Questões da humanidade

Eu vou aproveitar um texto escrito por Bob Seidensticker, no Cross Examined, em Non Religious, no Patheos:

Para obter a resposta a qualquer uma das grandes questões da vida - questões como "Por que estamos aqui?" ou “Qual é o significado da vida?” - qualquer coisa com Deus é sempre a pior suposição. Extraterrestres superinteligentes seriam melhores. Fadas seriam melhores.  “Não sei, mas tem que haver algo melhor” seria melhor.

“Deus fez isso” é talvez a afirmação mais notável possível, uma vez que pressupõe, sem evidências convincentes, que um ser sobrenatural criou tudo.

Eu conheço bem os cristãos para reconhecer esse tipo de discurso. Bob, como todo neoateu militante, restringe sua análise crítica ao padrão da espiritualidade judaico-cristã.

Ele lista oito razões para que essas respostas são erradas:

1. “Deus fez isso” é infalsificável.

2. “Não sei” é uma resposta perfeitamente razoável.

3. Os argumentos apologéticos populares não apontam para Deus.

4. O princípio da analogia nos diz onde colocar as afirmações sobrenaturais.

5. Ignora o assunto.

6. Ignora a posição padronizada.

7. A captura de Deus usa evidências inconsistentes.

8. Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.

Isso lembra meu texto “O nada e a foto”. Eu escrevi também “Falseabilidade do Cristianismo”, então a base dos argumentos do Bob ficam prejudicados.

Os textos apologéticos foram todos refutados com muito mais propriedade do que como Bob escreveu.

O “princípio da analogia” não diz que se deve jogar os mitos no lixo. Bob convenientemente faz referência a ele mesmo.

Analogia é uma relação de semelhança estabelecida entre duas ou mais entidades distintas. O termo tem origem na palavra grega “analogía” que significa “proporção”.

Pode ser feita uma analogia, por exemplo, entre cabeça e corpo e entre capitão e soldados. Cabeça (cérebro) e capitão são duas entidades análogas. Possuem função semelhante que, neste caso, é comandar, dar ordens. De igual forma, corpo e soldados exercem a mesma função que é obedecer às ordens.

Na Filosofia, a analogia é uma forma de averiguar o porquê da semelhança entre objetos ou ideias. Na Gramática, a analogia é um fenômeno responsável pela criação de uma nova forma linguística, consiste na razão da formação de algumas palavras.

O “assunto”, explicado pela ciência, vem da observação da natureza que, para nós, pagãos modernos, é uma manifestação dos Deuses, portanto, a ciência “explica” a anatomia dos Deuses. As “posições padronizadas” foram modificadas ao longo dos anos, pela própria ciência. Há não muito tempo atrás era perfeitamente aceitável [cientificamente falando] da existência do éter. A “consistência das evidências”, digamos, do Big Bang, são inconcludentes e são motivo de debates acirrados entre os cientistas, sem falar que não responde a questão “onde tudo começou”. A afirmação de que “alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias” não tem evidência. Carl Sagan cunhou essa afirmação em sua série Cosmos que, curiosamente, recorre a uma linguagem metafórica, como eu escrevi em “A Terra dos Planos”.

Boa tentativa, Bob, mas as questões que a humanidade há tanto tempo se pergunta não podem ser explicadas unicamente pelo método científico. O ser humano utiliza tanto a razão lógica quanto a razão abstrata.

Pensando nisso, eu cito um texto meu, recuperado com o Wayback Machine:

O ser humano pergunta-se "de onde vim, quem sou eu, para onde vou" e encontrou diversas respostas. Algumas fazem muito sentido, outras nem tanto. Alguns usam isto para tirar proveito de sua própria espécie. Quando em grupos, criam instituições, seculares ou sacerdotais, que usurpam o poder que reside na comunidade.

Há diversos outros sistemas e grupos que oferecem ao público uma proposta de resposta a estas questões, nós podemos e devemos escolher aquela que for mais coerente e convincente, para nós, não devemos aceitar ou engolir as soluções que nos são vendidas. Eu creio ser mister avisar que a Verdade não deu procuração à pessoa, grupo, organização ou instituição alguma para representá-la ou ser seu porta-voz. E a Verdade não pode ser percebida de frente, mas revelada por mitos, mistérios e verdades. Aos pagãos, recordo que em nossas cerimônias há uma frase litúrgica que diz: "se tu procuras por algo mas não encontras dentro de ti, de forma alguma irá encontrar fora de ti". As respostas para as questões da humanidade não virão de um sacerdote, não virão de um guru, não virão de uma revelação, não virão de uma "escritura sagrada". Elas virão de sua vivência sagrada com os Deuses.