da Ásia porque foram consideradas 'selvagens'. Excessivo romantismo ideológico e cultos à personalidade minaram a relações entre os Satanistas. Há um verdadeiro fratricídio e disputas de linhagens entre os Muçulmanos. Há uma confusão histórica e uma obcessão por restabelecer de forma intocada os Ritos Ancestrais entre os Pagãos. Há uma verdadeira confusão de identidade e personalidade entre os Bruxos. Há uma verdadeira disputa por reconhecimento e validade entre os Wiccanos. Há uma verdadeira obcessão pelo racionalismo e pela intelectualidade entre os Ateus.
Como eu sou pagão, bruxo e dedicado a estudar a religião Wica, eu tento entender as limitações dos outros ao mesmo tempo que estimulo a auto-crítica. Ainda que isso seja uma esperança em vão, eu confio que os Pagãos, Bruxos e Wicanos também tenham essa compreensão e auto-crítica.
Como pagão, eu não me contento em ler livros, mas comparo os textos, cada livro contém em si memso uma enorme possibilidade de aprendizado, basta saber ler. Como bruxo, eu não me contento em procurar e reproduzir receitas, eu tento encontrar coerência e pragmatismo nas minhas práticas. Como estudante dedicado na Wica, eu não vou me ajoelhar diante de sacerdotes nem tomar seus textos como verdades sagradas, eu me ajoelho apenas aos Deuses Antigos e tentarei desvendar pelos Mistérios Antigos as verdades sagradas.
Iniciados são privilegiados porque receberam a tradição, são escolhidos porque receberam a iniciação e são separados porque devem zelar pelo segredo do Ofício. Isso envenena o Ego que, desesperado, tenta se agarrar em símbolos de autoridade, em textos sagrados revelados, no excessivo rigor ritualístico, em inventar fórmulas de espiritualidade. Nem todos são escolhidos, nem todos são chamados, muitos são os iludidos e mais ainda serão os enganados. Saiba então, buscador, que toda forma de religiosidade externa é uma armadilha do Ego, um caminho espiritual que necessita do reconhecimento e do aplauso do público nunca foi um caminho espiritual.

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