quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A Rota de Peabiru

Pergunte a qualquer pessoa que esteja entrosada ou interessada em esoterismo e ocultismo se sabe o que é o Caminho de Santiago de Compostela e você receberá um olhar desconfiado. Pergunte a mesma pessoa se sabe o que é a Rota [ou Caminho] de Peabiru e você receberá um olhar inquisidor.
Esotéricos, místicos, ocultistas, magos e pseudo-magos de todo calibre sabem de cor e salteado o que é o Caminho de Santiago de Compostela. Muitos até fazem sucesso escrevendo livro sobre suas experiências. Mas o Caminho de Peabiru não tem o mesmo apelo, emoção, destaque, importância ou popularidade. Porque alguém falar que fez o Caminho de Santiago é chique, é europeu, é sofisticado. O Caminho de Peabiru tem suas mística e lenda próprias, que têm seus méritos.
O Caminho de Peabiru deveria ser mais conhecido e mais valorizado pelos brasileiros do que o Caminho de Santiago, não apenas por sua carga espiritual, mas porque exerceu grande influência em nossa história. O pagão brasileiro deve conhecer tanto sua história quando sua mitificação.
Vamos aos fatos da enciclopédia virtual, a Wikipédia:
Os peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente. A designação Caminho do Peabiru foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra "História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán", no início do século XVIII. Outras fontes, no entanto, dizem que o termo já era utilizado em São Vicente logo após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500.
O principal destes caminhos, denominado Caminho do Peabiru, constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico. Mais precisamente, Cusco, no Peru (embora talvez se estendesse até o oceano Pacífico), ao litoral brasileiro na altura da Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), estendendo-se por cerca de 3 000 quilômetros, atravessando os territórios do Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil. Segundo os relatos históricos, o caminho passava pelas regiões das atuais cidades de Assunção, Foz do Iguaçu, Alto Piquiri, Ivaí, Tibagi, Botucatu, Sorocaba e São Paulo até chegar à região da atual cidade de São Vicente.
Pesquisas iniciadas no século XIX pelo Barão de Capanema levaram à formulação da hipótese de o caminho ter sido criado pelos incas numa tentativa de trazer a sua cultura até os povos da costa do Oceano Atlântico, abrindo o caminho no sentido oeste-leste, portanto. Como apoio a essa linha, refere-se o testemunho de mais de um cronista de que os incas chamavam seu território de Biru. Desse modo, a denominação do caminho poderia resultar do híbrido pe-biru, que equivaleria a "caminho para o Biru". [Wikipédia]
A controvérsia antropológica:
O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Igor Chmyz, da área de pós-graduação em Antropologia Social, estuda o Peabiru desde a década de 70 e, neste ano, tem apresentado algumas conclusões a que chegou durante os quase 40 anos de pesquisa.
A primeira resposta é a de que muitos autores têm defendido, erroneamente, que o caminho foi criado pelos índios tupi-guaranis. Na verdade, a autoria deve ser dada aos índios do tronco Macro-Jê, que são conhecidos por Jê.
A hipótese de que o Peabiru pode ter sido criado pelos incas é totalmente descartada pelo pesquisador. Igor Chmyz explica que os incas aparecem por volta do século 12 nas imediações do lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia. Porém, apenas no apogeu, isto é, no século 14, é que eles expandem o Império que chega a atingir o norte da Argentina, Chile e sobe até a Colômbia – quando foi implantado o sistema de caminho deles. “Isso quer dizer que os nossos, nesta época, já existiam.” As peças encontradas no Peabiru, que são associadas aos incas, provavelmente foram trazidas pelos viajantes do século 16, que também usaram o Peabiru. [Gazeta do Povo]
A relação mística:
Se olharmos os mapas existentes do Peabiru, chama logo a atenção o fato dele não ser na direção norte-sul e nem leste-oeste, mas sim inclinado. Ao notar essa inclinação, a pergunte é: por que os índios escolheram essa direção ao abrir a trilha? Como eles se orientaram para percorrer esse caminho?
Se olharmos para o céu, podemos ver a Via Láctea, que era chamada pelos Guaranis de Caminho da Anta [Tapirapé] ou Morada dos Deuses, [a Terra Sem Males]. [Ciência e Astronomia]
O Caminho ganhou esse nome posteriormente, por parte de um explorador espanhol, bem como seus elementos de folclore cristão, ao ser chamado de Caminho de São Tomé, identificado como o personagem mítico Sumé ou Zumé. Este foi o caminho que os portugueses, saindo de São Vicente, foram colonizando o interior do Brasil, até que um jesuíta, um português náufrago e Martim Afonso fundaram a Vila de São Paulo de Piratininga, que cresceria e daria forma à grande cidade de São Paulo.

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