sábado, 5 de janeiro de 2008

Sangue no altar

Este é um assunto forte e polêmico que é evitado por pagãos, bruxos e wiccanos porque costuma ser o calcanhar de Aquiles diante da opinião pública e é muito explorado por alguns cristãos mal-intencionados.
Históricamente existiram povos, culturas e religiões que sacrificavam animais e pessoas, nos altares de seus Deuses, em determinadas cerimônias. Mas esse registro histórico tem que ser interpretado dentro de uma perspectiva antropológica, nenhum de nós no alto de nossa 'cultura civilizada contemporânea' prepotente pode ou tem o direito de julgar esses povos, culturas e religiões.
Todos estes povos foram discriminados como 'pagãos' posteriormente à dominação da Igreja. Grande parte desses povos, culturas e religiões não existem mais, apenas parte da cultura e da religião sobreviveu ou foi assimilada por outra cultura e religião dos povos que os sucederam. Nem todos esses povos faziam sacrifícios de sangue a seus Deuses, mas certamente todos os povos, inclusive os Israelitas, fizeram sacrifícios de sangue, em algum momento de seu processo cultural e religioso, ao seu Deus ou Deuses.
O motivo mais provável, seja antropológico ou psicológico, que fez com que esses povos fizessem sacrifícios de sangue vem do fetichismo e do animismo, pontos de partida de todas as religiões existentes.
Os atributos místicos, religiosos e mágicos do sangue são muitos. O sangue é o fluido vital e também a morada da alma. O sangue leva consigo as culpas que o penitente se julga devedor diante de seu Deus. O sangue é o elo entre a carne e o espírito. O sangue carrega a herança, a linhagem e a ancestralidade. O sangue garante a colheita e a fertilidade da terra.
Os pagãos tinham motivos para fazer um sacrifício de sangue, em uma época específica. Mesmo as culturas pré-colombianas tinham motivos para seus sacrifícios.
O que os pagãos esperam dos cristãos, é que estes percebam que o sacrifício de sangue está presente no Cristianismo, em cada cerimônia da Santa Ceia ou da Comunhão. Ali, em cada momento que se celebram essa cerimônia, os cristãos reencenam o sacrifício de sangue feito por Cristo, sem o que eles crêem que não seriam libertos do pecado.
Atualmente, poucos pagãos fazem sacrifícios de sangue, sempre de animais. Estes são os pagão que tentam fazer um reconstrucionismo cultural, tentam trazer de volta alguma forma de religião antiga em seu estado mais 'puro', o que é impossível. Assim como não há uma cultura 'pura', não há uma religião 'pura', em algum momento existirá a presença de elementos que provieram de outras culturas e religiões.
Dentro desse enorme espectro de religiões pagãs modernas está a Wica, reunindo em si a filosofia mais fundamental que é a sacralidade da natureza, mais a serenidade de evitar preciosismo exagerado nos rituais. Nem tudo que nossos ancestrais cultuavam pode ser celebrado como antigamente, nem tudo que nossos ancestrais consideravam valores fundamentais da sociedade podem ser revividos como antigamente.
Isto confunde e intriga as pessoas, pois parece que o Paganismo, a Bruxaria e a Wica não são religiões 'perfeitas', mas nossa intenção nunca foi de sermos perfeitos ou a resposta definitiva.
A intenção do pagão moderno é reintegrar a humanidade, o mundo e a natureza em sua sacralidade.
A luta do pagão é a de acabar com o fundamentalismo, o fanatismo e a intolerância religiosa.
Nossa espécie terá dado o primeiro passo rumo a um futuro promissor, no momento em que este princípio for observado por todas as religiões e filosofias humanas.

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