terça-feira, 5 de julho de 2022

Gigantes deitados

"...Gigante pela própria natureza...
Deitado eternamente em berço explêndido..."
(Hino Nacional do Brasil)

Lá por 2013, no calor das manifestações contra o aumento das passagens de ônibus, quando apareceram os "black blocks", ninguém imaginava que esse seria o estopim dos "patos amarelos" que dariam origem aos "bolsominions".
Quem colheu os frutos e os louros das manifestações de 2013 foi o MBL. O MBL surgiu e pode ser caracterizado como um tipo de "alt-right", digital em termos midiáticos, mas reacionário em termos ideológicos.
A tarifa aumento muito mais do que $ 0,30, mas não vejo mais manifestações. A gasolina e o diesel estão com preços dolarizados, muito maiores do que na época do impeachment/golpe contra a Dilma e eu não vejo mais nenhum "pato amarelo".
O que ficou no lugar, tendo devidamente se apropriado do "uniforme" dos "patos amarelos", são os "bolsominions". Apoiados e alimentados por um farto buffet de fake news e teorias de conspiração por conservadores e direitistas como Brasil Paralelo, Brasil Sem Medo, Senso Incomum e Antagonista, são usados como massa de manobra pelo atual governo.
Parece esquisito ver pessoas apoiando voluntaria e livremente o atual presidente, a despeito de suas declarações estapafúrdias e demonstrações explícitas de que sua ideologia é semelhante ao Fascismo e Nazismo.
Nós temos a "desculpa" de sermos um país de terceiro mundo, atrasado, marcantemente conservador, sem consciência política, sem consciência de classe, indigentes culturais e educacionais.
Mas a Europa, chamado de Velho Continente, onde supostamente ficam os países ricos, de primeiro mundo, cultural e educacionalmente sofisticados, está vendo a volta do Fascismo e do Nazismo.
Deveria causar indignação e rejeição, mas a extrema-direita tem o apoio dos conservadores, da alt-right e do fundamentalismo cristão.
Não foi suficiente os inocentes mortos na loucura da Inquisição ou do Holocausto. A paranóia e histeria que domina a opinião pública atualmente (promovida por essa gente) é o ódio ao imigrante e ao homossexual.
Coisas que deveriam ter sido extirpadas de vez da humanidade: racismo, xenofobia, homofobia e fundamentalismo religioso.

Nessas manifestações criaram um vídeo mostrando o Brasil como um gigante que levantava da baía de Guanabara (eu vejo aqui um sinal de bairrismo provinciano) e caminhava (em direção a que, procurando o que, não se explica).
A Inglaterra tem dois gigantes adormecidos. Um em Cerne Abbas e outro em Wilmington. O primeiro é escandalosamente explícito, revelando todos os detalhes anatômicos de sua nudez. O segundo só tem uma linha de contorno, como legistas fazem para marcar a posição de um corpo morto no chão.
O gigante de Cerne foi feito por volta do século X DC e o gigante de Wilmington foi feito por volta do século XVIII DC. Não se sabe ao certo qual a intenção desse geóglifo (o de Cerne), nem quem é a figura representada, mas é intrigante que tal arte não tenha sido vilipendiada pelos cristãos.
A nudez do gigante de Cerne fica particularmente interessante, afinal, os Ingleses tem vários pruridos a respeito da nudez. Aliás, o mundo ocidental inventou inúmeros tabus sobre a nudez, especialmente a feminina e ainda tem a hipocrisia de criticar os muçulmanos.
Isso é parte da repressão/opressão sexual oriunda do Cristianismo, cuja doutrina condena tudo que tiver relação com o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer e o sexo.
Nosso estado natural é a nudez. A violência pode ser praticada em público, mas não a nudez. A civilização ocidental adquiriu essa vergonha porque adotou uma crença estranha, de outro povo, de outro mito.

Digam os apologistas o que quiserem. O Cristianismo foi uma seita que teve origem do Judaísmo e baseia suas crenças na leitura da Bíblia, composta do Velho Testamento (que veio da Torah) e do Novo Testamento.
Essa crença é resultado de uma imposição, não de uma opção. Ao longo dos séculos, nossa gente foi batizada sem ter conhecimento ou consentimento. Ao longo dos séculos, nossa gente é praticamente forçada a frequentar a igreja, ler a Bíblia (ou apenas os trechos pinçados pelo sacerdote) e a observar os feriados religiosos estipulados por essa igreja.
Em meus anos de vida, eu não conheci, até o momento, um único cristão que tenha lido a Bíblia por inteiro. O pouco que lê, não sabe interpretar, vai deixando ser manipulado (como rebanho que são) pelo sacerdote.
Nessa mitologia, Elohim (nome coletivo, portanto, diversos Deuses) criou o mundo, viu que tudo era bom e abençoou. Resumindo, tudo é criação divina, tudo é bom e abençoado. Em outra narrativa, Elohim ordena ao casal primordial para que cresçam e se multipliquem, portanto, sexo é algo bom, sagrado e divino.
Mas isso atrapalharia aos sacerdotes da sinagoga. Eles precisariam de algo para os colocar no domínio sobre seu povo. Então eles reescreveram uma mitologia antiga, na qual um(a) entidade dava a dádiva do conhecimento ao ser humano para que pudesse viver livre, feliz e alegre. Como "punição" por essa desobediência, o casal primordial foi expulso do Éden (Edingir, no original) e condenados a viver do suor do rosto. Estava criado o "pecado", a "culpa original" e o "trabalho".
Desde então esse povo só conhece a dor, o sofrimento, a vergonha, a tristeza, a privação e o medo. Como acreditavam serem descendentes do casal primordial, expulso de suas origens, nunca tiveram um território, eram nômades. Quando uniram-se em doze tribos, foi natural que quisessem ter sua própria terra, então os sacerdotes da sinagoga acrescentaram na Torah que Deus (Jeová, apenas um dos Elohim) lhes havia prometido Canaã. Só esqueceram de avisar os habitantes nativos. O resultado é esse conflito no Oriente Médio entre Israelenses e Palestinos.
O Reino de Israel durou algum tempo até ser conquistado pelos Babilônicos, Assírios, Persas, Macedônios e Romanos. Aquele povo cultivou o sonho de ver seu reino reconstruído, os sacerdotes da sinagoga providenciaram para que um profeta fizesse a promessa de que viria um mensageiro de Deus para purificar aquele povo do pecado (as constantes derrotas e escravidão era causada pelo pecado) para, então, o reino ser restabelecido como o Reino de Deus.
Foi assim que surgiram as seitas messiânicas, entre outras, em Judá. Os Romanos, tolerantes com as crenças dos povos que dominaram, somente ouviram falar dos cristãos por volta do ano 100 DC. Essa crença só teria relevância no século V, depois que Constantino decretou ser esta a única religião oficial do Império Romano.
Há uma grande possibilidade que a adoção dessa crença estranha e estrangeira tenha ajudado na queda de Roma. Infelizmente, os reinos que surgiram das ruínas de Roma foram devidamente cristianizados e subordinados à Igreja. Por muitos séculos, o poder secular esteve atado com o poder clerical, por isso que o Cristianismo é usado pelos grupos dominantes para manter as pessoas subordinadas.
Uma seita, surgida entre servos e escravos, tornou-se uma ferramenta para escravizar o mundo. A liberdade tão prometida pelo Cristianismo somente vai existir quando rejeitarmos essa doutrinação. Não existe pecado, não existe Inferno, o Deus Cristão é apenas um entre muitos e Cristo quer imitadores, não seguidores.

A liturgia wiccana diz: "como sinal de que estão livres, estejam nus em seus rituais". O Paganismo Moderno, em suas muitas vertentes, tem reconsagrado o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer. Apesar de ser escândalo e negado por alguns, a realização do hiero gamos é crucial na cerimônia wiccana.
A nossa comunhão com o divino é através do sexo. Nós devemos, portanto, retomar o domínio que sempre foi nosso, sobre o nosso corpo, o nosso desejo, o nosso prazer e o nosso sexo.
Nós estamos te esperando, venha para nosso círculo sagrado, no meio da floresta, debaixo da luz da lua.

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