terça-feira, 24 de outubro de 2023

Laura 2050

Nos bastidores de alguma emissora de televisão, jornalistas, fotógrafos, seguranças e assessores parecem formigas atarefadas. No meio dessa agitação, uma influencer se aproxima da candidata e dispara a pergunta sem noção.

- Hei, você lembra desse vídeo?

Um vídeo que circulou pelas redes sociais mostrou um momento da comemoração dos 14 anos da filha mais nova do ex-presidente Jair Bolsonaro, Laura Bolsonaro, que aparece um tanto tímida ao lado do pai e da mãe, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Os internautas também notaram que a filha mais nova do ex-presidente não retribui o abraço e limpa o rosto no lado em que o pai encosta.

- Mais ou menos. Isso foi há mais de vinte anos atrás.

- Seus adversários vão falar sobre isso e vão querer usar contra você.

Ainda que remota, a possibilidade existia. Afinal, seu pai tinha dito que "pintou um clima" com garotas venezuelanas e isso passou pelo seu pensamento, pois tinha completado a mesma idade. Seu pai também foi considerado o principal responsável pela morte de 700 mil pessoas na pandemia da COVID 19. Isso e o escândalo do contrabando de jóias que seu pai tinha tentado vender. Em um ato inédito no Brasil, Bolsonaro e seus muitos associados, apoiadores e patrocinadores fo ram condenado s por atos contra o estado de direito e democracia, foram condenados por conspiração e envolvimento em um golpe de estado.

Laura lembra de outro vídeo.

Bolsonaro e a filha aparecem juntos e o presidente pede para quem está gravando o vídeo mostrar as panelas com a comida. “Mostra aqui a Laurinha cozinhando. É ou não é uma menina bacana?”, diz o presidente e afirma, logo em seguida: “Laurinha 2050”.

Foram muitos anos antes. Seus irmãos tiveram carreira na política, mas a experiência dela foi com terapia. Ela, como muitos brasileiros, ficou com nojo e ódio da política. Nisso, a elite que está no poder foi bem sucedida. Implantou na mentalidade comum a aversão à política. O resultado foi a eleição de seu pai em 2018 para presidente do Brasil.

Ela teve que mudar de nome, portar novos documentos arranjados pelo governo e viver dentro das regras do sistema de proteção à testemunha. Felizmente os governantes erradicaram a extrema direita em 2030. E o brasileiro tem memória curta.

Ela pode iniciar sua carreira na política. Resolveu seus traumas de infância e seus irmãos estão presos, juntamente com o que sobrou dos "bolsonaristas".

Então, o que mudou em quase trinta anos? As redes sociais têm que seguir regras na maioria dos países. A justiça pune rigorosamente quem dissemina o que era chamado de fake news. As grandes fortunas são taxadas. Aos poucos, oligopólios e monopólios estão acabando, pela força da lei ou da justiça. A igualdade de gênero é uma realidade. Praticamente foi erradicado o fundamentalismo cristão. Mesmo os países mais extremados têm leis que garantem e protegem os direitos da comunidade LGBT. Da mesma forma que os países admitiram seus excessos na chamada Caça às Bruxas, agora admitem os excessos da Cruzada Contemporânea.
A ONU emitiu uma declaração abolindo antigos preconceitos etários.

Então, o que Laura, candidata à deputada federal, tem a oferecer para seus eleitores e aos jovens que estão começando a vida? Ela ajeita os papéis com o discurso enquanto um assistente de produção assinala para ela entrar no estúdio e começar a entrevista.
Ela não sabe o resultado. Mas, ao menos, sabe que os meios de comunicação de massa agora são mais democráticos. O resto, se improvisa, conforme os fatos se apresentam.

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