quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Andando na lua

A expedição por Gaia (Terra) trouxe mais relíquias para serem estudadas, analisadas e catalogadas.
Anya assistia aos vídeos enviados por Candice para tentar entender a cultura humana, especialmente do século XX ao XXII.
No meio dos vídeos, tinham alguns que nada tinham a ver com o objeto de seu estudo.
Candice alegava que ela deveria ver para entender porque a cultura humana tinha, ao mesmo tempo, asco e admiração, pela pornografia.
Anya via isso uma desculpa para enviar vídeos dela explícitos.

Anya ficou intrigada com um tal de Elon Musk, o primeiro que falou em colonizar a Lua e Marte.
No início do século XXI, pessoas com muitos recursos financeiros construíram foguetes para fazer turismo espacial.
O que ela não conseguia entender é como essa evolução tecnológica era compatível com o reaparecimento de ideias extremistas do século XX.
Ela, apesar de sua cultura alfacenturiana, ficou com o estômago embrulhado com a história da humanidade no século XX.
Sobretudo com a ascensão de grupos militarizados que apregoavam publicamente a execução de outros seres humanos.

Ela, pacifista até a última faixa de neon verde, sentia ódio por esses personagens da história humana. Ficava abismada que as ideias permaneceram vivas.
Um arrepio subiu pela espinha quando considerou que tudo isso tinha uma única fonte e causa - dinheiro.

Em Gaia (Terra) um pequeno grupo de humanos dominava o cenário político e econômico. Esse grupo estava disposto a fazer qualquer coisa para se manterem no poder.
E fizeram. Chamaram de Nazismo, de Fascismo. Os líderes foram mortos, morreram ou cometeram suicídio. Mas os verdadeiros mandantes, os autores intelectuais, permaneceram intocados.
O mesmo grupo que, munido de poder político e econômico, colocou a iniciativa privada (particular) na exploração espacial.
O mesmo grupo que abandonou bilhões de humanos em um planeta moribundo pela loucura da produção industrial em massa.

O trauma e preconceito que Anya tinha com humanos ressurgiu com força. Apesar de sua racionalidade, ela se viu em um dilema.
Candice. No começo, Anya a via como mais um "macaco". Mais um humano selvagem. Ainda por cima, militar. A doutora refletiu. Foram poucos ciclos, desde que a tenente chegou. Muitas coisas mudaram. Na Ícaro e nela mesma.

Tentando enganar a si mesma, dizendo que foi "acidental", Anya assiste um dos vídeos pornô de Candice (feitos pela e com a própria Candice). Algo que ela achou que nunca, jamais faria. Apreciava o vídeo. Suas mãos tocando seu corpo enquanto tinha fantasias com Candice. Ela gozou bem no momento em que um leve sinal da central de mensagens apontou que ela tinha uma nova missão, vinda do centro de pesquisa.

Dizia a mensagem:
Doutora Chandreen, recebemos indícios de uma região na Lua onde será possível obter mais pistas dos humanos e de sua expansão pelo espaço. Use de qualquer meio para localizar e extrair qualquer relíquia.

Anya levantou, com as pernas bambas, limpou-se e foi, esforçando em manter uma "cara de pôquer", até o dormitório de Candice.

-Tenente? Nós temos uma missão.

- Anya? Só um minuto!

Barulho de coisa caindo, algo quebrando, passos apressados. Quando a porta abre, o uniforme de Candice está desmazelado, indício de que foi colocado às pressas.

- Qual é a missão?

- Nós vamos para a Lua tentar localizar uma relíquia.

Evidente que Candice ficou animada. Fez questão de pilotar a cápsula. A distância entre Ícaro e a Lua, nessa época, com essa tecnologia, é como ir na esquina.

A cápsula era suficiente para transportar quatro pessoas, mas Candice fez questão de Anya sentar ao lado dela. A doutora sabia o que ela pretendia, mas deixou a farsa seguir. Candice digitou as coordenadas e ficou, por todo o ciclo do deslocamento, passando seu dedo pelas faixas de neon verde no corpo de Anya. Algo que os alfacentaurianos só fazem a namorados, noivos e maridos.

A cápsula parou em um dos muitos pontos de desembarque, não muito diferente de uma estação de trem ou terminal de ônibus. Com sofisticados equipamentos de escaneamento de solo por camada, as duas iniciaram a busca pela relíquia.

O som de brita agitada deixou Candice em atenção. Do veículo lunar, desce uma criatura octopóide e depois uma criatura ursóide.

- Fique atrás de mim, Anya. São piratas.

- Pi... piratas?

- Depois eu explico.

A enorme ursa engatilhou a arma que carregava, mas o polvo fez um sinal para agradar.

- Tenente Candice, eu suponho.

- Eu mesma. E você?

- Capitão Sullivan. Eventualmente nós teremos que nos enfrentar, tenente. Mas não hoje. Eu proponho trégua.

Candice, pensando na segurança de Anya, estava considerando a oferta quando plasmas zuniram por todo lado. (Nota - clichê de filme de ficção científica. Apesar da tecnologia, armas lasers nunca acertam o alvo. Principalmente se for o protagonista) Sullivan e Arth trataram de ficar atrás de um bloqueio. Candice e Anya também se abrigaram, não muito distante.

- Tenente Candice, conhece o ditado do inimigo do meu inimigo?

(Fazendo um sorriso cínico)- O inimigo... é meu amigo. Vamos mostrar à esses milicianos marcianos que mexeram com as pessoas erradas.

Sullivan e Candice foram para cima do grupo armado. Arth tentou acompanhar, mas esses dois, juntos, exterminaram rapidamente os alvos.

- Capitão! Sinceramente! Como eu posso ser sua guarda costas assim?

- Eu aprecio sua preocupação. Ah, sim. Tenente, está é Arth.

- E aí, irmãzona?

(Envergonhada e encabulada) - I... irmãzona?

(Riso abafado) - Sim, duas irmãs. Tenente, quando ficar cansada dessa vida de escoteira, venha trabalhar comigo. Pagamento generoso e muita diversão.

(Sorrindo com ironia) - E fazer parte de seu harém, capitão? Eu não quero competir com minha irmãzona. A não ser que nós duas possamos... quem  sabe...

Arth e Anya ficam roxas. Sullivan solta uma gargalhada barulhenta e escandalosa.

- Claro, claro. Eu acho que posso arranjar isso. Nos vemos por aí, tenente.

Sullivan achou o que queria. Anya também. As duas (Anya e Candice) retornaram para a cápsula para seguir de volta à Ícaro. Candice sentou, imersa em pensamentos. Anya achou estranho que ela não fez questão de sentarem juntas.

Em uma inesperada atitude, Anya digita as coordenadas e senta-se ao lado de Candice.

- Sabe, tenente... tem algumas coisas em seus vídeos... que eu quero conferir... pessoalmente.

As relíquias ficaram de lado. As duas passaram muitos ciclos divertindo-se.

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