Eu farei uma análise do texto “Homotheosis na Arte”, que cita um texto atribuído a Claudiney Prieto.
Hoje inúmeras pessoas nos Estados Unidos, Europa e Austrália acabaram por formar seus próprios grupos baseados em Mistérios Pagãos com ênfase na homossexualidade, se reportando aos antigos cultos de Dionísio, Príapo, Pan, Eros, Ganimedes, Antinous entre outras divindades do êxtase e da liberdade sexual.
O apelo ao clamor popular é uma falácia bem conhecida. Dos personagens citados, apenas Antinous tem mitologia e ritual que podem ser considerados homossexual. Ganimedes tem mitologia, mas não era cultuado. Eros tem mitologia, mas não era cultuado. Dioniso tem mitologia e era cultuado, mas não tinha qualquer vínculo com a homossexualidade. Pan tem mitologia, mas não era cultuado. Príapo tem mitologia e era cultuado, mas seus cultos eram notavelmente heterossexuais.
Muitos são os Pagãos gays que se sentem excluídos com a visão heterossexista de algumas Tradições Pagãs, que consequentemente transformam o Paganismo em uma religião heteronormativa e separatista muitas vezes.
A exclusão ocorre de diversas formas na Comunidade Pagã. O autor, por exemplo, foi pivô de uma crise no meio diânico por ter recebido uma benção ou ordenação da Z. Budapest. A mesma causou comoção na Comunidade Pagã ao proibir que mulheres transgênero participassem de seus rituais. Z. Budapest, inclusive, negava que homens possuíssem espiritualidade e era contra o sacerdócio de homens. O autor mesmo, no início de sua carreira, fundou a “tradição” Diânica Nemorensis por acreditar que essa exclusão dos homens no sacerdócio no Dianismo era um empecilho ao seu empreendimento.
Por isso, formas de culto alternativas baseadas numa perspectiva mais pessoal, tornou-se uma solução para os homens que não se sentem à vontade em ter que encarar o Deus como princípio máximo heterossexual da masculinidade e do masculino, já que muitos Pagãos também são homens e não são heterossexuais.
No Paganismo Moderno existem inúmeros grupos e tradições que são inclusivas, pessoas de todas as sexualidades são acolhidas e vão encontrar rituais apropriados. O divino, portanto, engloba todos os gêneros, identidades, orientações e preferências sexuais. Em termos mais restritos, eu diria teológico, o Deus das Florestas tem diversas faces que abrangem todo o espectro da sexualidade humana, então tal “solução” torna-se inócua e desnecessária.
O crescimento de movimentos Pagãos feministas ajudou a incentivar a formação de muitos outros grupos focados no estudo e prática e de uma espiritualidade centrada na religiosidade e sexualidade não patriarcal. Estas buscas resultaram na formação de grupos que reuniram diversas pessoas previamente marginalizadas socialmente. Os gays, lésbicas e transgêneros incluem-se nessa tão massacrada categoria da sociedade.
O autor confunde o público omitindo a história do Paganismo Moderno. Como uma alternativa às religiões majoritárias, o Paganismo Moderno cresceu e tornou-se público por volta de 1960, época em que ocorreu a Contracultura, o Movimento Hippie e o início da popularização do esoterismo. Dentro desse histórico, foram fundadas duas vertentes do Dianismo, com notável influência feminista, senão misândrica. Como dito mais acima, esses mesmos grupos segregavam os homens e as mulheres transgênero. Como estudante da Wica, eu devo apontar que ela, por definição, é matrifocal, mas os ritos de iniciação são sempre “cross-gender”, ou seja, o homem inicia a mulher e vice-versa. Por definição, o Dianismo não é Wica.
Isto representou um passo importante na tentativa e processo de reverter uma situação de preconceitos, marginalização e misoginia que perdurou por séculos e que ainda é alimentada pela sociedade patriarcal machista.
Como dito acima, o preconceito e a segregação ainda estão presentes na Comunidade Pagã.
O movimento ao redor da formação de grupos que buscam uma espiritualidade gay distinta iniciou-se há muitos anos, com os pioneiros da espiritualidade Queer se juntando em sociedades alternativas com o intuito de explorar suas conexões com o Divino. Os primeiros registros desses grupos datam da década de 70. Eu mesmo durante muito tempo de minha vida tive problemas em me relacionar com a figura do Deus Astado, já que eu era homem como ele mas não era heterossexual como expresso na maioria de suas iconografias e mitologias. Ao ter contato com o Paganismo Queer eu pude perceber que existiam outras formas de encarar a figura do Deus, que ele representa o masculino em sua totalidade e tudo o que está contido nesse arquétipo e que ele era, inclusive, a expressão da homossexualidade tão renegada pelos segmentos tradicionalistas da Arte.
O autor confunde o público misturando a história da luta pelos direitos civis da Comunidade LGBT, a história do Movimento Queer e a história do Paganismo Moderno. O autor comete um equívoco teológico, afinal, nós somos filh@s de ambos, do Deus e da Deusa, nós somos formados tanto do Feminino quanto do Masculino. O Paganismo Queer é uma invenção contemporânea resultante da mesclagem da Comunidade LGBT e da Comunidade Pagã.
Isso me possibilitou uma nova percepção de espiritualidade e uma cura com o Sagrado Masculino que, até então, não tinha ocorrido comigo ao usar as referências mais comuns disponíveis de relação com a figura do Deus. Como Diânico, me relacionar com o Deus de Chifres sempre foi muito difícil uma vez que minha Tradição é extremamente orientada para a Deusa. A forma do Deus apresentada pelo Paganismo Queer tornou esta relação muito mais fluida e fácil para mim. O que eu percebi ao longo de todo esse tempo é que, como eu, muitos praticantes gays do Paganismo moderno percebem as figuras heteronormativas da Deusa e do Deus como demasiadamente limitadoras. Por isso, muitas crenças e práticas Pagãs entre os Queers foram autoconstruídas e/ou ampliadas pelos membros deste movimento. Uma das mais surpreendentes é a celebração de um Deus patrono dos gays, o Deus Queer. Este Deus é chamado por muitos outros títulos: Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho. Em cada um dos seus muitos aspectos o Deus Queer assume um atributo diferenciado e acredita-se que sua energia só seja acessada quando ele é invocado pelos gays.
Como nós somos filh@s de ambos, nós podemos nos relacionarmos tanto com o Deus quanto com a Deusa, através de nossos componentes masculinos e femininos. O autor mesmo admite a dificuldade que tinha nessa teologia centrada na Deusa, omitindo o Deus e ele se declara diânico. O autor confunde conceitos sociais, como a heteronormatividade, com conceitos teológicos. A Wica Tradicional, por definição, tem presente em seus cultos a união sagrada [hierogamos] do Deus com a Deusa, mas isso não significa que não existam rituais que utilizem a homossexualidade.
Muitos praticantes tradicionalistas da Arte acham absurda a ideia da criação de novos Deuses, mas esta prática é fundamento de todas as mitologias do mundo. Os homens criaram seus Deuses ao longo da história de acordo com suas necessidades espirituais, emocionais e materiais, assim como criamos um ideal social ou político elaborado ou simples.
O ateu é quem diz que o Homem criou seus Deuses. Essa não é a prática das mitologias do mundo. Historicamente, o Homem divinizou seres humanos e Ptolomeu Sóter foi quem “inventou” um Deus, um empreendimento que foi desastroso, afinal, deu condições para o Cristianismo “inventar” seu Deus. Os mitos são baseados na observação da Natureza, os mitos justificam os rituais e o conjunto fornece ao Homem suas necessidades espirituais e materiais. Agendas pessoais, sociais e políticas não são justificativas para inventar um mito ou um Deus.
Um Deus somente para os Queers pode ser considerado uma criação mitológica moderna simbólica para expressar reafirmação espiritual e identidade. Levando em consideração o tratamento que os gays recebem diariamente por parte da sociedade, o Deus Queer se transformou em protetor, companheiro e confidente para muitos que se sentem excluídos da religião e sociedade em função de sua opção sexual. Ao contrário do que muitos pensam essa figura do Deus não promove o separatismo, mas a inclusão. Ele é o Deus que conduz o ser ao reconhecimento do Sagrado dentro de cada um de nós e a aceitação de que o que é "diferente" é bom, pois promove a diversidade, pluralidade e multiplicidade e por isso deve ser celebrado e honrado.
Essa criação é desnecessária. A mitologia é extensiva, abrange a realidade universal, portanto, o que não falta são mitologias com conteúdo homossexual, com pode ser lido no texto Mitologia Queer. Então o autor apenas está [ab]usando de sua criação unicamente para preencher suas necessidades e inseguranças.
Para os Pagãos gays, o Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Ele é a própria imagem da Deusa refletida na luz do êxtase, no momento infinito da Criação. Tornou-se o seu primeiro amante e é a expressão do amor puro, a alegria ilimitada e a sexualidade em suas amplas manifestações. Ele representa não a heterossexualidade ou homossexualidade em si, mas a sexualidade como o abraço apaixonado do Divino, em cada um de nós e no Universo.
O autor confunde o público omitindo a fonte de seu delírio. Victor Anderson, que fundou a Tradição Fery, se apropriou do Deus do povo Yazidi, Melek T’Aus, para inventar o Dyan I Glass, algo que foi analisado e refutado.
Assim, quando nos ligamos a uma outra pessoa no êxtase do amor, seja numa relação homossexual ou heterossexual, abraçamos o Divino em nós mesmo, no outro e no Universo e nos ligamos ao momento infinito da Criação. Esta é a chave para começar a conexão com o Deus Queer. Sendo assim, Pagãos homossexuais ou bissexuais o consideram seu patrono, já que ele pode ser considerado masculino e feminino, amando e se relacionando com ambos. O Deus Queer é reconhecido em muitas Tradições de Bruxaria e em todas elas ele está relacionado ao Self Profundo, que é a corporificação do nosso Eu Divino, por onde emitimos e recebemos energia para trabalhar magia. Daí a grande importância da reafirmação de nossa sexualidade para a realização de atos mágicos. Então, para os gays, ele se torna uma figura poderosa não somente para a reafirmação de nossa espiritualidade, mas para o despertar de nosso verdadeiro propósito mágico, de nossa verdadeira magia.
Essa criação é desnecessária, afinal, existem mitos com temática homossexual e os ritos tem função e objetivos definidos. Esse “Deus Queer” não tem tal reconhecimento alegado. A operação de atos de magia, atos cerimoniais ou ritualísticos não servem para reafirmar a sexualidade, cada operação tem função e objetivos definidos e sustentados pela mitologia. Nenhum ato mágico, cerimonial, ritualístico ou sagrado irá solucionar essa insegurança em relação à sexualidade.
Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão. O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer e para entendermos isso podemos recorrer a uma história da Tradição Sufi, o ramo esotérico do Islamismo que é muito diferente de sua facção ortodoxa, que conservou muito de suas crenças e filosofia primitiva centrada na Terra e em antigas crenças pagãs dos povos do deserto:
"Quando a Luz se manifestou e se viu refletida na vastidão do universo pela primeira vez, como um espelho, percebeu o seu Self como um pavão com a cauda aberta."
O autor omite, mas como eu disse anteriormente, o “Deus Queer” é chamado de Dyan I Glass e é uma apropriação ofensiva, ao povo Yazidi, à sua cultura, religião, senão ao próprio Melek T’Aus.
Sendo assim, os olhos da cauda do pavão são os brilhantes centros de concentração da Luz, simbolizando as virtudes espirituais irradiadas por Ela. O desdobramento da cauda do Pavão simboliza o desdobramento cósmico da Luz, seus muitos olhos, sua onipresença. Muitos dizem que a forma encontrada na cauda do Pavão não seria os olhos da divindade primordial e sim a própria
imagem do Big Bang no momento da Criação ou o retrato do próprio Universo. Podemos perceber assim a similaridade entre a história Sufi e o mito da Criação da Tradição Feri de Bruxaria, onde o Deus Queer, chamado nesta Tradição pelo nome de Deus Azul, é o primeiro reflexo da própria Deusa:
"... naquele grande movimento, Myria foi levada embora e enquanto Ela saía da Deusa, tornava-se mais masculina. Primeiro, Ela tornou-se o Deus Azul, o bondoso e risonho Deus do Amor."
O autor prossegue com essa teofagia sem sentido, sem respaldo, copiando e misturando os conceitos da Tradição Fery com as crenças do povo Yazidi.
Eu vejo em tudo isso algo muito mais profundo do que a visão simplista do separatismo, etiquetar um movimento ou o mundo com títulos e estereótipos, argumentos muitas vezes usados para acusar aqueles que lançam novas ideias e interpretações de um contexto ou conceito que precisa ser revisto pela sociedade.
Quando o autor se identifica como homossexual, ele utiliza de uma etiqueta, de um rótulo, de um estereótipo. Ao difundir seu delírio sem respaldo ele está estabelecendo uma separação. Quando se diz em novas ideias e interpretações de um contexto ou conceito, o autor está equivocadamente anulando suas próprias premissas. A análise de um contexto ou conteúdo não é o mesmo que distorcê-los para justificar uma fantasia.
Para mim, o Paganismo Queer dá um novo sentido à espiritualidade humana, ao passo que a homossexualidade que foi tão renegada pela humanidade por séculos assume um sentido espiritual, avança e passa a fazer parte da vida de todas as pessoas em seu dia a dia como uma expressão sexual perfeitamente normal e sagrada, quando antes era vista como uma doença que devia ser banida da sociedade. Para mim isso é a expressão clara da ressacralização do que verdadeiramente somos.
O autor ignora a existência da mitologia queer ou mesmo da prática, na Grécia Antiga, dos erostes e eromenos. O que se pode dizer é que, durante os dois mil anos da dominação do Crisntianismo [ou seus parentes das religiões abraâmicas], houve repressão e opressão da sexualidade humana, em todas suas formas de expressão. Como dito anteriormente, não há necessidade alguma em inventar um Deus, nem mitos, nem rituais. Tudo isso foi resgatado e está sendo utilizado por inúmeros grupos do Paganismo Moderno.
A religião precisa compreender e responder às necessidades, tanto dos indivíduos quanto das comunidades a quem ela serve no mundo moderno. Quando uma religião não consegue adaptar sua estrutura aos avanços naturais do tempo, perde sua autoridade e se estagna. Isto faz com que seus símbolos deixem de inspirar e fortalecer seus seguidores, negligenciando suas experiências e marginalizando sua identidade e valores. Uma religião que não dialoga com sua comunidade se torna nula e vazia. O que os Pagãos Queer fazem é dar uma resposta a esta perda de significado espiritual, recriando novas formas de contatar o Divino que falem às experiências atuais daqueles que sentem e percebem o Sagrado de forma diferenciada. Isto cria uma tradição espiritual de poder, ligada àquilo que um dia existiu mas com raízes no presente, com uma visão abrangente e abertura para as gerações do futuro.
Conceito completamente absurdo e equivocado.A função de uma religião é o de reconhecer e estabelecer uma conexão com o divino. Qualquer espiritualidade, crença ou religião que serve a propósitos pessoais perde todo seu sentido. O propósito de uma espiritualidade, crença ou religião consiste nesta conexão do humano com o divino, não com agendas pessoais ou políticas.
Os Pagãos Queer reconhecem que ser diferente não é motivo algum para vergonha, mas uma dádiva a ser celebrada, uma aceitação dos desafios e jornadas individuais de celebração ao Sagrado Masculino que existe no interior de homens que amam outros homens.
O que o autor busca é uma muleta para suas inseguranças referentes à sua sexualidade.
O homem gay também deve restaurar os poderes do Deus que reside dentro de si. Há muito temos sofrido com os preconceitos e represálias da sociedade, que provocou verdadeiros traumas e problemas de auto-aceitação e baixa auto-estima.
Essa proposta é desnecessária e equivocada.
O Paganismo precisa rever muitos de seus conceitos, devolvendo aos gays os ritos que celebram os seus Mistérios sagrados, o que inclui transformar os rituais em cerimônias menos heterossexistas e mais abrangentes, para que todos possam contemplar a beleza numa religião que celebra e respeita a diversidade.
O Paganismo Moderno não é uma entidade consciente. Os homossexuais tem diversas opções na Comunidade Pagã para vivenciar os mitos e ritos sagrados com tendência homossexual. O que não pode acontecer, como o autor parece insinuar, é a exclusão dos mitos e ritos sagrados com tendência heterossexual.
O Paganismo Queer não fala em limitar a espiritualidade pelo gênero ou pela preferência sexual. Fala em ampliar os horizontes, dando aos Pagãos ainda mais opções para enriquecer sua espiritualidade. Não estamos falando aqui em um Paganismo onde seja suprimida a presença da Deusa. Pelo contrário, estamos falando da apresentação de um Paganismo que apresente o Deus de uma maneira diferenciada, como Ele nunca foi apresentado em outros segmentos da Arte e que considere os arquétipos divinos homossexuais do Deus como sagrados também.
Ao postular esse “Deus Queer”, o autor está ressaltando que o gênero e a preferência sexual são os motivos para tal empreendimento e isso constitui uma limitaçõa desnecessária, como foi dito acima.
No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela. Eu gosto muito do termo Queer para nomear esta nova forma de espiritualidade. Os precursores deste movimento deram o nome de Queer Paganism (Paganismo Queer) a este tipo de manifestação Pagã exatamente pelo sentido amplo da palavra:
"QUEER" - 1. ser fora do padrão, singular, diferente, o oposto de comum; 2. o contrário de hetero.
As opiniões e preferências do autor não servem como parâmetro para um argumento.
A palavra Queer dá margem para várias interpretações, mas ela jamais é usada de forma depreciativa, uma vez que significa simplesmente o oposto do comum. O Paganismo Queer pode ser transformador aos Pagãos gays, pois lhes auxilia a resgatar o verdadeiro significado de sua sexualidade e identidade.
Aquilo que é considerado “incomum” só pode ser asseverado em comparação ao que é considerado “comum”. Todas as expressões, opções, preferências e orientações sexuais são perfeitamente normais, naturais e saudáveis, essa distinção perde o sentido.
A cultura patriarcal apoiada no poder do Phallus talvez seja a maior responsável pelos traumas, tão freqüentes em nossa sociedade, que assolam homens e mulheres pois foi através da ênfase no poder masculino sobre o feminino, difundida há séculos, que nossa cultura desenvolveu seus preconceitos.
O autor esquece que o “Deus Queer” é andrógino, ou seja, tem características tanto femininas quanto masculinas, portanto, o falo é parte integrante desse Deus, portanto, não se pode aleijar esse Deus nem a espiritualidade do falo. A espiritualidade do falo não pod ser confundida com o patriarcado, o machismo, a misoginia ou outras condições estruturais de nossa sociedade.
Como um reflexo disso, qualquer inabilidade para usar o Phallus é vista até hoje pela sociedade e pelo próprio indivíduo como algo que coloca a masculinidade de um homem em questão.
A inabilidade em utilizar os órgãos sexuais na espiritualidade pertence às religiões majoritárias mas especificamente as religiões abraâmicas e, no ocidente, o Cristianismo. Eu vejo aqui uma contradição do autor, afinal, a habilidade de usar o falo remete a empoderar esse órgão sexual e ele mesmo afirmou que apoiar o poder do falo é responsável por traumas.
Como o poder do Phallus é apoiado na descendência, que confere uma forma de imortalidade e honra, as culturas começaram a desenvolver seus tabus sociais como por exemplo o repúdio à homossexualidade. O uso do Phallus não somente para a reprodução passou a ser percebido como debilidade e falta de caráter, já que poderia pôr em risco a continuidade da descendência e sua riqueza.
Incoerente, afinal deve-se cogitar o uso do falo em rituais homossexuais. A descendência independe de reprodução sexual, como, por exemplo, adoção. O autor esquece que sexualidade não tem qualquer relação com o caráter.
Este medo foi acentuado pelos sacerdotes das religiões patriarcais através da masculinização da divindade criadora tornando o Phallus, o sexo e todas as fontes de prazer na origem do pecado e maldição. Assim, passaram a usar este artifício para ganhar poder sobre os homens e controlá-los, pois se o que dá prazer torna-se um desejo incontrolável, porém é vergonhoso, transforma-se em uma ferramenta de controle social ao passo que precisa ser reprimido e proscrito. Cada paixão ou desejo espontâneo se tornou pecaminoso. Tudo o que era livre precisava ser destruído, incluindo os desejos sexuais homossexuais.
O autor comete diversas confusões históricas e conceituais. Primeiramente alguns povos adotaram a estrutura patriarcal, o que ensejou mudanças no governo e na religião. A religião monoteísta foi adotada como parte da estrutura social, por isso que a religião não deve estar vinculada a agendas sociais, políticas ou pessoais. Nós estamos sofrendo uma oressão e repressão sexual por conta da imposição doutrinária e dogmática do Crisntianismo, a religião majoritária da sociedade ocidental, ainda que se declare “estado laico”.
É hora de explorarmos a ressacralização da homossexualidade através do entendimento do seu mais sagrado Mistério: a Homotheosis. Este Mistério ensina que nossos medos e sombras de sermos quem verdadeiramente somos devem morrer, para que nosso espírito se torne sagrado e seja verdadeiramente livre e alcance a Totalidade.
Empenho desnecessário, considerando os inúmeros mitos homoeróticos e os grupos que realizam rituais com temática homossexual. Eu considero desnecessária a criação do termo “homotheosis”, pois quando estudamos teologia no Paganismo Moderno, nós temos os mitos e os ritos que abrangem todas as expressões da sexualidade humana.
O propósito de celebrar os Mistérios Masculinos da homossexualidade novamente é despertar o poder interior do homem gay, pondo-o em contato direto com o que ele teme ou se envergonha para que ele possa vencer suas limitações e resgatar seu orgulho, força e dignidade. Desta forma os gays não se sentirão mais sozinhos ou aterrorizados na jornada de seu autoconhecimento sobre o que verdadeiramente é ser homem. Descobrirão que se tornar um homem de verdade não está ligado a sua preferência sexual, virilidade ou fragilidade mas sim a sua maturidade emocional e espiritual. Tornar-se homem inclui vencer os limites, barreiras e tabus que o impedem de expressar-se como ele verdadeiramente é, sem máscaras.
Novamente, o autor insere as suas inseguranças em relação à sua sexualidade como motivo para seus argumentos. Nada disso é necessário, pelos motivos ditos em outros trechos.
O Paganismo Queer vai muito além de uma briga de sexos ou identidade sexual, como alguns podem alegar. Seu verdadeiro significado está em penetrar nos Mistérios do Deus, que também tem sua face gay, que ama e aceita TODOS os seus filhos como eles são e que conhece que a autêntica masculinidade não está centrada em seu Phallus, mas em seu coração. Se vamos conhecer isso através da Deusa ou do Deus Queer, não importa. O importante é obter esta transformação. Quando isso acontecer, seremos verdadeiramente livres!
Não obstante, ao insistir em motivos pessoais, em agendas pessoais, como motivos para o seu empreendimento, o autor ressalta que existe uma disputa. O Deus Queer tem ambas as sexualidades, então os seus mitsérios devem abranger tanto a heterossexualidade quanto a homossexualidade, o que acaba sendo uma contradição ao texto. O autor se contradiz ao primeiro colocar o falo como sendo necessário e agora coloca o coração como o verdadeiro centro. O foco central de qualquer caminha, espiritualidade, crença e religião está nos mitos, que justificam os mitos, todo o resto é fantasia, agendas pessoais, que não devem ser consideradas.
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