Com essa cena do cotidiano em mente, eu fiquei pensando quando eu vi um adesivo imitando um comercial de cartão de crédito. Algo sobre "não tem preço o que Cristo fez" na vida do cristão.
Ao falar em preço, falamos de comércio e moeda. Então nós temos que considerar em termos econômicos, um sistema financeiro, bancário e produtivo. Também temos que considerar salário, imposto e juros.
Eu lembro de filmes que mostram cenas simulando o ambiente da Bolsa de Valores, algo que eu comecei a entender depois que eu li alguns livros sobre o assunto. A moeda é também um produto negociável, tem um valor relativo, por isso que o valor do real é variável diante do dólar.
Quem trabalha recebe um salário, supostamente, pelo valor de riqueza produzido, mas no Capitalismo existe a exploração e a expropriação. Quem trabalha, não tem acesso aos meios de produção, sua mão-de-obra (o aluguel dela) é a única forma do trabalhador poder subsistir. Se fosse um pagamento justo, o salário teria um valor maior, mas parte da riqueza que o trabalhador gera é retida pelo patrão, o que é chamado de expropriação. O trabalhador (geralmente) é a parte mais fraca, o patrão estabelece conforme sua conveniência o horário e o valore do salário, o que é chamado de exploração.
Eu poderia incluir as teorias da alienação e do fetichismo, mas isso entraria em uma análise sociológica. Voltemos a moeda, preço e comércio.
Não faz muito tempo atrás, pessoas eram compradas e vendidas como qualquer outra mercadoria (escravidão). Atualmente, não é difícil ver exemplos de pessoas que "se vendem".
Evidentemente, a propaganda cristã é baseada em trechos da Bíblia e na doutrina. Supostamente, Cristo "pagou" por nós, mas a propaganda não diz que tipo de mercado é esse nem as regras de comércio envolvidas.
Felizmente eu conheço a doutrina e estudei a Bíblia. A doutrina define que todos nascemos pecadores (eu escrevi algo sobre o pecado) e que o "salário" do pecado é a morte. A doutrina define que o sacrifício de Cristo irá livrar os cristãos dessa "morte certa" e irá conceder aos mesmos a vida eterna.
Então vamos partir disso como um tipo de princípio comercial. Por conta de nosso nascimento ou ações, nós temos algo a "pagar" ou a "receber". Para evitar a morte (espiritual), segundo a doutrina, Cristo se ofereceu como sacrifício e este seria (supostamente) o pagamento (que aqui, então, fica configurado como moeda), o que concederia ao cristão o acesso ao Paraíso.
Uma moeda só pode ser aceita se tiver valor nesse comércio. Então existe uma instituição financeira ou lastro que possa servir como fiduciário para o valor desse sacrifício. Então a pergunta óbvia é se o sacrifício é uma moeda aceitável e se tem fiduciário. A quem o cristão foi pago a propaganda não diz. Qual o banco que garante o sacrifício também não é explicado. E supostamente tem algo a pagar ou receber, mas isso não é explicado na propaganda.
Nos mitos e religiões antigas, era costume colocar moedas nos olhos dos finados para "pagar" Caronte, o barqueiro que atravessava as almas para o Reino de Hades, ou o Mundo dos Mortos. Em alguns casos, especialmente no caso dos chefes ou reis, animais eram sacrificados para "garantir" a viagem do finado.
O consenso geral, nos mitos e religiões antigas, é a de que todos nós, independente de quem sejamos, vamos para o mesmo lugar.
Como nós falamos de algo espiritual, eu sou forçado a entender que aqui funciona o princípio mais comum entre as religiões de que o sangue é moeda no mundo espiritual. Parece contraditório, mas sangue é a base do sistema financeiro e, portanto, tem valor, banco e comércio. Deve ter alguém que aceita esse sacrifício, que vai aceitar receber esse sangue como pagamento pela alma do cristão.
Como eu escrevi em algum lugar, essa promessa (pagamento) de Cristo é falsa, o sacrifício dele tem condições, como a própria doutrina deixa explícito.
No Mundo Humano é crime pagar algo com moeda sem valor, cheque sem fundo ou cartão vencido. Será que o Mundo Espiritual tem SAC? Muitos cristãos vão querer reclamar quando virem que foram enganados.
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