quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Conciliação impossivel

Que a história mostra como o Cristianismo foi sendo formado [forjado?] por um grupo interessado em seu sucesso (a Igreja), mesmo que tomando símbolos e pensamentos de culturas e povos que, depois de Constantino e Teodósio, foram tachados pejorativamente de Pagãos, explica muito a atual tendência do mesmo grupo em ampliar seu ecumenismo e diversificar seu sincretismo.
Recentemente o sr Ratzinger, o Don Corleone de Cristo, fez uma "proposta irrecusável" aos Anglicanos, lhes oferecendo uma forma para retornarem à Igreja, passando por cima de muitos dos dogmas dessa instituição que ele representa. Eu não duvido muito que, em breve, a Igreja faça mais "exceções" como incluir o casamento homossexual ou mesmo "permitir" o aborto, tudo é uma questão política e social.
Portanto eu não me espanto que haja grupos de católicas em defesa do direito de escolha pelo aborto [Católicas Pelo Direito de Decidir] nem que haja uma igreja protestante [Betel-RJ] voltada aos homossexuais para incluí-los no rebanho, a despeito da doutrina impossibilitar tal ponte.
Entre nós, Pagãos Modernos, existem cada vez mais pessoas que [con]fundem doutrinas distintas, como o  Cristianismo com  o Sagrado Feminino, o Matriarcado, a Bruxaria e o Paganismo [incluindo aqui as religiões reconstrucionistas]. Mesmo entre nós, há os que apregoam que: "Todas as vezes que assuntos como pagamentos por ensinamentos na Arte são levantados e as pessoas se inflamam em indignação, me sinto no meio de um bando de Cristãos que valorizam a pobreza e acham o dinheiro sujo e pecaminoso, em vez de naturalmente desejarem valorizar aqueles que disponibilizam seu tempo e energia para a instrução de outros." E veio, do mesmo grupo, o "Manifesto contra falsas iniciações", o que me rendeu uma tentativa de debate com a personagem Eddie Van Feu. Se o mesmo grupo ora elogia a comercialização (tudo que envolve troca de dinheiro por bens ou serviço é comércio) ora ataca, isso é sinal de hipocrisia, fraude.
Mas o tópico de hoje é para analisar a perspectiva de existir um "matriarcado cristão", como encontrei em um blog de um hermano:

Antes de tudo, "Matriarcado Cristão" é o nome deste blog, [o que eu cito] no qual defendemos a matrilinearidade como o melhor modelo para a realização do que Jesus chamava de Reino de Deus. [Por que o Reino não é da Deusa?] Buscamos a extinção do patriarcado dominante e piramidal, por meios pacíficos porém valentes, mediante a elevação de uma fé adulta, desvinculada de toda instituição religiosa hierarquizada. [Bravo! Encore! Se não fosse pelo problema Cristianismo = Patriarcado]
É uma aposta pelo matriarcado, partindo da intuição de que uma sociedade distinta, matrilocal e matrilinear é possível. Nossa sociedade patriarcal ocidental, piramidal e hierárquica, é incapaz de gerenciar os recursos do planeta e as necessidades espirituais da humanidade.
Metade da humanidade tem submetido à outra metade mediante violência, religião e as categorias do pensamento apolíneo. A mulher, as meninas e os meninos, devem ser libertados de toda forma de opressão, injustiça e abuso.
[Falando por eu mesmo, esta luta tem sido soberbamente bem conduzida pelas Feministas sem precisar da nossa "ajuda"]
É cristão, mas não no sentido clássico e exclusivo. Não importa se é católico, nem batizado, nem crer nos dogmas da Igreja. [Isso é interessante e digno de nota: nem todo Cristão é Católico, nem todo Cristão é batizado ou crê em todas as doutrinas da Igreja. Por isso que muitos Cristãos foram perseguidos, presos, torturados e mortos por heresia pela Igreja] Somente, ser simpatizante do personagem chamado Jesus de Nazaré, que deu a vida para defender a ética do amor, da paz e da justiça. [O problema é que é um personagem. Tudo que se pode saber sobre ele vem de escritos compilados pela Igreja] Muitos estão familiarizados com o Cristianismo e é o ponto de partida. [Eu vejo aqui a velha mania do cristão de exclusividade, privilégio, monopólio] Mas de fato, o matriarcado cristão está desvinculado de toda a igreja posterior à primeira comunidade primitiva de Jesus de Nazaré. [Isso é vago, principalmente porque as comunidades primitivas tinham dois núcleos: o dos Judeus Helenizados e o dos Gentios] É universal, pois todos cabem no Reino de Deus. [Cadê a Deusa?] Incluindo os ateus estão convidados a construir este mundo novo onde se prima pelo respeito. [Algo não está certo aqui. Ou o autor parte do pressuposto que cristão=respeito ou que ateu=desrespeito. Em ambos os casos, tal afirmação é errada]
É também um espaço aberto para a recuperação daas cosmovisões que recuperam a sacralidade do feminino em uma pluralidade de manifestações simbólicas e multiplas tealogias. [A intenção do autor é boa, se não fosse todo o arcabouço doutrinário do Cristianismo a respeito da mulher, do corpo, do prazer] No meu entender, deve deixar de existir esta separação dualista entre o Pagão e o Cristão, pois o mais positivo de uma e outra dimensão, no fundo, conduziriam ao mesmo objetivo: um mundo melhor. [Impossivel, uma vez que a posição de muitos Cristãos/Judeus/Muçulmanos seja a de que quem pertença a outra religião necessáriamente está condenado por Deus]
Insisto, se inspira nos valores proclamados por jesus: o amor, a libertação, a justiça, a crítica a todos os poderes estabelecidos, ao ritualismo e à antiga lei. [O autor esqueceu que Jesus dissse que veio para cumprir a lei, não para revogá-la. Esqueceu também da "demonstração" de amor que Jesus deu aos cambistas no templo] Jesus tentou asuperar um modelo eminentemente patriarcal, mediante a implantação da ética do amor, baseada no respeito á liberdade alheia, o desejo ao bem do próximo e a doação incondicional. [Dificil de provar, mesmo com um enorme talento de "interpretação" dos Evangelhos] As mais beneficiadas por esta ética foram as mulheres. [O autor nunca se perguntou porque apenas homens foram chamados de apóstolos?]
A Ressurreição de Cristo pode ser perfeitamente entendida por todos como um relato imaginário de origem femenino: elas foram as primeiras a compreender que Jesus não podia morrer, devia seguir vivo para manter a esperança das gerações futuras. [Na realidade, as mulheres foram ao túmulo por causa que esta era a obrigação social delas] Segundo a tradição judaica, Deus ressucitaria aos justos. [E as justas, não?]
De certa forma, é um ato de fé em uma história de salvação que deve ser levada a termo pelas mulheres. [Do que precisamos ser salvos, mesmo?]
Se inspira também no feminismo da diferença: homens e mulheres não são iguais, ainda que tenham a mesma dignidade. [Ainda essa confusão entre igualdade real e igualdade ideal?!?] Se diferenciam na compreensão do próprio corpo, nas relações subjetivas e suas escalas de valores. [O Cristianismo proibe qualquer tipo de abordagem que envolva o corpo, sua compreensão e sua emancipação] É um convite a participar da transformação a partir deste novo modelo no qual a autoridade flui das mães, não dos pais. [Autoridade é algo delegado por uma comunidade a uma pessoa, independentemente de seu gênero]
Não significa ameaça alguma ao varão, ao contrário, é uma oportunidade de nos libertarmos das cargas culturais que nos tem sido impostas ao ter que assumir toda a autoridade em todos os ambitos da vida. [E bem que tem muito varão que tem mais amor pelo poder do que pela mulher] Pecamos por orgulho se segumos desconfiando da mulher. Devemos deixar de agir como pais para nos redescobrirmos filhos. [O problema é que ainda tem esse tal de "pecado". E um homem não é apenas "filho", mas também amante]
A força dos mitos cristãos que desafiam lógica ocidental masculina, principalmente a Ressurreição e a Virgindade de Maria, na minha opinião mitos que remetem ao ouroboros e à primazia do feminino, respectivamente, devem ser resgatados das interpretações patriarcais que tem desvirtuado seu poder transformador. [Mais devagar com o andor. A Ressurreição faz parte do mito do Ha-Massiah, um mito patriarcal, tanto que não se cogita que uma mulher pudesse ser uma Ungida, por causa da enorme carga negativa que as mulheres carregam pela religião patriarcal. o Mito da Virgindade de Maria é a maior expressão dessa carga negativa. Maria foi tornada "virgem" pela Igreja para que esta pudesse ascender ao Paraíso, ou seja, ela foi "purificada", como se houvesse algo de errado na gestação, na gravidez, no coito] São mitos que nos unem à terra e são capazes de impulsionar o nascimento de uma nova humanidade. [Um tanto dificil, uma vez que a tônica do Cristianismo gire em torno de um desprezo por este mundo e pelas coisas materiais, carnais] Estes mitos se opõem ao frio reducionismo patriarcal e nos abrem ao apaixonado poder criativo da mulher, livre e autônoma, guardiã da vida. [A inspiração vinda das Musas é uma idéia do Paganismo Clássico, não do Cristianismo, que segue mais o pensamento de Aristóteles, onde o Pensamento é um atributo de Apolo]
O primeiro núcleo matriarcal cristão foi a comunidade de Mria e das demais mulheres, junto a João [o apóstolo] fiéis a Jesus e presentes no instante de sua morte. [Dificil de engolir. Os núcleos de Jesus, como todos os grupos messiânicos, são patriarcais. As mulheres tinham a "permissão" de estarem presentes como servas, escravas] Jesus tinha a Maria como referência fundamental. [A influência de Jesus foi a escola rabínica, de uma sinagoga, de uma religião patriarcal] Sem a influência de Maria, Jesus não teria transcendido a ordem estabelecida. Apesar de parecer termos incompatíveis, matriarcado e Reino de Deus pertencem a uma mesma ordem, uma ordem diametralmente oposta ao patriarcal. [E continuam sendo incompatíveis enquanto não reconhecerem a existência de uma Deusa e de que o Reino é da humanidade]
Mesmo Jesus recebeu o pseudonimo de "nazareno" por ser o lugar de origem de sua mãe, não de seu pai José, cuja família era de Belém. [Nem tanto. Em alguns trechos dos Evangelhos, ele é chamado de Galileu. Alguns analistas acham que ele era chamado de "nazareno" por causa de seu voto de nazirenato]
Basta de interpretações patriarcais sobre a mensagem de Jesus. [Mas a mensagem de Jesus é patriarcal. Os homens foram curados, enquanto as mulheres foram "perdoadas", como se fosse parte da natureza delas o "pecado"] A teologia e a filosofia tem atuado como anticristo durante séculos, instrumentalizando a verdade sobre Maria e seu Filho, manchando os valores de paz, amor e libertação proclamados por Maria e Jesus. [Mas foi Jesus mesmo quem disse que veio trazer a guerra, não a paz] o Reino de Deus é, principalmente, das mulheres e para suas filhas e filhos. [O Reino é da humanidade. O próprio sentido de reino nos induz a uma forma de dominação, de ordem, de governo. Ao estipular que o Reino seja de Deus, o autor acaba por contradizer o matriarcado]

Para concluir, não podemos nos esquecer que o Cristianismo surgiu de uma realidade socio-política e, salvo por alguns trechos esotéricos, os Evangelhos refletiu essa realidade. A realidade é que falamos de uma sociedade marcantemente patriarcal [os Judeus], que tinha uma religião monoteísta [devoção a apenas um único Deus, YHVH, depois que este foi divorciado de Asherah], que pregava a purgação/purificação da carne [e nesse escopo, a mulher era posta em uma situação ainda mais grave que o homem], que acreditava na vinda de um Reino de Deus feito apenas para alguns, homens, purificados, escolhidos [as visões do Paraíso Judaico-Cristão não mostram a presença de mulheres] e - principalmente - que tudo aquilo que fosse diferente ou discordante dessa cosmovisão seria condenado [varrido, apagado, erradicado] pois era identificado como sendo algo diabólico.
Texto resgatado com Wayback Machine.

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