sexta-feira, 25 de março de 2022

A praga do politicamente correto

Hoje temos uma produção cultural da violência que faz com que aprendamos a justificá-la, a aceitá-la e a entendê-la como um componente natural da sociedade. E isso é demonstrado em vários níveis. Por exemplo, nas cantigas de roda infantis “Atirei o pau no gato” e “Marcha soldado”. [Dom Marcelo Resende, Prior do Mosteiro da Anunciação do Senhor na cidade de Goiás, em entrevista ao Comunidade Segura][original perdido].
Uma tese de doutorado, defendida no início do mês na Faculdade de Educação da USP, analisou a presença do politicamente correto nos livros e cantigas infantis e concluiu que a presença destas expressões não contribui para uma melhora na educação das crianças.
Ilan Brenman, responsável pela pesquisa intitulada “A condenação de Emília: uma reflexão sobre a produção de livros politicamente corretos destinados às crianças”, é escritor de livros infantis e contador de histórias. Ele se interessou pelo tema porque é afetado no seu cotidiano profissional, por professores e leitores que reclamam de histórias com temáticas consideradas violentas ou inadequadas à infância: morte, guerra, ciúme, raiva etc.
Em visitas a escolas da Grande São Paulo, Brenman notou que os livros tradicionais infantis estão sendo substituídos por publicações que chama de livros de "boas maneiras" e sobre "preconceitos". Nessas cartilhas, ele conta que as histórias giram em torno de narrativas sobre bons modos e ausência de preconceito.
Nas histórias de livros politicamente corretos, Brenman vê outros problemas. "Esses novos livros escondem o conflito, não têm nenhuma incorreção, e impõem uma moral de fora para dentro. Nós observamos cada vez menos bruxas, lobos-maus, menos monstros".
Ele avalia que isso é ruim para a educação, pois "não adianta subestimarmos as crianças. Todas elas tem uma parte sádica, mas de alguma forma a criança se projeta na bruxa da história, e assim trabalha com seu lado agressivo". Ainda segundo o escritor, a família acabou passando seu papel na educação da criança e a escola, por sua vez, delegou seu papel aos livros.
A condenação de Emília
Brenman avalia que as últimas conseqüências dessa vigilância sobre os contos infantis, seria condenar personagens como a Emília, de Monteiro Lobato: "a Emília é famosa por sua rebeldia e por suas incorreções, e a graça dela está nisso". Tomando as últimas conseqüências do politicamente correto na literatura, o conto "'Negrinho do pastoreio' teria que passar a se chamar 'Afrodescendentezinho do pastoreio'".
"Nunca se publicou tantos livros e nunca houve tanta violência nas escolas", ressalta o pesquisador. Segundo ele, isso prova que não é possível estabelecer relação entre os dois fenômenos. Alguns livros infantis, cantigas e os videogames se transformaram nos "bodes expiatórios" da violência nas escolas, mas ela vem de múltiplos fatores como: a desestruturação das famílias, a falta de preparo dos professores, o excesso de alunos nas salas de aulas, etc. De acordo com Ilan, os educadores que fazem essa relação dizem prezar pela "paz nos contos infantis, mas essa é a paz dos cemitérios".
[Luiza Lafuente, em artigo no Jornale][original perdido]

Nota da casa: Não é de hoje que a Igreja (e, às vezes, o Estado) tem essa mania de querer censurar ou de determinar o que é próprio ou não para ler. Se temos que censurar textos que são considerados os causadores da "cultura da violência", que seja censurada a Bíblia. As verdadeiras causas dessa cultura da violência estão na estrutura da sociedade e do Estado atuais.

Repostado. Texto originalmente publicado em 04/09/2009, resgatado com o Wayback Machine. Recentemente, emissoras de televisão locais, comandadas por uma vertente neopentecostal, tem fomentado a neurose em cima de desenhos animados. A televisão tem coisas muito piores sendo transmitidas, inclusive nessa emissora. Eu considero isso uma tentativa de cultivar pânico moral, com o intuito de arrebanhar mais gente.

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