quarta-feira, 26 de abril de 2023

A dualidade de Pazuzu

Por Sávio Adon Ittibel.

Antes de ficar conhecido como um demônio possuidor de corpos infantis, em ''O Exorcista'', Pazuzu era visto, pelos povos assírios-babilônicos e mesopotâmicos, como simbolo de poder, força, proteção, medo e caos. Pazuzu era uma espécie de deus-demônio pelos assírios-babilônicos, e pode se dizer que a cultura desta divindade se estendeu por grandes partes da Suméria e Babilônia. Porém, é necessário mencionar que não podemos afirmar que esta divindade possuía algum tipo de culto fixo, sacerdotes ou templos já que muito do que se sabe sobre esse deus vem de quantidades mínimas.

Pazuzu, com suas mãos/patas voltadas para cima e para baixo, representava os ventos quentes da mesopotâmia, expressando os lados que traziam as tempestades e as ventanias nestas regiões. 
 O demônio e deus assírio-babilônico Pazuzu é mostrado em formas de amuletos como leão grande com orelhas pontudas, uma boca rosnando expondo gengivas e quatro dentes caninos, e uma barba cheia ao redor de seu queixo. Um par de chifres de cabra varre sua testa. Imagens do demônio em sua forma completa mostram-no como uma figura composta de muitas criaturas diferentes: Ele tem uma cabeça de leão ou cão, um corpo escamoso com dois conjuntos de asas, mãos humanas ou patas de leão, cauda de escorpião, pênis de cabeça de serpente e pernas e garras de uma ave de rapina. Ele é muitas vezes retratado com o braço erguido em um gesto ameaçador. Das inscrições escritas às vezes no dorso de suas asas ou cabeça, é sabido para representar o vento quente, seco, ventos do sudeste da Mesopotâmia.

Como parte de um núcleo que o liga à deuses e demônios, retratados nesta cultura como espíritos malévolos e caóticos, ele possui as características que o classificam como deus-demônio das pragas, epidemias, doenças, catástrofes e dores.
Ele era chamado de ''Pai dos Espíritos Malévolos dos Ventos" e trazia as tempestades e caos ao redor das montanhas. 
Por muito tempo ele foi representado como um ícone de poder e proteção espiritual, como deus-demônio, era encarregado de livrar as crianças e as mulheres gravidas dos espíritos que causavam danos e morte, livrava as mulheres grávidas dos abortos espontâneos e dos males que envolviam a gravidez. Sendo assim, ele se torna simbolo iconográfico de desarmonia em sua simbologia totalmente complexa.

Por mais que possuísse características distintas e complexas, era ele um dos encarregados de trazer as chuvas com seus ventos do sudoeste. Suas diversas formas que montam seu corpo são formas animalescas que o conecta diretamente com o mundo animal, metamórfico e real.
Em tempos de seca, ele trazia a esterilidade, a fome e a fome. Isso nos faz perceber que em suas diversas formas e aspectos, o Escorpião e a Serpente se fazem presentes, representando animais ligados à aridez, que também possuem venenos causadores da dor e algumas vezes a morte. 
Sua ligação com as aves o ligam diretamente aos céus que e suas características leônicas o fazem parecer mais próximo da terra e da atuação do poder espiritual no plano físico. Sendo também bem avaliado o fato de uma de suas mãos estar abaixada e a outra levantada (Terra e Céu, Masculino e Feminino).
Ele claramente era um deus que trazia a chuva em seu pior modo, e com ela as pragas e as doenças virais. Aparentemente era um ser que podia mudar de forma quando quisesse, como se fosse um espírito ''zombeteiro'' ou um ''camaleão instintivo e sagaz".

Por mais que fosse um ser com aspectos malévolos, Pazuzu era uma divindade claramente protetora. Protegia aqueles que o chamavam de coração aberto, mas era especificamente um protetor das mulheres grávidas, dos fetos e das crianças recém-nascidas. 
Era ele o responsável por proteger os recém-nascidos dos espíritos da terrível deusa Lamashtu, que regia mortes e se alimentava de bebês. Sendo assim, Pazuzu era cultuado e invocado com seus amuletos e imagens, que o representavam de formas frias, nada acolhedoras, e maléficas.

As mulheres grávidas costumavam colocar os amuletos em cima da barriga e em cima dos locais onde as crianças recém-nascidas dormiam. Era comum, também, pendurar os amuletos com imagens de Pazuzu em algum local à cima da mulher que estava em trabalho de parto. Pingentes pequenos eram presos em roupas das mulheres a fim de protegerem seus bebês.

Por fim, pode-se dizer que Pazuzu é uma verdadeira polaridade dos complexos meios naturais da vida e das crenças mediterrâneas. Pazuzu pode ser tanto um deus-demônio animal ou humano, ele possui todas essas características em si... Ele é o ar que move os espíritos catastróficos para as montanhas, quanto a própria terra negra e seca, estéril, que traz o desespero e medo aos povos que dependem da colheira pata sobrevivência.
De um modo mais histórico, ele, quanto a terrível deusa Lamashtu, seria uma representação das questões de natalidade daqueles povos que dependiam da terra, quando a mesma falhava trazendo fome e seca. O mesmo fato se enquadra com os temporais que enchiam os rios, quando realmente chovia, trazendo os peixes e sapos à borda e às residências, e quando a água voltava ao seu nível original, esses animais, mortos, ficavam à beira do rio e tornavam-se alimentos para animais e insetos que traziam doenças e outras pragas aos povos dali.

Fonte: http://politerraneo.blogspot.com/2016/11/pazuzu-deus-demonio-ou-os-dois.html

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