sábado, 10 de dezembro de 2022

O absurdo do pensamento conservador

Eu li alguns textos de autoria de Dennis Prager e a conclusão é de que a ideologia dele é baseada em princípios simples:

1- se eu não conheço algo, isso não existe;
2- se eu não concordo com algo, isso deve ser combatido.

Partindo desse pressuposto, eu cito, analiso e critico o texto "A Era do Absurdo".

Nº 1: Os homens dão à luz.

Encabeçando a lista deve estar a redefinição radical – na verdade, a negação de – sexo e gênero, levando a declarações que desafiam a realidade como “homens dão à luz”, “homens menstruam”, “pessoa que dá à luz” em vez de “mãe” e a os parques temáticos da Disney não cumprimentam mais os visitantes como "senhoras e senhores" ou "meninos e meninas".

#1: como todo bom conservador, Dennis simplesmente não conhece e ignora a enorme literatura científica e médica que demonstraram a existência de pessoas intersexuais. Essas pessoas passaram por uma cirurgia "corretiva" para que ficassem "adequadas" ao padrão (impositivo e arbitrário) binomial de gênero, tal como este é estipulado (de forma irracional e dogmática) pela sociedade. Mais tarde, com o tempo e a maturidade, essas pessoas descobrem que seu gênero é incompatível com seu sexo biológico. Para isso que se faz as cirurgias de redesignação sexual, dando origem a homens e mulheres transgêneros. Então, ainda que Dennis negue e fique irritado, vai continuar acontecendo de "homens" darem à luz.

Nº 2: É justo permitir que homens biológicos compitam em esportes femininos.

Devemos acreditar que os homens biológicos não têm uma vantagem física inata ao competir contra as mulheres. Isso é afirmado como verdade por todas as universidades da Ivy League, praticamente todas as outras universidades, a maioria das escolas de ensino médio e praticamente toda a mídia de elite.

#2: uma repetição do #1. Mas vamos focar no argumento. Dennis diz que "homens biológicos" têm uma vantagem física. Eu acho muito pouco provável que um "homem biológico" comum (digamos, eu), teria qualquer chance de competir com uma atleta olímpica.

No. 3: Desfinanciar a polícia e o crime diminuirá.

Devemos acreditar que com menos policiais teremos menos crimes violentos.

#3: para Dennis, mais policiais é igual a mais segurança. Ele não deve ter visto as notícias falando da violência policial.

Nº 4: A segregação racial é antirracista. A oposição à segregação racial é racista.

A Columbia University e muitas outras universidades têm dormitórios e graduações totalmente negros. Eles sustentam que a segregação racial não é racista. A oposição a isso é.

#4: Dennis tem um sério problema de percepção social. Eu acho provável que ele nunca leu ou estudou um único livro de sociologia. Algumas faculdades oferecem esse serviço exata e precisamente para evitar conflitos causados pelo racismo.

Nº 5: “Latinx”.

Como a sexualidade humana “não é binária”, as línguas com substantivos de gênero devem ser castradas, levando a rotular os latinos de “Latinx”. O fato de praticamente ninguém da ou morando na América Latina usar essa palavra absurda não incomoda o The New York Times ou sua universidade local.

#5: Dennis não leu a obra de Sexto Empírico "Contra os Gramáticos". Ele deve acreditar que uma mesa é feminina e um chapéu é masculino. Objetos não tem sexo biológico, mas têm gênero, o que detona o senso comum que acha que gênero e sexo biológico são as mesmas coisas.

Nº 6: Sua raça é importante.

Um dos aspectos menos importantes do ser humano é a cor de sua pele. Não é mais importante do que a cor dos sapatos.

Sua insignificância é facilmente demonstrada. Se você conhece a cor da pele de uma pessoa, você sabe alguma coisa sobre ela? A resposta, claro, é não. Se conheço sua raça, não sei mais nada sobre você. E se acho que posso determinar algo sobre você com base em sua raça, sou um racista.

#6: repetição do #4. Como um bom americano médio (branco, heterossexual e cristão) Dennis não vê o racismo estrutural nos EUA. Como é pouco provável que ele tenha lido ou estudado sociologia, ignora os motivos pelo qual os afro americanos (e todos os afrodescendentes) fazem questão da identidade étnica.

Nº 7: Diversidade é força – e os países mais felizes do mundo são Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia.

É um axioma do acordado, o lar do absurdo, que “a diversidade é nossa maior força”. No entanto, o The New York Times, a principal voz da mídia na Era do Absurdo, publicou um artigo de opinião sobre os países mais felizes do mundo. O segundo parágrafo começava assim: “Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia lideraram o ranking de 2018 do Relatório Mundial de Felicidade”.

Nem uma vez o Times ou o escritor notaram que os quatro países “mais felizes” do mundo não são tão diversos. Na verdade, eles estão entre os países menos diversificados do mundo ocidental. Eles são quase inteiramente brancos, quase inteiramente cristãos protestantes (ou de origem cristã protestante) e todos os seus cidadãos falam a mesma língua. A América, por outro lado, é de longe o experimento mais radical em diversidade racial, religiosa e étnica.

#7: mentira. Os países do norte europeu são felizes graças aos programas assistenciais, de inspiração do Socialismo.

Nº 8: A liberdade de expressão não permite discurso de ódio.

“Sou pela liberdade de expressão, mas não pelo discurso de ódio” é a opinião de quase metade dos jovens americanos e praticamente de todas as suas elites. A crença no absurdo é tão difundida que essas pessoas não entendem que a afirmação é autocontraditória. Isso torna as palavras “liberdade de expressão” sem sentido. Por definição, a liberdade de expressão permite o discurso de ódio. Se não, “liberdade de expressão” significa nada mais do que o discurso com o qual se concorda.

#8: eu vou citar um texto que tem a melhor resposta a essa falsa equivalência.
"Dizia Popper em seu paradoxo da tolerância que na democracia tudo é tolerável menos a intolerância, porque a intolerância pode aniquilar a democracia. Quem defende o direito de expressão para clamar por algo, em sua natureza antiético, só ajuda a que aberturas democráticas sirvam para levar à cova o próprio regime."
-Marcelo Uchôa.

Nº 9: Você não é um ser humano até que você nasça.

Não há necessidade de acreditar em Deus ou em qualquer religião para entender o absurdo dessa afirmação. Se não somos seres humanos até o nascimento, o que somos cinco minutos – ou cinco meses – antes do nascimento, quando temos um batimento cardíaco e ondas cerebrais? Não-humano?

#9: não é surpresa alguma que Dennis seja contrário ao aborto. Pelas mesmos motivos irracionais e dogmáticos do Fundamentalismo Cristão. Curiosamente essa mesma gente defende a pena de morte.

Nº 10: O capitalismo é mau.

A pobreza extrema tem sido a norma para quase todas as pessoas ao longo da história. No entanto, somente no século passado, bilhões de pessoas saíram da pobreza. E só há uma razão: o capitalismo.

#10: eu não fico espantado com a ignorância (ou má-fé) do Dennis em distorcer fatos da história. A sociedade na Idade Antiga era diferente da nossa, as pessoas eram pobres por diversas circunstâncias. O capitalismo é o único modo de produção econômica que consiste na manutenção da desigualdade e na (re)produção da pobreza e miséria. O que tem tirado as pessoas da pobreza são os programas assistenciais, de inspiração do Socialismo.

Nº 11: A América é sistematicamente racista.

O manifesto absurdo dessa afirmação é facilmente demonstrado. Nas últimas décadas, mais de três milhões de negros imigraram da África e do Caribe para a América. E provavelmente dezenas de milhões mais gostariam. Todas essas pessoas são tolas - escolhendo se mudar para um país sistemicamente racista? Eles são ignorantes - sem saber que a América é sistematicamente racista?

#11: Dennis ignora (ou omite, de forma desonesta) as políticas de imigração dos EUA. Dennis ignora a violência policial. Dennis ignora a desigualdade social seletiva contra os afrodescendentes. As pessoas buscam abrigo (refúgio) nos países onde eles procuram por uma oportunidade, da mesma forma que os Patriarcas Americanos. Se Dennis (em seu racismo enrustido) se sente tão incomodado com a chegada de imigrantes, ele deveria falar com os governantes dos países ricos para parar de explorar os países emergentes/pobres, parar de financiar guerras civis nos países emergentes/pobres e implementar programas assistenciais nos países emergentes/pobres.

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