quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Apropriação cultural

Houve um tempo que o Patheos era uma página relevante e diversificada. Houve um tempo que eu fazia meus comentários pelo Disqus.

Tom Swiss escreveu em 26 de setembro de 2015 um texto intrigante no qual ele afirma que não existe apropriação cultural. Eu devo ter escrito um comentário, mas perdeu-se. Evidente que Tom está errado em muitos aspectos e eu dei vários exemplos em algum lugar por aqui.

Eu li uma frase em algum lugar que diz mais ou menos "porque é mais fácil o comércio com o sobrenatural do que o comércio com a língua?"
Quem souber sobre essa frase e seu autor, favor avisar nos comentários.

O espetáculo degradante de ver uma pessoa analfabeta ou semi-alfabetizada (ou com analfabetismo funcional) lendo e interpretando a Bíblia em praça pública.

A comunidade pagã tem uma versão disso.
O livro de Christopher Penczak, "Os Portais da Bruxaria" é raso e insosso como qualquer texto facilmente encontrado na internet.
Para não dizer que foi uma completa perda de tempo e dinheiro, eu consegui extrair algo.
Ele cita "nierika", a arte do povo Huichol.

Citando:

A nierika é uma forma de arte espiritual utilizada pelo povo Huichol. A nierika moderna consiste em pedaços de fios coloridos fixados em um suporte redondo ou quadrado, em símbolos ornamentados ou imagens retiradas do mundo espiritual. Nos últimos anos, a nierika chegou às cidades do México, e de lá para o mundo exterior, e cativou as pessoas com sua profunda beleza e complexidade.

Os Huichol são um grupo nativo encontrado no oeste do México, na Sierra Madres. São cerca de 7.000, e mais de metade da população migrou para as cidades do México desde a década de 1960. Os Huichol têm uma rica tradição oral e têm resistido a adquirir a cultura do Ocidente, mantendo a sua própria língua e tradições religiosas distintas.

A visão de mundo dos Huichol é profundamente xamânica, e desde a infância a maioria dos Huichol é ensinada a se comunicar regularmente com o mundo espiritual. Essa comunicação se dá por meio de um forte ritualismo e de um belo uso de símbolos. A nierika é a mais visível desta comunicação simbólica com o mundo espiritual.

Nierika não é usada apenas para descrever o artefato físico real, mas também é a palavra Huichol para divindade. Nierika adorna todos os tipos de espaços sagrados na vida Huichol, desde os templos às cavernas sagradas e aos santuários xiriki que cada casa possui. A nierika tradicional pode assumir muitas formas diferentes, cada uma desempenhando funções diferentes. Uma nierika pode ser quadrada ou redonda, com furos no centro. Os nierika quadrados são considerados tapetes de oração para os ancestrais, enquanto os nierika redondos mais comuns são vistos como uma invocação de um ancestral ou deus.

Fonte, citado parcialmente: https://www.wise-geek.com/what-is-nierika.htm

A sua religião gira à volta de quatro divindades principais: a trindade do Milho, Veado Azul e Peiote e a Aguia, todos descendentes do Deus Sol, "Tao Jreeku". A maioria dos huichol mantém as crenças tradicionais e é resistente à mudança. A influência católica nunca penetrou completamente e, até hoje, os huichol mantem quase intactos seus costumes e conservam grande estima pelos mesmos.

Eles chamam a si mesmos de "vishalica", "virarica", ou "wixarika", que quer dizer "curandeiros" ou "doutores" (quase a quarta parte desta etnia se dedica a esta profissão). Os "mara'akámes, ou xamās, cantam, curam e transmitem às crianças a memória mítica de seu povo.

Existe uma porta dentro de nossas mentes que normalmente permanece oculta e secreta até o momento de morrer. A designação huichol para ela é nierika. A nierika é um acesso ou superficie de contato cósmico entre as chamadas realidades "ordinária" e "não ordinária". Constitui um passo e, ao mesmo tempo, uma barreira entre os mundos. A nierika, assim mesmo, è definida como espelho ou rosto da deidade.

"Nos tempos antigos, ao se perder o equilibrio sobre o planeta, sobreveio um grande diluvio que destruiu tudo que existe e permitiu o renascimento do mundo. Um desequilibrio semelhante parece estar ocorrendo nesta geração; nos esquecemos das fontes de nossas vidas, o Sol e o Sagrado Mar, a bendita Terra, do céu e de todas as coisas da natureza. A menos que recordemos de imediato a essência de nossas vidas, a menos que a celebremos com cerimônias e orações, enfrentaremos a destruição novamente, mas agora será através do fogo". - Matsuwa (mara'akáme huichol).

"Se desejam aprender o caminho do xamã. o Fogo os ensinará, o Fogo, nosso avõ. Devem escutá-lo, porque o Fogo fala e o Fogo ensina. De dia se aprende com o Sol. O Sol os instruirá, o Sol, Nosso Pai. A melhor forma de fazê-lo é como o "hikuri" (o peyote), dali sai o pequeno aliado, que é o espírito do veado "Kauyumari", ele lhes comunica o que devem aprender, surge como um espelho e Thes comunica o que devem fazer".

O Fogo(tatewari), o Sol (Tayaupá) e Wirikúta(a terra sagrada do peyote) podem transmitir-lhes a visão(nierika). O xamā também pode lhes transmitir a nierika, mas não devem se esquecer dos Deuses. São eles que abrem o coração e a beleza da Nierika.

O amor aos Deuses o Sol, o Fogo e as Águas - é o que produz a Nierika".

Fonte, citado parcialmente: https://terramistica.com.br/os-huichol-do-mexico/

Infelizmente parece ser uma tendência em nosso meio. Autores pegam e usam palavras e culturas, geralmente de forma deturpada ou adulterada.

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