sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Ascensão e queda

Os Ingleses tiveram Henrique VIII, os Franceses tiveram Luís XIV.
A história da nobreza européia é repleta de segredos e escândalos. Eu escrevi aqui em algum lugar sobre o Caso dos Venenos.
Das envolvidas, apenas La Voisin foi condenada e morta. Durante o processo que a condenou, surgiu uma denúncia grave: ela tinha, com a ajuda do padre Étienne Gibourg, executado uma "missa negra" com a participação de Madame Montespan.
Isso causou muito embaraço ao poderoso rei Luís XIV, pois foi citada no processo a sua amante favorita.
Quem é essa cortesã que foi tão influente e poderosa? Citando sua biografia no Aventuras na História:

Madame de Montespam nasceu em 06 de outubro de 1640, em Lussac-les-Châteaux, na França. Seus pais Gabriel Rochechouart de Mortemart e Diane de Grandseigne vinham de uma das famílias mais nobres francesas.

Garantindo sempre uma vida de luxo e conforto, aos 12 anos foi enviada para o convento de Santa Maria para receber uma educação apropriada para sua posição social. Só deixou o internato após 13 anos, para realizar o sonho da maioria das mulheres que frequentavam a corte: ser dama de companhia.

Acabou indo trabalhar para Henrietta da Inglaterra, esposa do irmão de Luís XIV. Françoise logo ficou conhecida como uma das mulheres mais lindas da corte. Participava sempre de bailes e jantares cedidos pela coroa, se destacando por seu carisma e encanto.

Em 1663 casou-se com Luis Henrique de Pardaillan, o Marquês de Montespan, de quem teve dois filhos. Em 1667, o Rei Luís XIV se apaixonou pela mulher e a tornou sua amante. Por mais que quisessem manter o relacionamento escondido, todos acabaram descobrindo e seu marido provocou um enorme escândalo e acabou sendo exilado do castelo.

Contudo, ser uma mulher na corte era uma tarefa extremamente complicada, muito pelo fato das figuras femininas poderosas eram sempre consideradas amantes do rei. Assim, ela sofreu com humilhações, um exemplo que pode ser citado é o fato de na hora da missa, os padres se recusavam a lhe dar a comunhão.

(...)

Ainda que detivesse o posto de amante oficial do soberano, o grande líder acabou se apaixonando por Françoise d’Aubigné, até então Marquesa de Maintenon, que tinha sido escolhida pela própria Montespan para cuidar de seus filhos. A relação do rei com a antiga amada já estava em seu fim, que contribuiu para que o próprio se apaixonasse por outra, para o descontentamento da mulher.

Além de trocada, foi acusada de envolvimento com feitiçaria, foi considerada suspeita pelo envenenamento de Marie Angélique de Scorailles, em 1681. Marie, no período era a nova favortia do imperador, deu a luz à um natimorto e morreu devido a complicações no parto.

Com a imagem desgastada, Françoise passou a ser considerada uma perigosa bruxa, e a possibilidade de envenenamento de uma jovem só acabou mais ainda com sua reputação no meio da realeza.

Luís XVI com medo de seu nome ser envolvido nesse alvoroço, ordenou que todas as acusações contra ela fossem arquivadas e seu nome não fosse mencionado novamente em nenhum documento.

A antiga dama de companhia passou seus últimos dias reclusa em no mosteiro de Saint-Joseph, em Paris e acabou falecendo por causas naturais em 1707.

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/reportagem/madame-de-montespam-de-queridinha-da-corte-de-luis-xiv-a-bruxa.phtml

Como conhecedor de história, antropologia, religiões antigas e bruxaria, eu considero inadequado a forma como dizem ser a origem das missas negras.
No século XVI nós podemos ver exemplos de paródias de missas. Existe o registro histórico da Festa do Asno no século XI e da Festa dos Tolos no século XII. No histórico das Cruzadas, os Templários eram acusados de realizar rituais "satânicos". Outros grupos, os considerados "heréticos", eram igualmente acusados de subverter a missa cristã, quando não eram acusados de realizarem rituais sacrílegos, um padrão que foi usado posteriormente para perseguir, prender, torturar e matar pessoas pela acusação de bruxaria. Assim, as assembléias das bruxas (aquelarre/sabá) foi equiparado (e confundido) como sendo uma "missa negra".

Entre os séculos XVI e XIX, missas negras eram realizadas como uma forma de protesto (por nobres e padres) contra a Igreja. Com tanta procura por esses deboches ritualísticos, muitas pessoas (vigaristas, farsantes, estelionatários) trataram de contentar o cliente. Isso aconteceu no início do Espiritismo e acontece atualmente na popularização do esoterismo.

Madame Montespan foi poupada. Mas não foi o caso do polêmico Gilles de Rais. Joana D'arc, sua companheira de armas, foi transformada de herege em santa. Mas ele continua sendo o (criminoso) Barão Azul do Ocultismo.

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