quinta-feira, 23 de junho de 2016

Punk para as massas

Tinha um brasileiro, um americano e um inglês em uma sala. Perguntaram:

Qual é a primeira ideia que vem na cabeça quando se fala em punk?

Dependendo do contexto e da pessoa, a resposta é variada. Punk é um fenômeno social, musical, comportamental e cultural.

O Punk surgiu nos subúrbios, locais onde famílias de trabalhadores amargavam uma crise de identidade. Reflexo do Pós-Modernismo, as camadas mais baixas da sociedade começaram a contestar o sistema. O Punk está para a periferia como a Contracultura está para a classe média.

Desemprego, violência policial, condições precárias de existência, baixa ou pouca escolaridade, a ideologia do Punk consiste em servir de espelho para a sociedade que o formou. O punk mastiga e cospe de volta para a sociedade os valores considerados sagrados e imutáveis.

Enquanto a sociedade elogiava o “self-made-man”, o punk glorifica o “do it yourself”. Enquanto a sociedade colocava no pedestal o individualismo, o punk levantava a bandeira do niilismo. Enquanto a sociedade promovia o consumismo exacerbado, o punk introduzia o vintage, tornando o brechó sua fonte de moda. Enquanto a sociedade massificava o rock romântico, popular e afeminado, o punk elevava a ideia das bandas de garagem à máxima potência.

Musicalmente o Punk tinha bastante fonte de inspiração no rock progressivo, no rock de vanguarda, no rock psicodélico e no rock experimental. O Punk foi altamente influenciado pelas bandas de garagem que foram precursoras das primeiras bandas que se identificaram como sendo punk. Certamente Sex Pistols é a mais conhecida, polêmica e questionada.

Sex Pistols tornou-se o ícone e o estereótipo do “way of life” punk. Sex Pistols era o punk para as massas. Dentre diversas bandas que apareceram e construíram a imagem do punk, Sex Pistols foi bem sucedida, ainda que tenha lançado apenas um único álbum, “Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols”. O segredo do sucesso, entretanto, estava no quinto integrante: Malcolm Mclaren, o produtor e empresário, que deu ao Sex Pistols a assessoria da estilista Vivienne Westwood para construir a imagem “punk” dos integrantes. Sex Pistols deu ao Main Stream a chance de cooptar o movimento punk.

Uma forma de entender como foi possível uma música, um comportamento, uma atitude tão contestadora se tornar, como tantas ideias, mais um produto de consumo de massa, eu recomendo assistir “American Pop”, um filme de animação que conta a saga de uma família de imigrantes tentando fazer sucesso no mundo da música, na “Terra dos Sonhos”, a América do Norte.

Porém – sempre há um porém – o Punk causou um Ardil 22. Como um movimento descentralizado, autônomo, independente, ágil, o Punk também comeu e cuspiu de volta ao Mainstream seus próprios valores e ideologias. O Punk fez pouco da Indústria da Música, das Paradas de Sucesso, das gorjetas que produtoras pagam para as rádios tocarem determinada música, da Fama e da postura de superioridade do artista. Ao aceitar ser engolido pelo sistema, o Punk o corroeu por dentro.

God Save the Punk!

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