sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Ashes to ashes

Recapitulando.

A estação espacial Ícaro orbita a Terra para observar os humanos e coletar qualquer objeto que possa ajudar a Federação Galática a entender esses seres que estão pleiteando pelo ingresso na federação.

No comando da Ícaro, a doutora Anya Chandreen, uma alfacentauriana que aceitou o encargo, apesar de seus traumas e preconceitos a respeito de humanos.

Na tentativa de entender e pensando na segurança da tripulação, o Conselho de Alfa Centauro enviou para Ícaro a tenente Candice Bergmann, humana.

Uma sonda de terreno trouxe diversas relíquias que estimularam Anya a querer fazer uma expedição “in loco”.

- Essa relíquia que a sonda trouxe. Que, segundo você, é uma história em quadrinhos. Algo recente, segundo você. Então eu quero saber. Quem fez essa história em quadrinhos. Prepare-se, tenente, nós vamos para Gaia.

- Mas… eu estou no meio de suas pernas… quer ir agora?

- Pelo cinturão de Órion… pode ir mais depressa? O Conselho de Arcturus não gosta de esperar.

- Mais depressa. Certo. Eu vou usar esse consolo netuniano.

Anya arregalou os olhos. Mas Candice não ficou com pena. A doutora, a despeito de sua educação, digamos, espartana, tremeu-se toda, gemeu forte e algo jorrou de sua… cavidade sexual.

- Anya? Desmaiou? Droga. Eu vou ter que usar algum servidor biocibernético para me ajudar a gozar.

Eu, pobre coitado (pobre?), estava apenas tratando de minhas obrigações como tradutor e intérprete. A tenente me agarrou, me jogou em algum canto escondido da Ícaro.

- Você tem jeito. Para escrever e dar prazer. Parece que é verdade o que dizem de você, escriba.

Minhas pernas e mãos tremem enquanto eu escrevo. Candice fez questão que eu fosse junto para registar essa expedição. Algo na expressão do rosto dela me diz que ela tem más (desde quando isso é ruim?) intenções.

Então nós três fomos na cápsula de transporte. Para a atual tecnologia, não é mais do que andar de elevador. A doutora ficou com uma expressão estranha enquanto a tenente ficava manipulando minha… terceira perna.

Chegamos, então, em uma região da Terra onde outrora era conhecida como Nova York. Tudo ali era ruína, coberta com algum tipo de vegetação. Meu instinto dizia que estávamos sendo observados. Nós estávamos cercados de entulhos, mas tudo era peculiarmente limpo. Folhas, ramos, e flores espalhavam-se pelo chão, mas não lixo, algo que eu tinha estudado sobre a história humana.

- Atenção, pessoal! Fiquem atentos e atrás de mim!

Candice engatilhou a pistola de plasma, sondando algo que parecia estar se movendo por entre as ruínas. Eu tirei da bainha o espigão saturniano, pronto para lutar. Anya ficou agarrada em mim, pressionado aqueles seios dela em mim.

Um som estranho. Então uma figura apareceu. Tinha aspecto humano, mas era uma outra espécie. No meu estudo da história e biologia da Terra, eu pude reconhecer que aquela criatura era uma barata humanóide.

Aquilo começou a fazer estalos, mexia as antenas, as pernas e as antenas. Parecia ser algum tipo de comunicação. Anya desgrudou de mim (droga) e usou um tradutor universal. Falou algumas palavras no dialeto comum da Federação Galática (alto diluriano) e deixou o tradutor fazer a sua mágica. Aquilo então modulou a voz (tem língua e traquéia?) e falou no dialeto de baixo diluriano.

- Humanos. Não ameaça. Comunidade. Paz.

Aos poucos, outras baratas humanóides foram surgindo. Estrilando. Agitando os braços, asas e antenas. Eu supus que davam boas vindas.

- Olha, Candice. São pacíficos. Incrivelmente civilizados.

- Veremos. Fique bem perto de mim, Anya.

Verde Um, como se apresentou, nos apresentou para a ocupação, para a comunidade. Todas as partes das ruínas que eram habitáveis foram reparadas e arrumadas. Foram construídos diversos túneis, entre as edificações e debaixo do solo. Para um deslocamento mais rápido e mais longo, tinham criaturas semelhantes à centopéias, mas igualmente humanóides.

Verde Um mostrou a enorme plantação e cultura de fungos e cogumelos, de onde tiravam toda a comida que precisavam. Tudo era igualmente dividido por todos os “cidadãos”. Mas tinham diferentes classes, conforme a função, dentro dessa sociedade.

Operários. Soldados. Sábios. Chefes. Acima de todos, uma rainha. Verde Um nos levou até a rainha que estava nos aguardando. Ela falava alto diluriano fluentemente.

- Saudações, humanos e alfacentauriana. Podem me chamar de Ouro Um. Eu sou a rainha dessa comunidade e convivemos com outros insectóides.

- Vossa majestade, Ouro Um, eu estou curiosa, como seu povo surgiu?

- Apenas Ouro Um. Qual seu nome?

- Anya, Ouro Um.

- Anya, todos esses indivíduos são meus filhos, ou meus netos. Quando a Migração começou, a Terra, ou Gaia, como conhece esse planeta, tinha passado por uma Terceira Guerra Mundial, em parte provocada pelas crises climáticas que aconteceram entre os séculos XXI e XXII. Aqueles que ficaram tiveram que sobreviver de alguma forma. Meus ancestrais encontraram planos de governo para clonar ou tornar possível a reprodução humana com outras espécies. O meu povo é resultado desa mutação. Nós ainda somos humanos, mas outro tipo de humanos.

- Então... a partir das primeiras unidades, resultado dessa clonagem e hibridação genética, surgiu uma outra humanidade. Impressionante! Mas como Ouro Um soube de nossa presença?

- Simples, Anya. Nós compartilhamos uma consciência coletiva. Eu consigo contato direto com qualquer um de meus cidadãos e estes comigo.

- Consciência coletiva! Em Arcturus nós demoramos alguns séculos para atingir tal grau de evolução!

(Ouro Um, rindo)- Bom, a aparência de nossa comunidade deve destoar dos padrões do que é considerado "civilizado", mas sim, nós somos seres evoluídos.

(Candice) - Ouro Um, então cada indivíduo dessa comunidade pode reproduzir?

- Oh, sim! Qual é seu nome?

- Candice, Ouro Um.

- Candice, eu dei à luz cerca de um milhão de ovos. Não foi agradável, eu te garanto. Eu fiquei aliviada quando percebi que meus filhos conseguiam produzir sua própria prole.

- E você sente esse prazer com eles?

(Anya, roxa, envergonhada e indignada) - Tenente!

(Ouro Um sinaliza com as patas)- Está tudo bem, Anya. Eu quero responder todas as perguntas. Sim, Candice. Eu posso sentir tudo o que sentem. Prazer, fome, sede, doença. Como rainha e regente, eu quero que cada um de meus cidadãos sejam felizes e satisfeitos.

(Candice, emburrada) - Quem em dera que nossos políticos tivesem esse carisma.

(Ouro Um, rindo) - Tenha calma, Candice. Sua espécie está em uma longa trilha evolutiva. Eu tenho uma intuição que seus líderes estão tendo mutios problemas para se adequar aos padrões e regras da Federação Galática.

(Anya, tentado acalmar Candice) - Realmente. Em Arcturus foi recebido com ceticismo que os humanos estavam solicitando o ingresso na Federação Galática. Eu e a tenente somos tripulantes da estação espacial Ícaro, cuja missão é a de estudar e entender os humanos.

(Ouro Um, pensativa)- Eu senti uma presença nos observando. Estão orbitando a Terra?

- Sim, Ouro Um.

- O que conseguiram, até o momento?

- Ah, meus servos ciberorgânicos estão trabalhando muito, analisando e catalogando as relíquias que encontramos.

(Ouro Um, olhando para Candice)- Você deve ficar perto da Candice e perguntar a ela. Você irá aprender muito com ela.

(Candice, com expressão safada) - Ah, nós somos bem próximas, certo, Anya?

(Anya, roxa, envergonhada e encabulada) - Tenente!

(Ouro Um, rindo) - Excelente, Candice. Caso pretenda produzirem prole, nós temos meios para ajudar vocês nisso.

(Anya, roxa, envergonhada e fumegando) - Pro... prole? Reprodução?

(Ouro Um, intrigada) - Sim, Anya. Seres evoluídos superaram os padrões absurdos de gênero binomial, relação exclusivamente heterossexual e monogâmica.

(Candice, rindo, animada) - Eu acho que terei que trabalhar nisso, Ouro Um. Anya ainda tem... traumas e recalques.

(Ouro Um, sorrindo) - Eu tenho certeza que vão conseguir. Vão ficar para o nosso ritual de meio de primavera?

(Candice, com olhos brilhando, super animada) - Ouro Um! POr acaso sua comunidade encontrou e manteve as crenças antigas dos seus ancestrais humanos?

(Ouro Um, intrigada) - Sim, Candice. Esse seria o normal, o natural. Nossos rituais são feitos em homenagem aos chamados Deuses Antigos, que tem uma conexão mais forte com nossas origens, nossas raízes e nosso sangue.

(Candice, super animada) - Massa!

(Anya, tentando acalmar a Candice) - Quando eu estudei as crenças humanas, eu li sobre o Cristianismo. Sabe algo a respeito?

(Ouro Um, pensativa) - A memória que eu herdei é um pouco nebulosa quanto à essa crença. Deve ter alguma comunidade, de alguma espécie híbrida, que tenha essa crença. Talvez eu deva dizer que, felizmente, deixou de ser aquela religião opressiva e intolerante.

(Candice, comemorando) - Graças aos Deuses!

(Ouro Um, sorrindo) - Isso é passado. Quem quer que tenha usado essa crença por poder e riqueza, não existe mais. Mas eu estou curiosa. Como vivem nosso parentes na Lua e em Marte?

(Candice, em tom professoral) - Nós estamos indo muito bem. Criamos uma atmosfera artificial na Lua e em Marte. Plantações, irrigação e produção de alimentos. Nós temos plantas que produzem frutos semelhantes à carne e produzimos diversos tipos de carne em laboratórios.

(Ouro Um, intrigada) - Isso é muito bom. Mas minha memória herdada tem uma lembrança ruim sobre a desigualdade social. Isso ainda tem entre meus parentes?

(Candice, triste) - Em algumas regiões, sim, infelizmente. Em muitas circunstâncias, eu não teria conseguido entrar para o Conselho Interespacial Terráqueo, nem teria me tornado tenente.

(Ouro Um, pensativa) - Isso seria uma terrível perda. Um indivíduo tão inteligente e com tal capacidade reprodutiva... seria um desperdício.

(Candice, com expressão safada) - Ouro Um! Por acaso está interessada em mim?

(Ouro Um, desviando o olhar) - Talvez. Se Anya não der o passo que falta.

Nas cenas do próximo capítulo, se tiver, veremos Anya, candice, Verde Um e Ouro Um no ritual feito como antigamente.

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