sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Demodê

A designer Anís Samanez e José Forteza, editor sênior da Vogue América Latina, enfrentam um turbilhão de críticas após declarações polêmicas durante um debate sobre apropriação cultural. 

O episódio dialoga com questões bem brasileiras. Como, por exemplo, um embate ocorrido em 2017 sobre o uso de turbantes por pessoas brancas que eletrizou as redes sociais.

Mas afinal, o que é apropriação cultural? Ela diz respeito a escolhas pessoais ou a manobras de mercado por empresas?

A controvérsia no Peru gira em torno de comentários feitos por Samanez sobre sua interação com a comunidade Shipibo-Konibo e uma afirmação de Forteza de que essas comunidades enfrentam insegurança alimentar sem o apoio de designers. As declarações provocaram indignação e críticas nas redes sociais.

A fala dos dois foi feita durante o evento Orígenes 2024, segunda edição do evento de destaque no cenário da moda sustentável no Peru, realizado em Lima entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro.

As declarações de Samanez e Forteza acenderam um debate nas redes sociais sobre o respeito às tradições culturais e a relação entre designers e comunidades originárias.

Troca ou apropriação?

Em um relato durante o evento, Samanez afirmou que a comunidade Shipibo-Konibo rejeitou uma proposta de troca cultural, pedindo 5 mil dólares como retribuição. A estilista declarou: 

"Eu também sou peruana, nascer na costa não me faz menos peruana que eles. Somos exatamente iguais", afirmou.

O comentário foi amplamente criticado por desconsiderar os direitos das comunidades e minimizar sua autonomia cultural.

Forteza também gerou indignação ao afirmar que comunidades indígenas "morreriam de fome" sem o apoio de designers. A frase foi vista como desrespeitosa e desvalorizou o trabalho artístico e cultural das populações originárias.

Mea culpa depois da repercussão

Dias após a polêmica, o jornalista e a estilista fizeram o mea culpa e pediram desculpas.

Fortaleza, em uma postagem no Instagram, emitiu um comunicado em que admitiu que suas palavras foram "mal formuladas". Ele reforçou seu compromisso com a visibilidade e proteção das comunidades artesãs. 

"Reafirmo meu compromisso com o respeito, a proteção e a visibilidade dessas comunidades, que são pilares da nossa identidade."

Samanez também usou as redes sociais para pedir desculpas e reconheceu que se expressou de forma leviana. Ela reconheceu a gravidade de sua fala e lamentou o ocorrido.

 "Amo profundamente nossa cultura e sempre busquei refletir esse amor em meus designs."

Desculpas rejeitadas

O estrago já estava feito e a líder da comunidade Shipibo-Konibo em Lima, Olinda Silvano, recusou as desculpas da dupla. Em entrevista ao programa América Hoy, a artista afirmou que o trabalho artístico de sua comunidade é um patrimônio cultural que merece respeito e remuneração justa.

Nossas peças podem levar mais de um ano para serem feitas. Esse é nosso sustento", explicou.

Silvano destacou que as declarações de Samanez refletem falta de conhecimento e respeito pela complexidade e o valor do trabalho artesanal indígena. 

"Não somos pequenos. Somos profissionais ancestrais", enfatizou.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/moda/2024/12/11/apropriao-cultural-na-moda-caso-no-peru-reacende-polmica-170818.html

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