domingo, 21 de novembro de 2021

As divisões Keméticas da alma

A mumificação é um dos aspectos mais conhecidos dentre os legados deixados pela cultura Kemética para a sociedade atual, a função desta prática dá-se pela preservação do corpo do morto para, assim, outras partes dos corpos da pessoa manter-se funcionando. Estas partes são referentes às divisões da alma que os egípcios tinham dentro da sua mitologia.

Alguns desses corpos espirituais aparecem apenas depois do processo de morte, então é bom ressaltar que temos grande parte dessas divisões, mas algumas são desenvolvidas mais tarde.

Esse conceito foi estabelecido, segundo a egiptóloga Rosalie David, no Antigo Império, isto é, na época em que ocorreu a unificação dos dois reinos, empreendida pelo faraó Menés e que se estendeu até pouco antes de 2181 A.E.C.

As divisões são:

Khat – O corpo físico. Era creditado que a matéria morta da pessoa era o elo entre a alma dela e o mundo terreno, assim, as oferendas para os mortos eram realizados dentro das tumbas, para que elas sejam diretamente recebidas pela alma da pessoa morta.

Ba – A alma eterna. A parte espiritual que sempre existiu e sempre existirá. Os keméticos costumavam ilustrar o Ba como um pássaro com a cabeça da pessoa que o possui. Para eles o Ba tinha a capacidade de voar entre os reinos do oeste e do leste (isto é, dos mortos, o Duat, e o mundo dos vivos) e alguns acreditam que assim o Ba pode escolher um Khat novo para reencarnar, criando, então, um novo Ka. Após a morte, o Ba voava sobre o corpo do morto para levar as oferendas até o Ka da pessoa, no Duat.

Ka – A alma pessoal. A parte espiritual que existe em ti nesta vida. Foi criada no momento em que a pessoa nasce, sendo assim, sua personalidade desta vida. Após a morte, o Ka (junto com o Ib) é julgado no salão das duas Ma’atis, se ela passar pelo julgamento ela se torna um Akh, se não passar é devorada por Ammit e deixa de existir.

Ib – O receptáculo do Ka no Khat; O Coração. É a coleção metafórica de todas as intenções, ações e pensamentos da pessoa, sendo então o que define seu caráter. É o corpo espiritual do coração físico (hat) que será colocado na balança contra uma pena de Ma’at na hora do julgamento. Nos processos de mumificação era colocado sobre o coração físico um amuleto desheut.

Shwt/Sheut – A sombra física causada pelo Khat na luz. Os antigos acreditavam ser parte diretamente ligada ao Ka ou ao Ib, sendo assim, podendo ser manipulada por Heka (magia). Para eles o Sheut era uma proteção da alma para o corpo, tanto físico quanto espiritual e acompanhava a alma quando o corpo morria, transformando-se em Sahu após um julgamento bem sucedido.

Akh (plural Akhu) – “O abençoado” ou “O brilhante”. O Ka que passava pelo julgamento no salão das duas Ma’atis tornava-se um Akh, se unindo a outros Akhu dentre o Duat, tornando-se, assim, eternamente uma estrela no céu noturno (Nut) entre os deuses. Os Akhu têm a capacidade de se aproximar da Terra para auxiliar os homens, principalmente aqueles da sua própria linhagem, e aterrorizar seus inimigos.

Sekhem – O poder. A força vital presente em cada um dos corpos (ou também uma força que se estende entre todos). Ele é também um conduto para realizar Heka. Atualmente isso pode ser interpretado como a Aura da pessoa.

Sahu – “Glória”; O corpo espiritual do Sheut. Após a morte, a sombra da pessoa passa a ir para o reino espiritual na forma de Sahu. É dito que após o julgamento, se a pessoa passasse por ele, o Sahu tinha a capacidade de viajar entre os mundos, proteger os corpos astrais ou assombrar os homens vivos, sendo assim, o Sahu podia ser percebido por alguns no mundo físico. Inclusive no Médio Império foi encontrada em uma tumba a carta de um homem para o Sahu de sua esposa que o assombrava.

Ren – O nome. O nome secreto dito pelos deuses no momento que foi criado o seu Ba. Os keméticos acreditavam que, caso a pessoa tivesse conhecimento do seu Ren, era preciso mantê-lo seguro, pois assim, se mais alguém o soubesse, a pessoa poderia ter domínio e poder sobre você. O nome em vida da pessoa também tinha grande importância: quando ela morria, o seu nome era repetido diversas vezes nos escritos em sua tumba para que ele pudesse ser eternizado e relido diversas vezes, enquanto os nomes dos inimigos eram escritos e logo em seguida retirados das escritas.

Outro detalhe importante para se comentar é que os espíritos que por alguma razão não passavam pelo julgamento eram chamados de Muuetu (singular, Muuet), onde, na maioria dos casos, eram relatados como espíritos perigosos.

Para um resumo e maior entendimento a egiptóloga Tamara L. Siuda e Nisut (AUS) da Ortodoxia Kemética traz um diagrama interessante:

Corpo físico: Khat e Ib.

Khat contém o Ba, Ka e Shuet.

Corpo morto: Khat e Ib.

Ba deixa o Khat e está livre para fazer o que desejar.

Ka e Shuet vão para o Julgamento.

Após um bom julgamento: Ka se torna um Akh, Shuet se torna um Sahu.

Todos os corpos contém Sekhem a todo momento.

Todos os corpos são criados e unidos pelo Ren.

-Guga Lopes

Original: https://clavisarcanus.wordpress.com/2018/05/07/as-divisoes-kemeticas-da-alma/

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