quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O "livro do Diabo"

Autora: Maura Martins.

Por séculos, mulheres foram acusadas de serem bruxas e de terem pacto com o demônio. Mas como estas pessoas supostamente firmavam esta aliança com o diabo? Segundo o cristianismo puritano, de origem calvinista, isto era feito com o indivíduo assinando o "livro do diabo", com pena ou com sangue. Só depois disso é que a pessoa virava bruxa e adquiria poderes demoníacos para prejudicar os outros.

Durante o julgamento das bruxas de Salém, uma parte importante da condenação envolvia achar uma testemunha de que a acusada tinha assinado o tal livro. Algumas das rés foram denunciadas por fazer isso estimuladas por espectros (ou seja, por fantasmas).

A figura do "livro" era importante porque se relacionava com a crença de que os membros da igreja também fizeram uma aliança com Deus e assinaram este livro. Portanto, no caso da "epidemia" de bruxaria em Salém, fazia sentido pregar que isso teria ocorrido do lado oposto.

A história de Tituba

Tituba foi uma mulher escravizada no século XVII que pertenceu ao reverendo Samuel Parris de Salem, uma das figuras mais marcantes no famoso julgamento. Ela foi uma das primeiras três pessoas acusadas de bruxaria na ocasião deste tribunal, ocorrido em 1692.

A mulher declarou no julgamento que foi espancada por seu escravizador e que foi obrigada a confessar a prática de feitiçaria. No seu depoimento, ela teria "confessado" a assinatura do livro do diabo, e algumas testemunhas declararam tê-la visto fazer atos típicos de uma bruxa, como levitar.

Por confessar o suposto crime, Tituba se livrava do enforcamento (as punições com morte eram apenas para quem se recusava a confessar). Ela foi julgada em 1963 pelo Superior Tribunal de Justiça, que a absolveu do "pacto com o diabo".

O juiz em questão, John Hathorne, a questionou diretamente sobre a assinatura do tal livro. Ela então disse que assinou o livro com algo "vermelho como sangue", dando-lhe alguma margem para mais tarde dizer que havia enganado o diabo ao usar alguma substância vermelha que não era o seu próprio sangue.

Tituba também teria dito que viu outros nove nomes no livro, mas só conseguiu identificar os de Sarah Good e Sarah Osborne. Por conta disso, os acusadores começaram a incluir perguntas nos depoimentos sobre essa assinatura nos livros. Considerava-se que várias das rés teriam sido torturadas por fantasmas para assinar o tal documento.

Outras acusações

Em março de 1692, Abigail Williams, uma das primeiras acusadas nos julgamentos das bruxas de Salem, acusou Rebecca Nurse de tentar forçá-la a assinar o famigerado livro. Já em abril, Mercy Lewis acusou o fazendeiro Giles Corey falou que Corey apareceu para ela como um espírito e fez com que ela assinasse o livro. Depois deste depoimento, Giles foi preso e morto depois que se recusou a confessar o crime.

Vale lembrar que essa ideia do "pacto com o diabo", seja oralmente ou por escrito, era uma crença comum sobre a bruxaria. O exemplo disso é a obra Malleus Maleficarum, ou simplesmente Martelo das Feiticeiras, um livro escrito por dois monges que funcionava como um manual para "caçadores" de bruxas, já descrevendo o pacto como uma parte importante na associação com o demônio.

Fonte: https://www.megacurioso.com.br/amp/educacao/122679-a-historia-das-bruxas-que-teriam-assinado-o-livro-do-diabo.htm

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