terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A privatização da "liberdade religiosa"

Pontífice visita agora berço do Vodu e deve pedir respeito a crenças tradicionais, mas rejeição à bruxaria.
O papa Bento XVI pediu neste sábado, de forma contundente, que os líderes africanos não tirem a esperança de seu povo.
"Não desliguem suas populações de seu futuro mutilando seu presente", disse o papa.
As declarações foram feitas em Cotonou, na República do Benin, durante o segundo dia da visita do papa à África, perante uma plateia composta por líderes políticos, econômicos e religiosos do pequeno país do Oeste do continente, assim como representantes de nações vizinhas.
Usando uma linguagem excepcionalmente dura, segundo analistas, ele pediu que as autoridades africanas acabem com a corrupção.
"Adotem uma posição ética corajosa em relação a suas responsabilidades", disse o pontífice.
"Há escândalos e injustiças demais, corrupção e ganância demais, erros e mentiras demais, violência demais, o que leva a miséria e morte".
"Todo povo quer entender as escolhas políticas e econômicas feitas em seu nome".
"Eles percebem a manipulação e sua vingança é às vezes violenta. Eles querem participação em boa governança. Sabemos que nenhum regime político é ideal e que nenhuma escolha econômica é neutra. Mas estes devem sempre servir ao bem comum. Enfrentamos demandas legítimas, presentes em todos os países, por uma maior dignidade e sobretudo por uma maior humanidade".
Vodu
Mais tarde, o papa vai emitir uma orientação do Vaticano sobre como a Igreja Católica da África deve lidar com as tensões entre muçulmanos e cristãos e com a competição dos movimentos evangélicos, cujos cultos dinâmicos vêm atraindos mais fiéis.
O documento – a ser assinado na cidade de Ouidah, o berço simbólico do Vodu – deve pedir reconciliação, paz e justiça. O papa deve pregar ainda o reconhecimento de elementos de culturas e religiões tradicionais, se eles forem compatíveis com os ensinamentos da Igreja.
O pontífice vai, no entanto, alertar que as pessoas devem rejeitar a magia e bruxaria, condenados pela Igreja por seus "efeitos negativos nas famílias e na sociedade".
A África é o continente em que a fé católica cresce mais rapidamente no mundo, mas no Benin o Vodu é uma religião oficial e muitos dos que são cristãos ou muçulmanos incorporam alguns elementos do Vodu em suas crenças, especialmente em momentos de crise.
"O Vodu é mais que uma crença, é um estilo de vida, incluindo cultura, filosofia, língua, arte, música, dança e medicina. Os líderes do Vodu pedem aos deuses que intervenham em nome das pessoas comuns, mas os moradores locais frisam que isso não tem qualquer ligação com feitiçaria ou magia negra. As pessoas aqui não espetam agulhas em bonecos para causar problemas para seus inimigos, como se vê em alguns filmes ocidentais", explica a repórter da BBC África Virgile Ahissou.
Reportagem da BBC.
Divulgação pela União Wicca.
Nota: Em diversos textos neste blog eu denunciei o péssimo hábito da Igreja e seus representantes falarem em "liberdade religiosa", sempre em causa própria.
Texto resgatado com Wayback Machine.

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