Quando se considera os manifestantes nas portas dos quartéis como base para a análise, podemos observar que a religião ocupa um papel central na mobilização, na justificação do movimento e na constituição da performance do grupo.
Há entre eles a presença de diferentes crenças, principalmente católicos, espíritas, espiritualistas e evangélicos. São, entretanto, versões ultra-conservadoras dessas crenças, a partir da interpretação religiosa dos próprios manifestantes, sem grande respaldo entre lideranças ou denominações formais.
Entre evangélicos, como simpatizantes do movimento podemos conferir figuras do universo gospel e pastores de igrejas locais, sem alcance nacional. Uma exceção é o pastor Magno Malta, eleito senador pelo estado do Espírito Santo, que por sua posição na política se torna um líder evangélico importante.
Vale dizer também que algumas das figuras evangélicas locais possuem números relevantes de seguidores nas redes sociais. Entre eles, o pastor Sandro Rocha, que “profetizava” em suas lives e cultos que o exército e a polícia iriam se juntar ao povo para impedir o comunismo no país, e que para isso era importante que as manifestações continuassem.
Rocha é parte da Igreja Porto de Cristo, de Guaratuba, no interior do Paraná, e possui mais de 450 mil seguidores em seu canal do Youtube. Falas como a dele foram ajudaram a mobilizar os manifestantes para os atos de 8 de janeiro.
Pelo que circula nas redes sociais até o momento, podemos identificar algumas figuras do universo evangélico in loco no episódio do Capitólio Brasileiro: pastor Thiago Bezerra, de Goiânia, os cantores gospel Salomão Vieira, Michele Nascimento, Fernanda Oliver e Wesley Ros, os pastores Mari Santos, de Manaus, e Ricardo Martins.
Nenhuma dessas figuras possui grande expressão. As marcas do pertencimento evangélico entre os manifestantes, entretanto, são mais aparentes: há diversos vídeos de manifestantes orando hinos conhecidos do universo pentecostal, com destaque para hinos da harpa cristã, das Assembleias de Deus.
Em termos de repercussão entre as grandes lideranças evangélicas, mais uma vez a postura apresentada foi dúbia: Sóstenes Cavalcante, líder da bancada evangélica, postou em um dos seus perfis que “ver um descondenado,(sic) virar presidente causa revolta”, mas ressaltou que não compactuava com os atos e rogava para que a ordem fosse restaurada.
Marco Feliciano postou uma mensagem em tom semelhante, dizendo que a revolta popular seria legítima, mas os “ânimos acirrados teriam levado a depredações não legítimas”.
Silas Malafaia, em vídeo com o tom agressivo que lhe é de costume, ressaltou que a esquerda já tinha feito ocupações em prédios públicos sem que fosse chamada de antidemocrática e tachou de antidemocráticos os inquéritos conduzidos por Alexandre de Moraes, ressaltando que é “contra os excessos”, mas que a “paciência do povo tem limites ".
A ocupação dos edifícios dos três poderes da República foi mais do que um episódio de vandalismo e se configura em um atentado contra a democracia brasileira. Foi um evento gravíssimo, que ganha contornos ainda mais sérios quando se leva em conta que o movimento golpista conta com simpatizantes entre setores das forças militares do país, além de ser orientado por uma ideologia extremista, que não tolera a diferença e o diferente.
A religião é um aspecto importante para se examinar o que aconteceu ontem em Brasília, mas, até o momento, evangélicos não se envolveram com os movimentos golpistas com a mesma intensidade com que estiveram presentes na campanha presidencial de 2022.
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/o-tamanho-da-influencia-evangelica-no-capitolio-brasileiro/
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