quarta-feira, 1 de maio de 2024

O perdão de Sísifo

Hoje é um dia voltado para lembrar, ainda que de forma inócua, o trabalhador, o pilar da economia e de todo país.

Inócuo porque o brasileiro médio comum não tem consciência política e de classe.

Eu falei em algum lugar aqui que é estranho termos de trabalhar 35 anos para pedir aposentadoria. Parece que nós temos que cumprir uma sentença. E nós nos esforçamos, tentando sobreviver, tentando melhorar, tentando crescer. Não posso deixar de falar que tem muita gente que conta com diversos privilégios, mas não se dão conta. Dependendo de sua origem, de sua etnia, de sua língua, de sua religião, um indivíduo é empurrado para a periferia, para a pobreza, para a miséria, para o crime.

Quem, nas lendas e nos mitos mais se aproxima da condição humana, é Sísifo. O que se sabe, de forma bem superficial, é que ele foi condenado a empurrar uma pedra e essa pedra sempre voltava ao ponto inicial, tornando essa uma condenação eterna.

Mas tem algo faltando. Poucas fontes falam do motivo da condenação de Sísifo. Ele traiu a confiança de Zeus e trapaceou Tânatos.
Menos fontes citam que foi prometido a Sísifo que ele estaria livre se conseguisse levar a pedra para o outro lado da colina.
Algumas perguntas surgem.
Como esse objetivo seria alferido? Quem vigiava Sísifo ou o obrigava a cumprir sua penitência?
Os mitos gregos chegaram até nós depois de serem registrados e compilados por Hesíodo. Provavelmente alguma lenda falou de quando Sísifo obteve de volta sua liberdade.

Esse é um exercício livre.
Sísifo rolou a pedra muitas vezes, as mãos ficaram em carne viva e tanto o solo quanto a pedra sofreram erosão.
Sísifo era muito esperto, notou que a pedra aumentava de peso quanto mais alto subia, ou mais distante ficava do ponto inicial. Não parecia ser uma ação de magia, mas de física.
Era uma aposta no escuro, mas ele tentou assim mesmo. Sísifo empurrou a pedra na direção oposta da colina. Houve a mesma resistência e aumento de peso. Então liberou a pedra. Viu que subiu cerca de um terço da colina. Com esforço, conseguia subir mais um quinto. Fez os cálculos e presto.
A pedra tinha ido para o outro lado da colina.
O cenário era igual, não tinha uma saída ou alguém que desse um tapinha nas costas.
Toda prisão funciona dessa forma. A prisão está na nossa mente.
Sísifo sempre esteve livre. Apenas se deu conta.
Explorou o reino de Hades. Soube sobre Hermes e Orfeu. Soube sobre o ciclo da alma.
O mundo dos homens é uma pequena província. O mundo dos espíritos é imenso.
Todo caminho seguido tem duas vias. Nenhum destino é definitivo. Nenhuma condenação é eterna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário