quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Preservativo e cinto de segurança

Recentemente o Vaticano voltou a declarar na pessoa do sr Joseph Ratzinger sua posição polêmica quanto ao uso de preservativos não evitar a transmissão do HIV, chegando a citar supostas pesquisas científicas que endossam a opinião doutrinária da Igreja.
Essa atitude apenas demonstra que a Igreja, como as demais instituições religiosas, para garantir sua soberania na vida de seus membros, mantém uma visão dogmática baseada em uma colação muito fraca de textos científicos, pegando apenas as partes que lhe interessa e escondendo as partes que desmontariam essa farsa.
Interessado em uma informação correta e cientificamente embasada, eu percorri diversos textos e sites médicos sobre o assunto, seguindo até mesmo algumas recomendações do dr Edward Green, citado a larga pelos defensores do Vaticano.
O que encontrei não constitui evidência suficiente para afirmar que o preservativo não evita a transmissão do HIV, o que encontrei foi o mais óbvio que está no comportamento do usuário e nos perigos do comportamento de risco, o que é bem diferente do discurso do Vaticano.
Um artigo interessante que eu encontrei foi essa associação entre o uso de preservativos, o uso de cinto de segurança e o chamado compensação de risco.
Em rápido relatório, o dr. John Richens e o dr John Imrie alegam que o uso de cinto de segurança, como o uso de preservativos, deve vir acompanhado de uma mudança de comportamento. Segundo os drs, o uso de cinto de segurança/preservativo induz a um comportamento adaptado que eles chamaram de compensação de risco:
"Motoristas que usam cintos de segurança se sentem mais seguros e dirigem com mais velocidade ou menos cuidado do que fariam sem cinto de segurança. Quando um aparelho de segurança é introduzido que leva a uma percepção de risco menor, a recompensa em se arriscar se torna mais atraente e inicia um aumento compensador em correr riscos (compensação de risco), o que pode fazer com que as taxas de acidentes volte ao seu nível original ou pode produzir um rearranjamento do prejuízo com o novo risco sendo transferido a outros (transferência de risco)".[Richens, John & etc.]
O texto não duvida da eficácia do objeto em si mesmo, coloca em questão o comportamento do usuário, colocando uma hipótese psicológica que não está cientificamente comprovada e não pode ser usada para embasar a proibição dogmática da Igreja contra o uso de preservativos.
Os preservativos ainda apresentam taxas de eficiência suficientemente altas (70%-80%) para recomendar seu uso nas relações sexuais, como uma parte de uma campanha de saúde pública que deve incluir educação sexual, orientação sobre o "comportamento de risco", orientação quanto ao correto uso dos preservativos e até mesmo orientações para que cada indivíduo possa conduzir sua vida sexual de forma saudável e segura, seja esta monogâmica ou poligâmica, homo/hetero/bissexual, sem a interveniência ou a interferência das eminências pardas do Vaticano ou de outro grupo religioso. Questões de saúde pública que tratam de problemas ligados à sexualidade individual devem ser tratadas por autoridades seculares, não por autoridades espirituais.
Texto resgatado com Wayback Machine.

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