segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A perna do saci

Todo ano, em 31 de outubro, a Mídia redescobre que bruxas existem. Aqui, nas terras tupiniquins, o Halloween/Samhain não tem o mesmo impacto comercial e cultural como existe nos Estados Unidos e Europa, mas mesmo assim é a nítida influência da cultura enlatada de Hollywood.

O brasileiro, uma criatura contraditória por essência e natureza, chegou a criar o Dia do Saci nessa mesma data.

"Em 2003, o deputado Aldo Rebelo Figueiredo, hoje no partido Solidariedade (SD), propôs o projeto de lei federal nº 2762/2003, com objetivo de declarar o 31 de outubro o Dia Nacional do Saci-Pererê..."

Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/halloween-entenda-os-motivos-do-dia-das-bruxas-ser-dia-do-saci-no-brasil/

Vale a pena repetir um trecho de um texto meu:

"Em outubro, eu fico preparado para ouvir as mesmas ladainhas reclamando que Halloween é festa americana, é imperialismo, que "nós" devemos celebrar o Dia do Saci. Eu fico curioso em ver que o mesmo brasileiro que ufana de seu país, o mesmo brasileiro que desanda na pior manifestação de nacionalismo e patriotismo, que tanto reclama do Halloween, não vê problema algum nesse Natal europeu. Todos os enfeites, todas as comidas, remetem ao frio do inverno. E nós somos um país tropical. Ninguém sugere que se troque o pinheiro pelo coqueiro. Ninguém sugere que se troque as guirlandas de visco e azevinho por uma guirlanda de erva mate e café, por exemplo. Ninguém sugere que se troque o Papai Noel por Zumbi dos Palmares. Ninguém sugere que se troque as [caras] comidas gordurosas e frutas oleaginosas mais típicas do natal europeu por comidas e frutas nacionais. Ninguém [exceto eu] sugere que se troque o Natal pela Saturnália ou o nome original da celebração nos tempos pagãos."

O Brasil, tal como os Estados Unidos, cometeu genocídio e aculturamento de sua população aborígene. A nossa cultura é um enorme caldeirão de inúmeros povos, tradições e nacionalidades. Falar em "´preservar a cultura brasileira" é uma contradição, pois não há um padrão cultural "brasileiro" per se. Além do que é incoerente, quando vemos a forma como o brasileiro fica ansioso pelo lançamento do mais recente enlatado hollywoodiano.

Mesmo se considerarmos a produção nacional, o cinema brasileiro só endossa o estereótipo que o exterior tem a nosso respeito. Sejamos sinceros: a produção audiovisual brasileira é dominada pelo eixo Rio-São Paulo. Produções fora desse eixo endossam o provincianismo carioca e paulistano.

Que tal festejarmos as datas, sem crises, sem culpas e sem patrulhas?

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