quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Ensino religioso estimula preconceito

As aulas de ensino religioso nas redes públicas de ensino do País utilizam livros com conteúdo preconceituoso e intolerante, afirma um estudo da Universidade de Brasília (UnB) que analisou as 25 obras temáticas mais usadas nas escolas.
Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o ensino religioso nas escolas deveria garantir "o respeito à diversidade cultural religiosa, vedadas quaisquer formas de proselitismo". Segundo a pesquisa, "Laicidade e o Ensino Religioso no Brasil", ocorre o contrário: as publicações estimulam homofobia; impõem o cristianismo (em especial o catolicismo); não destacam religiões afro-brasileiras e indígenas; ignoram pessoas sem religião e estigmatizam a pessoa com deficiência.
De acordo com a pesquisa, alguns livros relacionam o nazismo com falta de religião, afirmam que a ciência só é legítima quando "ligada à ética e a Deus" e criticam o homossexualismo.
Alguns números do levantamento comprovam o cenário alarmante. Das 192 vezes em que algum líder religioso e secular foi citado nas obras, Jesus Cristo apareceu em 81 delas. Líderes indígenas e Moisés, por exemplo, apareceram apenas uma vez cada um. As referências aos grupos religiosos também não apresentam equilíbrio. Predominam as religiões cristãs (65%).
Para Debora Diniz, coordenadora da pesquisa, falta controle do Ministério da Educação sobre os livros de ensino religioso. "O MEC avalia livros de todas as disciplinas, por que não avaliar esses? Isso abre espaço para discriminação religiosa e interfere na formação dos cidadãos."
Fonte: Estadão

Preconceito e intolerância fazem parte da lição de casa de milhares de alunos brasileiros, afirma o livro "Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil", lançado na última terça-feira (22) na Universidade de Brasília (UnB). O estudo analisou as 25 obras mais usadas para a disciplina nas escolas do governo federal.
“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, afirma uma das autoras do trabalho, a antropóloga e professora Débora Diniz.
Segundo a lei que regulamenta a disciplina, 945 de 1997, as escolas públicas brasileiras podem oferecer aulas de ensino religioso. Mas não devem favorecer nenhuma crença, e sim apresentar aos estudantes as diferentes fés, respeitando a diversidade cultural e religiosa do Brasil.
Mas segundo a pesquisa, não é o que acontece na prática. Jesus Cristo aparece 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e 20 vezes mais que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo, nas obras mais compradas pelas escolas federais. Calvino, outra referência protestante, nem mesmo é citado.
“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, afirma Débora Diniz. A antropóloga reforça a imposição do catecismo: “Cristãos tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasilieras, tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”.
HOMOFOBIA
“Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “homossexualismo não se revela natural” são algumas das expressões usadas pelos livros escolares para se referir a quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo. A pesquisa destacou ainda um exercício que traz a bandeira das cores do arco-íris e traz com a seguinte questão: “Se isso se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”.
A pesquisa ainda sugere que os livros didáticos criam um ambiente de intolerância contra quem não tem religião. Em uma das obras analisadas, uma pessoa sem religião é relacionada ao nazismo. “Sugerem que um ateu pode ter comportamentos violentos e ameaçadores”, observa. “Os livros usam generalizações para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa a especialista.
Para Tatiana Lionço, psicóloga e co-autora do estudo, uma das causas dos problemas é a falta de rigor para a seleção dos livros. Ela explica que, antes de chegar às mochilas, todo material didático, exceto os de religião, passa por avaliação do Programa Nacional do Livro Didático.
“Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má formação dos alunos”, opina Tatiana. “Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar religião nas escolas?”, questiona.
“Se a religião for tratada na sala de aula, tem de ser de forma responsável e diversificada”, defende. As 112 páginas da publicação, lançada pelas editoras UnB e Letras Livres, ainda conta com a contribuição da assistente social Vanessa Carrião, do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
Fonte: Guia do estudante

Nota da casa: Lamentável. Os nossos governantes perdem a melhor oportunidade para tornar o Brasil um país maduro.
Texto resgatado com Wayback Machine.

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