quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

A trágica era do reinado dos imbecis

Autor: Eduardo Ramos.

São muitos os sintomas – os fatos sociais e políticos – que nos últimos anos comprovam o título desse artigo de uma forma inequívoca.

“Eu não tenho culpa, eu votei no Aécio”, estampado nas camisetas dos Ronaldinhos da vida em 2014 após a derrota da esperança de nossa elite e classe média para que o Brasil não “sucumbisse” à “ladroagem petista” (sic…).

Pouco antes disso, misericórdia!, tivemos o movimento “espontâneo” a partir de 2012, o “gigante acordou” (sic 2…) em que brasileiros entusiasmados, em sua maioria de um conhecimento histórico-político do país e seus agentes e forças atuantes inferior ao das pedras nas beiras das estradas… pior! auge dos julgamentos no STF, em que um Joaquim Barbosa caricato, medonho, cara de malvado e justiceiro, (de uma crueldade perversa rara em muitas de suas ações) virou o “Batman tupiniquim” – só perdeu em tragédia para o lado patético e nonsense da coisa. Que país, meu Deus, alçaria Joaquim Barbosa a herói de qualquer coisa?

Estava inaugurada a temporada de “caça ao PT. Ali foram plantados todos os ovos da serpente do fascismo, da imbecilidade, do fanatismo e do ódio, logo depois chocados com maestria, método e determinação pela quadrilha da Lava Jato, rede Globo e Veja à frente. Vivemos a distopia das distopias, 2012 a 2016, os anos pai e mãe do inferno que se seguiu, primeiro Temer, o infame traidor, depois Bolsonaro, o genocida insano e surrupiador de riquezas públicas de um modo bizarro como nunca tínhamos presenciado.

Nos EUA, país cada vez mais perdido em meio a fascismos diversos e um imperialismo cada vez mais virulento, covarde e agressivo, ganha Donald Trump, que mesmo sendo o líder da maior violência jamais cometida contra a democracia americana (ou às camadas de verniz do que lá se chama democracia…), encontra-se solto e não preso, e hoje venceria as eleições no país até com certa facilidade, diante de um insosso Joe Biden, o carniceiro da Palestina com seu parceiro israelense.

De Bolsonaro eleito, das dez mil páginas que mesmo um amador como eu poderia escrever – como fatores de perplexidade absoluta por tal escolha de uma nação – basta sintetizarmos ou fatos mais horrendos: família amiga e cúmplice de milicianos, prática de rachadinha por seu filhos, desmatamento selvagem em seu governo, negacionismo total da maior pandemia do século, colaborando para a morte de centenas de milhares de pessoas, roubo de joias, quebra de decoro em centenas de falas e ações, o fato de não estar já preso após diversos julgamentos em que sua culpa cristalina seria facilmente comprovada, é por si só revelador do país que somos, covarde, omisso, sem coragem de condenar ex-militares que tenham ainda aliados nas forças armadas. Bolsonaro solto é um escárnio contra os mortos da COVID, contra a democracia, contra as instituições, contra tudo o que nos remeta à palavra CIVILIDADE.

Por fim, citamos esse último evento estarrecedor. Um grupo terrorista comete uma ação “pró-Palestina”, mata israelenses e captura reféns. Hediondo em qualquer sentido, por mais que tenham motivos justificáveis para o seu ódio. O terrorismo como “arma legítima” tem que ser rejeitado pelo mundo civilizado e ponto final. Mas o que dizer da reação do tal “mundo civilizado”, EUA, Europa, etc? Apoiam e justificam, de modo cínico e canalha um dos piores GENOCÍDIOS já perpetrados por um país sobre um povo QUE NEM SEQUER TEM UM PAÍS PARA CHAMAR DE SEU – ou seja, sem um exército formal para enfrentar as poderosíssimas forças armadas de seu inimigo histórico. E, no Brasil, imbecis de nossa extrema direita aplaudem as mortes de milhares de CRIANÇAS INOCENTES, em hospitais, nas ruas, nos prédios e escolas… É a “cereja do bolo” – fétida, vil, imunda cereja… – de uma era de infâmias, equívocos, perversões, distopias. A era do reinado dos imbecis, imbecis no poder, imbecis togados, imbecis na grande mídia, imbecis no empresariado, imbecis espalhados em massa nas nossas classes médias e elites, esses, os “que se acham”, que ostentam suas patéticas camisetas do “eu não tenho culpa”, que adoram chamar o país que destroem com suas mãos diariamente, de “país de merda”.

Por todas essas questões, por mais que eu compreenda todos os clamores para que Lula “desperte”, “assuma a liderança do país”, faça isso ou aquilo, é inócuo e quase desumano imputar-lhe tal responsabilidade. Assim como vencer as eleições em 2022 foi obra hercúlea de algumas dezenas de personagens principais de vários espectros políticos, tirar o Brasil desse pântano de imbecilidades diversas, as distopias quase inacreditáveis em que estamos mergulhados, é obra “de e para muitas mãos”, ora de orgulhos, diferenças, projetos partidários e pessoais serem todos postos de lado e substituídos por um tipo de grandeza rara, poucas vezes tão necessárias a uma nação quanto hoje, ao nosso Brasil.

Que a sensatez, a firmeza nas decisões, a união entre as pessoas realmente de bem, nos resgatem a tempo dessa era do reinado dos imbecis generalizados. E nos tragam esse mínimo de paz, normalidade, civilidade e um Estado de direito que tanto almejamos e merecemos.

Fonte: https://jornalggn.com.br/opiniao/a-tragica-era-do-reinado-dos-imbecis-por-eduardo-ramos/

Nota: eu gostaria muito - e seria fácil - atribuir esse reinado dos imbecis a um problema estrutural. Eu gostaria muito - e seria fácil - atribuir esse reinado dos imbecis aos efeitos nocivos das redes sociais e aplicativos de mensagens. Mas não é fácil. Mesmo governos ditos de esquerda não investiram na educação e na democratização dos meios de comunicação. Tanto a internet quanto seus filhotes apenas está seguindo e usando a mesma estratégia dos meios de comunicação de massa "tradicionais". Nós, o público, a audiência, a platéia, aplaudimos e pedimos mais. Não contentes, agora nós mesmos produzimos e disseminamos a idiotice à qual fomos expostos e acostumados. Nós também somos culpados.

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