sexta-feira, 9 de julho de 2021

Quando Loki encontra Loki

A comunidade do Paganismo Moderno está fervendo. Tudo por que a Disney [que ficou igual ao Império da saga Star Wars, franquia comprada pela mesma] lançou “Loki”, série baseada no personagem que é parte do Universo Marvel [franquia que também foi comprada pela empresa].

A discussão começou com uma ação por “direitos autorais” da Redbubble contra um artista que publicou uma arte que era muito semelhante à imagem de Loki, tal como este foi representado em um quadrinho da Marvel. Isso tornou-se uma bandeira falsa, por parte dos pagãos modernos, como se isso tivesse sido uma tentativa da Disney de se apropriar do nome de um Deus como marca registrada.

Eu acho uma reação exagerada e apaixonada. Afinal, entre nós não faltam grupos e pessoas que se assenhoram dos Nomes para seu merchandising. E não faltam brigas entre nós sobre direitos autorais. Eu desisti de defender os princípios e valores da Wicca Tradicional porque o Esoterismo Seven-Eleven é uma empresa maior e mais poderosa do que a Disney.

Ainda que eu possa concordar com o argumento de que “na mitologia, Loki é um gigante dotado do título honorário de deus e irmão de sangue de Odin” e “na Marvel, Loki é um deus, filho de Odin e irmão de Thor” [https://religionnews.com/2021/06/21/marvels-loki-wins-heathens-hearts-even-while-losing-the-norse-immortals-complexity/], mas eu tenho que lembrar que, mesmo entre nós, muitos defendem o conceito de que os Deuses são arquétipos, não entidades, com identidade e personalidade próprios.

Alguns de nós pode protestar que a figura de Loki tal qual é interpretada por Tom Hiddleston é incompatível com a figura de Loki tal qual esta é descrita nos mitos nórdicos. Será que a gritaria cessaria se Tom interpretasse Loki com cabelos ruivos? Não, eu acredito que o maior erro da Disney [e da Marvel] é o de fazer Loki se parecer com uma entidade maligna. Loki mastigaria e cuspiria Satan, bem como toda a religiosidade judaico-cristã.

Adaptações para o cinema dos quadrinhos suscitam reações apaixonadas dos nerds, geeks e congêneres. Eu creio ter visto reações furiosas [geralmente por parte de racistas] quando Nick Fury [da Shield, do Universo Marvel] foi representado por Samuel L Jackson no cinema. O mesmo aconteceu quando a major Motoko [do anime Ghost in the Shell] foi representada por Scarlett Johansson no cinema. Eu mesmo fiquei chateado quando eu vi o filme “O Último Mestre do Ar”, uma adaptação do anime “Avatar, a Lenda de Aang”, porque os atores que interpretaram os personagens do anime eram completamente inadequados ao contexto da história.

Os racistas reclamaram da representação de Nick Fury por considerarem aquilo um enegrecimento.

Os maníacos reclamaram da representação da major Motoko por considerarem aquilo um embranquecimento.

Então eu fico constrangido por querer que os atores que interpretaram Katara e Sokka fossem inuítes.

Nós estamos falando de cultura popular, imagens são flexíveis e adaptáveis. Quando falamos em religião, nós temos os mitos antigos, através dos quais nós entendemos a identidade e a personalidade de cada Deus ou Deusa, não como meros arquétipos, mas como pessoas divinas.

O único que pode aprovar ou desaprovar é Loki em pessoa. A menos que nos queiramos nos assemelhar aos fundamentalistas islâmicos, quando estes cometeram o ataque ao Charlie Hebdo, entre outras reações violentas, que tiveram início em 2005, com a publicação de caricaturas de Mohammed.

Imaginem a cena. Durante a gravação, Tom pronto para fazer a cena, vestido de Loki, quando surge Loki em pessoa. Isso sim, vale a pena assistir.

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