sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

O mistério de um culto popular

Dizem que entre o século XI e XIII um culto dominou diversos lugares da Europa: a veneração de figuras femininas, de cor negra, carregando uma criança no colo.
Aqui começa uma boa discussão, pois a imagem desses cultos é chamada de Madona Negra e de Virgem Negra.
A suposição, mais recorrente, especialmente no Paganismo Moderno, é que este seria um indício dos resquícios de antigos cultos das "Deusas Mães".
Essas imagens são, provavelmente, originadas do Oriente Médio e foram trazidas à Europa pelos Cruzados.
De acordo com o Gnosis Online:
As Cruzadas, porém, foram as grandes divulgadoras da Madonas Negras. Estatuetas negras encontradas em fontes, grutas, galhos de árvores, das quais emanava um profundo sentimento do Sagrado, eram trazidas por eles, que as cristianizavam, colocando o manto e a coroa de Nossa Senhora sobre uma estatueta pagã.
(https://www.gnosisonline.org/o-misterio-das-madonas-negras/)
Não obstante, as Deusas citadas como referência (Ísis, Cibele e Diana de Éfeso) são representações culturais. Em análise mais ampla, as representações de Ísis, Cibele e Diana não estão vinculadas à etnia africana.
Outro embaraço é a contradição, se a imagem é de uma mãe com seu filho, como pode ser virgem? Os cultos antigos das Deusas Mães eram frequentemente associados a rituais de fecundidade e fertilidade, seguido ou antecedido pelo culto ao Deus consorte vinculado a essas Deusas. Era crucial o culto onde a Deusa unia-se com o Deus no Hiero Gamos, sem o que, o campo e o gado não produziriam. Em um sentido mais místico, o mundo deixaria de existir.
O dogma da concepção virginal e imaculada pertence apenas à mitologia cristã.
O culto às Deusas foi proibido, obscurecido e varrido diligentemente pelos padres. Eventualmente o sincretismo religioso fez com que a religião popular tenha adotado a veneração de Maria (e outras santas) como uma forma (velada) de continuar com a adoração às Deusas antigas, mas tendo perdido o referencial (ou qualquer associação étnica).
Por mais belo e inspirador que isso possa ser, nós não podemos distorcer os fatos por um romantismo ideológico. Maria não é um aspecto de qualquer das muitas Deusas que conhecemos. Nós não podemos conciliar os mitos antigos com a doutrina e mitologia cristã.

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