Dennis Prager. Refutação.
Para compreender o mundo moderno, talvez a regra mais importante que se precisa conhecer seja esta: tudo o que a esquerda o toca é destruído.
O autor ou ignora ou desconhece história e teoria política. Tudo aquilo que nós conquistamos como direitos constitucionais foi uma conquista da "esquerda".
O conceito e diferença entre "esquerda" e "direita" surgiu na França, durante o processo iniciado pela Revolução Francesa. Os girondinos, mais moderados, ocupavam a ala direita enquanto os Jacobinos, mais radicais, ocupavam a ala esquerda da assembleia constituinte. Em termos mais generalizantes, a ala da direita era favorável ao rei e a ala da esquerda era favorável à revolução. Portanto, quando pensamos em Estado de Direito, em Constituição e de Direitos Civis, pode-se atribuir tais conquistas à ação da "esquerda". A "direita", frequentemente vinculado ao Poder Financeiro, a grupos conservadores e a grupos fundamentalistas cristãos, luta para manter o status quo, manter os privilégios de uma determinada elite, mesmo que seja moral e eticamente questionáveis e discutíveis.
Isso ficou claro para mim anos atrás, durante meu programa de rádio. Eu estava falando sobre a guerra da esquerda contra os escoteiros (por não aceitarem gays anunciados). Estava ficando claro que isso acabaria levando ao declínio dos escoteiros, o que me levou a perguntar: “A esquerda substituirá os escoteiros por escoteiros de esquerda?”
O auto demonstra uma das pautas da direita, do conservadorismo e do fundamentalismo cristão: o combate à chamada Ideologia de Gênero, um conceito que não compreendem e omitem do público em geral, o que interessa para esses grupos é insuflar o pânico moral. Não há nenhum motivo objetivo ou racional para discriminar uma pessoa por sua orientação e preferência sexual. A Comunidade LGBT apenas luta para que sejam garantidos os Direitos Civis, algo que as Constituições dos Estados de Direito concede à todas as pessoas. Pleitear pela presença de gays nos escoteiros é apenas uma questão de direito, garantido pela constituição. A presença de gays nos escoteiros não irá provocar o declínio dos escoteiros e não irá substituir escoteiros baseados por sua opinião política ou opção/preferência sexual.
Então respondi minha própria pergunta: claro que não. Porque a esquerda só destrói; não constrói nada (exceto governo).
Analisemos a história e vejamos o que a "direita" e a "esquerda" construiu. Pode-se dizer que o próprio conceito de Estado de Direito, Constitucional, é uma obra da "esquerda", pelo que foi dito acima. A única obra da "direita" consiste em preservar e manter privilégios de uma determinada elite.
Aqui está a lista das coisas que o autor alega que a esquerda destrói.
No. 1: Arte.
A esquerda há muito conquistou o mundo da arte. Consequentemente, desde o século 20, a maior parte da arte moderna tem sido feia, sem sentido e niilista - o oposto do que a arte ocidental sempre foi.
O autor provavelmente ressente da Arte Moderna e Contemporânea, feita por artistas que pertencem a ambos os espectros políticos. Ele deve preferir a Arte Renascentista (embora esta tenha surgido graças ao surgimento do Humanismo e do Iluminismo) ou a arte do Terceiro Reich.
No. 2: Música.
O que a esquerda fez aos olhos na arte, fez aos ouvidos na música. Como maestro em tempo parcial, posso dizer com algum conhecimento que, desde a invenção da música atonal (um oximoro, se é que já existiu), a maior parte da música clássica contemporânea também é feia, sem sentido e pouco inspiradora. As pessoas que gostam desse tipo de música são quase todas críticas de música e, claro, professores de música. A maioria dos amantes da música clássica nunca ouve essas coisas.
Como maestro, o autor deveria saber que a dita música clássica surgiu na Era Moderna, como parte da continuidade da Renascença e do Iluminismo. Como conservador, ele deveria preferir a música medieval ou a música litúrgica.
No. 3: Jornalismo.
Os jornalistas já foram muito respeitados. A menos que um artigo fosse listado como "opinião", as pessoas geralmente acreditavam que estavam obtendo, da melhor maneira possível, um relatório o mais verdadeiro possível - "apenas os fatos". Hoje, em praticamente qualquer assunto controverso, eles estão obtendo opinião, não a verdade. O propósito de quase todos os grandes jornais e outros veículos de “notícias” é o mesmo que o Pravda tinha na União Soviética: transmitir a linha do partido.
O autor omite, esquece ou ignora a enorme quantidade de jornalistas que se prestam o serviço de falar pelo patrão, de fazer sensacionalismo ou de disseminar fake news. Jornalistas estes, na maioria, conservadores e de direita, eventualmente fundamentalistas cristãos. A maioria dos veículos de notícias são empresas, capitalistas, cujas linhas editoriais são definidas pelos seus proprietários, então não é de estranhar que o propósito dos jornais seja o de defender a elite, não a de divulgar fatos de forma objetiva.
No. 4: Faculdades e universidades.
A esquerda destruiu as universidades como locais de aprendizagem devotados à busca da verdade e, portanto, acolhendo, até mesmo cultivando, opiniões diversas. Praticamente toda ideia de esquerda nasceu em uma universidade.
O autor deve considerar que a "busca da verdade" seja o revisionismo histórico tão em voga entre os grupos conservadores e direitistas, afinal, o passado incomoda e constrange. O autor esquece, desconhece ou omite que a Mídia, em termos gerais, é um latifúndio de propriedade de uma elite, onde a "opinião diversa" não é acolhida. O autor, ao dizer que a ideia de esquerda nasceu na universidade demonstra sua ignorância histórica e que sua postulação segue o preceito dos grupos conservadores e direitistas conhecida como "escola sem partido", uma das muitas teorias de conspiração que esses grupos gostam de alardear apenas para provocar pânico moral.
No. 5: escolas secundárias e escolas primárias.
A maioria das escolas na América - tanto privadas quanto públicas - ensina às crianças que a América é sistemicamente racista e que elas não nascem homem ou mulher, mas que mais tarde escolherão ser uma ou outra - ou nenhuma. E, cada vez mais, as instituições educacionais americanas negam que a verdade objetiva exista, mesmo na matemática.
Em suma, o autor admite sua ignorância social. Nos EUA e no Brasil existe aquilo que seu conceitua como racismo estrutural e é negado por conservadores e direitistas unicamente porque é uma ameaça ao status quo e aos seus donos, a elite dominante. O autor ao falar de que as escolas ensinam que não se nasce homem ou mulher claramente demonstra que ele pleiteia o combate à chamada Ideologia de Gênero, algo que desconhece, não compreende, ou deliberadamente distorce para provocar o pânico moral.
No. 6: Felicidade.
Você pode encontrar liberais felizes e infelizes e conservadores felizes e infelizes, mas é improvável que jamais encontre um esquerdista feliz. A única questão é se os infelizes gravitam para o esquerdismo ou se o esquerdismo torna as pessoas infelizes. Ambos são provavelmente verdadeiros.
O autor esquece, desconhece ou omite que o conceito de felicidade pode ser individual, portanto egoísta, ou coletivo, portanto idealista. Pessoas de esquerda são constantemente felizes, principalmente quando programas sociais são bem-sucedidos e alguma justiça social é conquistada, a despeito da torcida contra, provinda dos grupos de conservadores e direitistas.
No. 7: A família.
Cada vez mais as pessoas de esquerda optam por não se casar e não ter filhos - em outras palavras, não constituir família. E suas políticas de bem-estar servem para desincentivar a criação de famílias.
O autor comete uma enorme falácia. Pessoas que optam por casar e não ter filhos podem ser tanto de esquerda quanto de direita. Alegação sem fundamento. As políticas de bem-estar servem para tentar amenizar o sofrimento desumano que o sistema produz. Se o autor é contra, é porque é desumano.
Nº 8: Mulheres.
As taxas de depressão entre os jovens, especialmente as mulheres jovens, são mais altas do que as registradas na história americana. Um dos motivos é que, por meio século, as mulheres ouviram, como disse uma famosa feminista: “Uma mulher sem homem é como um peixe sem bicicleta”. Mas o fato é que a vasta maioria das mulheres (heterossexuais) precisa de um homem para se realizar, assim como a grande maioria dos homens (heterossexuais) precisam de uma mulher para se realizar.
O autor comete uma falácia. A depressão é mais causada por condições inerentes ao trabalho e às presssões sociais, não por causa do feminismo. A citação não tem autor/a, então é suspeita, srá desconsiderada. O autor demonstra sua ignorância, pois tanto o homem quanto a mulher podem ser bem-sucedidos, ser realizados, por fatores que não envolvem a sexualidade da pessoa.
No. 9: Infância.
Uma razão pela qual os jovens de esquerda não querem filhos é que a esquerda particularmente não gosta de crianças. A recusa inflexível dos sindicatos de professores em abrir escolas por mais de um ano abriu os olhos de muitos americanos para esse fato. O mesmo aconteceu com a guerra contra a inocência das crianças - como falar prematuramente com elas sobre sexo e fazer com que as escolas as apresentem a drag queens desde os 5 anos de idade.
O autor faz uma alegação sem prova, isso é calúnia, injúria e difamação. Quem mais luta por mais escolas e creches é a esquerda. O autor prefere o obscurantismo típico dos conservadores e direitistas. Aulas de educação sexual somente fizeram parte do conteúdo programático pela luta da esquerda. Por um motivo simples e socialmente notado: adolescentes ficaram grávidas porque nunca tiveram aulas de educação sexual, crianças e adolescentes são vítimas de abuso sexual porque nunca tiveram aulas de educação sexual. Crianças e adolescentes intersexuais, transgênero ou não-binomiais são segregados e excluídos porque não existem aulas de educação sexual.
Nº 10: vida negra.
Como o Partido Democrata historicamente, a esquerda é racista. E é assim precisamente da forma como a palavra sempre foi usada - a esquerda acredita na inferioridade dos negros. É por isso que os esquerdistas defendem a redução dos padrões para os negros. É por isso que eles defendem políticas que sempre resultam em mais negros morrendo nas mãos de outros negros. É por isso que eles acreditam que o estado deve cuidar dos negros mais do que qualquer outro grupo. É por isso que as políticas de esquerda, desde a Grande Sociedade até hoje, destruíram tanto da vida negra, especialmente sua vida familiar - e eles não se importam.
O autor mente descaradamente. Ora, ele mesmo negou que existia racismo e agora diz que a esquerda e o Partido Democrata é racista. Quem acredita na inferioridade dos negros geralmente são os supremacistas brancos, pessoas que, geralmente, estão associados aos conservadores, direitistas e fundamentalistas cristãos. As políticas de inclusão social é feita exatamente para amenizar o racismo estrutural. A alegação de que negros estão morrendo na mão de negros tem uma causa social e estrutural que é mantida precisamente pelos conservadores e direitistas. Portanto, quem mais tem destruído as vidas negras são os conservadores e direitistas.
Nº 11: Relações entre negros e brancos.
De acordo com pesquisas e de acordo com quase todos os americanos que se lembram da vida de cerca de uma década atrás, as relações entre brancos e negros eram muito superiores na época e ambos os grupos estavam otimistas sobre as relações continuarem melhorando. A esquerda destruiu isso com sua propaganda anti-branca, “a América é sistemicamente racista” gritada em quase todas as grandes mídias e implacavelmente pressionada em quase todas as escolas e grandes negócios. A esquerda sabe que, quando negros e brancos se sentem bem uns com os outros, a esquerda perde o apelo e perde as eleições.
O autor ignora, desconhece ou omite a história pela luta dos Direitos Civis nos EUA quando brancos enforcavam negros que estavam apenas querendo seus direitos civis sendo garantidos. As relações sociais entre as etnias podem ser vistas com a forma como os agentes de repressão social abordam cada etnia: brancos são tratados com cordialidade, negros são mortos.
Nº 12: Os militares.
À medida que os militares ficam cada vez mais acordados - lembre-se do testemunho do presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior testemunhando perante o Congresso sobre a necessidade de ensinar aos militares sobre o racismo branco - o moral dos soldados diminui. Acrescente a isso o mandato totalmente gratuito e cruel de que todos os militares sejam vacinados ou dispensados e você entenderá por que o moral militar está em declínio acentuado.
O autor faz várias alegações, sem prova, sem fato, sem contexto. O fato, que o autor insiste em omitir e negar, é que existe racismo. Atualmente, com a pandemia do Corona, a vacinação é necessária para garantir a saúde da comunidade como um todo, então o autor demonstra estar associado aos negacionistas e sendo contra as medidas que visam o bem da comunidade.
Nº 13: televisão tarde da noite.
Os americanos que se lembram dos titãs da comédia noturna - Johnny Carson e Jay Leno - lembram como seu único objetivo era trazer alguns sorrisos e risadas para os americanos antes de irem dormir. Poucas pessoas tinham qualquer noção das opiniões políticas de qualquer um dos anfitriões. Isso agora é história. A esquerda destruiu a comédia da madrugada. Agora, consiste em pouco mais do que discursos furiosos contra os conservadores.
O autor faz várias alegações, sem prova, sem fato, sem contexto. A grade de programação de uma televisão, ou de uma plataforma de streaming, é definida pela empresa que detém essa concessão. Portanto, se o autor tem algo a reclamar, que o faça aos patrões dessas empresas.
No. 14: Superman.
Superman foi um herói americano icônico. Graças à esquerda, ele não existe mais. Cerca de uma década atrás, Superman se apresentou às Nações Unidas para anunciar que estava renunciando à sua cidadania americana para se tornar um “cidadão do mundo”. E a esquerda agora mudou seu lema de “Verdade, Justiça e o Jeito Americano” para “Verdade, Justiça e um Amanhã Melhor”.
O autor provavelmente se ressente que os Quadrinhos, apesar de ser um meio de comunicação de massa, estar se tornando mais inclusivo. Então o que o autor ressente é que outras opiniões estão ganhando espaço nos meios de comunicação de massa, a despeito de estarmos em um sistema capitalista e elitista.
Nº 15: liberdade de expressão.
Nunca antes a liberdade de expressão foi ameaçada como hoje. Como tem acontecido desde a revolução comunista na Rússia, em todos os lugares que a esquerda ganhou poder - da Rússia em 1917 à universidade e às redes sociais hoje - ela suprimiu a liberdade de expressão. Não há exceção.
O autor esquece o quanto a liberdade de expressão é condicionada e patrulhada nos EUA. Em Guantánamo, pessoas inocentes estão presas apenas por serem muçulmanas. Operações não assumidas pelo governo dos EUA tem interferido na soberania de outros países. As redes sociais é dominada pelos direitistas, com mensagens de ódio, de racismo, de xenofobia, de homofobia, entre outras mensagens que visam apenas disseminar fake news e pânico moral. A Rússia é sempre lembrada para falar da esquerda, mas convenientemente é esquecida na Revolução Francesa, sem a qual o estado Moderno não teria existido. Também esquece, convenientemente, que tanto a Rússia quanto a China estava na economia feudal e, depois da revolução, passou para a economia industrial.
Nº 16: Esportes.
Até o ano passado, o esporte era um grande unificador americano. Era um lugar para onde os americanos podiam ir e, deixando a política para trás, à esquerda e à direita, democratas e republicanos podiam torcer pelo mesmo time. Já não. A esquerda o arruinou politizando radicalmente o beisebol, o futebol americano e o basquete.
O autor esquece que o esporte foi invadido também pela expressão religiosa, especialmente a cristã. Antes, todos podiam ir ao estádio, deixando a religião de lado. Mas o conservadores, os direitistas e os fundamentalistas cristãos arruinaram tudo. Eles que fazem a segregação.
A grande tragédia americana é que quase todo liberal sabe que o que foi dito acima é verdade, mas quase todo mundo ainda vai votar na esquerda.
A grande tragédia americana é que votaram no Donald Trump, personagem que encarnou exatamente os ideais dos conservadores, direitistas e fundamentalistas cristãos, mas isso não interessa para o autor lembrar, senão ele teria vergonha de suas falácias.
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