terça-feira, 29 de outubro de 2024

Too late, baby

Autora: Inez Lemos.

Está na moda ter intolerância à lactose, glúten, entre tantos outros. Contudo, descobri que o brasileiro precisa de fortalecer a intolerância à onda perversa que entrou na agenda do país. 

Não podemos mais aceitar que portem armas sem critérios rígidos. O porte de armas foi banalizado e com ele, as mortes. Sintoma de uma sociedade inconsequente - subjetividades operando a pulsão de morte. Banalizamos o feminicídio, o ódio à mulher que reivindica o direito ao próprio desejo e ao corpo. A misoginia é a revolta do macho à mulher que luta pelo prazer na cama e na vida.

Banalizamos a mentira, fake news manipulando o nome de Deus, angariar votos nas igrejas neopeteconstais foi normalizado. 

Banalizamos a imoralidade, confundindo-a com moralismo perverso. Exploram a boa fé da população para denunciar a esquerda como drogadita, maconheira, defensora de bandidos. Sem provas e argumentos, de forma irresponsável, jorra lama sobre o campo progressista - lógica da desconstrução para apossarem do poder.

Cansou, basta! O momento exige retomar o discurso do Brasil que luta por justiça contra a desigualdade social, o racismo, homofobia, machismo estrutural. Não podemos compactuar com a banalização da inverdade, falta de vergonha.

Devemos reforçar a luta contra gente desonesta, corrupta, manipuladora, covarde, preguiçosa. Gente que passa o dia arquitetando estratégias de enriquecimento por meio de golpes, disseminando ódio e violência, fazendo apologia ao crime organizado.

Geralmente, são pessoas frustradas, infelizes, ressentidas, invejosas. 

Há algo de erótico no sadomasoquismo. O gozo do carrasco representa aquele que sente prazer com a maldade. Portanto, devemos escolher melhor os políticos, como também os parceiros de vida.

Uma pessoa feliz é um perigo, desperta maledicências, cutuca o lado sombrio da condição humana. Suportar a infelicidade com elegância exige alguns anos de divã. 

Portanto, acredito que o bolsonarismo, em parte, seja sintoma de infelicidade, ressentimento. O fracassado que, para reparar o abismo existencial, transfere o ódio aos que o incomodam.

O modo de viver da esquerda, geralmente, é mais interessante, exibimos uma riqueza simbólica maior. Apreciamos mais artes, buscamos nos hidratar transcendendo a mesmice do mundo com cultura - na literatura e nas ciências, encontramos formas de nos salvar.

Devemos exercitar a intolerância à extrema-direta. Lutemos por por um alinhamento poético da vida. Sonhei com Charles Chaplin no congresso, Chico Buarque na presidência da Câmara. Acordo e lembro de Lira, Bolsonaro, passo mal, vomito a indigestão do brasileiro gente boa, simples, trabalhadora. Que está se definhando.

O sonho metaforiza o fim de um futuro mortífero. Impossível dormir ao som de balas programadas para exterminar a pobreza, população negra, projeto fascista de governabilidade. Vamos lutar?

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/nao-banalizemos-o-fascismo

Nota: esse mal-estar é mundial. Mal passamos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e o nazismo/fascismo está de volta. Nunca foi embora. Nunca foi derrotado, extirpado. Os verdadeiros mentores intelectuais, os patrocinadores e financiadores, ficaram impunes. Se a humanidade deitasse em um divã de um psicanalista, não saberia explicar o motivo pelo qual tem tanta atração pelo autoritarismo. Os líderes da extrema direita, todos, chegaram ao poder com a ajuda do povo. Ou pela indiferença e omissão diante desse horror.

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