terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Apresentando a quimbanda

As religiões de matriz africana, ao contrário das religiões cristãs, não contam com organizações ou documentações que regem de forma unificada suas práticas. Isso faz com que não exista uma forma única de vivenciar ou explicar essas religiões. 

Muito baseadas nas práticas orais, vão ganhando interpretações variadas ao longo dos séculos, com formas distintas de um terreiro para outro: isso acontece tanto nas mais populares, como Umbanda e Candomblé, até as menos conhecidas, como Ifá e Quimbanda (que também pode ser grafada como Kimbanda).

Em artigo da revista da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica-se que "Quimbanda é uma palavra da Língua Portuguesa originada do Quimbundo kimbanda, língua do tronco linguístico Banto", e cita ainda o estudioso Nei Lope,s que aponta a Quimbanda como "uma linha ritual da Umbanda ou sacerdote do culto de origem banto". 

Essa própria visão de que a Quimbanda é uma "linha" da Umbanda também não é um consenso. No artigo "Umbanda e quimbanda: alternativa negra à moral branca", da doutoranda Juliana Barros Brant Carvalho, publicado no periódico "Psicologia USP", a autora entrevista uma dezena de praticantes da Quimbanda que colocam a prática como uma religião em si e não uma vertente da Umbanda.

É, inclusive, a ideia da Quimbanda como uma linha da Umbanda que levou com que a religião se tornasse uma das mais estigmatizadas. Em uma perspectiva ocidental, dividiu-se as entidades entre "direita e esquerda", onde "situadas na linha da 'direita' estariam as entidades ligadas ao celestial, à luz, enquanto que a 'esquerda' abarcaria entidades mundanas, mais próximas aos humanos", explica Juliana na dissertação.

Por entidades mundanas entende-se Exu e Pombagira, e seu culto ligado à macumba e outras oferendas. De fato, a Quimbanda cultua tais entidades e realiza as práticas da oferendas, mas não de forma negativa como o imaginário popular brasileiro, arraigado de racismo religioso, estabeleceu, denominando inclusive de "magia negra". 

Essa interpretação negativa é produto de um pensamento ocidental, sobretudo cristão de que existe o bem e o mal. Na Quimbanda, assim como em outras religiões de matriz africana essa dualidade não existe, e o positivo e o negativo estão presentes em tudo e todos, incluindo os Orixás.

Cabe destacar ainda a interpretação de Nei Lopes, que coloca, como muitos outros pesquisadores, Quimbanda como um sacerdote. Em uma publicação do Templo Espiritual Pantera Negra, um Terreiro de Umbanda com sede na Zona Norte de São Paulo, o mestre em Ciência da Religião, Mário Filho, discorre sobre as práticas de cura dos sacerdotes, denominados também Quimbanda.

"Sem terem apoio da ciência moderna, ou da medicina ocidental, Quimbanda prestam um serviço à comunidade, sendo capazes de diagnosticar, prevenir, tratar e curar as doenças (...) Com os seus conhecimentos e experiência em terapêuticas obtidas a partir dos seus conhecimentos da natureza e dos recursos naturais agrícolas, florestais, hídricos e minerais, os Quimbanda asseguraram, no passado, a saúde pública em Angola", relata.

Fonte: https://www.terra.com.br/amp/nos/entenda-o-que-e-quimbanda-uma-das-mais-estigmazadas-religioes-de-matriz-africana,891629e2e9f828643f30b2846f230b34ipwkacoe.html

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