Para desenvolver seu sistema, Aarne baseou-se em contos finlandeses e dinamarqueses (coletados por Grundtvig) e alemães (antologia dos Grimm).
Stith Thompson encarregou-se da segunda edição do texto de Aarne (dessa vez em inglês), mas de tal forma ampliou e completou o sistema de classificação, que se tornou co-autor do trabalho.
A terceira edição, igualmente elaborada por Thompson, saiu em 1961 e contém um material sete vezes maior do que a primeira edição de 1910. Tendo em vista a substancial colaboração de Thompson para completar a versão definitiva, hoje a classificação é conhecida com a denominação "Aarne/Thompson".
UMA PEQUENA ORIENTAÇÃO PARA SE ENTENDER O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO
A classificação elaborada por Aarne/Thompson divide os contos segundo unidades temáticas, ou seja, a identificação de cada conto se baseia no tipo de enredo e no tipo de personagem que ele contém. Para começar, Aarne e Thompson agruparam os contos de fadas em quatro grupos maiores: "contos de animais", "contos propriamente ditos", "facécias ou anedotas" e outros contos que não se encaixam em nenhum dos grupos anteriores. Esses grupos maiores subdividem-se mais uma vez, por exemplo: há 900 tipos de "contos propriamente ditos" (identificados com os números de 300 a 1199), os quais se subdividem em "contos de fadas ou de encantamento", "contos de fadas legendários ou religiosos", "contos de fadas novelísticos" e "contos de fadas sobre o gigante, ogro ou diabo logrados". Os "contos de fadas ou de encantamento", por sua vez, dividem-se em "contos com opositor sobrenatural", "contos com cônjuge (ou outro parente) sobrenatural ou enfeitiçado", "tarefa sobrenatural", "ajudante sobrenatural", "objeto mágico", "poder ou conhecimento mágico" e contos com "outros elementos mágicos". Finalmente, esses grupos menores dividem-se em unidades temáticas.
No caso, por exemplo, em que o protagonista é incumbido de uma "tarefa sobrenatural", tal tarefa pode ser de 40 tipos (cada um correspondendo a uma unidade temática). Por exemplo, o tipo identificado pelo número AT461 aplica-se a contos cujo enredo fala de um protagonista que deve procurar o diabo e arrancar-lhe três fios de cabelo. Dessa forma, todos os contos em que essa unidade temática é predominante, recebem este número. Dentre os contos dos Irmãos Grimm (veja-se a relação de suas obras), o conto intitulado O diabo e os três fios de cabelo (na tradução de David Jardim Jr.) é do tipo AT461.
Outro exemplo digno de nota é o de contos com um protagonista (feminino ou masculino) com cônjuge ou parente enfeitiçado, dos quais Aarne e Thompson identificaram 60 tipos diferentes. O tipo AT451 corresponde a contos em que o protagonista tem irmãos que são transformados em pássaros. Essa descrição corresponde a TRÊS contos dos Irmãos Grimm – Os sete corvos, Os doze irmãos e Os seis cisnes –, além de aplicar-se ainda ao conto Os cisnes selvagens, de Andersen. Em outras palavras, cada número da classificação Aarne/Thompson não identifica um conto sozinho, mas uma unidade temática, e esta pode ser compartilhada por inúmeros contos.
A principal vantagem desse sistema de classificação é permitir o mapeamento das semelhanças entre contos de fadas do mundo inteiro. Assim, por exemplo, se um pesquisador da Ucrânia diz que existe em seu país um conto do tipo AT451, podemos saber – mesmo sem ter acesso ao conto em si – que ele é uma narrativa em que o protagonista precisa resgatar seus irmãos transformados em pássaros. Obviamente o conto ucraniano pode ter detalhes muitíssimo diferentes dos três contos dos Irmãos Grimm (que também diferem entre si e diferem do de Andersen), mas, ainda assim, a classificação será a mesma, pois o que importa é que aquela unidade temática (ter irmãos transformados em pássaros) é compartilhada.
Segue-se uma lista abreviada dos grupos em que se subdividem os contos de fadas segundo a classificação Aarne/Thompson.
O homem no céu
[O alfaiate no céu (AT800)]
Contos de fadas novelísticos (850-999): contos de fadas cujo enredo gira em torno de circunstâncias curiosas ou inusitadas, chegando em muitos casos a dispensar por completo o elemento mágico ou sobrenatural.
A mão da princesa é conquistada (p. ex. pela adivinhação)
[O enigma (AT851)]
A megera domada
[Rei Bico-de-tordo (AT900)]
O rapaz esperto (ou a moça esperta)
[A esperta filha do camponês (AT875)]
Histórias de ladrões e ladroagens
[O noivo salteador (AT955)]
Contos sobre o gigante, ogro ou o diabo logrados (1000-1199): contos em que o protagonista recorre à astúcia e inteligência para enganar algum oponente monstruoso, o qual pode ser um gigante, um ogro, o Diabo ou outro ser maléfico desse porte.
Pacto de serviços a serem prestados
[O gigante e o alfaiate (AT1049)]
Tarefa realizada em conjunto com o diabo
[O camponês e o diabo (AT1030)]
Ogro mata seus próprios filhos
[O amado Roland (AT1119)]
Facécias ou anedotas (1200-2399): contos de fadas com traços jocosos ou anedóticos.
Facécias sobre simplórios
[João com sorte (AT1415)]
Facécias sobre casais
[Frederico e Catarina (AT1387)]
Facécias com protagonista feminino
[Berta, a esperta (AT1450)]
Facécias com protagonista masculino
[O bom negócio (AT1642)]
Facécias sobre mentiras
[O mangual do céu (AT1960A)]
Contos acumulativos (2000-2399): contos que se caracterizam pela repetição sucessiva de uma mesma seqüência (de falas, ações, etc.) ao longo de todo o texto.
[A morte da Galinha Nanica (AT2021); O piolhinho e a pulguinha (AT2022)]
Outros – Tipos não classificados (2400-2499)
Dos 2000 lugares previstos, Aarne completou apenas 540, deixando, portanto, espaço para outros tipos ou mesmo subgrupos. Thompson incluiu nas facécias os contos acumulativos e introduziu um grupo de contos diversos (outros).
Fonte: https://volobuef.tripod.com/page_maerchen_classificacao.htm
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